terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A PORTUGALIDADE VAI AO PORTO

Foto de Nova Portugalidade.

No dia 10 de Fevereiro, pelas 18h00, estaremos na sede da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde a explicar o que é isto da Portugalidade. Falarão Rafael Pinto Borges, presidente da NP, e Hugo Dantas, vice-presidente. A NP convida a estarem presentes todos os seus amigos.


O mundo o descobrimos nós, portugueses

Foto de Nova Portugalidade.

Uma selecção das façanhas marítimas de Portugal:

1340 – Expedição às Canárias.
1415 – Conquista de Ceuta, a chave do Mediterrâneo.
1418 – Descoberta da Ilha de Porto Santo.
1419 – Descoberta da Ilha da Madeira.
1432/53 – Descoberta dos Açores.
1434 – Passagem do Cabo Bojador.
1436 – Descoberta do Rio do Ouro.
1441 – Chegada ao Cabo Branco.
1445 – Descoberta de Cabo Verde.
1459 – Conquista de Alcácer-Ceguer.
1465 – Chegada à Serra Leoa.
1471 – Conquista de Arzila e descoberta da Costa do Ouro. Passagem do Equador. Descoberta do Hemisfério Sul.
1472 – Exploração das terras do noroeste do Atlântico.
1473 – Fundação da praça-forte de São Jorge da Mina.
1479 – Tratado de Alcáçovas.
1484 – Chegada à foz do Rio Congo.
1486 – Passagem do Cabo da Boa Esperança.
1487 – Visita à Abissínia e conquista de Azamor.
1492 – Descoberta da Península do Labrador.
1494 – Tratado de Tordesilhas, no qual Portugal obtém mais 100 milhas para ocidente, assegurando assim a possessão do Brasil.
1498 – Chegada a Calecute e descoberta do caminho marítimo para a Índia.
1500 – Descoberta oficial do Brasil.
1501 – Exploração da costa da América do Norte, da Terra Nova, da Gronelândia e da Ilha da Conceição.
1502 – Descoberta da Ilha de Santa Helena.
1503 – Construção da primeira fortaleza em Cochim.
1505 – Ocupação da costa oriental de África e descoberta da Ilha de Ceilão.
1506 – Desembarque em Madagáscar.
1507 – Conquista de Ormuz, a pérola do Oriente.
1510 – Conquista de Goa.
1511 – Conquista de Malaca e descoberta das ilhas de Samatra, Java, Molucas, arquipélagos de Sonda e Banda.
1514 – Embaixada ao Papa. Chegada à Costa da China.
1518 – Ocupação da Ilha de Ceilão.
1520 – Fernão de Magalhães realiza a primeira viagem à volta do Mundo.
1521 – Visita à Nova Escócia.
1526 – Descoberta da Nova Guiné.
1531 – Profunda penetração no Brasil.
1535 – Cerco de Diu.
1542 – Chegada ao Japão.
1549/51 – Evangelização do Império Nipónico.
1553 – Expedição ao interior do Brasil, até aos rios São Francisco, Verde e Pardo.
1557 – Fundação de Macau, território oferecido a Portugal como recompensa por ter livrado o Mar da China de piratas.
1560 – Visita a Inhambane, Tongue, Quelimane, Sena, Tete, Chacutuy e Zimboé de Monomotapa.
1570 – Mais explorações ao interior do Brasil, até ao Arassuahy.
1578/86 – Explorações em África e descoberta das nascentes do Nilo.
1582 – Visita ao norte do Canadá, passando o Estreito de Bering.
1593 – Percorridas grandes extensões no Brasil: Rio Verde, Andarahy, Rio Doce, Lagoa de Juparanã, Grande Suassahy, Vale Itamarandiba, Rio de Todos-os-Santos, nascentes do Jequiriçá e Paraguaçu; construção de uma fortaleza na cordilheira de Orobó e descoberta de importantes minas de ouro.
1601 – Descoberta da Austrália.
1603 – Chegada a Jericoacoara e derrota dos indígenas na grande batalha de Camorim, atravessando a montanha Ibiapaba e atinge-se Parnaíba.
1605 – Descoberta das Ilhas de Tuamotu, Taiti e Novas Hébridas.
1624 – Visita ao interior do Tibete e descoberta de uma das mais importantes nascentes do Ganges. Percurso minucioso na região do lago Niassa, em África.


Imigração chinesa para o Brasil via Macau

Foto de Nova Portugalidade.

Os carpinteiros da ribeira

No primeiro andar do vetusto mosteiro de São Bento, em toda a área do claustro, funciona a maior biblioteca da América Latina, “não em número de livros, mas de títulos’, como ressalva o monge beneditino Silvério, que tem a amabilidade de me conduzir numa visita guiada. Entramos no edifício propriamente dito, através do corredor onde estão as celas dos monges, com nomes de santos gravados na ombreira da porta. “Esta pertencia ao padre Estêvão, o nosso maior teólogo, homem muito capaz”, informa Silvério, apontado para uma das celas.

