terça-feira, 29 de maio de 2018

O desejo niilista de um país sem ontem

Foto de Nova Portugalidade.

Em quase todos os dias das últimas semanas, a imprensa nacional tem vomitado lamentáveis peças de opinião sobre o hipotético «Museu das Descobertas» em Lisboa. 

Na semana passada, o primeiro-ministro de Portugal tomou de empréstimo a idiotia de toda aquela cáfila de académicos e activistas e enunciou nos jornais a necessidade de “descolonizar os Descobrimentos”. É difícil divisar o que é que esta linguagem possa significar, se é que pretende significar alguma coisa. António Costa sabe que “descolonizar” é um desses verbos que inevitavelmente tilintam como moeda no fundo do pote na mente de algum público, uma variação de campaínha pavloviana, à semelhança de “lutar” ou “reivindicar”, mesmo quando as acções que descrevem careçam de qualquer objecto. Adiante na estrada do niilismo, o primeiro-ministro sugere, outrossim, que o projectado museu se chame da “Descoberta”... E agora, sabemos, há o risco que o museu se chame da «Viagem»... Que dizer? Sempre a mesma retirada sobre o Aventino; sempre o mesmo recuo para a generalidade… Só desta forma, com esta evasão para o éter, com a fuga para a retaguarda de uma palavra que, capitalizada e no singular, nunca expressou nada de significado para nenhum português, para nenhum intelectual, para nenhum livro de história, é que se pode acomodar todas as perspectivas e, praticamente, obnubilar a experiência histórica concreta que fundava a intenção de levantar o museu.

Nós adivinhamos qual seria museu mereceria a resoluta aprovação daqueles académicos; qual seria a exposição que não lhes suscitaria a mais pequena objecção; qual seria a “narrativa” a que tributariam louvores. Seria aquela que, com uma encenada humildade, reconhecesse Portugal como um valhacouto de aventureiros semi-bárbaros, cuja maior glória consiste em ter procurado lucro em uma empresa genocida. Só essa representação de uma expiação colectiva é que satisfaria este desejo niilista de um país sem ontem. O desejo de um país que se tivesse deixado dissolver sem resistência na corrente da história, por ter aderido antecipadamente à cartilha de quietismo moral que é a pregação do dia daqueles académicos. Um país que tremesse ao ouvir os rumores de um mar desconhecido e que se houvesse contentado em contemplar o horizonte desde as suas costas. Um país que houvesse começado há pouco mais de quarenta anos, sem história, sem antepassados, sem caravelas, sem naus, sem Índia e sem Gama, sem Brasil e sem Angola. Um país, enfim, que tivesse aceitado a sua aniquilação política, moral e física. 

A raíz é, evidentemente, um profundo sentimento de culpa pessoal e de ódio à própria existência que se deseja purgar por substituição vicária nos antepassados.

Hugo Dantas



segunda-feira, 28 de maio de 2018

Eutanásia: porque não

Em todos os países em que se pratica a eutanásia, é origem e causa de irremediáveis abusos contra a vida e a dignidade humana.


