quinta-feira, 3 de agosto de 2017

25 de Julho, o primeiro dia português

Foto de Nova Portugalidade.

Vinte e cinco de Julho de 1111, ou de 1109, nascia Dom Afonso Henriques; 
vinte e cinco de Julho de 1139, nascia no campo de Ourique a vitoria que 
levaria os portugueses à vida livre; vinte e cinco de Julho, dia de Santiago 
Maior. A coincidência das três datas, o nascimento do monarca fundador, 
o seu triunfo sobre cinco taifas mouras e a festa de Santiago Matamouros, 
patrono da Reconquista, carece de prova, e pode muito bem ter sido 
invenção - por certo patriótica e bem intencionada - dos cronistas. Sabido 
é que pouco se conhece das circunstâncias que rodearam aquele triunfo 
das armas portuguesas: se alguns cronistas insistem em cinco reis 
maometanos coligados e batidos, outros há para quem a vitória do português 
foi apenas sobre um chefe mouro. O Milagre de Ourique, ainda, teria sido 
ocorrência bela, mas não há fontes coevas que o admitam, e muito menos 
que o secundem: as primeiras referências ao formidável acontecimento, 
em que o próprio Cristo teria aparecido a Afonso na noite anterior à batalha 
para prometer-lhe que a monarquia portuguesa jamais cairia, pois sempre se 
manteria espada e fortaleza da fé cristã, datam apenas do século XVII. Tudo 
parece indicar, assim, que o Milagre foi conveniente acrescento dos monges 
de Alcobaça quando, em plena Guerra da Restauração, havia que dar 
empenho aos portugueses na luta contra os Habsburgos de Espanha.

O nascimento do Rei, como a batalha em Ourique, estão envoltos em incerteza, 
e de nenhum se sabe ao certo quando ocorreu. Certo é que a generalidade 
das fontes, como a Chronica Gothorum, ou Crónica dos Godos, confirmam 
a data de 25 de Julho, mas divergem da versão comum ao colocarem Dom 
Afonso frente a apenas um rei árabe, de nome "Esmar". Já o aniversário do 
Rei é igualmente alvo de controvérsia, e à noção comum de que Dom Afonso 
nasceu a 25 de Julho de 1111 em Guimarães se levantou, no século XX, a 
objecção de que teria, pelo contrário, aparecido ao mundo em 1109 em 
Coimbra ou Viseu. Não podendo haver certeza quanto a nenhum dos 
problemas, em ambos opta a Nova Portugalidade por aderir à tradição e 
por datar os dois grandes acontecimentos nacionais em 25 de Julho - um 
de 1111, outro de 1139.

Quanto à batalha, tudo o resto é incerto. O local é-nos desconhecido, 
reclamado que é por todos os numerosos campos de Ourique existentes 
em solo português. Prudente, pois, é afirmar que houve batalha, 
independentemente de ela ter oposto Dom Afonso a um ou a cinco reis 
mouros; razoável é, também, que era improvável a vitória portuguesa e 
muito superior a hoste moura que se nos opôs. Cimentado o domínio de 
Dom Afonso sobre Portugal com aquele triunfo e acalmada a moirama a 
sul, o filho de Henrique passaria, pouco depois da batalha, a assinar como 
"Rei dos Portugueses", e já não como "Príncipe" ou "Duque"; o seu título 
real seria reconhecido pelo primo Afonso de Leão em Zamora dali a quatro 
anos, e pela Santa Sé em 1179. Do Rei nascido a 25 de Julho, brotava a 25 
de Julho, dia de Santiago, a liberdade nacional - e o mundo não mais seria 
o mesmo.

RPB


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