quinta-feira, 30 de abril de 2015

A propósito de reformas do sistema político


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A propósito deste interessante artigo de Manuel Vilaverde Cabral sobre a presidência da república e a reforma do sistema político em Portugal, e no que refere ao embaraço que representa o actual modelo de Chefia de Estado, convém ressalvar que, sendo a democracia pela sua natureza um sistema autofágico que vive do híper mediatizado e permanente conflito de facções e interesses, ela expõe as instituições nacionais a uma sistemática e perigosa erosão. Por isso requer este regime um órgão de soberania acima de todas as questiúnculas, capaz de, no topo da pirâmide, representar e congregar todas as partes da Nação. Uma instituição que, por ser hereditária, não tomou partido por qualquer facção nem depende de interesses políticos ou económicos. Essa instituição é o Rei, que tem a capacidade de consolidar o sistema, como o comprovam os exemplos dos países mais evoluídos e livres da Europa que são monarquias. De resto, Portugal tem o privilégio de uma Nação com quase 900 anos que possui uma incontestada Casa Real com comprovados pergaminhos no que respeita ao que é mais importante – o amor à Pátria.

João Távora

Fonte: Causa Real

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Um dirigente diz: 'Vão!' Já, um Rei sempre bradou: 'Vamos!'

Dom Carlos I Marechal General
 
Um dirigente diz: ‘Vão!’ Já, um Rei sempre bradou: ‘Vamos!’

‘Coragem!’, sim aquela era a luta de todos e por isso tão longe alcançaram. Assim se vai aos astros e não é com um rebanho servil. O trabalho era de equipa, não havia um mandante e mandados. Raça enorme, a dos nossos antigos Reis que ainda podemos sentir nas muralhas seculares dos nossos castelos! Sim, Portugal é um País quase milenar, construído a golpes de espada e heroicidade!
 
O Rei de Portugal ia combater em Pessoa, não mandava os soldados sozinhos, era o Comandante-em-Chefe e o primeiro a avançar. Adiantava-se mesmo, não ficava no conforto dos gabinetes, assarapantado em hesitações. Foi sempre assim, depois veio a ‘implantada’ e os soldados foram atirados, sozinhos, para uma guerra estrangeira, para morrer, na primeira linha – aquela que faz dos jovens mancebos carne para canhão.
 
Servir, sempre servir os interesses supremos da Nação, era esse o lema dos nossos tão amados quanto saudosos Reis, contanto não se pense que guerrear era um impulso básico, mas uma forma de manter a paz: si vis pacem, para bellum (lat) – se queres a paz, prepara a guerra. Gnoma ainda, hoje, seguido pelas nações, que procuram fortalecer-se a fim de evitar uma eventual agressão.
 
Todavia, mens sana in corpore sano (lat) – mente sã em corpo são. Frase de Juvenal, utilizada para demonstrar a necessidade de corpo sadio para serviços de ideais elevados. Os nossos Reis conciliavam a capacidade e a capacitação inerentes a um soldado apto para comandar um teatro de guerra, sem descurar as faculdades intelectuais, até porque o melhor dos generais é o mais inteligente dos homens. Nisso seguiam os exemplos clássicos de Alexandre e de César, os mais brilhantes generais e os mais ilustrados das respectivas épocas.

Muitas vezes, e não poucos, atribuem ao corajoso Rei Dom Sebastião a imaturidade na sua resolução na empresa de Alcácer-Quibir, ora que injustiça chamar irreflectido ao Rei-menino que com tão exemplar acto de bravura procurou manter o Império que herdara e que sofria as investidas das hordas mouriscas. A Coroa sempre serviu o Império português fosse em que parte fosse da sua dilatada extensão e que estivesse disso necessitada.
 
Porventura, ficou o Desejado, na penumbra de uma tenda de comando jogando xadrez com as suas peças de cavalaria ou com os seus peões?! Não, não ficou, avançou temerário! Não se conte o que sucedeu em seguida lançando o nome Sebastião no auto dos culpados, mas sim como o resultado de uma maquinação estrangeira para anexar o Portugal que havia perdido e cobiçava desde os tempos em que Aquele conde da Borgonha, ilustre descendente dos Reais Capetos, teve a intenção de formar a mais Augusta e Antiga Dinastia Peninsular. Caso único no Mundo é um facto que, desde Dom Afonso I Henriques, a Monarquia Portuguesa conheceu quatro Dinastias, todas elas pertencentes à mesma Família.

E não foi no Reinado de Dom Sebastião que se avançou pela África e foi fundada a cidade de Luanda, e não foi, também, no Seu Reinado que se consolidou o domínio da costa brasileira?! Pergunta retórica, pois, necessária resposta não é!
 
Mas porquê Reis-soldados já depois do Império conquistado e restabelecido, porquê aios, mestres de armas, esgrima, tiro ao alvo?! Porque um Rei deve estar sempre pronto para servir a Nação como e da forma que for necessária: se umas vezes o faz com as artes da ciência política moderando e gerindo os administradores do Seu Reino, se outras serve diplomaticamente luzindo o seu francês ou inglês perfeitos junto dos monarcas ou plenipotenciários estrangeiros, outras vezes há que quando acoitadas as suas fronteiras, perigado o Seu Povo, tem que vestir o uniforme de Generalíssimo e ir à guerra!
O Rei enquanto era o Comandante Supremo das Forças Armadas tinha a noção de que não era apenas uma figura de pompa nem o Seu cargo de circunstância, era efectivamente o General dos Generais, aquele que fazia a Guerra e decidia a Paz! Um Rei é para todos os momentos, sejam aqueles os mais prolixos e abundantes, ou os mais conturbados e de carestia. E para tudo deve estar preparado, habilitado.

Por isso nunca a formação militar foi descurada com Príncipes herdeiros e Infantes, mesmo depois dos primeiros reis da Primeira Dinastia Portuguesa com preocupações marcadamente políticas e com a formação e manutenção do território, mesmo depois de Aljubarrota, mesmo depois de Restaurada plenamente a Independência, mesmo depois da opressão da barbárie francesa, mesmo já em Monarquia Constitucional e Portugal, finalmente, ganhou a estabilidade necessária para o progresso material.
 
Enquanto infante, ainda longe de pensar vir a ser rei, Dom Luís (futuro Rei D. Luís I) serviu na Marinha e exerceu o seu primeiro comando naval em 1858, visitando as colónias africanas portuguesas. Seu irmão o Infante Dom Augusto serviu no exército, vindo mesmo a ser Condestável do Reino aquando do reinado do irmão.

Já, Dom Carlos nasceu na qualidade de príncipe herdeiro da coroa, pelo que recebeu desde cedo os títulos oficiais de Príncipe Real e Duque de Bragança. Ministradas as primeiras letras, passou a acumular a aprendizagem das mais variadas disciplinas em que se distinguia – sempre com ‘louvor’ – com a instrução militar para o que, El-Rei D. Luís nomeou o tenente-coronel de engenharia Gromicho Couceiro. Na equitação, Dom Carlos, recolheu ensinamento do general Vito Moreira. Em pouco tempo seria atribuído a D. Carlos o posto de comandante honorário do Colégio Militar. Aperfeiçoou a esgrima e ainda mais o tiro, no qual foi reconhecidamente, exímio. Em 28 de Setembro de 1879, D. Carlos é nomeado guarda-marinha e ainda alferes do Regimento de Lanceiros 2 da Rainha.

