domingo, 30 de outubro de 2016

BEATO CARLOS DE ÁUSTRIA O IMPERADOR CATÓLICO QUE MORREU NA MADEIRA


Hoje (21/10) é dia do Beato Carlos de Habsburgo, um grande Imperador, um pai de Família e um grande homem
Carlos Francisco José de Habsburgo, Arquiduque e Príncipe Imperial da Áustria, Príncipe Real da Hungria e da Boémia, Príncipe Ducal de Lorena e de Bar, Príncipe de Habsburgo-Lorena, nasceu no pequeno Castelo de Persenberg. Era o filho mais velho do Arquiduque Otão (*1865 †1906) e da Arquiduquesa Maria Josefa (*1867 †1944), nascida Princesa Real de Saxe.
Desde muito jovem foi evidente a sua propensão para as coisas de Deus, faceta que se perpetuou ao longo de toda a vida, quer durante os anos da sua carreira militar quer posteriormente já como Imperador da Áustria e Rei da Hungria e como pai e chefe de família. Carlos de Habsburgo praticou exemplarmente os seus deveres de cristão, tanto em público como na esfera privada, procurando sempre o bem do próximo e fazendo tudo para aliviar o sofrimento dos mais necessitados.
Era frequente encontrá-lo a rezar recolhido no seu gabinete de trabalho e também na frente de batalha. Encorajava os seus soldados a rezar e, antes de dar início a uma reunião ou a qualquer outro acto formal ou informal era frequente pedir a quem estivesse consigo que o acompanhasse numa breve oração.
A 21 de Outubro de 1911, casou com a sua prima a Arquiduquesa Zita de Bourbon (*1892 †1989), Princesa de Parma, Princesa de Bourbon-Anjou, quarta filha do Duque de Parma, D. Roberto I (*1848 †1907) e da sua segunda mulher, a Infanta D. Maria Antónia de Bragança (*1862 †1959) -- esta última, filha do Rei D. Miguel de Portugal. A união conjugal de Carlos de Habsburgo com Zita de Bourbon foi abençoada pelo Papa São Pio X que "em audiência privada a Zita preconizou o futuro do seu consorte como imperador e revelou-lhe que as virtudes cristãs de Carlos seriam um exemplo para todos os povos".
Em 1903 o Arquiduque Carlos iniciava a sua carreira militar a qual iria terminar em 1916 já em plena I Guerra Mundial, ano em que subiu ao trono da Áustria com o nome de Carlos I, após a morte do seu tio-avô o Imperador Francisco José. Tornou-se príncipe herdeiro em consequência do assassinato do seu tio e herdeiro do trono, o Arquiduque Francisco Ferdinando, às mãos de nacionalistas sérvios, em Sarajevo, na capital da província da Bósnia-Herzegovina, facto que iria despoletar a Primeira Grande Guerra.
No seu curto reinado, como Imperador da Áustria e Rei da Hungria, Carlos de Habsburgo procurou incessantemente uma solução para a paz entre todos os beligerantes e mostrou uma preocupação contínua pelo bem-estar espiritual e material dos seus povos, revelando, neste aspecto particular, estar bem à frente dos Chefes de Estado seus contemporâneos.
Durante largos períodos, no decorrer da Primeira Grande Guerra, Carlos de Habsburgo ordenou o racionamento de víveres no palácio Real, à semelhança do que acontecia em toda a cidade de Viena. Ordenou também que se utilizassem os cavalos do palácio para a distribuição de carvão por toda a capital do Império, tendo igualmente lutado contra a usura e a corrupção que grassavam naquela época.
Todas as suas decisões, como monarca, eram tomadas, invariavelmente, em função de valores éticos e morais, pondo sempre em primeiro lugar o princípio cristão do bem do próximo por amor a Deus.
Essa sua forma de sentir e de agir levou-o a proibir bombardeamentos estratégicos de populações e de edifícios civis e a restringir a utilização do gás mostarda. Também fez aprovar leis que impediam a leitura de publicações obscenas nas fileiras do exército e deu início a um movimento destinado a distribuir aos militares que se encontravam na frente de batalha publicações com conteúdos edificantes, tendo estimulado e implementado a formação de uma imprensa de orientação católica.
Essa sua conduta exemplar tornou-se bem patente também nos momentos mais difíceis da sua vida. Com efeito, após ter sido obrigado a renunciar ao trono imperial e durante a sua reclusão em Eckartsau, foi contactado várias vezes por pessoas e grupos sem escrúpulos que lhe sugeriam que voltasse a ocupar o trono perdido, havendo nas propostas desses grupos motivações e interesses em nada coincidentes com a forma de sentir e de agir de Carlos de Habsburgo. Perante o conteúdo de de tais propostas recusou-as afirmando: "Como monarca católico, nunca farei um acordo com o mal, mesmo para recuperar o meu trono."
Por ocasião da última tentativa de restauração do trono imperial, com o apoio do governo Francês e do Vaticano, o Imperador-Rei foi feito prisioneiro e enviado para o exílio na Ilha da Madeira, onde acabaria por morrer pouco tempo depois vítima de doença súbita. Ao aperceber-se que o seu estado de saúde se ia agravando e que já estava próximo o fim da sua existência terrena, e muito brevemente estaria na presença de Deus, Carlos de Habsburgo mandou chamar o seu filho mais velho, o Príncipe Otão, para que se aproximasse do seu leito de morte. Com essa atitude queria Carlos de Habsburgo que o seu filho testemunhasse a fé com que ele se aproximava da morte, tendo afirmado: "Quero que ele veja como morre um Católico e um Imperador."
Coerência e integridade, palavras que caracterizam de modo perfeito a maneira de pensar, de sentir e de agir do Imperador Carlos de Habsburgo, traços marcantes da sua personalidade como Monarca, como Chefe de Família e como católico. Coerência e integridade do Monarca Carlos de Habsburgo perante os ensinamentos da Igreja Católica, aspectos que estiveram sempre presentes nas suas decisões políticas e nas leis que promulgou e que reflectem realidades diametralmente opostas à atitude tão em voga nos nossos dias, em que muitos políticos e governantes para manterem o seu prestígio pessoal e os seus cargos votam, se necessário, contra os ensinamentos da Igreja e contra a sua própria consciência.
Coerência e integridade, palavras que, infelizmente, vão fazendo cada vez menos sentido em largos sectores das sociedades ocidentais, onde os princípios morais e éticos são paulatina e quase que imperceptivelmente relegados para segundo plano e substituídos por um espírito de tolerância relativista, em larga medida sustentado pelos grandes média, frequentemente alinhados com sectores ideológicos que pretendem fomentar uma revolução nas mentalidades e nas formas de agir e de sentir dos povos da Europa Cristã, visando em última análise a transformação gradual e radical dos seus hábitos mentais, dos seus costumes e tradições e a cedência a novas formas de pensar, de sentir e de agir em tudo contrárias aos ensinamentos da Igreja e às de uma autêntica Civilização Cristã.
José Sepúlveda da Fonseca - SENZA PAGARE

REAL DE LISBOA VISITOU O PALÁCIO DO CORREIO-MOR, E...

