domingo, 3 de julho de 2016

No centenário da aparição do Anjo de Portugal


Ocorre, neste ano, o centenário das três aparições angélicas aos pastorinhos de Fátima, em preparação da vinda, no ano seguinte, da “Senhora mais brilhante do que o Sol”.

Muito embora não se saibam, com precisão, as datas dos breves encontros do Anjo com os três videntes, a Lúcia situa a primeira aparição do Anjo na primavera de 1916, na Loca do Cabeço. A segunda ocorreu no poço do Arneiro, no quintal da sua casa, já em pleno verão, quando a mais velha dos videntes aí brincava com os seus primos. Por último, o mensageiro celestial volta a aparecer-lhes em finais de Setembro, ou princípios de Outubro, também na Loca do Cabeço, onde já tinha ocorrido a primeira aparição.

É curioso que a Lúcia, tão minuciosa e exacta no relato das diversas aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria, não tenha nunca precisado a data daquelas precedentes aparições angélicas. Decerto, uma tal omissão é providencial e tem um evidente sentido teológico: como não seriam datas a comemorar, não interessava fixar o dia em que historicamente ocorreram. No entanto, é possível afirmar, com absoluta certeza, que as três tiveram lugar em 1916, ou seja, precisamente há um século. Assim sendo, este é o ano do primeiro centenário da primeira Comunhão de Lúcia dos Santos e de seus primos, os Beatos Francisco e Jacinta Marto, efeméride que, decerto, mereceria mais atenção pastoral, tendo também em conta o recente Congresso Eucarístico nacional.

Se a terceira e última visita do Anjo ficou assinalada pela comunhão eucarística dos três videntes, a segunda foi a única em que se manifestou, como tal, o Anjo de Portugal. Com efeito, depois de ter interpelado brandamente os três pastorinhos, interrompendo a brincadeira em que estavam entretidos, o anjo renovou o pedido de orações: “Orai, orai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios”. Tendo a Lúcia perguntado ao Anjo como se poderiam eles sacrificar, o mensageiro de Deus respondeu-lhe: “De tudo o que puderdes oferecei um sacrifício, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre a vossa pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar”.

Se esta foi a primeira e única aparição de um anjo que se identificou como sendo o Anjo de Portugal, a verdade é que era antiga a devoção ao Anjo Custódio do Reino, cuja festa deveria ser celebrada com especial esplendor, segundo alvará de el-Rei D. Manuel I, em todo o território nacional. Contudo, com o passar dos anos, esta festa foi caindo em desuso em várias dioceses, ao ponto de estar quase extinta em 1916, quando providencialmente apareceu o Anjo da guarda de Portugal. Com esta aparição, deu-se um novo alento a esta antiga e especialíssima devoção lusitana que, graças ao Papa Pio XII, tem hoje expressão litúrgica própria, a nível nacional, no muito oportuno 10 de Junho, dia de Camões, da pátria e das comunidades portuguesas. Salvo melhor opinião, Portugal é o único país cristão em que explicitamente apareceu e se manifestou o seu Anjo da Guarda e em que o mesmo é publicamente venerado numa celebração litúrgica própria.

Se, em 1916, era urgente rezar e oferecer sacrifícios pela nossa pátria, decerto que, em 2016, um século depois, não é menos necessário que os portugueses ofereçam ao Altíssimo, como então se pediu aos pastorinhos, “orações e sacrifícios” pelo seu país. Só assim se poderá cumprir a promessa de que, “em Portugal, conservar-se-á sempre o dogma da fé”, feita por Nossa Senhora aos três videntes, a 13 de Julho de 1917, depois de lhes ter revelado a terceira parte do segredo.

Que bom seria que, no nosso país, se difundisse ainda mais esta devoção ao santo Anjo de Portugal, neste ano centenário da sua aparição em Fátima! Quer pela instituição de associações de fiéis, confrarias ou irmandades paroquiais com este fim, quer ainda pela frequente e fervorosa recitação das orações por ele ensinadas aos três pastorinhos!

P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA

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