D. Carlos começou, então, a Sua preparação para Reinar e conheceu e privou com os Ministros. Várias vezes recolheu ensinamentos de estratégia militar do general de engenharia e Ministro da Guerra, o Conselheiro Caetano Sanches de Castro que fora membro da Comissão da Defesa de Lisboa e dos seus fortes, algumas das famosas linhas de Torres, membro da Comissão incumbida de apresentar o plano geral das obras de melhoramento da Capital – sendo-lhe confiada pessoalmente a apresentação do plano geral das obras de defesa do porto de Lisboa. Sanches de Castro serviria ainda o Rei D. Luís I como Conselheiro, fora Director-Geral das fortificações e Presidente da Comissão de Defesa e que formulou os projectos, considerados excepcionais, das baterias do Bom Sucesso, do Forte de São Julião da Barra e dos redutos de Sacavém e Alto do Duque. Essas conversas e alguns ensinamentos com o Ministro da Guerra Sanches de Castro haveriam de ser muitos importantes para Dom Carlos como se verá adiante.
 
Aos 21 anos, D. Carlos é promovido a capitão de Lanceiros 1, ficando no entanto a prestar serviço no Quartel da Calçada da Ajuda nos Lanceiros 2.

Passou, já casado com a Princesa Maria Amélia de Orleães e Bragança, a tenente-coronel e, em 1887, é nomeado presidente da Subcomissão de Defesa Marítima da Barra do Tejo e da Cidade de Lisboa, onde demonstrou de forma inequívoca os seus vastíssimos conhecimentos militares e inteligência estratégica e que culminaria na publicação da obra de referência: A Defesa do Porto de Lisboa e a Nossa Marinha de Guerra, e que haveria de ser aprovada unanimemente pela Comissão de Defesa. A Comissão Superior da Guerra entendeu ser obra de antologia e considerou-a como Anteprojecto Geral da Organização da Defesa do Porto de Lisboa e que seria obra de referência para todos os vindouros estudos e projectos que concernente à defesa da barra do rio Tejo. O brio militar mereceu-lhe a promoção a coronel e a nomeação para membro da Comissão Superior da Guerra.
«O Rei está morto! Viv’ó Rei!» e o Duque de Bragança sobe ao trono como Dom Carlos I. Passa a usar, como é apanágio dos Reis, o uniforme e o posto de Marechal-General do Exército – continuamente o brio, sempre envergando o uniforme do serviço!

Já a descendência real, Dom Luís Filipe, Príncipe Real e Duque de Bragança e o Infante Dom Manuel, então, Duque de Beja, tiveram o tenente-coronel José de Castro como preceptor de balística, táctica e topografia, e, a equitação fazia, naturalmente, também, parte da educação dos Príncipes.
Dom Luís Filipe assentou praça de tenra idade; El-Rei Dom Carlos I foi atribuindo, ainda, ao Príncipe Real e Duque de Bragança, postos do exército, como no Esquadrão de Lanceiros do Rei, Regimento de Cavalaria nº 2 e nomeou-o ainda Comandante honorário do Colégio Militar. Dom Luís Filipe ocupou os postos de oficial às ordens do Rei, alferes em 1902, tenente em 1906, capitão em 1907 e os Regimentos de Cavalaria n.º 8 e de Infantaria n.º 18 carregavam às ordens do Príncipe Real.
 
Aos treze anos do Príncipe Real, é nomeado Seu aio o herói Mouzinho de Albuquerque, e a sua instrução passou a ter uma componente ainda mais militar e a ser uma verdadeira preparação para reinar. Com a morte de Mouzinho é nomeado como aio do Príncipe Real o coronel Francisco da Costa.

Já o infante Dom Manuel, que aos seis anos já falava e escrevia em francês, estudou línguas, história e música com o professor Alexande Rey Colaço, e, em 1907, iniciou os seus estudos de preparação para ingresso na Escola Naval, preparando-se para seguir carreira na Marinha. Após uma estadia de alguns dias em Vila Viçosa, com toda a família, havia regressado mais cedo a Lisboa precisamente para se preparar para os exames da Escola Naval, tendo ido esperar os pais e o irmão ao Terreiro do Paço e eis que o destino de todos foi interrompido pelo terrível e terrorista Regicídio que a Dom Carlos I e a Dom Luís Filipe veio arrancar tão cedo à vida e a Dom Manuel baralhar e voltar a dar noutra direcção. Dom Manuel II viu-se alçado Rei.
 
No tocar de finados da Monarquia portuguesa, com o trágico resultado do regicídio, os republicanos do PRP lançaram-se na propaganda demagógica e na unidade maçónica que permitiu a formação de uma organização secreta conjurante, a Carbonária. A Carbonária Portuguesa, liderada por Luz de Almeida, a partir de 1909, apoiada pelo próprio grão-mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, lançou-se no patrocínio das bombas dos anarquistas e no recrutamento de fidelidades nos quartéis. E, no lado da legitimidade, as forças militares fiéis à monarquia sofreram uma feroz estocada, quando no seguimento do regicídio, o governo afastou o ministro da guerra e o ministro da marinha que possuíam denodo, inteligência e um forte ascendente sobre as altas e médias patentes militares, para além de serem especialistas nas nomeações. Os governos que se sucederam, cegamente mediam a lealdade dos militares ao regime através de consecutivas e inócuas visitas a regimentos por El-Rei Dom Manuel II que era sucessivamente aclamado, pois o problema não era o benquisto Monarca – o problema não residia nas estrelas! Outro desacerto capital dos governos posteriores a 1908 foi a da mudança no Comando Militar de Lisboa.

Consumado o derrube da Monarquia Portuguesa que durante 771 anos fez a glória da Nação, Dom Manuel II no exílio não se eximiu das funções para as quais tinha sido preparado. Assim, com o dealbar da 1.ª Grande Guerra, o Monarca exilado, em Inglaterra, colocou-se à disposição dos aliados para servir como melhor pudesse. Inicialmente, tomou-o o desapontamento quando o colocaram como oficial da Cruz Vermelha Britânica, mas o empenho que mostrou no decorrer da guerra, cooperando em conferências e na recolha de fundos, visitando hospitais e mesmo os feridos na frente, acabou por ser-Lhe muito gratificante. Porém, o seu zelo nem sempre foi penhorado, e certa vez lamentou-se disso: “A sala de operações do Hospital Português, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundação?De um português de Londres‘.” El-Rei criou, ainda, o departamento ortopédico do hospital de Sheperds Bush, que por perseverança do Monarca continuou a funcionar até 1925, dando assistência aos mutilados de guerra. Uma prova de reconhecimento dos ingleses para D. Manuel II de Portugal foi quando o Rei britânico Jorge V – primo do Monarca português pelos laços da Casa de Saxe-Coburgo e Gotha – tê-Lo convidado e à Rainha Augusta Victória a ficar a seu lado na tribuna de honra durante o Desfile da Vitória, em 1919.
 
Servir, sempre servir! El-Rei Dom Manuel II tinha como divisa «Depois de Vós, Nós», premissa de que o Rei serve primeiro os interesses da Nação: País e Povo; pois aos monarcas sempre foi dado o status de “servidores”.

Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica

domingo, 26 de abril de 2015

SERVIR PORTUGAL

Foto de Real Associação do Centro e Alto Alentejo.

Real Associação da Beira Litoral: FOTOGRAFIAS DA VISITA DA REAL DE LISBOA AO PALÁCIO...

Real Associação da Beira Litoral: FOTOGRAFIAS DA VISITA DA REAL DE LISBOA AO PALÁCIO...:                           ...

Real Associação da Beira Litoral: FOTOGRAFIAS DA VISITA DA REAL DE LISBOA AO PALÁCIO...