Real Associação da Beira Litoral: REAL DE LISBOA VISITOU O PALÁCIO DO CORREIO-MOR, E...: Sábado dia 22 de Outubro, cerca de quarenta associados reuniram-se para mais uma sessão dos Roteiros Reais da Real Associação de Lisboa...

Palácio da Pena celebra bicentenário do nascimento de D. Fernando II

A mostra é dedicada à obra artística do monarca e revela acervo nunca exposto. Começa a 29 Outubro, e vai estar patente até 30 de Abril de 2017, nos Aposentos de D. Manuel II

Fernando Coburgo Fecit - A actividade artística do rei consorte | D. Fernando II


A mostra inaugura a 29 de Outubro, em Sintra, para assinalar o bicentenário do nascimento de D. Fernando II, criador do Parque e Palácio da Pena. Tem como nome “Fernando Coburgo fecit: a actividade artística do rei-consorte”. E vai estar aberta ao público até 30 de Abril de 2017, nos Aposentos de D. Manuel II, no Palácio da Pena.

A exposição

Hugo Xavier, conservador do Palácio, é o curador da exposição. Da mostra faz parte um numeroso conjunto, nunca exposto, de desenhos, gravuras e documentos manuscritos e outros objectos entretanto incorporados, com destaque para uma moldura com pratos em cerâmica pintados pelo rei.
O Presidente do Conselho de Administração da Parques de Sintra, Manuel Baptista, destaca: “A exposição que agora se apresenta ao público permite revelar um acervo, recentemente adquirido, do legado artístico do rei e que se insere num investimento mais vasto de aquisições de objectos históricos destinados a enriquecer as colecções daquele monumento”.
Além destes, é possível ver outros objectos provenientes de doações efectuadas por descendentes da Condessa d’Edla, segunda mulher do monarca, bem como peças cedidas por particulares e instituições, como o Museu Nacional de Arte Antiga, Palácio Nacional da Ajuda, Museu-Biblioteca da Casa de Bragança e Palácio Nacional de Queluz.

D. Fernando II, o rei-artista

Foi rei-consorte de Portugal pelo seu casamento com D. Maria II, ficou conhecido pelo cognome de “rei-artista”. Hábil desenhador, gostava acima de tudo de experimentar, destacando-se essencialmente na área da gravura, numa primeira fase, e na pintura sobre cerâmica, numa fase mais tardia.
Vários foram os temas desenhados e gravados pelo rei, da vida familiar com os filhos, a cenas do meio social que frequentava. Dedicou também atenção ao reino animal, onde revela a sua predilecção por cavalos, passando pelos costumes, mitos e heróis, representando tradições populares portuguesas, figuras associadas a mitos heroicos húngaros e personagens históricas.
A actividade artística do monarca, que assinava as suas peças com o característico monograma/assinatura F e C sobrepostos (Fernando Coburgo) seguidos do f. de fecit (do latim fez), manteve-se uma constante até ao ano da sua morte, ocorrida em 1885, aos 69 anos de idade.

Aposentos de D. Manuel II reintegrados no circuito de visita

A exposição “Fernando Coburgo fecit: a actividade artística do rei-consorte” está patente nos antigos aposentos de D. Manuel II. Estes, estão situados no piso nobre do Torreão do Palácio Nacional da Pena, restaurados já este ano, 2016. Os  tectos, as paredes, as janelas e os  pavimentos foram os alvos desta recuperação, onde foi dada particular atenção aos vestígios de cor que ainda se puderam encontrar nas paredes, assim como portas e ombreiras.
Terminada a exposição, estes compartimentos serão musealizados e reintegrados na lógica discursiva do Palácio. “Deste modo, o interregno causado pela exposição terá um desenlace muito positivo no contexto deste grande investimento de investigação, restauro e re-musealização que a PSML tem vindo a fazer no Palácio Nacional da Pena”, destaca o diretor do Palácio, António Nunes Pereira.

