domingo, 1 de outubro de 2017

O AVÔ DO IMPÉRIO: O REI DOM DINIS

Foto de Nova Portugalidade.


A 9 de Outubro de 1261 nascia em Lisboa uma das personagens mais marcantes da História de Portugal, baptizado de Dinis, um nome singular na genealogia real portuguesa. Com pouco mais de dezassete anos, em 1279, sobe ao trono do Reino, sucedendo a seu pai, D. Afonso III, e cedo demonstrou o carácter forte e determinado que se iria revelar ao longo do seu extenso reinado. Logo no dealbar da governação, a sua mãe, D. Beatriz, pretendia um papel político activo, ao afirmar que o seu marido defunto lhe deixara instruções para formar uma junta de regência que guiasse o jovem Rei, mas D. Dinis recusou tal proposta, e de tal forma mãe e filho agastaram-se que D. Beatriz partiu para Castela. 

Um dos aspectos que marcou de forma indelével a governação dionisina foi a política externa. D. Dinis projectou Portugal para o resto da Península, agindo como interlocutor e juiz das contendas que grassavam pelos outros Reinos. Daqui se depreende o seu prestígio internacional, já que os outros agentes políticos o consideravam uma peça essencial do xadrez da Hispânia. Além disto, a sagacidade e o tacto políticos foram duas características basilares na prossecução da sua política externa, tanto na aliança estratégica com Aragão, através do matrimónio com D. Isabel, entalando assim a todo poderosa Castela entre dois parceiros; como no Tratado de Alcañises, de 1297, em que se definiram as fronteiras portuguesas, sensivelmente as mesmas de hoje. Aproveitando a guerra civil castelhana, D. Dinis serviu-se da situação para conquistar importantes parcelas territoriais que a Castela envolta em lutas intestinas teve que aceitar e ratificar no Tratado. Oportunismo sem moral? Génio político? Um misto de ambos, talvez. 

Não se poderá esquecer também o grande esforço que D. Dinis colocou na frente interna, pelos inúmeros forais que outorgou e leis que publicou, e pela sua preocupação, nas terras régias, de incrementar a produção agrícola. Patrocinou a pesca e criou uma Marinha Real permanente, compreendo a importância que o mar tinha num país com 943 km de costa; fomentou a criação e o desenvolvimento de feiras, de forma a que a circulação dos bens e dos produtos pudesse gerar mais riqueza no Reino; promoveu, de forma bastante intensiva, a construção de estruturas defensivas junto à fronteira; e finalmente, estimulou o povoamento do território. A par desta política administrativa coerente e articulada, D. Dinis desenvolveu uma outra, de pendor centralizador, que visava domesticar a nobreza rebelde que teimava em usurpar as propriedades do Rei e usá-las como suas, através de Inquirições sistemáticas que corrigissem os abusos senhoriais.

É de destacar também o que José Mattoso designou por “política de nacionalização”, ou seja, o esforço de definir claramente o que era Portugal. Isso concretizou-se através do estabelecimento das fronteiras, da libertação da Ordem Militar de Santiago da tutela castelhana, da criação da Ordem de Cristo, da adopção do português como língua da chancelaria régia e da criação da primeira Universidade no Reino. Todos estes vectores cruzam-se no seu objectivo comum: dar pernas à identidade portuguesa que florescia então.

Os anos finais do seu reinado ficariam ensombrados pelo negrume do Infante herdeiro, D. Afonso, que se revoltou abertamente contra o pai e com ele fez guerra. Se olharmos para os partidários do Infante, encontraremos lá as famílias nobres mais importantes, precisamente aquelas que foram excluídas da governação dionisina e alvo da tentativa de controlo do poder senhorial. Não foi sem sérias resistências que D. Dinis perseguiu os seus intentos de construir uma Coroa forte. 

Poeta talentoso, com dezenas de cantigas escritas, D. Dinis era um homem culto, determinado e bastante enérgico, como se percepciona a partir das suas atitudes políticas, da vasta produção literária, da sua constante movimentação pelo Reino e da sua paixão pela caça, que manteve até uma idade bastante avançada. Pela sua contribuição decisiva para a definição e consolidação do Reino, em termos económicos, territoriais e culturais, pode-se afirmar com toda a certeza que D. Dinis foi um dos pilares essenciais da portugalidade e um dos monarcas mais capazes e inteligentes que Portugal teve. 

Miguel Martins

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