Real Associação da Beira Litoral: FOTOGRAFIAS DA VISITA DA REAL DE LISBOA AO PALÁCIO...:                           ...

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS, CUIDADO COM O ENGODO!

 

 O Artigo 288.º, alínea b), da Constituição da República Portuguesa, estatui que as leis de revisão constitucional terão de respeitar “A forma republicana de governo”.

Embora o legislador se possa ter equivocado, pois não há formas de governo republicanas ou monárquicas, mas sim regimes republicanos ou monárquicos, o que se aqui se consagra é, sem qualquer margem para dúvida, a inamovibilidade do regime republicano.

A inclusão de limites materiais de revisão é essencial e estes devem ser cumpridos enquanto estivem em vigor, mas como qualquer outra norma constitucional podem ser objecto de revisão, sob pena de termos uma constituição antidemocrática e conservadora. No entanto estes limites não devem impedir a Constituição de acompanhar a evolução social, caso contrário assistiremos provavelmente a uma ruptura do ordenamento constitucional, com todas as implicações daí decorrentes.

Partindo do principio que ninguém tem o direito de impor às gerações futuras as suas leis, que democracia é esta que nos impede de alterar o regime, mesmo se essa for a vontade popular?

A Monarquia só é viável e possível em Portugal através de um Referendo, que é uma das formas que a democracia disponibiliza para o povo decidir o seu próprio destino.

No entanto não é assim tão simples. Compulsando a Constituição verificamos que nos termos do artigo 115º, sob proposta da Assembleia da República, do Governo ou por iniciativa de iniciativa popular (art.º 10.º da Lei Orgânica do Referendo), pode o Presidente da República convocar o referendo. Mas mesmo que existam 5 ou 6 milhões de portugueses que pretendam alterar o regime, subscrevendo uma iniciativa popular, − sendo certo que o número mínimo exigido por lei para este tipo de expediente é 75.000 subscritores (artº 16º LORR) − qualquer proposta de referendo que vise a alteração do regime viola o limite material de revisão “a forma republicana de governo”, logo, não passará no crivo do Tribunal Constitucional, uma vez que compete a este órgão proceder à fiscalização preventiva da constitucionalidade e da legalidade, (artºs 26º e 27º LORR), o que irá impedir a convocação do referendo.

A República, com a sua tão propalada ética republicana, seja o lá o que isso for, petrificou a Constituição, impondo a todos os Portugueses limites que não podem ser objecto de alteração através de revisão. Mas será que a imposição destes limites é legítima?

A doutrina constitucional divide-se!

Tomando como ponto de partida a constituição francesa de 1793, a qual preceituava que: “Um o povo tem sempre o direito de rever, reformar e alterar a sua constituição”, e que “Uma geração não pode impor as suas leis às gerações futuras”, pois fazendo-o estará a limitar a vontade nacional, pode-se aplicar a regra da revogabilidade de normas anteriores por normas posteriores, uma vez que não existe qualquer diferença entre poder constituinte e poder de revisão constitucional, pois ambos emanam da soberania popular.

No entanto, se se pretender suavizar o problema, e entendendo que estes limites são relativos, logo susceptíveis de modificação através de duplo processo de revisão, pode-se, numa primeira revisão, retirar da Constituição a cláusula de intangibilidade, o que vai permitir que uma revisão posterior ultrapasse o limite anteriormente previsto, adequando-se a Constituição à vontade do povo.

Conforme vem sendo hábito nas últimas campanhas eleitorais para a presidência da república, surgem os engodos.

Os candidatos, quando questionados sobre a questão do regime, mostram-se sempre muito abertos e disponíveis para debates sobre o mesmo, mas a dita “abertura” tem apenas a duração da rosa de Malherbe.

Por isso não nos devemos deixar enganar, colaborando e pactuando com o espectáculo proporcionado pelos diversos candidatos, que a única coisa que pretendem é o voto, para poderem afirmar a legitimidade da eleição, e consequentemente apregoarem que representam todo o Povo.

Os monárquicos, sejam ou não, militantes ou dirigentes de qualquer partido político, devem uma vez por todas, protestar e fazê-lo pacificamente (para não descerem ao nível dos paladinos de 1910) e a única forma de o conseguirem, para além de não participarem ao lado dos presidenciáveis em campanhas eleitorais, é contribuindo para que a eleição do residente em Belém, seja pelo menor número de votos, acompanhando a tendência que se tem vindo a verificar ao longo dos anos.

Mas será que aqueles monárquicos que se servem do regime (deputados, membros do governo, autarcas, etc.) possuem a coragem necessária para o fazer, abstraindo-se das mordomias e facilidades que o mesmo lhe concede?

Não basta dizer que se é monárquico, é preciso demonstrá-lo agindo, fazendo-o de imediato, pelos nossos filhos e pelo nosso país. Ontem já era tarde!

A fraude a que chamam república, apodreceu neste último mandato presidencial e o que fizeram os “monárquicos” que ocupam lugares cimeiros na administração do Estado? NADA, nem uma palavra, simplesmente nada!

Que propostas de revisão constitucional foram, ao longo dos anos, apresentadas na Assembleia da República, em sede de revisão constitucional, ou vão ser apresentadas, pelos partidos que militam ou dirigem, que incluam a alteração do art.º 288.º, alínea b), possibilitando assim a realização de um refendo a médio prazo? Se não me tiver equivocado, nenhuma.

E a proposta é bem simples, basta alterar a palavra republicana por democrática.

Não que eu tenha alguma coisa contra a república, pois o “poder dos reis”, como dizia o Doutor Vaz de Gouveia na “Justa Aclamação”, “está originariamente nos povos e nas repúblicas, que delas o recebem por forma imediata.” A república existia dentro da Monarquia, pelo que estes dois conceitos não têm significados opostos e incompatíveis. Por isso defendo e acredito na res pública−coisa do povo, enquanto sinónimo de administração do bem público ou dos interesses públicos, vocábulo que foi usado frequentemente em Portugal ao longo dos séculos.  

Em 2011, o grande vencedor das eleições foi a abstenção com 53,57%, o que representa cerca de 5 milhões de eleitores, que não foram votar. Se a estes 53,57% somarmos os votos em branco e os nulos, o resultado fica em 59,76%. Ou seja, mais de metade dos cidadãos recenseados, não exerceram o seu direito de voto.

Como o Prof. Cavaco Silva, candidato "vencedor" deste acto eleitoral, num regime decrépito, e de pernas para o ar, obteve dois milhões, duzentos e trinta e um mil, novecentos e cinquenta e seis votos (2.231.956), num universo de nove milhões, seiscentos e cinquenta e sete mil, trezentos e doze eleitores (9.657.312), apesar de ter sido eleito com 52,94%; esta percentagem corresponde apenas e só a cerca de 23% do eleitorado português, pelo que se pode concluir que o actual Presidente, para além de não representar nem um quarto (1/4) do eleitorado português, não pode de forma alguma, representar "todos os portugueses", facto que vem sendo demonstrado pela sua “praxis” quotidiana, decorrente das vicissitudes e acordos estabelecidos em campanha eleitoral, inerentes à eleição republicana.

Se para o apuramento eleitoral da eleição presidencial se aplicasse o prescrito no art.º 240º da Lei Orgânica do Regime do Referendo, o resultado eleitoral não tinha efeito vinculativo uma vez que o número de votantes foi inferior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento. Isto dá que pensar!
Só aquele que não chega ao lugar através de jogos político-partidários e económicos, é o único Chefe de Estado que pode representar todos os habitantes de um país, o verdadeiro árbitro!