O Perfil do Rei – Parte I

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‘No semblante iluminado do Rei está a vida, e a sua benevolência é como a nuvem da chuva serôdia’
– Provérbios 16:15
‘Não quero Eu fazer uma crise! Não quero nunca que haja crises feitas no Paço’,  sublinhava S.M.F. El-Rei Dom Manuel II de Portugal, 10 de Setembro de 1909, bem ciente do seu papel real de defensor do bem comum.
El-Rei Dom Pedro V chamava-lhe o ‘duro ofício de reinar’, pois, de facto, reinar não é um privilégio, mas um ofício… e dos duros! Por isso, antes de ser Rei, o Monarca é herdeiro presuntivo e burilado para adquirir todas as competências e conhecimentos sejam políticos, técnicos, científicos e culturais para que esteja devidamente apetrechado para desempenhar com a máxima aptidão o seu Ofício de Reinar e, também, para a completa abnegação pessoal às funções de Chefe de Estado e devoção exclusiva ao bem do País.
O génio da força é estar em relação com as outras forças, mas evitando os contra-sensos, interpretando vontades e sendo reconhecido como o mais «poderoso» para poder gerar consenso – claro que não para dominar, mas melhorar. Todas as forças políticas se afirmam na sua diferença, pelo que o Chefe de Estado não pode ser tendencialmente igual a uma dessas forças. Tem que haver uma figura completamente imparcial, isenta, papel que só pode ser desempenhado por um Rei, que tenha uma perspectiva geral, abstracta, livre, perdendo de vista o próprio interesse; que tenha uma visão da razão, com certeza imediata do que é o melhor para o Estado e não para uma das forças em conflito aberto.
O Rei tem a aptidão constante de possuir os conhecimentos indispensáveis para solucionar os problemas e para, pela mediação, convidar os demais a juntarem-se-lhe para a reflexão necessária, levá-los a reconsiderar os seus motivos e guiá-los à obtenção de um consenso que gere essas mesmas soluções para os problemas imediatos – que não raras vezes dependem totalmente de entendimento para serem dirimidos. E depois, só uma voz neutral e poderosa tem segurança e peso suficiente para se fazer ouvir, advertir e, em consequência, alcançar, dessa discussão entre contrários, o fim desejado: o bem comum.
Essa liberdade é plus do Rei!
Depois, é através dos actos que se conhece o sujeito, não das suas intenções. De facto, é necessário ter atenção na mensagem que transparece para o exterior.
El-Rei Dom Pedro V de Portugal, personificação da virtude de dedicação ao bem da coisa comum escreveu sobre o papel dos Reis: ‘devemos também lembrar-nos que existe para eles uma lei moral muito mais severa do que para os outros, porque quanto mais elevada é a posição tanto maior é a influência do exemplo.’
Hoje, um dos principais obstáculos à subsistência de uma verdadeira ética na res publica é a inexistência de um exemplo! Ora, não há, numa república, uma instituição que possa servir de modelo; não existe actualmente um compasso moral e ético que sirva como consciência da Nação. O Rei é amado pelo Povo, mas temido e odiado pela gente do seu tempo, como o são aqueles cujo exemplo acorda remorsos e cuja palavra obriga a corar.
Nada mais verdadeiro: o Rei como uma bússola orienta o caminho e como um cinzel grava a virtude! São os próprios Reis, que conduziram a Monarquia aos princípios da transparência, e, os tempos difíceis que se vivem um pouco por todo o lado têm feito com que as Casas Reais da Europa, sempre escrutinadas no exercício da Sua função real pelo olhar da opinião pública, adoptem uma postura de contenção económica. Como sustentou André Rebouças, o célebre abolicionista afro-Brasileiro: ‘É mais fácil democratizar um rei ou uma rainha do que um parlamento aristocrático, oligárquico e plutocrático.’
E assim, esta qualidade de isenção quase se torna uma virtude de Estado.
Por isso, não obstante a previsão dos poderes reais numa Constituição, os poderes do Monarca Constitucional estendem-se para lá desses limites, não de forma negativa, mas, antes pelo contrário, para aconselhar os políticos tendo em vista como melhor servir a Nação.
Numa Nação não há mais gentil-homem que um Rei; por isso o Monarca assume-se como um funcionário da Nação e do Povo acautelando por cumprir qualquer das obrigações inerentes ao seu cargo, que encara como serviço. O Rei tem de reinar rectamente! Mas o mesmo pode não acontecer com aqueles que procuram lugar e que certamente, numa hipotética restauração da Monarquia, verão nisso, oportunidade! O Rei de Portugal estava sentado num trono não físico, mas num Princípio – de oito séculos! Por isso é necessário cuidado com os vassalos que como aconteceu no fim da Monarquia Constitucional e mais ainda pelos revolucionários do 5 de Outubro de 1910, o que queriam, era, eles estarem sentados no trono! É que ser Rei, ‘dói!’, pela inveja dos pobres de espírito!
Com um Rei, de representação natural, intuitiva, que não age de modo absoluto, pois é um Monarca constitucional, passa-se depois à representação da representação, isto é, efectiva; o mesmo será dizer que, depois da imaterialidade, este adquire uma verdadeira lógica. Existe uma instantaneidade, uma ligação directa entre o Rei e o Nacional, pois o Rei é uma Entidade que encerra o peso simbólico da representação histórica, e essa legitimação cultural é muito importante, porque o Monarca guarda Nele a tradição dos antepassados e dos costumes da Nação. Da intuição que se tem dos caracteres próprios da magistratura real derivada do direito natural – pois entre o Rei e o Povo existe uma relação quase familiar, assente nos princípios naturais – deriva depois, dessa quase abstracção, um conceito autêntico e determinável, adquirindo universalidade e determinação em si mesmo, que se apresenta como o mais capaz não só para representar Povo e Nação, mas para resolver os problemas do Estado secular.
Assim, o Povo está e confia no Rei, revê-se Nele e orgulhosamente imita o Seu exemplo. O Rei é o exemplo e a referência!

FACTOS RONPEN LEYS
Ser Rei, é ser Pai duma Nação!
– Ter o Poder de Deus; que dá ao Rei,
alçada de Juiz, foral e acção,
para quando falar o Coração,
Ele possa guiar a Cega Lei…

Um rei que ponha bem certas,
as contas que andem tortas;
e que sempre tenha abertas,
bolsa, orelhas e portas…

A bolsa, para dar a quem não tenha;
orelhas, para ouvir risos e pranto;
as portas, para entrar, filho que venha
acolher-se às dobras do Seu Manto!

Pai da Pobreza.
Mão de Justiça.
Nos olhos – largueza…
Eis a Realeza,
que a Pátria cobiça!
In “Velhos Forais de Aragão”

‘O meu posto de honra é ao lado da Nação. Hei-de cumprir os meus deveres, que o amor das instituições e a lealdade à Pátria me impõem.’, jurou El-Rei Dom Luís I de Portugal.
O Rei dedicar-se-á exclusivamente à Sua Nação, não procurará sofregamente aumentar a dose de pão diário sem olhar a meios. O Rei especializa-se na defesa do bem da coisa comum e dos interesses da Nação. Lembremos o ‘Princípio’ de Tomás de Kempis segundo o qual os maus hábitos podem ser eficazmente combatidos por outros que lhes sejam contrários.
O Rei como um livro aberto – em qualquer parte aberta do livro –, sem nunca ser toldado pela sombra da dúvida, orientará todos pela virtude e pela força do Seu exemplo. Não pensará unicamente em si e no presente, pois o Seu trabalho aproveitará às gerações futuras. A Coroa visará a consecução do interesse público e não do interesse individual. Assim, o Rei será o dínamo da sociedade. O Rei procurará a defesa do bem da coisa comum e dos interesses da Nação, pois encara o posto de Reinar como um ofício e com sentido de missão. Ora relembremos o Princípio de Tomás de Kempis segundo o qual um costume mau é vencido por um costume bom. Assim, com um Rei dedicado à defesa do bem comum no seu posto de honra, zeloso em cumprir os Seus deveres por lealdade à Pátria, isso reflectir-se-á, inevitavelmente, nos demais agentes do Estado que não raras vezes estão muito afastados dos princípios da transparência que se exigem na gestão da coisa pública (res publica).
A autoridade dá as piores provas da sua força quando força a obediência pelo medo e alcança a submissão pelo terror. É provado que o afecto granjeia muito melhores resultados que o receio. Dessa relação especial, surge outro factor: o Rei é um canal privilegiado do Povo. E por exemplo como em Portugal os governantes sempre gozam de uma indemnidade, isenção de responsabilidade, mesmo quando violam a Constituição, o Rei seria muitas vezes a única defesa do Povo e o único fiscalizador isento contra decretos ditatoriais.
O Rei será um funcionário da Nação e, por isso, o povo pode livremente destroná-lo, se ele não cumprir qualquer das obrigações inerentes ao seu cargo – de acordo com o princípio medieval. O Rei tem de governar rectamente. Rex eris, si recte facias, si non facias, non eris e por isso mesmo poderá ser deposto. E o Rei injusto seria um castigo que Deus envia ao Povo, mas o povo não é obrigado a sofrê-lo.

