domingo, 5 de novembro de 2017

A Nova Portugalidade como resgate do activismo intelectual perdido

Foto de Nova Portugalidade.

Nos dias de hoje, a intelectualidade portuguesa acha-se letárgica, sem mentes que ousem pensar verdadeiramente o seu país e a sua identidade cultural, tal como acontecia no século XIX e no princípio do XX. A tradição da Geração de 70 e da Geração de Orpheu perdeu-se nas brumas das muitas décadas que passaram, sem que as substituíssem grupos de pensadores igualmente talentosos ou interessados numa causa de renovação da cultura intelectual lusa. 

Após o amordaçar do pensamento durante o regime salazarista, veio o marxismo cultural a partir de 1974, que tudo fez por destruir a identidade do Portugal europeu e da Portugalidade alargada. De um extremo passou-se para outro: a exaltação nacionalista do Estado Novo deu lugar a uma condenação veemente de uma História pluricontinental de oito séculos. As elites culturais passaram a ocupar o tempo a julgar e a condenar o seu próprio país em vez de estimularem uma autoconsciência portuguesa que se valorize sadiamente, de forma a poder olhar com confiança renovada para o futuro. Não poderemos construir progresso em Portugal sem amor-próprio. 

Ao mesmo tempo, a aposta exclusivamente europeia do regime de Abril, completamente estranha à História portuguesa, deixou-nos às portas da morte como país. Portugal na Europa sempre foi, e é, um país pequeno, periférico e sem importância. É certo que sempre manteve relações de proximidade com o resto do continente, o que é natural sendo parte integrante dele, mas só quando se virou para o mar e construiu a comunidade da Portugalidade é que pôde verdadeiramente prosperar e tornar-se numa potência de primeira linha. Não renegando a sua identidade europeia, hoje Portugal só pode sobreviver enquanto nação se voltar a reatar os laços fraternos que a unem aos seus povos irmãos espalhados pelo Mundo, falantes da mesma língua. A par de uma União com a Europa, é também necessária uma União Lusófona.

É aqui que entra o papel da Nova Portugalidade. Pondo de lado a censura da História, valoriza-a, e resgata a tradição dos pensadores e intelectuais dos séculos XIX e XX, tais como Antero de Quental, Fernando Pessoa ou Guerra Junqueiro, que escreviam sobre o seu país, reflectiam sobre o seu sentido, tinham opiniões e o objectivo comum de encontrar um progresso norteador para Portugal. Na ausência de um movimento que defenda a verdadeira essência universal de Portugal, assim como a sua cultura e História, chamamos a nós esse dever colectivo. 

Perante a aridez desértica que reina na intelectualidade portuguesa, onde o mundo académico se fechou nas portas das Universidades e demitiu-se do seu papel cívico e cultural na sociedade, dedicando-se em exclusivo à intelectualidade oca e inútil, ao mesmo tempo que a estupidificação das massas transforma as pessoas em seres sem um pingo de consciência cultural, é imperativo que hajam movimentos como a Nova Portugalidade, de resgate do activismo intelectual perdido. 

Miguel Martins




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