Publicado por José Aníbal Marinho Gomes, em Risco Contínuo

Um Papa politicamente incorrecto


As desassombradas declarações do Papa Francisco sobre o genocídio dos arménios caíram mal em Ancara. Ainda bem.

Em boa hora o Papa Francisco, no passado dia 12 de Abril, denunciou o genocídio arménio, neste ano em que se cumpre o primeiro centenário deste crime contra a humanidade, que as autoridades turcas, contrariando a evidência histórica, insistem em negar. E fê-lo com frontalidade, sem falinhas mansas, chamando os bois pelos seus nomes: genocídio.
 
A morte de um milhão e meio de arménios, ou um milhão e setecentos mil, não é coisa de pouca monta, nem pode ser silenciada ou esquecida. Não deve ser minimizada, nem reduzida a uma insignificância histórica. Não é uma questão interna da moderna Turquia, enquanto sucessora do império otomano, nem respeita apenas à Ásia Menor. É um drama mundial que a todos importa, porque estão em causa os direitos humanos e é da sobrevivência de um povo e da sua cultura que se trata.
 
A Arménia, cujas fronteiras oficiais, no mapa-múndi dos países soberanos, não coincidem com a sua realidade étnica, é uma nação de uma riquíssima tradição cultural e religiosa. Já no ano 302, onze anos antes do édito que deu carta de cidadania à religião cristã nos domínios do império romano, a Arménia era um país oficialmente cristão, talvez o primeiro que assumiu essa identidade religiosa. Esta circunstância não terá sido alheia à tentativa do seu extermínio pelo império otomano, maioritariamente islâmico, como muçulmana é também a moderna Turquia, não obstante a sua constituição laica e o seu formal reconhecimento da liberdade religiosa.
 
Um dado significativo: entre 1915 e 1918, cinco bispos arménios foram mortos e outros três deportados, enquanto 129 sacerdotes, num total de 250, foram assassinados. Dada essa generalizada perseguição, muitos arménios viram-se obrigados a emigrar para a Europa – como foi o caso de Calouste Gulbenkian – e para os Estados Unidos da América, onde subsistem comunidades arménias que mantêm vivas as suas tradições.
 
A dimensão gigantesca do extermínio deste povo mártir levou o Papa Francisco a usar o termo genocídio, comparando-o ao holocausto dos judeus durante o regime nazi, às perseguições estalinistas, ao regime comunista do Camboja e às chacinas perpetradas, mais recentemente, no Burundi e na Bósnia. O mesmo poderia ter dito do actual massacre de cristãos na Nigéria, na Síria, no Paquistão, etc. Silenciar estes crimes contra a humanidade é trair a história e ser cúmplice, por omissão, destes atentados. Quem cala, consente.
 
O papa não é apenas um líder religioso, mas também a suprema autoridade moral mundial. Como máximo representante de Cristo, compete-lhe confirmar os cristãos na fé; e, como porta-voz da consciência ética internacional, tem o dever de denunciar publicamente todos os atentados contra os direitos humanos e a dignidade e independência dos povos e das suas culturas. Sem qualquer animosidade contra nenhuma nação ou facciosismo ideológico ou partidário, o sumo pontífice não pode deixar de ser politicamente incorrecto quando a verdade histórica, os direitos inalienáveis dos povos e, principalmente, a dignidade humana, é espezinhada.
 
As desassombradas declarações pontifícias caíram mal em Ancara, cujo governo pediu de imediato explicações ao núncio apostólico. Ainda bem. Quando a Santa Sé decidiu abrir o processo da eventual beatificação de Pio XII, que salvou a vida  a milhares de judeus, que acolheu no Vaticano, em Castel Gandolfo e em muitas instituições católicas, as autoridades israelitas também reagiram com desagrado. Mas a Santa Sé não se deixou intimidar. Mal andaria o sucessor de Pedro se se deixasse envolver por uma caluniosa campanha mundial contra o papa Pacelli. Ou se, no caso dos arménios, por respeitos humanos, recuasse no cumprimento do seu dever moral. Em algum caso, mais por via de excepção, pode ser imperioso o silêncio, se a denúncia pública puser em causa a vida de seres humanos inocentes, mas a omissão da obrigação humanitária de condenar a injustiça prepotente nunca se justifica por tacticismos políticos, conveniências de ocasião ou outros interesses mesquinhos.
 
É precisamente para exercer, com plena liberdade, este seu magistério universal, que convém que o vigário de Cristo não seja súbdito de nenhum governo nacional e tenha, formalmente, o estatuto de chefe de Estado. A criação do diminuto Estado da Cidade do Vaticano, por obra e graça dos tratados de Latrão, não obedece a uma lógica de poder, nem é um resquício do governo temporal dos anteriores bispos soberanos de Roma, mas uma condição necessária para que o romano pontífice possa exercer, no seio da comunidade das nações e sem quaisquer pressões, a sua missão de supremo guardião dos princípios morais.
 
Também Cristo foi politicamente incorrecto, sendo por isso condenado pela autoridades romanas, com a aquiescência do rei Herodes. A sua realeza é verdadeira, mas não é deste mundo: não é nenhum projecto de poder político, mas o testemunho libérrimo da verdade a que todos, sem excepção, temos direito. Porque só a verdade nos faz livres.

sábado, 25 de abril de 2015

Ser Rei Não É Simples



 
O Rei é educado para essa função e a função Real é um Ofício que deve desempenhar com sentido de Missão, uma vez que o Monarca assume-se como um funcionário da Nação e do Povo acautelando por cumprir qualquer das obrigações inerentes ao seu cargo, que encara como serviço. O Rei tem de reinar rectamente! Não há político, algum, que tenha entranhado, arreigado, esse espírito de missão como um Rei.
Tempos do comum não são os tempos de Reis, Reinar não é das 9 às 5, é um ofício permanente, 24 sobre 24 horas, 7 dias por semana, o mês inteiro, todos os meses do ano, a vida inteira… e mesmo para além dela, pelo legado!
Calcorreia cada palmo do Seu Reino, ouvindo todos os que dele fazem parte – sem excepções! De tudo se inteira, tudo tem de saber, sobre tudo tem opinião! Não há homem mais bem preparado que um Rei!
Também, numa Nação não há mais gentil-homem que um Rei; por isso aqueles que procuravam lugar viram nisso, oportunidade! Enganou-se o Povo e uns quantos reclamando a república, implantaram um regime sem opção.
O Rei de Portugal estava sentado num trono não físico, mas num Princípio – de oito séculos -, enquanto que, um político é apenas um homem alçado no poder. Assim, a Monarquia tombou, e em vez de um Rei continuar a servir o país, inventaram uma oligarquia que se servisse dele!
Não há um Rei para Todos e de Todos, iguais, mas uns que são mais iguais que outros, porque uns quantos invejosos, poucos, uma elite, pela sedição, o impôs!
Não queriam que o Rei descesse do trono, eles queriam, era, estar sentados no trono!
Ora, como hoje se celebra o ‘Dia Mundial do Livro’, decidimos acrescentar o nosso artigo e publicar um texto de um erudito e convicto Monárquico, o 2.º Conde de Alvellos, que entre muitas outras obras, escreveu o afamado ‘O Berço Exilado’ – do qual foi extraído o trecho e cujo livro recomendamos ler na íntegra -, que deve fazer parte da biblioteca de qualquer realista! O teor do texto aporta ao nosso arengo: o Ofício de Reinar não é simples!
Ser Rei Dói Muito!
«Dizem que o Infante D. Fernando (Esse que foi o pai do Afortunado Rei D. Manuel), menino ainda, vendo certa vez, entrar no Paço a El-Rei Seu Pai D. Duarte, muito abatido por cuidados, magoado de desgostos e triste presciente de agouros, lhe perguntara:
Senhor Pai, ser Rei dole muito?
Sim. Deve doer muitíssimo!
Carlos V Imperador do Mundo por Rei de Espanha e dos seus imensos domínios americanos, Imperador da Alemanha, Rei de todo o norte de Itália, Rei da Flandres, Rei da Áustria e do qual diziam que o sol nunca deixou de alumiar seus vassalos, – Carlos V, já viúvo da nossa linda Dona Isabel de Portugal, voluntariamente abdicou, recolhendo-se ao mosteiro de Cáceres, na Andaluzia Espanhola?
É que ser Rei, dói, Realmente, pela inveja dos pobres de espírito! …»
– 2.º Conde de Alvellos, in ‘O Berço Exilado’
Miguel Villas-Boas

sexta-feira, 24 de abril de 2015

E tu, Portugal?!