Miguel Villas-Boas

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

IMPEGNI UMANITARI, UN ALTRO RICONOSCIMENTO AD ANGELO MUSA - FERENTINO



Medaglia d’Onore e Merito classe Oro al presidente della Real Academia Sancti Ambrosii Martyris, cavalier Angelo Musa. Da sempre appassionato di storia antica e negli ultimi anni di Ordini Cavallereschi, grazie a lui è nata la “Real Academia Sancti Ambrosii Martyris”, in onore del Santo Patrono Ambrogio. Lo scorso aprile, Musa ha ricevuto la cittadinanza onoraria della città di Londra per i tanti progetti umanitari e assistenziali realizzati, molti dei quali per la diocesi di Sao Tomè e Principe e in ultimo quello delle attrezzature mediche inviate a Fatima. E proprio in Portogallo durante la cena di gala che ha seguito l’evento religioso nel monastero di Alcobaca, il Comandante della Real Associaçao Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, Cav. Paulo Jorge da Conceição Vitorino, per conto del suo presidente, il Visconte di Montargil, ha conferito l’onorificenza a Musa. 
S.A.R. Dom Duarte Pio de Bragança, Capo della Casa Reale di Portogallo, in qualità di socio numero uno della stessa associazione, per via della sua legittimità di pretendente al trono di Portogallo, ha personalmente insignito il presidente Angelo Musa con la medaglia d’oro, complimentandosi con lui per la sua attività filantropica e assistenziale. Intanto martedì prossimo Musa sarà ospite nella Guildhall, che è la sede del governo della City di Londra, dove premierà la The London Fire Brigate, i vigili del fuoco della città di Londra, ente Governativo che festeggia quest’anno i 150 anni dalla sua fondazione.
Fonte: Jornal CIOCLARIA

CONVITE PARA APRESENTAÇÃO DO LIVRO "RETÁBULOS RELI...

Real Associação da Beira Litoral: CONVITE PARA APRESENTAÇÃO DO LIVRO "RETÁBULOS RELI...: Fundação Histórico - Cultural Oureana

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A RAINHA – Eça de Queiroz Aclama D. Amélia - com vídeo

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Introdução e Recolha do texto: Miguel Villas-Boas *

Dona Maria Amélia Luísa Helena de Bourbon-Orleães, princesa de França, nasceu em Twickenhem, em 28 de Setembro de 1865, durante o exílio da família, em Inglaterra. Dona Amélia era a filha primogénita do pretendente ao trono francês Luís Filipe, Conde de Paris, neto do último Rei de França, Luís Filipe I, e de Maria Isabel de Bourbon-Orleães-Montpensier, infanta de Espanha, filha do Príncipe Antoine D’ Orleães, Duque de Montpensier e Infante de Espanha, por sua vez filho do último Rei de França.

A princesa Dona Amélia passou parte da infância em Inglaterra, até à queda do II.º Império. Então, a Casa Real de Orleães pode regressar ao país, e, embora o seu pai apenas fosse pretendente à Coroa, a princesa teve então uma esmerada educação.

Dona Amélia era uma jovem encantadora e culta, admiradora de ópera e teatro, era leitora compulsiva da melhor literatura da época, chegando a corresponder-se com os seus autores favoritos. Além disso possuía, tal-qualmente, dotes para a pintura que ultrapassavam o elementar.

Tudo parecia fadado, para que o seu casamento ocorresse com o herdeiro de uma coroa europeia, mas uma feliz coincidência impeliu os acontecimentos. De férias em Paris, Dom Carlos, Príncipe Real de Portugal e Duque de Bragança, que procurava esposa, foi apresentado a Dona Amélia e a seus pais num encontro arranjado pela Infanta Dona Maria Antónia. O encanto foi mútuo e o pedido oficial foi realizado por Dom Carlos ao Conde de Paris, a 6 de Fevereiro de 1886, sendo lavrado registo matrimonial nesse mesmo dia no Castelo d’ Eu.

A 17 de Maio de 1886, a princesa Dona Amélia, futura Duquesa de Bragança partiu de França e chegou à Pampilhosa no dia seguinte, em 19 de Maio, pelas 17 horas, a princesa foi apresentada à Corte em Lisboa.

O casamento real foi celebrado no dia 22 de Maio de 1886, na Igreja de São Domingos, e foi acompanhado pela multidão que saiu às ruas de Lisboa para acompanhar o cortejo nupcial.
Depois do casamento, e terminada a lua-de-mel, os Duques de Bragança mudaram-se para a sua nova residência, o Palácio de Belém.

Para coroar esses tempos de felicidade às 21 horas do dia 21 de Março de 1887 nascia, em Belém, Dom Luís Filipe de Bragança, o primogénito do presuntivo herdeiro do trono de Portugal. Em 15 de Novembro de 1889, nasceu o Príncipe Dom Manuel de Bragança, Duque de Beja, e completou-se assim a Família Real – uma vez que, anos antes, Dona Amélia, de esperanças de uma menina, sofrera um parto prematuro, tendo a bebé, Dona Maria Ana, sobrevivido apenas uma poucas horas.

Como mãe, a Rainha soube dar uma excelente educação aos Príncipes, seus dois filhos. Mas, também, como Rainha, Dona Amélia desempenhou um papel importante. A Rainha foi sempre o braço direito d’el-Rei Dom Carlos que incansavelmente acompanhou sempre nas suas viagens de Estado. Com a sua elegância e carácter culto, Dona Amélia influenciou de forma indelével a corte portuguesa.

Interessada pela erradicação dos males da época, como a pobreza e a tuberculose, fundou em 11 de Junho de 1899 o Instituto Nacional de Assistência aos Tuberculosos, assim como dispensários, sanatórios como o Sanatório para a assistência nacional aos Tuberculosos, em 18 de Maio de 1907; além de lactários populares, cozinhas económicas e muitas creches. Fundou o Instituto Pasteur em Portugal e o Instituto dos Socorros a Náufragos, em 1892.

Não obstante a crise política, Dona Amélia via reconhecido o seu trabalho com os necessitados, especialmente com as crianças pobres e os órfãos, por isso nesse mesmo ano de 1892, a 4 de Julho, Dia de Pentecostes, recebe do Papa Leão XIII, pelas mãos do Núncio Apostólico, a Rosa de Ouro, em sinal do reconhecimento do seu mérito.

Sua Majestade a Rainha Dona Amélia criou, ainda, a Assistência Nacional aos Tuberculosos e em 1905 foi a vez de abrir o Museu dos Coches Reais.

Mas no País as crises sucediam-se. Os políticos precipitaram uma crise política que ajudaria as más intenções republicanas a urdir a teia.

A 1 de Fevereiro de 1908, quando regressavam de Vila Viçosa, a Família Real Portuguesa foi vítima de um cobarde atentado terrorista perpetrado por membros da maléfica Carbonária, em pleno Terreiro do Paço perecendo El-Rei e o Príncipe Real Dom Luis Filipe.

O Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908 lançou a Rainha – com filho e marido chacinados pelos terroristas – num pesar mortificado. Recolheu-se então para o Palácio da Pena, mas, com forças resgatadas de um profundo querer e abnegação pelo bem maior do seu País, sem abandonar o Rei Dom Manuel II, a quem por todos os meios procurou ajudar no reinado.

