terça-feira, 26 de julho de 2016

ROTA D. CARLOS, UM REI EM CASCAIS


D. Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon e Saxe-Coburgo-Gotha, filho primogénito dos Reis D. Luís e D. Maria Pia, nasceu no Palácio da Ajuda, a 28 de Setembro de 1863.

Em Cascais, mercê das condições privilegiadas da sua enseada, D. Carlos encontrou o cenário ideal para apurar interesses artísticos, aptidões desportivas e uma curiosidade científica insaciável, beneficiando do facto de, a partir de 1870, a Família Real se instalar na Cidadela, no período do ano consagrado à prática dos banhos de mar.

D. Luís soube transmitir a D. Carlos o seu fascínio pelo oceano, oferecendo-lhe, em 1878, por ocasião do seu 15.º aniversário, o palhabote Nautilus, no mesmo dia em que Cascais assistiu à primeira experiência de iluminação eléctrica em Portugal.
 
Partamos, assim, à descoberta de alguns dos locais que fizeram parte da história de um Rei que tanto amou Cascais!


1. Casa D. Maria Pia
Avenida Marginal, n.º 18 | Rua D. António Guedes de Herédia, n.º 3 B, Monte Estoril

Construída na última década do século XIX, em posição dominante sobre a escarpa da costa do Monte Estoril, esta casa, ainda hoje imagem de marca do Monte Estoril, foi adquirida pela Rainha D. Maria Pia, para utilização durante o período do ano consagrado aos banhos de mar, em 1893, quatro anos depois do falecimento do Rei D. Luís na Cidadela de Cascais e da ascensão de D. Carlos ao trono. No entanto, em função da sua privilegiada localização também viria a ser utilizada durante grandes períodos no inverno, assumindo, então, a designação de Paço do Estoril, que se manteria até à implantação da República, em 1910.
 
2. Praia da Rainha 
Cascais

A enseada que abriga a Praia da Rainha foi outrora conhecida por Boca do Asno, provavelmente devido à sua forma. Cedo este pequeno areal, protegido do vento e da ondulação, se transformou no preferido da Rainha D. Maria Pia, que o elegeu para os banhos de mar dos príncipes D. Carlos e D. Afonso. Seria também nesta praia que a Rainha D. Amélia, mulher de D. Carlos, salvaria, em 1900, um pescador que se encontrava prestes a afogar-se…
 
3. Praia da Ribeira
Cascais

A presença sazonal da Família Real em Cascais, a partir de 1870, em função da moda dos banhos de mar, transformou a vila na rainha das praias portuguesas, obrigando os pescadores a cederem aos banhistas parte da Praia da Ribeira, assim designada por aí então desaguar a Ribeira das Vinhas.

Foi a partir deste areal, hoje conhecido por Praia dos Pescadores, que D. Carlos impulsionou a prática da vela, do remo e da natação, transformando Cascais no mais prestigiado campo de regatas em Portugal, onde se disputou, por exemplo, em 1893, a primeira corinthian race nacional, regata em que as embarcações correm tripuladas apenas por amadores ou, em 1898, a primeira regata internacional nas nossas águas.
 
4. Avenida D. Carlos I
Cascais

A estada da Família Real no Palácio da Cidadela a partir de 1870 acentuou a necessidade de construção de uma nova via de acesso à Praia da Ribeira. A Avenida D. Carlos I, inaugurada em 1899, em homenagem ao Rei, que a terá ajudado a pagar, transformou-se num dos eixos fundamentais da vila e em mostruário da arquitectura de veraneio, então em voga, de que a Casa Silva Leitão, projectada em 1896, com seu telhado pontiagudo, constitui belíssimo exemplar.
 
5. Passeio Maria Pia 
Cascais

Este passeio contíguo à Cidadela de Cascais era local de passagem obrigatória dos elegantes instalados na vila para a prática dos banhos de mar, razão pela qual foi baptizado, em 1890, como Passeio Maria Pia, em homenagem à Rainha, mãe de D. Carlos.
 
6. Marégrafo
Passeio Maria Pia, Cascais
Marcação de visitas: 214 815 907/55 | museumar@cm-cascais.pt

Tendo por função a medição do nível médio das águas do mar, o Marégrafo de Cascais, que estava ligado ao laboratório oceanográfico de D. Carlos, foi instalado em 1882, vindo a ser deslocado cerca de 30 metros, para a sua actual localização, em 1900.

O sistema de medição, composto por uma bóia num poço, ligada a um relógio de alta precisão e a um cilindro horizontal que permite o registo gráfico das oscilações da bóia, ainda funciona e é visitável por marcação.
 
7. Palácio da Cidadela
Avenida D. Carlos I, Cascais
Aberto de 4.ª a domingo, 14h00-20h00

A Cidadela é uma fortificação compósita, que resultou de mais de quinhentos anos de sucessivas construções e readaptações. Tendo por base a Torre de Cascais, mandada construir em 1488 pelo Rei D. João II, veio a ser integrada, no último quartel do século XVI, na Fortaleza de Nossa Senhora da Luz e depois de 1640 na fortificação que hoje conhecemos.

A porta de armas era o único acesso ao seu interior, que se organizava a partir de um pátio central, em torno do qual se dispunham quatro quarteirões: o de Santa Catarina, junto às antigas Casas do Governador – onde a partir de 1870 os Reis D. Luís e D. Maria Pia instalaram o Paço Real de Cascais – os de S. Pedro e de Santo António, que se destinavam à guarnição, e o de S. Luís, onde funcionava o hospital. Sob o pátio construiu-se uma grande cisterna, de planta quadrangular, com abóboda assente em nove colunas. Do conjunto destaca-se, ainda, a Capela de Nossa Senhora da Vitória.