1. Introdução. Para um debate esclarecido sobre a eventual legalização da eutanásia e do suicídio assistido, é imprescindível que os argumentos a favor da vida até à morte natural sejam conhecidos. Este texto é um resumo das principais razões éticas, jurídicas, religiosas, políticas, médicas e sociais contrárias à eutanásia e ao suicídio assistido, nas vésperas da votação, pela Assembleia da República, de quatro projectos-lei que propõem a sua introdução em Portugal.
2. Noção. Etimologicamente, eutanásia significa ‘boa morte’, mas conceptualmente é sinónimo de acção, ou omissão, em virtude da qual se provoca a morte de um doente em situação terminal, ou que padece de dores insuportáveis, a seu pedido ou com o seu consentimento, por razão da qualidade da sua vida. Pressupõe um grande sofrimento, não susceptível de cura, bem como a vontade do próprio em pôr termo à sua existência e, por parte de quem realiza essa acção, ou ajuda, uma atitude de compaixão pelo paciente que pede a eutanásia, ou o auxílio de que carece para pôr fim à vida e, consequentemente, à sua dolorosa situação.
3. A questão ética. Não obstante a vontade do próprio, que distingue a eutanásia do mero assassinato, e a boa intenção de quem lhe causa a morte, a eutanásia, ou suicídio assistido é, eticamente, um homicídio, na medida em que é matar intencionalmente uma pessoa sem culpa. Portanto, em termos éticos, a eutanásia significa uma licença para matar pessoas inocentes, a seu pedido e por uma razão alegadamente humanitária.
Não obstante o primado da liberdade, a vontade própria não é relevante em relação a certos crimes: um assassinato, consentido pela vítima, não é menos grave do que o executado contra a sua vontade. Ou seja, a autonomia da vontade individual não prevalece contra a dignidade humana, nem pode ser justificativa de uma acção eticamente condenável, como é sempre matar um ser humano sem culpa. A intenção altruísta do sujeito que pratica a eutanásia, ou é cúmplice do suicídio assistido, também não legitima, em termos éticos, a acção de matar um ser humano inocente.
4. A questão religiosa. As principais religiões, como a judaica, a cristã e a muçulmana, são contra a eutanásia e o suicídio assistido, porque o quarto mandamento da lei de Deus proíbe matar. “Nós, comunidades religiosas presentes em Portugal, acreditamos que a vida humana é inviolável até à morte natural e perfilhamos um modelo compassivo de sociedade e, por estas razões, em nome da humanidade e do futuro da comunidade humana, causa da religião, nos sentimos chamados a intervir no presente debate sobre a morte assistida, manifestando a nossa oposição à sua legalização em qualquer das suas formas, seja o suicídio assistido, seja a eutanásia” (Declaração conjunta das comunidades Islâmica, Israelita, Budista, Hindu e Bahá’í, das Igrejas Adventista, Ortodoxa e Católica, a Aliança Evangélica e o Conselho Português de Igrejas Cristãs, Maio de 2018).
Mesmo não sendo uma questão essencialmente religiosa, mas ética, o parlamento não pode ignorar que a grande maioria dos cidadãos portugueses se revê numa destas religiões e, por isso, sentir-se-ia ofendida na sua liberdade religiosa se porventura o Estado permitisse uma prática que a sua respectiva crença considera gravemente criminosa e contrária às mais elementares regras de uma sã convivência social. O Estado português é laico mas a sociedade portuguesa é, na sua grande maioria, religiosa: compete aos órgãos de soberania respeitar as crenças maioritárias do povo português.
5. A questão jurídica. A Constituição da República Portuguesa declara que a vida humana é inviolável e, portanto, a eutanásia e o suicídio assistido são inconstitucionais. Por sua vez, nenhuma lei ordinária pode prescrever, ou tolerar, comportamentos que directamente violam uma norma constitucional.
A eutanásia e o suicídio assistido não podem ser equiparados à interrupção voluntária da gravidez, ou aborto provocado, porque o ordenamento jurídico português não reconhece ao nascituro a inviolabilidade que, pelo contrário, consagra em relação a todos os seres humanos nascidos com vida. Portanto, a eutanásia e o suicídio assistido só poderão ser legalizados depois de efectuada uma revisão constitucional que revogue o princípio da inviolabilidade da vida humana.
A eutanásia, com esta designação, não está criminalizada em Portugal, mas sim o “homicídio a pedido da vítima”: “quem matar outra pessoa determinado por pedido sério, instante e expresso que ela lhe tenha feito, é punido com pena de prisão até três anos” (art. 134º, 1). Atente-se à terminologia empregue pelo Código Penal: trata-se de um “homicídio”, porque é “matar outra pessoa”. Portanto, em termos jurídicos, despenalizar a eutanásia mais não é do que legalizar um homicídio específico. Por sua vez, a despenalização do suicídio assistido contraria o dever moral e jurídico de socorrer quem se encontra em perigo de vida.
6. A questão política. A Assembleia da República não goza de legitimidade para decidir uma questão que respeita à consciência de todos e cada um dos cidadãos. Os partidos políticos nela representados também não estão facultados para exprimirem a vontade dos respectivos eleitorados sobre este particular, na medida em que a legalização da eutanásia e do suicídio assistido não constam dos seus programas eleitorais.
Quanto muito, o parlamento poderia suscitar um referendo nacional sobre esta matéria, muito embora os direitos humanos, bem como as liberdades e garantias fundamentais, não devam ser sujeitos a consultas plebiscitárias.

7. A questão clínica. A acção de tirar a vida a alguém, mesmo que a seu pedido e em grande sofrimento, não pode ser equiparada a um acto médico e viola gravemente o estatuto deontológico a que estão obrigados todos os médicos, bem como os demais profissionais da saúde. Segundo o juramento de Hipócrates, nenhum clínico pode intencionalmente pôr termo à vida de um paciente. Por outro lado, quem se encontra num estado muito doloroso ou terminal, pode já não estar em condições de prestar um consentimento válido. Esta situação é tanto mais grave quanto é certo que, pelo seu grande sofrimento, o paciente pode erradamente supor que só a morte o pode libertar da dor, ignorando a existência das práticas clínicas que, nomeadamente através dos cuidados paliativos, lhe podem facultar um fim de vida sem excessivo sofrimento.
Não é por acaso que o actual bastonário da Ordem dos Médicos em Portugal, eleito democraticamente por todos os médicos portugueses, bem como todos os seus antecessores ainda vivos, se manifestaram publicamente contra a eutanásia e o suicídio assistido, em carta dirigida ao Presidente da República. Os médicos não podem ser, ao mesmo tempo, os curadores da vida dos pacientes e os causadores da sua morte intencional. Nos países em que alguns médicos aceitaram praticar a eutanásia, quebrou-se a confiança institucional que é essencial à prática da profissão.
8. A questão social. Muito embora a prática da eutanásia e do suicídio assistido seja, inicialmente, permitida apenas em situações muito extraordinárias, está comprovado, nos escassos países que legalizaram a eutanásia, que a introdução desta medida, em princípio excepcional, tende a generalizar-se em relação a doentes que a não pediram, ou outras pessoas tidas por indignas de viver, como as crianças com graves deficiências. Da mesma forma como o aborto foi também, ao início, legalizado apenas para casos de violação ou malformação do feto, e actualmente já é praticado livremente, dentro do prazo previsto na lei, sem necessidade de nenhuma causa justificativa, uma eventual lei que legalizasse a eutanásia e o suicídio assistido teria, previsivelmente, esse efeito, vulgarizando a morte provocada de doentes terminais, pessoas de idade, crianças e jovens deficientes, etc., sem o seu consentimento e até mesmo contra a sua vontade.
9. Eutanásia e bem comum. A prática da eutanásia corresponde a um entendimento totalitário do Estado, que desvaloriza o ser humano e, por isso, instiga a sua morte. A eutanásia foi muito praticada pelo nazismo, não apenas como expediente para a eliminação dos doentes terminais e deficientes, mas também de muitos inimigos do regime, como judeus, católicos, homossexuais, ciganos, etc. Na realidade, trata-se de uma medida legislativa que ‘coisifica’  a pessoa: uma vez destituída da sua originária e inviolável dignidade, passa a ser, para o Estado, um sujeito descartável. Num país em que a eutanásia estiver institucionalizada e for prática corrente do serviço nacional de saúde, só os indivíduos mais capazes, em termos económicos e financeiros, a podem evitar, quer recorrendo a clínicas privadas, quer emigrando para países onde uma tal prática não seja permitida.
É verdade que, mesmo quando os cuidados paliativos logram proporcionar a um doente terminal uma vida aceitável, porque digna sê-lo-á sempre, não é possível excluir, da existência humana, todos os sofrimentos. Mas também é certo que a solução para a dor não é nunca a eliminação do paciente, mas a sua cura, ou aqueles cuidados médicos que permitam atenuar esses sofrimentos físicos ou psíquicos. A eutanásia, se legalizada, será um expediente fácil para os familiares e profissionais da saúde se verem livres de parentes e pacientes que, de outra forma, exigiriam os seus cuidados. Seria ingénuo pensar que, uma lei que autoriza matar seres inocentes, não será usada com intuitos criminosos.
10. Conclusão. Para a sociedade em geral é preferível que não se permita a morte provocada do doente terminal, ou incurável, nem se conceda uma discricionária licença para matar. Mesmo que, em alguns casos, essa lei pudesse ser aplicada segundo critérios humanitários que, contudo, nunca legitimariam uma tal acção, pior seria o dano social provocado por uma tal legislação. Em todos os países e regimes em que a eutanásia se praticou, como na Alemanha nazi, ou pratica, como na Bélgica e na Holanda, sempre foi e é origem e causa de irremediáveis abusos contra a vida e a dignidade humana, sobretudo dos que, por serem mais desfavorecidos, mais carecem também da protecção da lei e do Estado.
Post scriptum. Primeiro título da primeira página do Público de 24 de Maio: “Câmaras municipais abateram quase 12 mil cães e gatos num ano” e, em subtítulo, “Abate de animais pelos municípios cresceu 25% em 2017. Em Setembro passa a ser proibida a eutanásia (sic) nos canis como medida de controlo de cães e gatos vadios, mas Governo já admite adiar prazo”. Fica explicada a razão pela qual o PAN foi o único partido que, no seu programa eleitoral, propôs a eutanásia: nada melhor do que o ‘abate’ dos seres humanos para evitar a ‘eutanásia’ dos animais. Moral da história: se não quiser ser abatido nalgum matadouro municipal – leia-se hospital do Serviço Nacional de Saúde – use uma pulseira com a seguinte inscrição: ‘Atenção: matar seres humanos inocentes é legal, mas matar animais é crime! Sou um cão que fez uma operação de mudança de espécie. Se me quiserem eutanasiar, eu mordo’.
P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Fonte: Observador 
DEUS - PÁTRIA - REI

sábado, 26 de maio de 2018

O regresso de uma Rainha muito amada

Foto de Nova Portugalidade.


Por estes dias, em 1945, Portugal revia a sua última Rainha. Entre 19 de Maio e 30 de Junho, terminara há meros dias a grande guerra, regressou a Lisboa a Rainha Dona Amélia de Orleães e Bragança, mulher e mãe de reis. Foi a primeira visita da Rainha à pátria do seu marido e filhos em 35 anos - em 1910, uma insurreição republicana conduzira à abolição da monarquia portuguesa e ao exílio da Rainha-mãe Amélia e do seu filho, o Rei Dom Manuel II. Falecido aquele em 1932, a Rainha Dona Amélia ficara como único membro vivo da desafortunada última geração da linha mariana da Casa de Bragança. 

A Rainha veio a Portugal para rever um país que já fora o seu e, em especial, para reencontrar a família. No Panteão dos Braganças, em São Vicente de Fora, a Rainha prestou homenagem ao Rei Dom Carlos, ao Rei Dom Manuel e ao Príncipe Real Dom Luís Filipe, assassinado junto do pai em 1908. Foi recebida pelos mais relevantes dignitários do Estado, entre os quais o então presidente do Conselho de Ministros Oliveira Salazar, e visitou o Palácio da Pena, em Sintra, Cascais, Alcobaça, Batalha, a Foz do Arelho, o Buçaco e Fátima, a cujo santuário ofereceu um dos seus mantos reais. Em Portugal, a Rainha visitou ainda algumas das instituições sociais que fundara e que continuara, mesmo do exílio e tão destratada por Portugal, a apoiar financeiramente. Foi o caso da Assistência Nacional aos Tuberculosos e do Dispensário de Alcântara.

No final de Junho, a Rainha Dona Amélia regressou a França, onde morreria em 1951. Amada pelos portugueses e finalmente reconhecida pelo Estado, a corpo da Rainha foi trazido para Portugal a bordo de uma embarcação da Armada, a fragata NRP Bartolomeu Dias, e sepultada no Mosteiro de São Vicente de Fora. O governo português concedeu-lhe um funeral de Estado em que estiveram presentes o Chefe do Estado, General da Força Aérea Francisco Craveiro Lopes, o Chefe do Governo Doutor Oliveira Salazar, o Ministro da Marinha e futuro Presidente da República Contra-almirante Américo Thomaz e o Cardeal-Patriarca de Lisboa Dom Manuel Gonçalves Cerejeira.

RPB




DEUS - PÁTRIA - REI

Sabia que houve portugueses no Cerco de Malta em 1565?

Foto de Nova Portugalidade.
No retrato, Dom António Manuel de Vilhena, o terceiro português como Grão-Mestre da Ordem de Malta, século XVIII.genda

A historiografia portuguesa quinhentista está ricamente cheia de batalhas, cercos e confrontos navais, mas é impressionante que mesmo nas refregas onde Portugal não esteve directamente envolvido, encontramos portugueses lá presentes a dar o rubro. Isto a propósito de, recentemente, ter tido uma conversa com o célebre historiador Luís Costa e Sousa, um especialista em guerra quinhentista. Durante o diálogo, trocámos impressões sobre alguns dos confrontos mais notáveis da época, entre eles, o cerco de Malta em 1565, onde me chamou à atenção para o nome de um capitão português, Pedro de Mesquita, que terá servido como cavaleiro de Malta. Dei para mim, após a conversa, a perguntar-me se não haveriam mais lusos lá presentes. Foi então que me deparei com uma obra onde não só fala ao detalhe sobre a presença lusa na Ordem de Malta, como também faz uma pequena lista de alguns nomes dos cavaleiros portugueses que serviram durante o cerco de 1565, que deixo aqui em baixo citados.

- Pedro de Mendonça
- Francisco de Brito
- João da Cunha
- Pedro de Mesquita
- Vasco da Cunha
- Baltasar de Paiva
- Simão de Sousa
- Simão de Melo
- Luís de Távora
- João da Rocha Pereira
- Diogo Brandão
- Bartolomeu Pessoa
- Francisco de Brito (o moço)
- Garcia de Mendonça
- Fernando da Cunha
- Afonso da Fonseca (I)
- Afonso Fonseca (II)
- Jerónimo Botelho
- Henrique de Figueiroa
- Jorge Correia
- João Pereira
- Afonso de Azevedo
- Lopo Teles
- Rodrigo Godinho

Ricardo da Silva



quarta-feira, 23 de maio de 2018

Conímbriga Antiga Cidade Romana.

SAR, O Senhor D. Duarte presente na apresentação do livro Portugal no Golfo Pérsico: 500 anos


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Ontem, no lançamento da obra Portugal no Golfo Pérsico: 
500 anos, livro em que colaboram com textos de autoria três membros da nossa 
organização, a Nova Portugalidade não deixou de apresentar cumprimentos a 
Dom Duarte de Bragança, também presente no evento.



terça-feira, 22 de maio de 2018

Fundação de Versalhes paga na totalidade o restauro do manto da rainha D. Amélia



A Fundação de Versalhes vai pagar a totalidade do restauro do manto da 
rainha D. Amélia, exposto no antigo edifício do Museu Nacional dos Coches, 
em Lisboa, revelou fonte desta entidade à agência Lusa.

O donativo no valor de seis mil euros desta fundação com sede em Nova 
Iorque foi feito no âmbito de uma campanha pública de angariação de fundos 
para o restauro do manto, lançada no início deste ano.

Isabel Raposo de Magalhães, membro da direcção do Grupo de Amigos do 
Museu Nacional dos Coches (GAMNAC), explicou à Lusa que o afilhado da 
rainha D. Amélia, D. Duarte Pio de Bragança, "empenhou-se pessoalmente na campanha de mecenato promovida em prol do restauro do manto da rainha", 
tendo conseguido o apoio da Fundação de Versalhes, presidida por Barbara de Portago.

De acordo com a directora do Museu Nacional dos Coches, Silvana Bessone, 
existe a intenção de requalificar uma sala do Picadeiro Real para expor o manto, depois de restaurado, bem como outras peças. O objectivo é criar um núcleo 
dedicado à rainha D. Amélia, a quem se deve a preservação da colecção e a 
criação do actual Museu Nacional dos Coches.

Por outro lado, a direção do GAMNAC pretende destinar a totalidade do 
dinheiro entretanto angariado na campanha, de muitos doadores anónimos, 
para o restauro do quadro a óleo da rainha, pintado por Vittorio Matteo 
Corcos, em 1905, que se encontra na escadaria do museu.

A campanha tinha sido lançada porque o manto - classificado como bem de 
interesse nacional - se encontra "muito degradado", segundo fonte da entidade. 
Esta peça de vestuário foi oferecido pela cidade de Paris à rainha D. Amélia, por ocasião do seu casamento com o príncipe D. Carlos, futuro rei, em 1886.

O GAMNAC existe desde 2015 mas nunca teve actividade nem associados. 
Isabel Raposo de Magalhães, que é funcionária do museu e esteve muitos 
anos ligada à área da conservação e restauro, decidiu reactivá-lo, contando 
agora com 150 associados. Esta campanha é a primeira iniciativa do Grupo de Amigos.

O manto será restaurado na oficina de conservação do Museu dos Coches, com supervisão do Instituto José de Figueiredo, por se tratar de uma peça 
classificada. Sobre o valor necessário, Isabel Raposo de Magalhães explicou 
que "os materiais envolvidos são caros, e qualquer intervenção em têxteis é 
muito demorada, além de que o manto é de grandes dimensões".

De corte em veludo rosa prateado, o manto é forrado de cetim da mesma cor e constituído por nove tiras de veludo unidas entre si longitudinalmente, de 
modo a formarem pequenas abas na extremidade superior e um leve estrangulamento a meia altura. Um delicado bordado contorna a peça, 
desenhando uma cercadura onde pontuam rosas, folhagem diversa e fino 
reticulado a ponto de fundo, segundo a descrição da peça no inventário do 
museu.


Fonte: Público

sábado, 19 de maio de 2018

Morre da cidade do Porto o 51º Grão-Mestre da Ordem do Templo



ORDO SUPREMUS MILITARIS TEMPLI HIEROSOLYMITANI - OSMTH
Magnum Magisterium
Nota de Falecimento e Esclarecimento
Cidade do Porto, 18 de maio de 2018.
Estimados Freis e Freiras em Cristo, pertencentes à OSMTH-Porto - Portugal e de todo o mundo coube a mim como Príncipe Regente (Vice Gran-Maestro) em exercício, atendendo à vontade soberana do Grão-Mestre Dom Fernando Campello Pereira Pinto de Sousa Fontes informar-lhes sobre o seu falecimento ocorrido hoje dia 18 de maio de 2018, às 10:00 horas depois de longo período de tratamento e internações hospitalares.
Seu corpo está sendo velado na Igreja da Lapa, na cidade do Porto, Portugal.
Durante mais de cem dias acompanhei diariamente o estado de saúde do Grão-Mestre e em todos os momentos, com raras exceções, ele demonstrava sua preocupação com os destinos da Ordem.
Solicitou-me o Grão-Mestre que lhe prometesse que faria cumprir a sua soberana vontade após o seu falecimento, o que faço através deste primeiro comunicado oficial e nota de esclarecimentos:
- Disse-me ele que havia solicitado à uma pessoa de sua inteira confiança que guardasse consigo um envelope lacrado e devidamente selado no qual ele fazia a nomeação do próximo Grão-Mestre e outros membros para regerem a Ordem após o seu falecimento;
- Que convocasse a realização de um “Convenção Geral” em um prazo não superior a cem dias após o seu falecimento para a abertura do envelope que me será entregue pela pessoa de sua confiança na hora oportuna, segundo ele;
- Lembrou-me o Grão-Mestre que fazia isso por gozar de “todas as honras, atribuições, prerrogativas e privilégios vinculados a sua soberania e que suas decisões são definitivas e inapeláveis”. Disse ainda que, por esta razão, ficava revogada toda e qualquer norma que possa ter existido e que possa vir a ser contrária à sua soberana vontade”, conforme atestado pela testemunha que presenciou tal declaração que me outorgava esta incumbência;
- Diante deste relato informo que no dia 18 de agosto, do corrente ano, às 18:00 horas, estaremos realizando um Convenção Geral de corpo presente na Igreja da Lapa, cidade do Porto, Portugal, onde estaremos homenageando o Grão-Mestre Dom Fernando e também abrindo o envelope deixado por ele o qual aguardamos que nos seja entregue, conforme informado pelo Grão-Mestre, anunciando, assim, o nome do novo Grão-Mestre e demais nomeados por Dom Fernando como sua última vontade;
- Desta feita, convidamos a todos os Mestres Templários, Grão Priores, Priores, