sábado, 12 de agosto de 2017

Em tempo de tensão internacional, precisamos mais que nunca da Portugalidade como intermediária do diálogo intercivilizacional

Foto de Nova Portugalidade.

A ordem internacional caminha rapidamente, tudo o indica, para o 
multipolarismo e até mesmo para um novo realinhamento em blocos. 
País atlântico, partilhando a língua e a memória histórica com um 
grande Estado em ascensão (Brasil), com a nascente potência angolana 
e até com o mais recente Estado asiático (Timor-Leste), à portugalidade 
poderá caber um papel na intermediação de conflitos, tensões e 
incompreensões que certamente adensarão as relações entre o Ocidente 
e as outras civilizações.

Se há uma universalidade possível, uma consciência que é apanágio do 
tempo presente – um homem que se diz civilizado não o pode ser se não 
aceitar o direito à participação e escolha dos homens, sem distinção de 
sexo, etnia e grupo social no governo da sua sociedade; como também 
não pode ser civilizado se não repudiar a escravidão, a tortura e a opressão 
dos fracos – essa terá de ser entendida apenas no pressuposto da 
permeabilidade das diversas matrizes à assunção da única gramática 
comum, aliás contida em todas as expressões do sagrado, dos textos 
sapienciais às religiões reveladas, das cosmogonias primitivas às filosofias. 
O não matar em vão e o não roubar são culturemas universalmente 
partilhados pela espécie humana que antecedem em milénios as solenes 
racionalizações do século XVIII.

A tentação de ver democracias e mercado espalhados pelo orbe, ao invés 
de permitir a criação de uma comunidade dos homens, mais importante 
do que a comunidade internacional dos Estados, pode provocar o caos 
e uma perigosa resposta a esse cruzadismo nascido em alguns think 
tanks do hemisfério norte. Forçar civilizações e culturas para as quais a 
democracia de feição ocidental, de ethos individualista, é sinónimo de 
destruição da comunidade, da hierarquia, da disciplina e de outras 
expressões do estatismo orgânico em que sempre viveram, pode 
redundar, não no triunfo da democracia, mas no triunfo de tiranias reactivas 
de magnitude por ora incalculável. Para o concerto entre as nações e o 
apaziguamento de vontades de imposição e aculturação violenta pode e 
deve a Portugalidade concorrer.

Miguel Castelo-Branco

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