Somos gente crescida, eu quase com setenta anos e tu perto dos mil, está na hora de uma conversa em família. O que achas?!

E vamos dizer a verdade. E a verdade é que estes dois últimos séculos não te correram nada bem. Primeiro foi a revolução liberal, burguesa e importada, que trocou o ‘Deus, Pátria, Rei’ da tradição pela trilogia – ‘liberdade, igualdade e fraternidade’. Uma utopia devastadora. Depois, foi a implantação artificial da república (o termo ‘implante’ diz tudo!) e o que tinha que piorar, piorou. Liquidada a monarquia a representação nacional sofreu um enorme revés. A expressão Pátria já não diz nada a ninguém.

Sendo assim, o que é ‘isto’ agora?!
Uma região europeia?! Um aldeamento turístico?! Uma selecção de futebol?!

Eu sei que ‘isto’ não era para ser país. E tu sabes isso tão bem como eu. Ganhaste (e justificaste) a tua independência na cruzada contra a moirama, na reconquista peninsular. A Cruz é a tua bandeira e o teu Brazão de armas. Tudo o mais, incluindo as Tordesilhas, veio por acréscimo. Nunca te esqueças disso. Aliás, mesmo que te esqueças, a fé e o império que dilataste, estão aí para te reavivar a memória. Por ironia do destino, é essa a tua sorte.

Mas tens que fazer alguma coisa por isso. Não podes ficar á espera que um presidente da república, prisioneiro da laicidade, possa empunhar a Cruz e avançar contra os inimigos dessa mesma Cruz! Isso é uma teimosia infantil. Ele não tem, nem quer ter, representação para tal. Pode quando muito balbuciar uma série de frases ideológicas, que não mobilizam ninguém, e farão rir aqueles que acreditam e morrem por algum Deus. Mesmo que esse Deus não seja o verdadeiro.

Conversa acabada.

 
Saudações monárquicas

 

Fonte: Interregno

Real Associação da Beira Litoral: APRESENTAÇÃO DO LIVRO "REVISITAÇÃO" EM VISEU

Real Associação da Beira Litoral: APRESENTAÇÃO DO LIVRO "REVISITAÇÃO" EM VISEU:   António Cardoso Moniz Palme

quinta-feira, 23 de abril de 2015

UM REI PARA O POVO


Dom Carlos I de Portugal visita o Porto
Dom Carlos I de Portugal visita o Porto
Às centenas, portugueses de todas as condições, pejavam as ruas para ver o préstito real, sempre com o propósito de espreitar no momento exacto de passagem do Rei e o aclamarem. E quando o Rei Dom Carlos I passou ao som do hino executado pela banda marcial, o Povo de todos os quadrantes exultou e soltou o harmonioso e sentido, ‘Viv’ó Rei!’. De mil diferentes modos – conquanto cada um tem o seu – os populares ébrios de júbilo desfaziam-se em manifestações espontâneas de alegria e bem-querer por aquele que pela honestidade do seu carácter e moderação dos seus princípios era Rei de Portugal, mas sobretudo Rei dos Portugueses. Era mais do que fidelidade aquilo que sentiam, era aquele afecto indizível que o Povo sempre – ou quase – sentiu pelos seus Reis, reconhecimento penhorado pela arte dos príncipes em reger os Povos, governar o leme da Nau do Estado e chefiar os administradores da res publica.

De facto, só a Monarquia é a poetisa da harmonia, e é esta a única rima que menos exige do poeta, porque sai natural.

“O rei reside em segredo

No governar da Nação,

Que é um realismo com medo

Chama-se nação ao Rei

E tudo isto é Rei-Nação.”

– Fernando Pessoa, 1935

Pouco evoluía a caravana, pois enorme era a febricitante multidão que queria ver o Rei… Grande Senhor! Mas quem sai aos Seus Maiores Antepassados vê-se invejado!

Com uma instrução geral que o não deixava encontrar hóspede em qualquer assunto de conversação; conhecedor e possuidor de línguas, especialmente do francês e do inglês, por forma que delas se servia como de sua própria; dado ao gosto e cultura das Belas-Artes, em uma das quais, a Pintura, foi distintíssimo; habituado nos sports e, como atirador, excepcionalmente forte – reunia a tudo isso ser o homem mais bem-criado do seu País, dotado de um humor sempre igual, sem descair nunca na vulgaridade, nem deixar perceber de si, em qualquer circunstância, sinal de contrariedade, despeito ou irritação.”, escreveu João Franco Castello-Branco, in ‘Cartas D’El-Rei Dom Carlos I a João Franco Castello-Branco’, Seu Último Presidente do Conselho, Lisboa, 1924.

Se a uns os criticam pelos defeitos, outros são apontados por causa das suas qualidades que provocam a inveja dos tagarelas pífios; era o caso do Rei Dom Carlos, cujo reinado foi à altura desfigurado pelas ambições políticas republicanas, mas que cabe a nós, cronistas, o dever e o direito de apontar o disparate da mentira e da má-fé, e, fazer justiça Àquele que foi um dos maiores Reis da Sua Dinastia.

Era essa a Realidade do Rei Dom Carlos I de Portugal: popular, polido, enormemente ilustrado, mas… Um Rei Para o Povo!

Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica

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Acção Integral: O Rei e as Cortes: Um grupo de monárquicos que se dizem tradicionalistas – actuando sobretudo na rede social facebook – têm vindo a divulgar uma nova doutr...