O frade abre depois a porta que dá acesso a uma varanda com vista sobre a Baía de Guanabara e a Ilha das Cobras. Outrora “uma das senzalas da nossa ordem”, a ilha foi aterrada e tem hoje um desenho quase rectangular. Uma das pontes liga-a à cidade e a outra, em forma de esquadro, à pequeníssima Ilha Fiscal. Há guindastes por todo o lado e um grande edifício do século XIX. Testemunho de outros tempos, uma pequeníssima mancha verde, “o Castelinho”. Era ali que andariam as cobras, o justificativo da designação da ilha. Duvido que sobreviva alguma, mas nunca se sabe. 
Concentremo-nos antes no tal edifício do século XIX, pois aí ficaram temporiamente alojados, em 1814, várias dezenas de chineses originários de Macau, como o comprova um documento guardado numa das gavetas do Arquivo Histórico Ultramarino e intitulado “Relação nominal dos chinas que se acham aquartelados na Ilha das Cobras”. 

Mas, afinal, quem eram esses chinas? Diz-nos o documento que totalizavam 68, um deles se chamava Assan e teriam ali chegado a bordo do navio Luconia. Alguns seriam “carpinteiros de machado” ou “carpinteiras da ribeira”, ou seja, construtores de barcos. A ideia do envio de carpinteiros navais chineses para o Brasil partiu de Ouvidor Manuel de Arriaga, visionário neste como noutros capítulos (o da introdução do chá é exemplo sobejado), que um ano antes informara quem de direito da chegada a Salvador da Baía a bordo do navio D. Maria (com destino a Mucuri, conhecido mais tarde como São José de Porto Alegre), da habitual remessa de plantas de chá, pois as sementes das anteriores tinham germinado com sucesso, e alguns carpinteiros destinados aos estaleiros locais, onde desde o século XVII se construíam naus, galeões e fragatas, admiráveis embarcações de alto-bordo prontas a enfrentar as mais alterosas vagas. No mesmo documento dá-se notícia ainda do envio para o Brasil de outros cento e quarenta trabalhadores, alguns deles operários navais distribuídos pelos navios Nossa Senhora da Luz e Maria Primeira, que ficariam alojados na Real Fazenda de Santa Cruz, antiga residência de jesuítas e refúgio de verão para a exilada família real, onde provavelmente foram também parar os que temporariamente habitaram a Ilha das Cobras. 

Entre essa extensão de terra e o pontão de Mauá, num estaleiro naval, avisto dois submarinos e dois navios de guerra, entre várias outras embarcações. Com a ajuda da lente de 200 milímetros da minha máquina fotográfica posso ler-lhes os nomes pintados no casco: Tupi e Tamoio, S30 e S31, respectivamente. Estes são os nomes de duas das tribos com maior expressão no Brasil. 
“Tudo aquilo era propriedade nossa que ao longo do tempo nos foi retirada pela Marinha”, queixa-se o frade, referindo-se a uma época em que tudo o que se escutava no mosteiro era o marejar das águas. Hoje, é preciso fechar todas as janelas e só a extrema grossura das paredes evita a entrada contínua dos ruídos do trânsito.
O aterro permitiu a construção de mais uns edifícios com telhados de zinco e de um viaduto movimentadíssimo. Ao longe, avista-se, quase junto à ponte de Niterói, uma ilhota, com um aspecto artificial, que reúne um conjunto de bonitos edifícios coloniais rodeados por árvores. “Igualmente pertence à Marinha brasileira”, informa o meu anfitrião. 
Também os registos da Marinha, que o investigador Juvenal Greenhalgh tem vasculhado, revelam dados esclarecedores. No seu livro “O Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro na História, 1776-1822”, o investigador dá-nos conta da “cópia das condições em que vieram os chinas que de Macau foram remetidos com destino para o serviço do Arsenal Real da Marinha”, encaminhado para o inspector do mesmo, José Maria de Almeida, por expressa ordem do Príncipe Regente.

Em Petrópolis, no Arquivo Histórico do Museu Imperial, dois documentos referem a presença de um indivíduo chinês nos escaleres do Arsenal Real da Marinha. Trata-se de um tal João António, que enviaria uma petição ao Príncipe Regente solicitando que – por motivos de saúde, e por o “capitão do distrito” o ter acusado de compadrio com os índios tinha-o remetido, como castigo, para os trabalhos no arsenal – lhe desse “baixa” e a possibilidade, “quando houver ocasião”, de regresso ao seu país natal. O atestado médico anexo ao documento data de 1809, sinal de que se tratava, de facto, de alguém ali empregado contra a sua vontade e não traduzia qualquer política de integração de trabalho braçal chinês na economia local.

Joaquim Magalhães de Castro

Aleixo Garcia, o alentejano que descobriu o império inca décadas antes de Pizarro

Foto de Nova Portugalidade.



A conquista do império inca por Francisco Pizarro, que com mera centena de homens e a ajuda do seu carácter ardiloso capturou o Sapa Inca e demoliu o seu reino, foi um acontecimento determinante da História das Américas. Décadas antes do golpe de mestre que rendeu a Castela a antiga civilização andina, contudo, já um português tivera contacto com os incas. Foi Aleixo Garcia, navegador e descobridor português nascido no Alentejo e tornado servidor de Castela.

Naufragado no que é hoje o sul do Brasil, Garcia terá visto os companheiros castelhanos devorados por autóctones canibais. Acabariam salvos por uma embarcação portuguesa, levados para Lisboa e trocados, por fim, por portugueses aprisionados por Castela nas Caraíbas. De novo ao serviço da Espanha, Garcia regressou às Américas. A atraí-lo estiveram os relatos, que já por essa altura começavam a chegar aos ouvidos de portugueses e espanhóis, de cidades de riqueza fabulosa no interior da selva, templos de ouro maciço, uma "Serra de Prata" e um monarca imensamente próspero que se conhecia como "Rei Branco". Já no Paraguai, que descobriu, Aleixo e quatro outros europeus - que seriam, com toda a certeza, portugueses e castelhanos - recrutou uma força de 2000 índios e embrenhou-se mais ainda no mato. Marcharam para os Andes.