A 3 de Outubro os tiros de canhão acossam o jovem Rei nas Necessidades, então Paço Real, pelo que partiu para Mafra. Foi na Pena que a Rainha Dona Amélia recebeu a notícia da revolução republicana de Outubro de 1910, que mais uma vez, como no Regicídio foi possibilitada pela atonia dos políticos. Dona Amélia juntou-se ao filho Rei, mas nada mais havia a fazer por inépcia dos políticos.

Após a proclamação da república portuguesa em 5 de Outubro de 1910, Dona Amélia partiu da Ericeira juntamente com o Rei Dom Manuel II e o infante Dom Afonso Henriques, Duque do Porto, no iate real Amélia IV – outrora palco de tantas alegrias.

O exílio levou-os para Inglaterra, a Dona Amélia para Abercorn, Richmond Hill, Surrey e depois para Fulwell Park onde fixou residência Dom Manuel II. Após, o casamento de Dom Manuel II com a princesa Augusta Vitória, filha do príncipe de Hohenzollern-Sigmaringen, a 20 de Novembro de 1920, Dona Amélia mudou-se para França para o Castelo de Bellevue, em Chesnay, nos arredores do Palácio de Versalhes.

Em 2 de Julho de 1932, pouco depois da visita de sua mãe, sem que nada o fizesse prever, El-Rei Dom Manuel II morre imprevisivelmente em Twickenham o mesmo subúrbio londrino onde sua mãe havia nascido. Foi uma morte nada serena, pois, Sua Majestade Fidelíssima, agonizou asfixiado por edema da glote. Para uma mãe consuma-se a derradeira tragédia: perdeu o filho que lhe restara.
A 17 de Maio de 1945, com 80 anos, Sua Majestade a Rainha Dona Amélia de Portugal cruza a fronteira de Vilar Formoso e regressa a Portugal.

Como não podia deixar de ser Dona Amélia visitou as obras de caridade que fundara e, a 19 de Maio, os túmulos dos seus amados marido e filhos, em São Vicente. A 8 de Junho de 1945, Dona Amélia visitou o Santuário de Fátima, onde ofereceu à Virgem um dos seus mantos régios. O seu regresso a Portugal foi uma emotiva viagem ao passado, e, a todos os locais com que havia estabelecido laços.

Quando parte, a 30 de Junho desse ano, na Gare apinhada do seu Povo, que a acarinhou durante toda a estadia, acenou à multidão efusiva e lançou um sentido: “Viva Portugal!”

No dia 25 de Outubro de 1951, após 41 anos e 20 dias de exílio, a Rainha Dona Amélia faleceu no seu Castelo em Versalhes, aos oitenta e seis anos, em consequência de um fatal ataque de uremia. Algumas das suas últimas palavras terão sido: “Quero bem a todos os portugueses, mesmo àqueles que me fizeram mal” e depois “Levem-me para Portugal, adormeço em França mas é em Portugal que quero dormir para sempre”.

O corpo da Rainha foi embarcado na fragata Bartolomeu Dias que trouxe o féretro para Portugal e depois o corpo foi trasladado para junto do marido e dos filhos, no panteão real dos Bragança, na igreja de São Vicente de Fora. Esse foi o seu último desejo na hora de sua morte. O funeral teve honras de Estado e foi acompanhado por grande parte do povo de Lisboa.

“A RAINHA” DE EÇA DE QUEIROZ:
«(…) A rainha de Portugal recebeu do céu favorável este dom de uma beleza adoçada de graça, qu’il fait bon de regarder, e que, só porque aparece, governa. E esta qualidade de mulher se torna social, quase se torna uma virtude de Estado, entre um povo, como o português, tão prontamente, tão finamente sensível à formosura, sobretudo quando ao prendedor encanto da presença se junta, como na rainha, para mais lhe alargar a irradiação, o espírito de sociabilidade, que ela herdou da sua raça e que foi sempre uma das elegâncias morais da sua casa.

(…) Na Rainha de Portugal, este encanto de sociabilidade está todo na sua dignidade familiar, repassada de atenção, penetrada de sensibilidade, fácil em docemente se interessar, fácil em discretamente se igualar, mas séria e concertada, e que sempre um poeta um pouco precioso, como Carlos de Orleães, compararia ao arbusto grácil que se debruça, espalha perfume, derrama frescura, e logo formosamente retoma a sua elevação natural! A nós, Portugueses, povo de porte taciturno que durante séculos se embuçou sempre em grandes capotes e carregou sobre os olhos largos sombreiros, esta fácil, ridente, aberta e desembuçada sociabilidade desconcerta; e mesmo lhe impusemos outrora no começo do século, quando de França só conhecíamos, por um lado, os dançarinos e, por outro, os terroristas, o nome desdenhoso e desconfiado de francesismo. O nosso velho escarpamento moral quase nos impossibilitava de compreender que uma afabilidade sempre activa e difusa, um interesse atento que todo se alvoroça, uma efusão em que se entrega a alma no lampejar de um sorriso, não proviessem do esforço da astúcia, para captar perfidamente a clientela dos simples… E, certamente, a simplicidade conversável da Rainha, a sua afluência de simpatia, a graça acolhedora da sua expressão surpreenderam, quase inspiraram desconfiança a este povo habituado, desde o estabelecimento da monarquia absoluta, a não separar majestade de imobilidade. E data este sentimento do Portugal restaurado, porque então se cimentou entre nós a hirta pragmática cesariana, deixada em Lisboa pela realeza de Espanha, que a herdara da Casa de Áustria. No tempo dos nossos velhos reis, ao contrário, todos os educadores de príncipes lhes ensinavam o alto dever real de comunicar docemente com o povo. Na sua «Doutrina ao Infante D. Luís», o douto humanista Lourenço de Cáceres gravemente lhe recomenda “que se não aparte da afabilidade nem dê pouca parte de si ao povo, pois que não há erro mais nocivo para quem seja de senhorear ânimos portugueses!” E D. Aleixo de Menezes, na sua fala e despedida sublime a el-rei Dom Sebastião, lança estas grandes palavras: “o excesso de afabilidade, senhor, não compromete a autoridade do príncipe… Mas muitos príncipes, relaxando a sua autoridade com os validos e conservando trato altivo para o seu povo, vieram a ser aborrecidos de uns e desestimados de outros.» Hoje, deus louvado, na nossa sociedade tão igualada como um campo de restolho, já não existe possibilidade para reis «de trato altivo»: como na nossa mudada para Lisboa já não existem ruas por onde um D. Pedro I dançasse, metido com os mesteirais, ao clarão festivo das tochas, ao clangor das longas de prata.