Os Reis Cuidavam do Seu Povo



 
Um País para se projectar na senda do crescimento tem que consolidar três pilares fundamentais: saúde, educação e justiça. Os nossos Reis sempre o souberam!
Para além de ter sido o Rei Fundador e deixar como legado a Fundação da nacionalidade Portuguesa, de pacificar o Reino, promovendo o municipalismo e concedendo forais, findas as contendas militares, o reinado de Dom Afonso Henriques distinguiu-se, também, pela tolerância para com os judeus – coisa pouco comum à época noutros reinos. Estes estavam organizados num sistema próprio, representados politicamente pelo grão-rabino nomeado pelo Rei de Portugal. Yahia Ben Yahia, grão-rabino à época, foi mesmo escolhido para ministro das Finanças de Afonso Henriques e encarregue da colecta de impostos no reino.
Já D. Sancho I incentivou a classe média de comerciantes e mercadores, reconhecendo o papel fundamental desta classe para um País.
O primeiro conjunto de leis portuguesas é da autoria de D. Afonso II e visavam sobretudo temas como a propriedade privada – cuja salvaguarda é tão importante -, direito civil (regulando as relações sociais que disso careciam) e cunhagem de moeda.
El-Rei Dom Afonso III, pai do “Estado Português”, dedicou especial cuidado à classe média de mercadores e pequenos proprietários, auscultando os seus queixumes. Também, distribuiu alcaides pelos castelos e juízes pelas diferentes vilas e terras do reino com o propósito de estabelecer um poder legal com o qual todos os habitantes do Reino português mantivessem uma relação de igualdade. O Rei Dom Afonso III foi muito querido pelos portugueses por essas decisões e outras como a da abolição da anúduva – imposto do trabalho braçal gratuito, que obrigava as gentes a trabalhar na construção e reparação de castelos e palácios, muros, fossos e outras obras militares -, ou, ainda, por nas Cortes de Leiria, em 1254, na primeira destas assembleias-gerais do Reino, ter assentado representantes de todos os espectros da sociedade, para preparar legislação que restringia a possibilidade das classes altas cometerem abusos sobre a população menos favorecida.
Chega-se ao Reinado de Dom Dinis, que transforma Portugal num dos mais famosos focos da poesia europeia da Idade Média, e que ficou conhecido como o Período Trovadoresco ou Galego-Português. Neste período eram sobretudo o “Amor” e a “Amizade” os temas sobre o que os poetas escreviam e que os trovadores cantavam, mas não exclusivamente, debruçando-se ainda em temas políticos sobretudo feitos guerreiros e até mesmo assuntos satíricos.
Mas dominam sobretudo dois estilos de lirismo: as Cantigas d’ Amor – de influência Provençal – e as Cantigas d’ Amigo, completamente nativo português. As primeiras, recatada e requintadamente platónicas, focam-se no enaltecimento das qualidades da mulher amada ou na expressão da saudade do ente amado.
Nesta sublimação da figura feminina participou el-Rei Dom Dinis com a sua mestria e indiscutível talento poéticos. A mais célebre Cantiga d’ Amigo D’el-Rei Dom Dinis – escrito sobre a perspectiva de uma personagem feminina – como era comum há mestria da época – foi certamente o célebre:  ‘Ai flores, ai flores do verde pino’.
Mas além da Poesia trovadoresca outro elemento contribuía para a aculturação em Portugal, as escolas que se multiplicavam por todo o Reino – embora as primeiras escolas (monásticas) tenham surgido na governação do próprio Conde D. Henrique, assim como o primeiro grande trovador português, D. Gil Sanches (filho de Dom Sancho I e de D. Maria Paes Ribeira).
De resto, desde El-Rei Dom Sancho I, que os Reis portugueses, quais Mecenas, concediam bolsas de estudos para portugueses irem estudar em Bolonha, Salamanca, etc. Mas a partir de 1290, e para o engrandecimento de Portugal, dá-se a abertura do Estudo Geral – primeiro em Coimbra, depois em Lisboa.
Quem herda o talento de seu real pai (Dom Dinis), é Dom Pedro Afonso, Conde de Barcelos, senhor de uma enorme obra literária – proporcional à sua envergadura física. Duma notabilíssima e profícua produção literária resultam obras como o “Livro das Linhagens” e a “Crónica Geral de Espanha”.
Já a Augusta mulher de Dom Dinis, a Rainha Santa Isabel foi uma Rainha muito piedosa dedicando grande parte do seu tempo à caridade e à oração, pelo que, ainda em vida, começou a possuir grande estima e reputação de santa, tendo esta reputação amplificado após a sua morte. A história mais popular da Rainha Santa Isabel é sem dúvida a do ‘Milagre das Rosas’, e cujo primeiro registo escrito, encontra-se na Crónica dos Frades Menores. De acordo com a lenda, a Rainha saiu do Castelo do Sabugal numa manhã de Inverno para distribuir o pão aos mais pobres. Surpreendida por Dom Dinis, que lhe inquiriu onde ia e o que levava no regaço, a Rainha terá exclamado: São rosas, Senhor!. Desconfiado, D. Dinis inquirido: Rosas, no Inverno?. D. Isabel expôs então o conteúdo do regaço do seu vestido e nele havia rosas, ao invés dos pães que encapotara.
Avançando, socorramo-nos das palavras de Fernão Lopes, in Crónicas, descrevendo a sua actividade de Juiz Supremo d’ El-Rei Dom Pedro I: “Trabalhava-se quando podia de as gentes não serem gastadas, por azo de demandas, e prolongados preitos”. Ou seja nas suas Ordenações, o Rei cuidava para que as pessoas não andassem demasiado tempo em conflito judicial, nem tão pouco gastassem muito dinheiro com o pleito. Dom Pedro I ordenava que fosse logo despachado o que estava nessas condições para que as partes in casu concreto não andassem em “demanda prolongada nem façam despesas grandes”, ou seja, El-Rei exigia uma justiça célere e que não fosse dispendiosa quer para as partes quer para o Estado.
Em Portugal, foi durante os reinados da Dinastia de Avis que se verificou a maior aculturação dos Príncipes e reflexamente a do País. O gosto pelos autores clássicos, pelas letras, resultado da esmerada educação dos Príncipes da Dinastia de Avis, propiciou a difusão dos textos clássicos. Era a introdução da mentalidade Humanista do Renascimento em Portugal.
É com o início da Dinastia de Avis que, de facto, a sociedade portuguesa sofre a sua maior metamorfose. Para começar a língua portuguesa toma a sua característica e inconfundível fisionomia que é enriquecida com os neologismos que advém do contacto com as obras clássicas. Com o Renascimento vem a ideia de tomar a Antiguidade Clássica como modelo.
A educação que Dom João I recebeu como Grão-mestre da Ordem de Aviz transformou-o num Rei invulgarmente culto para a época e o seu gosto pelo saber passou-o para a sua Ínclita Geração. O Infante Dom Pedro de Portugal, Duque de Coimbra, quarto filho d’el-Rei Dom João I e da Rainha Dona Filipa de Lencastre, traduz o “De Officiis” de Cícero, e redige ele próprio a maior parte do “Tratado da Virtuosa Benfeitoria”, obra inspirada e assente em Séneca e Cícero. Além, dessa valia pessoal como autor e tradutor não foi menos importante o seu papel como mecenas das Artes, sobretudo das Letras, tendo inclusive sido traduzido por encomenda sua o “De Senectute” por Vasco Fernandes de Lucena, e o “De Amicitia” pelo Prior São Jorge. Os Príncipes de Avis, quase sem excepção, como nenhuma outra Dinastia, inclusive na Europa, desde a primeira geração até Dom António, Prior do Crato, brilham nas mais variadas áreas das Artes. Nem vamos abordar o papel guerreiro que o Infante D. Henrique teve nos descobrimentos portugueses – pois não é o tema em análise -, mas sim o seu papel como patrocinador da criação de uma cadeira de Astronomia na Universidade de Coimbra, ou o seu empenho no desenvolvimento da Caravela, de portulanos, de roteiros e de instrumentos náuticos que facilitassem essas mesmas descobertas por parte dos navegadores. “O Navegador” investiu toda a sua fortuna em investigação relacionada com navegação, náutica e cartografia, dando início à epopeia dos Descobrimentos. Esta descoberta geográfica do Mundo empreendida pelos portugueses é reflexo do paradigma do Renascimento na medida que o humanismo não se trata apenas de um ideal de cultura, mas um ideal de pensamento de confiança no Homem. Com os Descobrimentos, Portugal participa na primeira linha da construção de um admirável Mundo Novo.