Em 1525, caminhando desde o Atlântico, alcançaram a extremidade oriental do império inca. Garcia, companheiros europeus e tropa indígena atacaram e saquearam depois numerosas aldeias e cidades incas. Causaram, ao que parece, grande estrago na região, e só foram obrigados a retirar-se quando chegou à região vasto contingente militar enviado pelo próprio imperador. Morreu nesse mesmo ano em circunstância incerta, havendo confusão quanto ao que o venceu. Na pena de alguns historiadores, o descobridor morreu após ataque de índios payaguás quando regressava com prisioneiros e saque ao Rio da Prata; de acordo com outros, foi vítima de desentendimentos com os colegas europeus quanto a que destino dar às propriedades saqueadas e assassinado por um deles. Seja como for, Aleixo Garcia conquistou a tripla glória de ser o primeiro europeu a cruzar o Paraguai, a pôr pé na Bolívia e a chegar ao império inca.

RPB

O último Rei de Portugal

Foto de Nova Portugalidade.

Também chamado "o Patriota" ou "o Desaventurado", Dom Manuel II foi o último Rei de Portugal e dos Algarves de 1908 até à sua deposição em 1910 com a Implantação da República Portuguesa. Fotografia restaurada e colorida pelo especialista português Jorge Henrique Martins.

MISSA DE SUFRÁGIO POR SM EL-REI DOM CARLOS E POR S...

DEUS - PÁTRIA - REI: MISSA DE SUFRÁGIO POR SM EL-REI DOM CARLOS E POR S...: A REAL ASSOCIAÇÃO DE VISEU INFORMA QUE NO PRÓXIMO DIA 1 DE FEVEREIRO (QUINTA-FEIRA), ÀS 19:00 HORAS, SERÁ CELEBRADA MISSA DE SUFRÁGI...

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

MISSA POR ALMA DO REI DOM CARLOS - Porto

DEUS - PÁTRIA - REI: MISSA POR ALMA DO REI DOM CARLOS - Porto: A Real Associação do Porto informa que será celebrada, no dia 1 de Fevereiro, uma Missa em memória do Rei Dom Carlos e do Príncipe R...

MISSA DE SUFRÁGIO - 110 ANOS DO REGICÍDIO

 
Assinalando-se 110 anos sobre o trágico regicídio, a Real Associação de Lisboa cumpre o doloroso dever de mandar celebrar a habitual missa de sufrágio pelas almas de Sua Majestade El-Rei Dom Carlos I e de Sua Alteza Real o Príncipe Dom Luiz Filipe, no próximo dia 1 de Fevereiro de 2018, pelas 19:00, na Igreja de São Vicente de Fora.
Depois da Celebração Eucarística terá lugar a romagem ao Panteão Real, onde Suas Altezas Reais os Senhores Duques de Bragança deporão uma coroa de flores junto aos túmulos reais.
Para mais esclarecimentos contacte-nos através do endereçosecretariado@reallisboa.pt , pelo telefone 21 342 81 15 ou presencialmente na nossa Sede nos horários habituais.

Contamos com a presença de todos!
 
 

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Fado de Coimbra, João Farinha, "Do Choupal até à Lapa"


DO CHOUPAL ATÉ À LAPA
Oh Coimbra do Mondego
e dos amores que eu lá tive [bis]
quem te não viu anda cego
quem te não ama não vive
quem te não viu anda cego
quem te não ama não vive
Do Choupal até à Lapa
foi Coimbra meus amores [bis]
e sombra da minha capa
deu no chão abriu em flores [bis]

domingo, 21 de janeiro de 2018

Teatro: a verdade nua e crua

Está explicada a crise do teatro nacional: é por falta de ‘maturidade do público’ que esta nobilíssima arte não atrai mais espectadores!

Ainda não foi há muito tempo que, na iminência do encerramento de um teatro, o país entrou em pânico: choveram os protestos, circularam os abaixo-assinados, vociferaram os artistas, pronunciaram-se os políticos e até interveio, in extremis, o chefe de Estado, bombeiro de todos os fogos, até mesmo os naturais.
Com certeza que o teatro é importante para a cultura nacional e, nesse sentido, é compreensível que o Estado incentive a sua prática. Mas não se compreende por que carga de água os portugueses devem financiar, com os seus impostos, certos projectos, que não só são deficitários como manifestamente degradantes.
O belo é um transcendental, segundo São Tomás de Aquino, isto é, a expressão sublimada do ser, da verdade e do bem: algo é belo na medida em que é verdadeiro e bom. Não é arte uma obra que não expresse valores, por muito que a estimem os seus autores ou o público, cuja preferência nem sempre coincide com o que é artisticamente melhor.
Todos têm direito à criação e expressão artística, desde que não ofendam ninguém, como é óbvio. Mas daí não decorre que qualquer manifestação artística tenha que ser subsidiada pelo erário público. Se o autor de um romance não pode pretender que o Estado subsidie a edição, que direito têm às subvenções estatais as companhias de teatro?! Se forem de qualidade as suas representações, com certeza que a crítica e o público corresponderão mas, se não for o caso, porque devem os contribuintes financiar uma actividade que é deficitária, precisamente porque é medíocre?!
Alguns exemplos da actualidade são mais do que suficientes para ilustrar que não há exagero nesta crítica.
‘The Portuguese’ é um musical que começou a ser preparado em 2015, foi estreado no passado dia 13 no auditório dos oceanos do Casino de Lisboa e que se prevê que ficará em cena, com três representações semanais, pelo menos até ao final de Março. Segundo o autor, cuja sinceridade deve ser elogiada, é um espectáculo “completamente absurdo” e não serve “para pensar, não é nada intelectual, não é nada para a parte de trás do cérebro” (sic). Que é então? “É uma grande maradice (sic) que eu ainda não sei muito bem o que é”, nas palavras de uma das actrizes intervenientes, Ana Brito e Cunha. Na realidade, é uma paródia à história de Portugal, que é contada aos turistas de “forma sarcástica, cómica, às vezes musical”. Por exemplo, a expansão marítima portuguesa é “representada com banheiras sobre rodas a fazerem de caravelas e Fernando Pessoa”. Também há uma “partida de póquer entre António de Oliveira Salazar e James Bond”, canções dos Abba e das Spice Girls, que são, como é sabido, grupos tradicionais de música portuguesa. Enfim, uma palhaçada …
Outro tanto se diga de ‘Actores’, “uma peça em que” – refere a imprensa – “a repetição, a exaustão e a humilhação são atiradas para o palco”. Segundo ampla reportagem, o encenador confessa que “queria que, nesta navegação por estilhaços dos percursos individuais, o grupo atracasse (sic) em momentos em que fosse a ficção a transbordar para o lado da realidade, em que biografia e peças/telenovelas se vão intersectando, através de manifestações físicas próprias das personagens que assaltam os actores”. Estamos entendidos, não estamos?!
Mas não desanimem, que há ainda pior, nomeadamente no teatro municipal Sá da Bandeira, em Santarém. Aí esteve recentemente em cena “um espectáculo em que uma actriz apareceu nua e a dizer palavrões”. “Trata-se da adaptação e encenação do romance O Mandarim, de Eça de Queiroz” – em que, por sinal, não consta que haja mulheres nuas, nem palavrões – por Pedro Barreiro, o agora demitido director artístico e programador desse teatro, que reconheceu que esta história tinha assumido “um carácter um bocado circense”. A artista em causa, Sandra Oliveira, “não tardou a reagir, considerando que ‘resumir esta peça a uma gaja nua a dizer asneiras’ é de um desrespeito enorme pelo trabalho de todos os envolvidos”, sobretudo – digo eu – o responsável pelo guarda-roupa. Atente-se à pulcritude da linguagem da actriz, sintomática da elevação cultural e evidente interesse artístico e educativo da peça.
E o público? Segundo as contas da vereadora da cultura da Câmara Municipal de Santarém, ‘O Mandarim – Apóstrofe e Paciência’ contou com “47 pessoas a assistir à estreia e (…) 70 euros de receita”! Outro dado significativo: 197 espectadores estiveram no total das quatro representações da peça em Dezembro passado mas, como 127 eram convidados, só 70 pessoas pagaram bilhete, ou seja, houve uma média de menos de vinte presenças pagas por sessão.
Mas, claro, este insucesso não se deve à pouca qualidade das peças, mas ao público que, pelos vistos, já nem de circo gosta. Como disse a vereadora da cultura, “é importante ter espectáculos contemporâneos, mas não podemos ter tudo do mesmo, sobretudo quando ainda não existe maturidade do público”. Portanto, a culpa é do povo, que é imaturo, coitado! Fica explicada a crise do teatro nacional, mas salva-se a honra de vereadores, autores, programadores, directores, encenadores, actores, outros e outras dores: afinal, é por falta de “maturidade do público” que esta nobilíssima arte não atrai mais especta-dores!
Ao invés destas indignas e ruinosas experiências, os musicais ‘Wojtyla’, ‘Calcutá’, ‘Partimos, vamos, somos’, entre outros, foram experiências de grande êxito, graças à beleza de uma empolgante mensagem de fé, de amor e de esperança.
Consta que George Bernard Shaw ofereceu a Winston Churchill dois convites, para a estreia de uma sua peça teatral: um para o primeiro-ministro, e o outro para um amigo dele … ‘se o tiver’! Churchill agradeceu os bilhetes, desculpou-se por não poder ir à estreia, mas disponibilizou-se para uma segunda representação … ‘se houver’! Moral da história: é preferível que uma má peça se fique pela estreia, do que o Estado subsidiar, com dinheiros públicos, peças medíocres e deficitárias a que ninguém vai assistir e que desprestigiam o país.

sábado, 20 de janeiro de 2018

O Epílogo da Monarquia: oito séculos de História que se desfizeram num dia

Foto de Nova Portugalidade.


Na manhã de 5 de Outubro de 1910, um conjunto de republicanos chefiados por José Relvas proclamava a República Portuguesa na varanda do edifício da Câmara Municipal de Lisboa. Mais do que olhar unicamente para o golpe de estado ocorrido neste dia, que pôs termo à Monarquia Portuguesa, convém olhar para as grandes questões de fundo que explicam os motivos que levaram à derrocada da Realeza ao fim de oito séculos de existência. 