(…) Esta afabilidade transparente da rainha permite que se distingam alguns modos do seu pensar e modos do seu sentir, sempre tão difíceis de perceber em príncipes, pois que três opacas muralhas os dissimulam: a etiqueta, o resguardo contra a familiaridade e a timidez, inconveniente tão congénere em príncipes que não faltou a Luís XIV nem a Augusto! Ora, de muitas mulheres, sobretudo de muitas rainhas, apenas se relatou a sua elegância e a sua gentileza – logo se findou a sua curta e mundana história. Na Rainha, porém, para além do brilho visível, existe ainda um harmonioso conjunto de ideias e de sentimentos, interessantes de estudar pela sua elevação e rectidão – e ainda porque, pertencendo a uma Rainha de Portugal, esses pensamentos e esses sentimentos, beneficamente reverterão, como diz a nossa velha lei, «em prol do comum e aproveitança da terra».

O que logo surpreende e cativa na Rainha é a sua completa e carinhosa nacionalização portuguesa; e, no entanto, bem sabemos, nós todos que lidamos com a história, quanto a flor-de-lis é flor difícil de enxertar! Mas aqui o lírio de França mergulhos tão profundamente a raiz no torrão português e tão gratamente absorveu a sua substância que, hoje, na forma, na cor, no aroma, já se não diferença de qualquer fresca e genuína rosa de Portugal. A Rainha ama a nossa terra como se dela houvesse brotado. Um tal amor era sempre instintivo numa rainha da Meia Idade ou ainda da Renascença – porque a realeza se compunha então de paternidade e de posse. O rei governa e protege como pai e dono. Não há vila, cabana, ovelha ou árvore a que ele não deva cuidado paternal e em que não exerça domínio senhorial – que os costumes lhe continuam, mesmo quando as leis lho arrebatam. A ternura pelo povo e pela terra é ampliação da ternura pelo filho e pelo património. Como não amaria, de resto, um rei do século XIV ou XV, numa terra toda sua, uma turba humana toda sua, dócil e filial, que para ele lavra, para ele edifica, para ele combate, para ele ergue as mãos, mesmo antes de as erguer para Deus? Mas uma rainha, hoje, sabe que o povo que a aclama lhe pertence tanto como a qualquer outra mulher que passe ao lado, com o seu cântaro, para a sua fonte. O título que ela conserva e que outrora lhe conferia, espiritualmente, um direito positivo hoje só lhe confere, socialmente, uma função cerimonial. E nem o patriotismo mais ciumento poderia reclamar que uma senhora de terra alheia, desde que entregou a mão, numa igreja, diante de um bispo, a um príncipe nosso, logo entregasse o coração todo, sentidamente, ao povo e à terra de que um contrato a ergueu rainha. Mas, realmente, a Rainha, desde que a lei a tornou portuguesa, logo se desejou portuguesa. Juntamente inteligência e sentimento, alargou os seus belos olhos, avisou o coração, tentou compreender e estimar. A terra logo a enlevou pela sua maravilhosas graça rural. Depois, conheceu a gente, o seu labor paciente, a sua robusta sobriedade, o seu carinho do lar, a sua reverência meiga e sem adulação, a risonha simplicidade com que acolhe a ventura, a tocante conformidade com que aceita a desventura. E desde que tudo compreendeu, tudo amou. Esta afeição, pois, da Rainha por Portugal é não só de simpatia, mas de raciocínio. Pôs nela toda a sua sensibilidade, mas também toda a sua vontade. E bem podemos, pois, louvar nesta Rainha, como consciente virtude, o que noutra rainha, Isabel de Portugal, uma grande santa, de grande altar, não passaria de inconsciente instinto…

De muitos modos, todos inteligentes e úteis, a rainha nutre e aviva esse seu amor por Portugal. Sem que o crespo e o seco dizer dos nossos cronistas a assuste, ela mergulha piedosamente nas nossas crónicas. As nossas velhas indústrias caseiras são um dos seus ternos cuidados. Não podendo restaurar todos os monumentos decaídos, a todos estuda, desenha e indaga a história, para se penetrar da robusta alma que os criou. E o seu entusiasmo não cessa de estimular a inesperada e prometedora renascença do nosso nacionalismo.

Uma das feições mais tocantes da sua alma portuguesa é a admiração pelos homens fortes que fizeram o reino forte. Filha de França, terra de tão alta valentia que Deus a escolheu para seu soldado e por ela fez os seus grandes feitos, gesta Dei per Francos; princesa de uma cãs onde os heróis decerto não escasseiam, pois que quarenta e nove dos seus antepassados morreram soberbamente em combate – a rainha, hoje, sem abandonar a sua afeição filial pelos paladinos da França, sente uma admiração talvez mais enternecida pelos de Portugal, ou por compreender já que eles mais concorreram para a grandeza da humanidade, ou porque, pertencendo ela mesmo à história de Portugal, se afeiçoou por aqueles que tornaram essa história tão poética e tão heróica. Talvez esse Bertrand du Guesclin, de quem, na sua infância, tanto lhe contaram, se ande já desvanecendo no seu espírito ante a sombra mais vasta e mais nobre do nosso Afonso de Albuquerque; e receio mesmo que o puro dos puros, da flor de toda a cavalaria feudal, o bom senhor de Bayard, seja esquecido por aquela maior pureza e melhor flor da cristandade, o santo e grão condestável! Mesmo na sua preferência pelas residências históricas, ela mostra esta religião do velho Portugal. Em Vila Viçosa, que contém tão curioso pedaço da nossa história, desejaria ela decerto que a corte permanecesse, com seu antigo estado paternal e solarengo, entre um povo amorável e familiar, para quem fosse menos a rainha do que a «boa senhora». Ou então, ditosamente, habitaria esse Castelo da Pena, que, sobre a fresca serra, revive, na nossa idade, um castelo de lenda, semiencantado, com mouras nas fontes, todas as tardes misteriosamente embrulhado entre nuvens, e pelas nuvens levado, e nas nuvens desfeito… De resto, Portugal inteiro a encanta e a retém, como pátria sua: e onde esta princesa de França agora se senta estranha, e vagamente exilada, é na terra de França!… Oh!, decerto a ama – porque não é esta pátria que se esqueça, sobretudo quando se vem dos reis que a criaram. Mas mesmo neste velho Paris, entre o Louvre e Notre-Dame, tão cheios dos seus, talvez ela se surpreenda a pensar saudosamente naquela quieta, e simples, e assoalhada calçadinha que sobe para as Necessidades…

A Rainha, como a sua graça afável o anuncia, possui a bondade nas suas formas amáveis – a tolerância, a bem-querença, a doçura com os humildes, a piedade de todo o mal. Mas na sua alma portuguesa a bondade floresce principalmente, sob uma forma toda nossa e do nosso povo – a caridade. Oh!, bem sei! A caridade pertence a todas as terras, porque a todas, com um fulgor mais intenso ou ténue, penetra o espírito de Deus.

(…) Portugueses não se enredam nestas subtilezas de doutrina. Perante a mão que suplica, não parámos a desejar que ela agarrasse antes uma ferramenta para obter a abundância individual, ou que empolgasse antes uma forte para impor a igualdade social. Não: muito candidamente, escandalizando o economismo e o socialismo – palpamos o bolso, com viveza amorável, e damos.