Embora, a História existisse já desde os primórdios da Monarquia Portuguesa, é com Fernão Lopes que esta se autonomiza e se converte em género próprio. É com as suas “Crónicas” que se inicia um novo e inédito género na literatura portuguesa, a prosa literária, «em que a arte alcança o grau supremo da naturalidade», vincou António José Saraiva in “História da Literatura Portuguesa”. Nesta sublime obra da prosa histórica portuguesa, o historiador oficial da Corte de Avis reúne uma exposição sequente da história dos sucessivos reinados, sem esquecer o exercício narrativo da época, embora o faça de uma maneira independente compilando factos seleccionados nas mais diversas fontes e narrando-os de uma forma muito particular, o que permite dizer que criou um estilo literário próprio. «A História há-de ser luz da verdade e testemunha dos antigos tempos», escreveu.
Continuando na Dinastia de Avis, Dom Duarte I que sempre acompanhou o seu pai nos assuntos do reino, sendo portanto um herdeiro preparado para reinar, foi cognominado o Eloquente ou o Rei-Filósofo pelo seu interesse pela cultura e pelas obras que escreveu como o “Leal Conselheiro” um ensaio sobre variados temas onde a moral e religião têm especial enfoque e o “Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela”, manual para Cavaleiros.
Falecido Dom Duarte I, e na menoridade de D. Afonso V, primeiro sua mãe e depois o tio D. Pedro, Duque de Coimbra assumem a regência. Por sua ordem, cerca de 1448, foram revistas e concluídas as chamadas Ordenações Afonsinas, a primeira compilação oficial de leis do século XV, resultado de um pedido das Cortes a D. João I para a organização de uma colectânea em que se coordenasse e actualizasse o direito vigente, para a boa litigância e fácil administração na justiça.
No século XV, já no reinado de Dom Afonso V a pintura portuguesa atinge o seu auge. É de Nuno Gonçalves a autoria do esplendoroso tríptico “Painéis de S. Vicente”. Também, realizado sob encomenda de D. Afonso V em 1457 e concluído a 24 de Abril 1459, temos o “mapa-múndi de Fra Mauro”, que reúne o conhecimento geográfico da época.
O Afortunado D. Manuel I, em 1521, promoveu uma revisão da legislação com as Ordenações Manuelinas que divulgou com ajuda da recente descoberta da Imprensa. Com a prosperidade resultante do comércio, em particular do das especiarias ordenou a reforma dos Estudos Gerais, criando novos planos educativos e bolsas de estudo.
Na sua Corte surge Gil Vicente e o geógrafo Duarte Pacheco Pereira, célebre autor do “Esmeraldo de Situ Orbis”. É, também, do seu reinado o “Livro Três Místicos”, que encanta com a riqueza das suas iluminuras. Quanto a Bernardim Ribeiro cabe-lhe o papel de introduzir, com as suas Éclogas, o Bucolismo em Portugal. Também, o seu estilo acompanha a evolução da moral e as suas exigências e introduz a novela cavaleiresca sentimental integrada num ambiente feminino em que a donzela passa a dominar como figura moral e principal, mas em que a acção se exprime na tragédia amorosa, como em “Menina e Moça”.
Frequentador dos Serões do Paço, Sá de Miranda começou por colaborar no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, mas o seu génio aparece um pouco mais tarde, depois de uma estadia em Itália patrocinada em parte pela Coroa. Após o seu regresso a Portugal publica, em 1527, os “Estrangeiros”, uma comédia que o distingue como inovador na literatura da época: é a primeira comédia em prosa. Sendo-lhe concedida uma comenda perto de Ponte de Lima, aí torna-se à maneira do grande Horácio, mentor de um grupo intelectual composto por Francisco de Sá Menezes, D. Manuel Portugal, entre outros, que se apelidam de “Italianizantes” e cujo anelo supremo é a produção de um poema que eternizasse o glorioso Portugal quinhentista. Esse desiderato de imortalizar o heróico Portugal viria a ser cumprido mais tarde, mas por outro poeta, o maior da Língua portuguesa, Luís Vaz de Camões in “Os Lusíadas”. Mas antes disso, de facto, Sá de Miranda provocou uma profunda renovação estética sintetizando a totalidade dos perfis da vida lusitana ao paradigma do rigor clássicos.
E eis que surge o primeiro génio da literatura portuguesa a escrever só na língua mãe: António Ferreira. Principal teórico do Clássico Português, Ferreira teve uma importância notória na afirmação da língua nacional, uma vez que antes dele o Latim era a língua usada pelos eruditos e o castelhano a língua falada na Corte, pelo que o podemos elogiar e classificar como sendo um “grande patriota”. Toda a sua obra reflecte esse desígnio de estabelecer a língua portuguesa como instrumento de arte, embora não se dedique ao poema épico, mas à temática amorosa. De facto a elevação da sua arte ostenta-a na “Castro”, que dentro dos cânones da tragédia clássica é adaptada a um tema bem português: a “Tragédia de Inês de Castro” – como de resto primeiramente se chamou. Destilando todas as influências do teatro greco-romano dá à obra uma densidade poética e uma qualidade dramática próprias e nacionais. É desta época, também, o começo da literatura de viagens, sendo que o maior exemplo deste género é a prosa aventureira da “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto, que relata as suas aventuras pelo Extremo Oriente.
No Reinado de D. Sebastião, outra realização cultural importante foi o estabelecimento de uma nova Universidade em Évora, pelo Cardeal-Infante D. Henrique, seu tio, que a entregou aos Jesuítas. O Cardeal-Rei D. Henrique, que aquando arcebispo de Évora fundou a primeira Universidade de Évora, transformou a cidade alentejana num importantíssimo pólo cultural, acolhendo alguns vultos da cultura da altura, como Pedro Nunes, André de Resende, Nicolau Clenardo, entre outros.
Quanto a Dom João IV, o Restaurador, «de seu aio D. Diogo de Melo recebeu aprimorada educação e o gosto pela montaria; e do doutor Jerónimo Soares uma boa preparação nas letras clássicas e em teologia. Também se deu a estudos de música, ouvindo as lições do inglês Robert Tornar, que o duque D. Teodósio contratara para mestre da capela de Vila Viçosa.», In «História de Portugal», volume V, Joaquim Veríssimo Serrão. Que continuou adiante: «E, para além do monarca e do restaurador, impõe-se considerar nele o artista e o letrado, o amador de música que, no seu tempo, esteve à altura dos maiores de Portugal.» De facto, deve-se a El-Rei Dom João IV, a autoria do Hino Natalício, “Adeste Fidelis”.
Dona Catarina de Bragança, Ilustríssima Infanta de Portugal, filha de D. João IV, e Rainha Grã-Bretanha, França e Irlanda, pelo casamento com Carlos II, entre muitos hábitos e práticas que levou para a Corte anglo-saxónica, ficará, para sempre, como a responsável pela introdução do hábito de beber chá, a geleia de laranja, além do uso dos talheres e do tabaco.
Do ponto de vista cultural o reinado de Dom João V é profícuo. No campo filosófico surge Luís António Verney com o Verdadeiro Método de Estudar e, no campo literário António José da Silva. Foi fundada a Real Academia Portuguesa de História e introduzida a Ópera italiana.