Se atentarmos mais para o processo no seu todo, podemos constatar que a data de 5 de Outubro foi apenas um ponto final na decomposição da instituição da realeza, que se vinha arrastando há várias décadas. A crise do Ultimato em 1890 já havia servido para propalar o movimento republicano e desprestigiar a figura do Rei, que foi duramente atacado pela eficaz máquina de propaganda do Partido Republicano. Os Republicanos não se poupavam a críticas e moveram uma feroz perseguição contra D. Carlos, apresentando-o como «anti-português», ao mesmo tempo que o Partido se auto-proclamava monopolizador do patriotismo. 

O fracasso financeiro e económico da Monarquia Constitucional, em conjunto com a descrença no modelo político de então, cujo rotativismo entre Progressistas e Regeneradores não ofereceria alternativas viáveis para a solução dos graves problemas estruturais que afligiam o país, contribuíram decisivamente para a descredibilização do regime. Além do mais, a decisão de D. Carlos no final do seu reinado de governar com mão-de-ferro através da ditadura de João Franco revelou-se desastrosa, pois isolou o monarca e atraiu um sem número de hostilidades. O resultado foi o completo isolamento do Rei e da própria instituição monárquica, isolamento esse ainda mais acentuado devido ao facto de as grandes cerimónias régias, como os casamentos, não terem um carácter popular e aberto ao público, como acontecia em Inglaterra. Sem o apoio das massas, a Monarquia estava sozinha. 

Na verdade, a Monarquia que existia em 1910 já não era uma Monarquia no sentido tradicional. Primeiro, porque os governantes liberais da Monarquia desde 1834 a tinham concebido como um «Estado cívico», uma comunidade soberana de cidadãos patriotas, apenas sujeitos à lei, e que aceitavam um chefe de Estado dinástico, mas com poderes limitados pela Constituição. Segundo, porque depois da guerra civil de 1832-34, os liberais tinham atacado e enfraquecido as instituições da antiga Monarquia, como a grande nobreza e a Igreja, nomeadamente através da expropriação do seu património. Diminuíram ainda a importância política da fidelidade à dinastia reinante. Os liberais definiram geralmente a Monarquia Constitucional como a «melhor das repúblicas», combinando o princípio da igualdade e o da soberania nacional com o respeito prudente pela tradição dinástica e católica, de modo a não suscitar reações. Mas a Monarquia era ainda a «melhor das repúblicas» porque todos os seus governantes, desde a Regeneração de 1851, se esforçaram por integrar e contentar a esquerda democrática radical. A cultura política da Monarquia sofreu desta forma uma evolução no sentido da «republicanização», especialmente no tempo de Fontes Pereira de Melo.

D. Carlos, segundo constava, dizia que em Portugal havia uma «Monarquia sem monárquicos». Como muitos concluíram, a Monarquia constitucional era já de facto «uma República com um Rei». Por isso mesmo, para a derrubar nunca teria sido preciso fazer uma revolução social ou institucional – isto é, atacar uma grande nobreza, ou um Igreja autónoma e poderosa. Bastaria dispensar o Rei – para o que, devido ao papel do Rei como árbitro da vida política, se poderia contar sempre com aquela parte da classe política descontente com as escolhas de governo do monarca: em 1910 eram muitos os políticos nesta situação. 

Facilmente se compreende, vistas estas razões, a frágil e débil resistência que o golpe de 5 de Outubro encontrou por parte das forças do Rei. Poucos eram aqueles que ainda sentiam uma devoção pessoal ao jovem e inexperiente D. Manuel II, que, após o regicídio do pai, não soube lidar com a situação extremamente delicada e complexa que herdou. O resultado era mais do que previsível: a República seguiu-se e um novo capítulo da História portuguesa iniciar-se-ia.

Miguel Martins



Portugal, a nação do missionário e do mártir, gloriado pelo Santo Padre

Foto de Nova Portugalidade.

"Como foi possível que vós, embora sendo poucos, fizestes tanto na santa cristandade? Onde Portugal encontrou forças para acolher sob seu domínio tantos territórios da África e da Ásia, para estendê-lo até às mais distantes terras americanas? Onde, senão naquela ardente fé do povo português, cantada por seu maior poeta, e na sabedoria cristã dos seus governantes, que fizeram de Portugal um dócil e precioso instrumento nas mãos da Providência, para a actuação de obras tão grandiosas e benéficas?

Afinal, enquanto homens exímios, conscientes da própria responsabilidade, como Afonso de Albuquerque e João de Castro governam com rectidão e prudência as várias colónias portuguesas e prestam ajuda e protecção aos zelosos anunciadores da fé – que grandes monarcas como João III se empenham em mandar naqueles países Portugal se impõe ao mundo pela potência de seu império e pela sua gigantesca obra civilizadora. Quando, ao invés, a fé declina e o zelo missionário fica desencorajado, quando o braço secular ao invés de proteger, perturba, ao invés de encorajar, paralisa a vitalidade missionária, em particular com a supressão das ordens religiosas, então, naturalmente, com a fé e a caridade, dispersa-se e fragiliza-se toda aquela primavera de bens, da qual havia nascido e se alimentado.

Méritos a Portugal por ter sempre associado os povos do ultramar à sua boa sorte, buscando elevá-los ao seu mesmo nível de civilização cristã. Nós contamos sobre essa louvável tradição para a realização de um dos sonhos mais presentes na Igreja católica dos últimos tempos: a formação do clero autóctone. De vossa parte, amado filho e veneráveis irmãos, fazei tudo o que for possível para que essas esperanças não sejam vãs, mas se tornem em breve uma consoladora realidade."

