sexta-feira, 7 de junho de 2013

HISTÓRIAS DA HISTÓRIA


O CASAMENTO DA INFANTA DONA LEONOR COM O IMPERADOR FREDERICO III

 
Casamento, em 1452, de D. Leonor, Infanta de Portugal, com Frederico III, Imperador da Alemanha

Quando hoje, pela Europa fora, se comentam os dictames da senhora Merkl e a hegemonia da desnacionalizada Alemanha sobre as nações do Velho Continente, não resistimos a transcrever alguns trechos de cartas enviadas por D. Lopo de Almeida, depois I Conde de Abrantes, ao nosso Rei D. Afonso V, por ocasião das cerimónias do casamento da Infanta, D. Leonor, irmã do Rei, com o Imperador da Alemanha, ocorridas, sucessivamente, em Sena, Roma e Nápoles.
A Infanta D. Leonor, tinha então 16 anos, sendo o seu noivo vinte anos mais velho.

Depois de descrever a recepção à Infanta, nos arredores de Sena, pelo irmão do Imperador, Arquiduque Alberto, e pelo seu sobrinho, Ladislau, Rei da Hungria e da Boémia, e às portas da cidade, pelo próprio Imperador, D. Lopo de Almeida, um dos membros da comitiva da Infanta, refere-se assim ao Imperador Frederico III:
“ Do Imperador vos não falo, porque o não vi em Florença, senão por peneira, nem tive tempo; mas agora vos digo Senhor que nunca cuidei de ver homem tão pouco estar em seus pés, que somente a dizer-lhe um homem, que se quer ir com sua m. (sic) lhe não dá resposta, senão que fale primeiro com três, ou quatro de conselho; juro-vos Senhor, que antes queria ser Rei de Castela, que ele muito escasso sem nenhuma comparação, e avarento, e vereis, que fez; ele queria comprar em Florença um Damasquim dobrado branco, que era de Cosme de Medicis, e mandou vir o brocado para o ver, e esteve regateando com os homens do dito Cosme grande pedaço, de guisa, que se não aviaram, e foram-se com o pano, a cabo de pedaço, mandou-lhe dizer o Imperador que aqueles seus homens, que estavam muito caros com aquele pano, que lhe rogava que lhes mandasse, que lhe fizessem dele bom preço, e o dito Cosme, que jazia doente, disse aos seus Feitores que bem sabia ele o mercado, que o Imperador queria dele, e mandou que lho levassem de graça, e ele que o tomou, e pesou-lhe ainda com ser pouco.
A nenhum destes vossos vassalos, que se expediram dele, não deu nem um só ducado, nem um pão, nem a mim com ele....” (Carta escrita em Sena, em 28 de Fevereiro de 1452)

De Nápoles, em 18 de Abri de 1452, D. Lopo de Almeida, volta a escrever a D. Afonso V.
“Senhor, daí a dois dias, ou três, determinou o Imperador de fazer cópula carnal de matrimónio com vossa Irmã. Este dia, acabadas as justas, foram cear, e acabada a ceia, vieram todos por vossa Irmã, e levaram-na a casa do Imperador, e dançaram em sua sala quase uma hora, e veio colação maior, que a de Fernão Cerveira, que com três patos dizia que se fartaria muito bem, e lançar-se-ia na cama, o Imperador partiu-se da dança, antes da colação, e foi-se à sua câmara, e acabada a dita colação, levou El-Rei a dita Senhora àquela mesma câmara com poucos, salvo mulheres, e acharam-no já lançado, vestido entre os lençois, e tomaram vossa Irmã, e lançaram-na na cama com ele também vestida, e cobriram-lhe as cabeças, e beijaram-se, e feito isto, levantaram-se e tornou-se a dita Senhora à sua câmara, e ficou o dito Senhor na sua, e isto foi assim feito à usança da Alemanha, porque assim foi acordado com El-Rei de se fazer.
Vossa Irmã estava em sua câmara este serão, esperando que o Imperador fosse lá, e ele mandou por ela dois condes, que se fosse à câmara dele, e ela não quis, e passaram sobre isto muitas embaixadas por cinco, ou seis vezes, segundo me disseram até que ele veio por ela em pessoa, e disse-lhe que lhe prazia que ela fosse folgar com ele à sua cama por essa noite, e levou-a pela mão, e tanto que entrou, lançaram-na na cama em camisa, e ele com ela, o que passaram de noite, não o sei, mas suspeito-o e vós Senhor o deveis entender, assim que Senhor a consumação do matrimónio do Imperador com vossa Irmã, foi à noite de antes o Domingo de Pascoela..”

Três anos depois deste casamento, nasceria o primeiro filho, que sobreviveu poucos meses.
Sete anos mais tarde, nasceu o segundo filho, o futuro Imperador Maximiliano I, pai de Filipe I, o Belo, Rei de Espanha, e avô do Imperador Carlos V.

in Provas da História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Tomo I, Livro III. nº 54

Leonor de Portugal, Sacra Imperatriz Romana

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Leonor de Portugal (em Português antigo Lyanor ou Lianor) (Torres Vedras, 18 de Setembro de 1434 - Wiener Neustadt, 3 de Setembro de 1467) foi uma infanta portuguesa da Dinastia de Aviz, filha do rei Duarte de Portugal e da sua esposa Leonor de Aragão. Quando o seu pai morreu em 1438, a infanta com apenas quatro anos é confiada à regência, primeiro de sua mãe e depois de seu tio o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra. Foi criada juntamente com suas irmãs D. Catarina e D. Joana em Lisboa.

Graças à projecção internacional de Portugal a partir de Quatrocentos devido aos Descobrimentos e às riquezas daí resultantes, Dona Leonor é considerada para esposa do Delfim de França, Luís de Valois e do Imperador Frederico III. As negociações deste último projecto revelam-se frutíferas e os esponsais celebram-se em 1451. Dona Leonor parte para Itália para se reunir ao marido, sendo ambos coroados pelo Papa Nicolau V na Basílica de São Pedro, em Roma, a 16 de Março de 1452. Foi a última Imperatriz do Sacro-Império Romano-Germânico a ser coroada em Roma pelo Sumo Pontífice.

Do enlace entre as Dinastias de Aviz e de Habsburgo nasceram cinco filhos, dos quais dois sobreviveram: Maximiliano I da Germânia, que sucedeu a seu pai e Cunegunda da Áustria (1465-1520), que se casaria com Alberto IV Duque da Baviera. De Dona Leonor descende toda a linhagem da Casa de Áustria; entre os seus bisnetos contam-se o Imperador Carlos V, Senhor do Mundo, que iniciou o ramo espanhol da Casa de Áustria que viria a reinar em Portugal, e o Imperador Fernando I, que deu origem ao ramo austríaco da dinastia de Habsburgo.
 
Fonte: Real Associação da Beira Litoral 

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