A rainha tem esta expressão sentimental e anti-doutrinária da caridade portuguesa. É uma senhora de grande e dedicada esmola. E a sua esmola não baixa majestosamente do trono, numa salva, de alabardeiros. Ela própria a leva, sob um véu espesso, a todos os recantos, onde pressinta uma lareira apagada, farrapos tão rotos que já nem se remendam, a enxerga pisada pelo lento sofrer. Mas ao mesmo tempo, como francesa, ama a caridade nacional, que se organiza, se arma em instituição, derrama o bem por estatuto. Dessa nasceu o seu dispensário admirável. E, assim, a senhora excelente dá com a razão, dá com o coração; dá calculadamente, por livros bem escriturados, e dá compassivamente, ao acaso da sua sensibilidade, talvez errando pelo lado da ciência, mas acertando pelo lado de Deus.

(…) O encanto especial da esmola da rainha está no silêncio abafado com que a espalha. E não pelo receio de que a sua esmola pareça, aos que a testemunham, o preço tortuoso da sua popularidade – mas pelo desejo que a esmola chegue àqueles que a recebem como o escondido quinhão da fraternidade. E outro encanto ainda reside nesse complemento da caridade que os santos padres tanto exaltam, a avareza para connosco, bem apertada, acompanhando a liberalidade para os outros, bem solta! A rainha, moça, bela mas não rica, poupa no seu luxo para esbanjar na sua beneficência; e a sua simplicidade é mais que uma escolha de gosto, é uma imposição do dever.

(…) Uma bondade assim forte e activa, nos limites em que encerram a etiqueta e os costumes reais, já denota um espírito sério. Mas toda a vida da rainha constitui uma manifestação perene dessa seriedade desejável. Se percorrermos a história íntima dos estados, observamos logo, com tristeza ou com malícia, que o mal da frivolidade grassa fundamente nas rainhas, e que, ou se ocupem de luxo, ou de sentimentalidade galante, ou de intrigas dinásticas, ou de enredos de corte, ou de parcialidades de religião, ou de tramas políticas, as suas vidas se resumem em confusão e ruído estéril. Ditosa ainda a Nação, quando à poeira que elas ergueram, se não mistura sangue! Neste século, porém, mesmo sem aludir à triunfal soberana que o enche e que, como Augusto, criou uma era, a era vitoriana, abundam rainhas estimáveis pelo carácter, pela inteligência, pela compreensão da dignidade real, pelo fecundo emprego da existência. A rainha de Portugal pertence a essas soberanas bem louvadas, que, por lhes faltarem já tantos direitos e, não desejando definhar na inutilidade através das frias salas dos paços, se impõem muitos e graves e laboriosos deveres. E a dois desses deveres se aplica a rainha com tocante atenção, ao dever íntimo e teologal, como lhe chamaria um padre da Igreja, do aperfeiçoamento próprio, e ao dever público, nacional, da educação dos príncipes.

No aperfeiçoamento próprio, a rainha conserva sempre presente, além da necessidade superior de ornar o espírito, a obrigação de se abastecer, de se completar para a sua missão real. As suas leituras copiosas e cuidadas, todas se concentram sobre as memórias que oferecem ainda o mais seguro caminho de se penetrar nas almas e nos motivos humanos. Mesmo as artes, que ama com uma fidelidade fina, sobretudo a pintura, em que revela observação e a certeza fácil do traço expressivo, elas as aproveita para mais e melhor impregnar das feições, dos costumes, dos aspectos do povo e da terra que é rainha. Na música, a sua afeição vai para as cantigas populares deste velho Portugal que galanteia cantando, trabalha cantando, fala a Deus cantando e, cantando, embala a morte. E mesmo nesse robustecimento do corpo que a Antiguidade estabeleceu como um dever religioso e que nós estamos, felizmente, organizando como um dever social, a rainha prefere a todos os exercícios de um cunho rija e velhamente português; e se a sei apaixonada da Nobre e Liberal Arte de Bem Cavalgar Toda a Sela, não a suponho menos afeiçoada a toda essa destra, valente e salutar campanha que Portugal mantém com o touro, desde a ferra até à lide!

Assim, além da larga porção do cerimonial de estado que a constituição lhe impõe (e a que nós, solitários trabalhadores da pena, parece tão acabrunhadora), a rainha passa uma vida de labor intelectual, esmerado, fecundo e patriótico. Mas o seu trabalho genuinamente patriótico é o da educação dos príncipes. E não porque ela se esforce em os tornar só príncipes, no rígido sentido monárquico, mas porque neles aspira a que cresçam dois homens, no mais vasto e nobre sentido humano. A educação de um príncipe! Ponderoso problema filosófico de todo o erudito século XVII e ainda do ligeiro e generoso século XVIII! Nenhum tem, como este, afiou a sagacidade dos moralistas. Quantos suculentos e majestosos programas! Quantos tratados fecundos, embebidos de todas as preciosidades da ética, de toda a experiência do classicismo, de toda a comentação da Natureza! E o resultado desta tão repleta pedagogia do Estado, para que concorriam prelados, humanistas, magistrados, filósofos, poetas, marechais, era quase sempre, em toda a pobre Europa, era sempre uma série de príncipes detestáveis ou risíveis. Todavia, em obediência ao exemplo sublime de Alexandre, o maior dos príncipes, educado por Aristóteles, o maior dos homens, sempre os reis deram aos seus filhos, como preceptores, os personagens superiormente ilustres do seu reinado. Debalde! Fénelon transformou o Duque de Borgonha, que «nascera terrível», como afirma Saint-Simon, num filósofo cheio de dignidade e mansidão; mas todos os preceptores famosos falhavam, e das suas lições doutíssimas, dos seus cuidados piedosos, surdia ora um insignificante, ora um burlesco ora um monstro! Porquê, severos céus? Porque os nobres preceptores, já recebiam os principezinhos do escuro fundo dos paços, com a natureza irremediavelmente estragada pela camarilha interesseira de saias e librés!

Para além dos Pirenéus, só uma casa real, a Casa de Orleães, ao findar o século XVIII, educava os seus príncipes com verdadeiro amor pelo carácter e pela inteligência. (…) A uma princesa dessa casa cabe hoje educar dois filhos, príncipes de Portugal. E nesta missão, ao que parece, os seus cuidados tendem menos a ensinar prendas do que criar virtudes. Neste singelo programa de pedagogia maternal, vede já que fecunda revolução! E quando a rainha a tiver realizado, se a realizar com ventura, terá cumprido esplêndido feito. Branca de Castela quase ficou santa de calendário por ter guiado, para a santidade, S. Luís, rei de França. A sua glória reluz, também, na história, por ter feito de Luís, não o doce santo, mas o nobre rei. Todavia, mais a eleva entre as mulheres, e lhe rende os corações, o ter formado, em Luís, aquele perfeito espelho de doçura, clemência, misericórdia, e quase divina amizade pelos homens.