Encíclica SAECULO EXEUNTE OCTAVO do Sumo Pontífice PAPA PIO XII, ao Patriarca de Lisboa, aos Arcebispos e Bispos de Portugal em celebração do 800º aniversário da nação portuguesa.



Quando a poderosa França tremia ante o Rei de Portugal

Foto de Nova Portugalidade.

Eis uma carta dos tempos em que a Justiça, a Política e as Relações Diplomáticas eram um conjunto oficiosamente íntimo.

Dos tempos em que o Rei de Portugal fazia a Europa tremer...

Datada de 28 de Junho de 1552, trata-se de uma autêntica súplica do Rei de França , Henrique II, a D. João III de Portugal, para que liberte e indulte os franceses que estão presos e condenados à morte, por pirataria, em Lisboa.

Assim começa a carta:

"Muyto alto e muyto poderoso e muyto excelente princepe, noso muyto caro e muyto amado irmão, primo, compadre e antyguo aliado."

Quase não parece uma carta entre pares...



Raríssimo é este comportamento num chefe de Estado

Foto de Nova Portugalidade.

"D. Carlos estimava muito os pescadores, e eles ainda hoje se lembram do rei a quem falavam, não com a subserviência dos políticos, mas de igual para igual, como a um pescador de maior categoria. Às vezes D. Carlos encontrava-os no mar alto.- Então que tal a pesca? - Nada.- Também vocês estão aqui, e ali em baixo, a três milhas, o peixe anda aos cardumes.- Mas com este vento como é que a gente há-de lá ir? - Botem os cabos!... - E voltando atrás, levava-os a reboque do iate até ao sítio da abundância."

Raul Brandão
in Algarve.




sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

REAL DE LISBOA VAI VISITAR O PALÁCIO DA MITRA (LOURES)


No próximo dia 27 de Janeiro, pelas 10:00, a Real Associação de Lisboa realiza mais um Roteiro Real desta vez para uma visita ao Palácio da Mitra - Santo Antão do Tojal (Loures).

O Palácio da Mitra foi mandado construir pelo primeiro Patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida, entre 1728 e 1732, no lugar do antigo Palácio dos Arcebispos que já existia desde o séc. XIII. O seu conjunto arquitectónico, que inclui o Paço do Patriarca, o Palácio-Fonte e a Igreja/Capela do Patriarca, é único no contexto do urbanismo rural português. Nesta visita, vamos ter o privilégio de entrar num espaço privado e descobrir este exemplar único da arquitectura barroca, onde se destacam uma série de azulejos emblemáticos do séc. XVIII, as figuras de convite, escultura com mármores de Carrara ao gosto italiano e um jardim/horta onde ainda se conservam os pombais.

Esta visita, guiada pelo nosso associado Joel Moedas Miguel, tem lugares limitados e um custo de € 15,00 por pessoa. O ponto de encontro será no terreiro fronteiro ao Palácio.

Para mais esclarecimentos e inscrições, contacte-nos através do endereçosecretariado@reallisboa.pt, pelo telefone 21 342 81 15 ou presencialmente na nossa Sede nos horários habituais.


Contamos consigo!

A Direcção
Real Associação de Lisboa
Praça Luís de Camões, 46 2° Dto
1200-243 Lisboa
Tlf.: (+351) 21 342 81 15
Horário de atendimento: segunda a quinta-feira das 15:00 às 17:30, sexta-feira das 10:00 às 12:45


Nota - a Inscrição só é válida após o pagamento, não sendo possível o reembolso em caso de desistência.

CELEBRAÇÕES DO CENTENÁRIO DA BEATIFICAÇÃO DE SÃO NUNO DE SANTA MARIA

Foto de Real Associação de Guardas de Honra  dos Castelos, Panteões e Mon. Naci.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Questão Dos Adiantamentos À Casa Real

Rei D. Carlos I nas Cortes
Questão dos Adiantamentos à Casa Real foi um dos principais motivos de contestação à Família Real no reinado de Sua Majestade Fidelíssima El-Rei o Senhor Dom Carlos I de Portugal, porque, aproveitando o clima de total liberdade de imprensa e de expressão, em que não havia censura, foi um episódio instrumentalizado pela oposição republicana e dissidência progressista para golpear a Monarquia com propaganda maledicente e jornalismo de comentário difamador e tendencioso. O republicano Brito Camacho, dizia, ‘quanto mais liberdades nos derem, mais delas usaremos contra eles’.
questão dos adiantamentos, isto é, das supostas dívidas da Casa Real ao Estado, foi reavivada pelo próprio presidente do Ministério, João Franco, que contrariando a intenção que antes manifestara de resolver o assunto no Parlamento, decide por Decreto de 30 de Agosto de 1907, tratar a questão sem ele.
Ora esta Questão era problema de longa data, porque nesta nossa boa Terra de Portugal, na qual se está sempre pronto a reparar no menor foguete que estala nos céus, tem-se em suma atenção o que não merece cuidado, ficando sempre o principal para segundo plano. Este quiproquó das dívidas reais não foi problema gerado por uma possível prodigalidade do Rei Dom Carlos I, que era Monarca bem frugal nos gastos, ou da Família Real que vivia modestamente, mas antes era um erro que vinha de longe, do tempo das Constituintes de 1821, que ao colocarem um terminus no Absolutismo, decretam a separação do Tesouro Público do Erário Régio, que até aí se confundiam.
Assim, para manutenção e subsistência da Família Real e despesas com a Chefia do Estado por parte do Rei criaram uma Dotação que haveria de se manter inalterada durante quase 90 anos, tornando definitiva uma situação que deveria ser temporária como estabeleceram as próprias Cortes Constituintes, pois a diminuta soma fora fixada de acordo com as especiais circunstâncias que o País vivia: depauperado pelas Invasões Francesas e pela Guerra Civil.
Depois, a Carta Constitucional de 1826 estabeleceu que as Cortes devem fixar no início de cada reinado a Dotação do novo Monarca, atendendo aos factores que poderiam contribuir para o aumento do custo de vida. Mas, a disposição foi ignorada, pois ao contrário dos presidentes, os Reis estão constantemente submetidos ao escrutínio público devendo cuidar pela manutenção da probidade… até do parecer ser, uma vez que, como de acordo com Suetónio e Plutarco, César terá dito: ‘César, a mulher de César e qualquer membro da sua família devem estar acima de qualquer suspeita’.
Para não ‘parecer mal’ – diziam os políticos -, o Rei nunca era aumentado; para mantê-Lo sob a sua asa dizemos nós, pois sofre o Rei as invejas dos vassalos, sobretudo daqueles que cuidavam nascer para guias e conselheiros, que se acham já não na predisposição de ouvi-Lo, mas de mandá-Lo: – É isso, o Rei que ande a pé que eles vão de carruagem!
Ora com o Rei Dom Pedro V inicia-se uma transformação social e material do País, que haveria de se acentuar no cosmopolita Reinado de Dom Luís I: ele foi as pontes, os caminhos-de-ferro, a estrada de macadame, o fontanário, a malaposta e a consagração de direitos dos trabalhadores que leva à subida exponencial dos salários.
O Estado levou a cabo as obras públicas estruturantes que modernizaram o País. Tudo isso degeneraria, naturalmente, em inflação e em desvalorização da moeda tornando, porque quase irrisória, insuficiente a Dotação Real.
Assim, quando em 19 de Outubro de 1889 falece El-Rei Dom Luís I e Dom Carlos I ascende ao Trono de Portugal, como escreveu A. Oliveira Martins in “El-Rei D. Carlos I – Semana de Lisboa”, 1/1/1893:
Foi uma coroa de espinhos a que o moço rei teve para colocar sobre a cabeça, e nem o brio da juventude lhe permitiu um instante o gozo da vaidade, a que se chama fortuna. (…) E antes, depois e sempre, em todo o decurso deste já longo terramoto, cujo fim não vimos ainda, o moço rei, sozinho, desajudado de homens prestigiosos que lhe amparassem o trono, com partidos desconjunturados que na hora do perigo se demitem, confessando meritoriamente a sua impotência, ouvia estalar os tiros sediciosos do Porto e crescer a vozearia, confundindo os erros da sociedade com a responsabilidade da Coroa, esperando a salvação da queda da monarquia. Como se, no jogo mais ou menos imperfeito das instituições vigentes, houvesse alguma espécie de tirania! Como se o homem, que ontem se sentou no trono, pudesse ser responsável pelos erros acumulados em dezenas, em centenas de anos! Como se a desesperança, a apatia, o abandono com que a sociedade portuguesa se submete à oligarquia das clientelas e cabalas que a exploram, fossem filhas da acção perniciosa da Coroa! Como se, pelo contrário, não pudesse o Rei queixar-se de tantos que desertam o seu posto…’
O pretexto de João Franco em trazer a Questão a jogo era válida e justa, em nome da transparência que anunciara no início do mandato de Presidente do Ministério ao manifestar a intenção de governar à inglesa, ou seja, com equidade e dentro do espírito das leis, com harmonia, mas também com firmeza… O problema é que escolheu mal o momento!
Na sessão de 12 de Novembro de 1906, João Franco divulga no Parlamento os Adiantamentos feitos à Coroa. A oposição republicana que há muito aguardava o casus que lhe daria o motivo para atacar a Casa Real, clamou violentamente; Afonso Costa, surdo às admoestações do Presidente dessa Câmara, berrou: ‘E mais ordena o Povo, solenemente, que logo que esteja tudo pago, diga o senhor Presidente do Conselho ao Rei: Retire-se Senhor, saia do País, para não ter de entrar num prisão, em nome da lei’. Era o princípio do calvário que levaria ao trágico episódio no qual o Rei tombaria, em serviço, às balas do terrorismo.
João Franco para evitar mais complicações do género, logo a seguir, tenta dirimir o problema, que originara, em sede apenas de governo.
Decreto do Governo de 30 de Agosto de 1907 tinha apenas o propósito de resolver de uma vez por todas as Finanças da Fazenda Real, regularizando-as através da passagem para cargo do Estado das despesas de representação da Nação por parte da Família Real, das viagens de Estado, das recepções a chefes de Estado estrangeiros mantendo-se tudo o resto a expensas do Rei, desde despesas com o pessoal, como as mais particulares. O Decreto foi combatido pelas Cortes que se quiseram imiscuir no processo e exararam uma Lei. A Lei de 3 de Setembro de 1908 prevê o essencial do texto do Decreto transferindo para o Estado os mesmos encargos e despesas, apenas não lhe fixando limite. O grande problema colocou-se como se resolveria a questão dos Abonos já feitos, uma vez que a Casa Real havia muito tempo já não conseguia satisfazer as despesas de representação com a Lista e foi recebendo ao longo dos anos diversos Adiantamentos uns ao abrigo de Leis como as de 13 de Maio de 1896 e de 12 de Junho de 1901, outros com simples autorizações ministeriais dos sucessivos titulares da Fazenda, que agora se teriam de liquidar.
A infâmia propalou-se sobre o Rei Dom Carlos I e a Casa Real foi injusta e insultuosamente apelidada de ‘Grande Cancro’ das Finanças Públicas, atirando-se-Lhe até a responsabilidade de Adiantamentos feitos noutros reinados, mas ignorando-se que El-Rei realizara inúmeras visitas oficiais de Estado às Cortes e nações estrangeiras, das quais resultariam inúmeros benefícios políticos e financeiros para o País e consolidando a posição politico-estratégica da Nação, não só no domínio europeu, mas, também, enquanto Império Ultramarino. Recebera-se na Corte Portuguesa os Reis de Inglaterra Eduardo VII e a Sua Família, o Kaiser Guilherme II, El-Rey Afonso XIII de Espanha, o Presidente Francês, o Rei do Saxe, etc., e para os receber da forma digna e condizente com o seu estatuto precisara El-Rei Dom Carlos I de abrir os cordões à bolsa e por manifesta insuficiência da Lista Civil e como a Sua bolsa se encontrava vazia para suportar esses ónus foi necessário os governos fazerem os adiantamentos indispensáveis. Também, as deslocações do Príncipe Real, como à boda do Rei de Espanha ou a viagem às colónias, e que eram serviço de Estado, precisaram de ser provisionadas.
O que a vil propaganda não referia eram os milhares de contos de réis com que, desde Dona Maria II, os monarcas contribuíam para a Subscrição Nacional; tal-qualmente, olvidava, a calúnia, o episódio pelo qual em 29 de Janeiro de 1892, em documento dirigido à Presidência do Conselho de Ministros, El-Rei Dom Carlos I delibera:
‘Meu caro Dias Ferreira. – Querendo eu, e toda a família real, ser os primeiros nos sacrifícios extraordinários, que as circunstâncias do tesouro impõem à nação, previno-o de que resolvemos ceder 20 por cento da nossa dotação, enquanto durar a terrível e dolorosa crise, que actualmente atravessamos.’
D. Carlos I e Orçamento
O que o reclame anti-dinástico, convenientemente, não mencionava era que, pelo Decreto de 30 de Agosto de 1907, Dom Carlos I renunciou a favor do Estado do seu direito de propriedade sobre imóveis que de acordo com a Lei de 16 de Julho de 1855 concedia aos soberanos o direito de arrendar em seu proveito, o que desde 1901 já tal não acontecia, mas ao invés esse enorme rendimento enchia os cofres do Tesouro Nacional, e que com o Decreto passou a sê-lo de forma definitiva e irrevogável. E como tal esqueciam-se de mostrar o Diário do Governo de 1894, que corroborava isso mesmo, pois aí foi oficialmente enunciado que os débitos do Estado com a Família Real importavam na quantia de 573.981,381 contos de réis.
Também, ignorava a detracção que até o Yacht Amélia, Dom Carlos I transferiu para a propriedade do Estado, o mesmo iate que tinha comprado com dinheiro do próprio bolso, depois de andar a juntar durante uns anos os poucos contos de réis que lhe rendia o último morgadio que no seu tempo era ainda, legalmente, permitido em Portugal: o Morgadio da Casa de Bragança, e que salvara com muito empenho e com dois empréstimos a bancos ingleses, da qual, mesmo depois de tornar lucrativa essa propriedade particular e inalienável do Duque de Bragança, depois de pagar os juros dos empréstimos, retirava apenas os mencionados cinco mil contos de réis.
Assim, com a respectiva contabilidade apurada tenha-se em conta, que existia um Superavitem relação ao Output e ao Input na Lista Civil, pelo que com as transferências realizadas da Família Real Portuguesa para o Tesouro resultava, claramente, uma mais-valia financeira para o Estado.
Ora, por patente maleficência, tudo isto fora ignorado, e na Câmara Baixa os deputados republicanos, tonitruavam imprecações contra o Rei. Lembremos ainda Afonso Costa – caracterizado, mais tarde, pelo irmão e co-revolucionário Machado dos Santos como ‘o mais audaz, o mais inepto e o mais imoral de todos os tiranos.’– que vociferou a mãe de todas as execrações – que deveria, também, servir como alarme para o que ele e os primos da Carbonária urdiam na sombra – esganiçando em plena sessão da Câmara, naquele 20 de Novembro de 1906: ‘Por menos do que fez o Senhor D. Carlos I. Rolou no cadafalso, em França, a cabeça de Luís XIV.’ Com isto, com este crime de Lesa-majestade, os republicanos estavam a pedir sabre dos Lanceiros d’El-Rei, mas os Deputados republicanos foram apenas suspensos durante um mês. Relembre-se a afirmação do republicano Brito Camacho, já acima citado, ‘quanto mais liberdades nos derem, mais delas usaremos contra eles’. Assim foi!
Miguel Villas-Boas – Plataforma de Cidadania Monárquica