O barroco manifesta-se na arquitectura, mobiliário, talha, azulejo e ourivesaria, com grande riqueza. Dom João V foi responsável por mandar construir o Real Convento de Mafra que se tornou no mais importante monumento do barroco português, e cujo os projectos e direcção da obra couberam ao ourives alemão, com formação de arquitectura em Itália, João Frederico Ludovice, e cujas obras se iniciaram em 1717 e terminariam em 22 de Outubro de 1730. Foi ainda no seu reinado que começou a construção do aqueduto das Águas Livres, que trazia a água de Belas para o regular abastecimento de água de Lisboa.
Todo o reinado é caracterizado pela criação de instituições, especialmente no campo económico e educativo, no sentido de adaptar o País às grandes transformações que se tinham operado. Surge a Real Mesa Censória, o Erário Régio e a Real Junta do Comércio. Foi no seu reinado que se produziu a primeira, se não única reforma profunda da Universidade, e que surgiu o ensino primário, assim como o ensino secundário com a fundação do Colégio dos Nobres e a Aula do Comércio.
Sucede ao Magnânimo, seu filho Dom José I, cognominado O Reformador devido às reformas que empreendeu durante o seu reinado. O reinado de Dom José I ficará marcado pelas políticas do seu primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Mello, Conde Oeiras e ulteriormente Marquês de Pombal, que reorganizou as leis, a economia e a sociedade portuguesas, transformando Portugal num país moderno. Na Reforma Pombalina e na ilustração Portuguesa desta época, destaca-se uma figura: D. Frei Manuel do Cenáculo Villas-Boas (1724-1814). Foi durante a sua viagem a Roma que contactou com as melhores bibliotecas da Europa, primeiro em Espanha, depois em França e finalmente já em Itália. Privou então com os sábios das Luzes, participou em colóquios e reuniões literárias, cultivando-se e percepcionando o progresso científico e literário. O seu papel cultural na Corte e no Reino é, então, incontornável, pois no princípio dos anos 70 do século XVIII acumulou algumas das principais funções: foi nada mais que o Preceptor e confessor do Príncipe da Beira, Dom José – futuro Dom José I de Portugal -, o protagonista das reformas de estudos da sua Ordem, enquanto Provincial, e, presidiu, paralelamente, à Real Mesa Censória e à Junta do Subsídio Literário. É desta altura a época a compra volumosa que faz de livros, mantendo-se permanente a sua atenção ao circuito editorial europeu; mantém-se igualmente em contacto com os principais eruditos europeus da época. Torna-se ele próprio Mecenas e com o enorme stock literário que possui institui diversas bibliotecas que torna públicas em Lisboa, no Convento de Jesus, na Real Mesa Censória e em Beja onde havia sido Bispo. Em sinal de reconhecimento, muitos, designam-no como o “Construtor de Bibliotecas”. Frei Manuel do Cenáculo presidiu, ainda, à condução das reformas educativas do reino. Deve-se a ele a “refundação” da Universidade em 1772, através do Plano de Estudos que elaborou em 1769, por desígnio régio. É ainda a principal figura da Junta de Providência Literária, que emana o Compêndio Histórico. Foi-lhe atribuída pela Coroa a missão de instituir uma Biblioteca Pública, e no âmbito da Mesa Censória, propõe a criação do “subsídio literário”, um imposto que incidiria sobre as bebidas alcoólicas e que serviria para financiar a aquisição de livros, assim como arranjar fundos para pagar os professores dos estudos menores. Já como Arcebispo de Évora, empreende a sua derradeira missão: a instituição da Biblioteca Pública de Évora que apesar das pilhagens durante as Invasões francesas conseguiu resistir até aos dias de hoje.
A Rainha Dona Maria I, a Piedosa, era defensora da paz e dedicada a obras sociais. Concedeu asilo a numerosos aristocratas franceses fugidos ao Terror Branco de Robespierre e da Revolução Francesa. No seu reinado desenvolveu a cultura e as ciências, com o envio de missões científicas ao Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde, e a fundação de várias instituições, entre elas a academia Real da Marinha, Academia Real das Ciências de Lisboa e a Real Biblioteca Pública da Corte, e no âmbito da assistência, fundou a Casa Pia de Lisboa.
Já Sua Majestade El-Rei Dom Miguel I mandou construir a ‘Casa dos Naufragados’ na Foz do Douro, no Porto, e, para além de todos os utensílios normais, dotou-a de aparelhos eléctricos destinados a reanimar pelos choques os corpos em paragem cardio-respiratória, um sistema que, até em Inglaterra, era uma novidade.
Dos vinte e oito anos de reinado do vigésimo oitavo Rei de Portugal, o Senhor D. Luís I, no foro legal e dos direitos humanos, importantes progressos se verificaram, de que merecem especial destaque: Portugal foi o primeiro País do Mundo a abolir da pena de morte para os crimes civis, em Julho de 1867. “Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio!”, enalteceu Victor Hugo; aconteceu, também, a abolição da escravatura, em todo o Império Português, a 25 de Fevereiro de 1869. Foi publicado o primeiro Código Civil, e, não havia censura à imprensa.
No domínio dos melhoramentos públicos deu-se o início das obras dos portos de Lisboa e Leixões. Em 1871, foi nomeada uma Comissão incumbida de apresentar o plano geral das obras de melhoramento da Capital, obras de defesa do porto de Lisboa e as baterias do Bom Sucesso, do Forte de São Julião da Barra e dos redutos de Sacavém e Alto do Duque. Foi ainda no reinado do popular Monarca português que se deu o alargamento da rede de estradas e a construção do Palácio de Cristal para a ‘Exposição Internacional do Porto’, em 1865.
  1. Luís abraçou a passada de Sua Augusta Mãe e ordenou a construção e fundação de associações de índole cultural como a ‘Sociedade de Geografia’ em 1875, mas também de carácter social como a criação de albergues nocturnos para os indigentes, em Lisboa e no Porto. Quanto à Sua Rainha Consorte, Dona Maria Pia ficou conhecida como O Anjo da Caridade e A Mãe dos Pobres por sua compaixão e causas sociais.
Sua Majestade a Rainha Dona Amélia, Rainha consorte de Portugal pelo seu matrimónio com o Rei Dom Carlos I, interessada pela erradicação dos males da época, como a pobreza e a tuberculose, fundou em 11 de Junho de 1899 o Instituto Nacional de Assistência aos Tuberculosos, assim como dispensários, sanatórios como o Sanatório para a assistência nacional aos Tuberculosos, em 18 de Maio de 1907; além de lactários populares, cozinhas económicas e muitas creches. Fundou o Instituto Pasteur em Portugal e o Instituto dos Socorros a Náufragos, em 1892.
Não obstante a crise política, Dona Amélia via reconhecido o seu trabalho com os necessitados, especialmente com as crianças pobres e os órfãos, por isso nesse mesmo ano de 1892, a 4 de Julho, Dia de Pentecostes, recebe do Papa Leão XIII, pelas mãos do Núncio Apostólico, a Rosa de Ouro, em sinal do reconhecimento do seu mérito. Criou, ainda, a Assistência Nacional aos Tuberculosos.
Dom Manuel II, apesar do curto reinado, não se inibia de fazer várias visitas aos hospitais, como da Estrela e privar com os doentes.
Vae Victis, a História foi sempre escrita pelos vencedores que a um dado momento, não necessariamente por serem mais, mas se terem apropriado dos meios de poder e coacção, se acharam na posição de a reescrever. Assim deve-se encarar o que é contado pela baba dos subjugadores como torpes calúnias que procuram atirar os vencidos para um gueto cultural e político. Mas nada anima mais um homem do que se saber do lado da Verdade e, longe do sectarismo das opiniões, da visão denegrida republicana, é nosso intento, mesmo que por precipícios temerosos, mostrar a visão da justeza monárquica a todos os níveis.
Miguel Villas-Boas