O projecto de adaptação da Cidadela enquanto residência da Família Real, a partir de 1870, foi entregue a Joaquim Possidónio Narciso da Silva. Para o efeito, o arquitecto gizaria a ligação das Casas do Governador ao Pavilhão de Santa Catarina, que confinava com a Praça de Armas, redimensionando salas, decorando vestíbulos e salões e criando um salão de banquetes e uma ligação direta para o coro alto da Capela de Nossa Senhora da Vitória.

O Rei D. Luís veio a falecer, no Paço de Cascais em 1889, sucedendo-lhe D. Carlos, que promoveu profundas alterações no edifício, onde instalou o primeiro laboratório português de biologia marinha, em 1896, mandando acrescentar, para o efeito, em 1902, um terceiro piso sobre o antigo Pavilhão de Santa Catarina. O Palácio veio, depois de 1910, a receber os Presidentes da República, funcionando, mesmo, como residência oficial de Óscar Carmona, de 1928 a 1945.

Depois de muitos anos sem utilização, já em acentuado estado de degradação, seria alvo de uma profunda intervenção de reabilitação e restauro, entre 2007 e 2008. Cumpre hoje as funções de residência oficial do Presidente da República, assegurando simultaneamente o acesso às suas salas de aparato e dependências plenas de história, através de visitas guiadas, promovidas pelo Museu da Presidência da República.
 
8. Teatro Gil Vicente
Largo Manuel Rodrigues Lima, n.ºs 7-13, Cascais
Marcação de visitas: 214 830 522

Inaugurado em 1869, com quinhentos lugares, por iniciativa de Manuel Rodrigues Lima, este espaço cultural segue as linhas clássicas do palco à italiana. O edifício é um corpo retangular com fachada principal na face mais curta, marcada por três portas emolduradas por cantaria, segundo um modelo do século XVIII, a que sobrepõem três janelas "de verga" semicircular. A platibanda com balaustrada apresenta, ainda, sobre os cunhais, florões de barro. 

Durante décadas esta sala de espectáculos desempenhou um papel essencial no quotidiano das elites instaladas em Cascais, por meio da promoção de concertos e peças de teatro a cargo de artistas vindos expressamente de Lisboa e até de récitas de amadores. Constituía, assim, um dos palcos da convivialidade da alta sociedade “a banhos” em Cascais, que beneficiou, muitas vezes, da presença da Família Real.
 
9. Sporting Club de Cascais | Museu do Mar Rei D. Carlos
Rua Júlio Pereira de Mello, s/n.º, Cascais

Foi na Parada, antiga área de instrução militar das tropas aquarteladas na Cidadela de Cascais, que se instalou, em 1879, o Sporting Club de Cascais, sociedade desportiva e recreativa de acesso condicionado, onde se reuniam os mais prestigiados banhistas. Para além dos bailes que organizava, o clube, que cedo se transformou no centro da vida social da vila, notabilizar-se-ia, ainda, pela introdução de diversas modalidades desportivas em Portugal, casos do ténis, em 1882 – que o Rei D. Carlos tanto apreciava – ou do futebol, no ano de 1888.

Hoje funciona neste edifício o Museu do Mar, formalmente inaugurado em 1992 e rebaptizado enquanto Museu do Mar – Rei D. Carlos no ano de 1997, em homenagem ao monarca, fundador da oceanografia portuguesa. Entre os diversos núcleos expositivos destacam-se os dedicados à arqueologia subaquática, à memória da comunidade piscatória local, a D. Carlos e à ciência oceanográfica e à biodiversidade do mar de Cascais.
 
10. Esplanada de tiro aos pombos 
Santa Marta, Cascais 

Era nesta esplanada em Santa Marta, já desaparecida, que a alta sociedade assistia ou praticava (a)o tiro aos pombos, como sucedia com D. Carlos, ainda hoje recordado pela sua extraordinária pontaria. O tiro e a caça constituíam duas das suas grandes paixões, chegando, mesmo, a roubar horas ao sono para poder praticar…
 
11. Casa de S. Bernardo
Av. Rei Humberto II de Itália, s/n.º, Cascais

A casa de Bernardo Pinheiro de Melo, secretário e amigo de D. Carlos, que o distinguiria, em 1895, com o título de 1.º Conde de Arnoso, foi local privilegiado de convívio para os “Vencidos da Vida”, de que faziam parte algumas das mais destacadas personalidades da vida cultural portuguesa da época, como Eça de Queirós, Ramalho Ortigão e, apesar de se considerar um confrade suplente, o próprio Rei.

D. Carlos, que estudara desenho com Teodoro da Mota e pintura com Tomás da Anunciação, Miguel Ângelo Lupi e Enrique Casanova, cedo se consagraria enquanto um dos expoentes do naturalismo português. Conhecem-se vários trabalhos representando Cascais assinados pelo monarca, que aproveitava a pacatez da varanda da Casa de S. Bernardo para aguarelar e desenhar alguns objectos, como pratos e abat-jours, que oferecia, depois, ao dono da casa.
 
12. Casa dos Condes de Olivais e Penha Longa
Av. Rei Humberto II de Itália, n.º 7, Cascais

Em 1886, D. Carlos casou-se com a Princesa Amélia de Orleães, filha dos Condes de Paris, passando, a partir desta data, por ocasião da estada em Cascais, a residir numa casa cedida pelos Condes de Olivais e Penha Longa. Construir-se-ia, pouco depois, um enorme passadiço de acesso à Cidadela, de forma a permitir a comunicação entre as duas habitações reais.

Este belíssimo exemplar da designada arquitectura de veraneio foi recentemente alvo de uma importante obra de ampliação, de forma a receber o Farol Design Hotel.

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