S. Luís é uma encantadora imagem, para que eu me detenha junto dela nestes pensamentos sobre a sua neta excelente. De resto, antes esta princesa qu’il fait bon regarder, graciosa, boa e bela, tão portuguesa, tão doce de emoções, tão recta de instintos, desejosa de bem-fazer, atenta a bem pensar, leal e amena, corajosa com a serena coragem da sua casa, sensata com o luminoso senso da sua raça, toda penetrada dos seus deveres reais, toda alvoraçada pelos seus deveres maternos, de uma dignidade benigna, de uma seriedade carinhosa – eu não tentei compor um retrato como eles se usavam e estimavam nas polidas letras do século XVIII. E como poderia? E como saberia? Sempre a obscuridade e a sorte me trouxeram alheio à corte. Na minha terra, onde nem vivo, eu sou apenas um cansado e velho fazedor de livros, que passa. Só raramente penetro no Paço, por aquela grata escada que em Versalhes se chama l’escalier des poètes, e por onde se sobe, menos à presença do rei do que ao trato interessante do erudito e do artista que é o rei.

(…) Mas uma rainha gracieuse, bonne e belle, certamente me encanta. E, pois que o nosso pobre mundo tanto necessita de doçura e bondade, sinceramente creio na vantagem social de que, por vezes, uma rainha irradie um pouco da sua doçura, da sua bondade, da sua beleza, sobre os costumes, os espíritos e as leis. Assim eu tivera a fina arte de tornar esta, que é rainha de Portugal, bem compreensível… Não tenho – porque, «pássaro solitário e humilde», como diz Camões, mal posso eu mesmo compreender quem se move em paragem tão complicada e remota da minha «riba solitária e simples…»

Fontes:
. Eça de Queiroz in “A Rainha”, 1898

* Membro da Plataforma de Cidadania Monárquica


Vídeo

"A derradeira e sentida homenagem á memória da Rainha Srª Dª Amélia,rainha que soube amar o nosso Povo..." Exéquias fúnebres realizados em França e em Portugal,numa reportagem em filme para as actualidades da época (com som) realizado pelo SNI (Secretariado Nacional de Informação).


D.Amélia, A Última Rainha de Portugal

‘Depois de Vós, Nós’ – Reinar ao Serviço do Povo!

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Hegel, na sua obra “Elementos da Filosofia do Direito”, deu uma fundamentação lógica ao papel do Rei: um Monarca cuja função é personificar o carácter nacional e dar continuidade constitucional em tempos de emergência. Assim, aos monarcas foi dado o status de “servidores do povo”.
‘Pelo nosso Portugal tenho feito, e sempre, tudo o que é humanamente possível. Tenho, ao menos, a consolação do dever cumprido.’, escreveria S.M.F. El-Rei Dom Manuel II de Portugal já no exílio.
Mesmo depois de deposto na golpada revolucionária do 5 de Outubro de 1910, Dom Manuel II se colocou sempre ao serviço dos Portugueses ou não fosse a divisa d’El-Rei: «Depois de Vós, Nós».
Com o início da 1.ª Grande Guerra, o Monarca exilado, em Inglaterra, colocou-se à disposição dos aliados para servir como melhor pudesse. Primeiramente, apanhou-o a desilusão quando o colocaram como oficial da Cruz Vermelha Britânica, mas o empenho que mostrou no decorrer da guerra, cooperando em conferências e na recolha de fundos, visitando hospitais e mesmo os feridos na frente, foi-Lhe muito gratificante. Todavia, a sua solicitude nem sempre foi reconhecida, e chegou mesmo a referi-lo numa entrevista ao ‘Times’: “A sala de operações do Hospital Português, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundação? ‘De um português de Londres’.”
El-Rei Dom Manuel II estabeleceu, tal-qualmente, o departamento ortopédico do hospital de Sheperds Bush, que por perseverança do Monarca e da Sua bolsa continuou a funcionar até 1925, dando assistência aos estropiados de guerra. Uma prova de reconhecimento dos britânicos para com D. Manuel II de Portugal foi quando o Rei britânico Jorge V – primo do Monarca português pelos laços da Casa de Saxe-Coburgo e Gotha – o colocou, e à Rainha-consorte Augusta Vitória, a seu lado na tribuna real durante o Desfile da Vitória, em 1919, em Londres.
Miguel Villas-Boas

AMANHÃ: COLÓQUIO E BOA MÚSICA NO PALÁCIO REAL DA AJUDA


ASSOCIAÇÃO DE AUTARCAS MONÁRQUICOS REALIZOU CONVENÇÃO NA MADEIRA

Associação de autarcas monárquicos realizou convenção na Madeira
24 OUT 2016 

Decorreu este fim de semana no Funchal a segunda convenção nacional da Associação de Autarcas Monárquicos. Mais de cem pessoas discutiram a monarquia, a democracia participativa e as questões das autarquias
A Madeira recebeu de forma condigna a segunda convenção nacional da APAM, a associação que congrega autarcas de inspiração monárquica de todos os partidos (e independentes), numa sexta-feira profícua em trabalho e debate e que contou com a presença das principais forças partidárias, tendo o debate franco de ideias contado com a participação de representantes de todos os partidos parlamentares e de representantes da CM Funchal e do Governo Regional.
A Convenção, que teve a presença de SA Dom Francisco de Bragança van Uden, bisneto do Rei D. Miguel e em representação de SAR D. Duarte, debateu as principais temáticas dos autarcas, teve cerca de 120 participantes, superando de forma significativa a primeira projecção da organização, que contava com cerca de oitenta associados e convidados presentes. A união entre municípios e as actividades comuns são dos temas sempre presentes nos debates da APAM, que entende que apenas valorizando as boas práticas e os projectos que visam verdadeiramente o bem estar das populações é que os autarcas estão a cumprir o papel para o qual foram eleitos.
A crise de valores na política portuguesa foi dos principais pontos de debate tendo o presidente da direcção, Manuel Beninger, no discurso de encerramento referido que “Temos que ajudar todos a reforçar a nobreza de ser político, a arte máxima de honrar compromissos, de abrir caminhos para situações em que todos ganhem, a começar pelas populações! Temos que recentrar na monarquia esta capacidade de escuta, de compreensão e de identificação com a cidadania, com o sentir do povo”. Manuel Beninger reforçou igualmente que um autarca monárquico deve “estar acima da política como ela é hoje praticada e ser alguém que interaja com as populações, que estabeleça parcerias, que não deixe ninguém de fora dos compromissos e iniciativas.
Aberta a todos os partidos e a independentes, a APAM é a verdadeira marca do poder local e cumpre o desígnio de alargarmos o nosso pensamento, criar pontes de relacionamento franco e unir o municipalismo português.

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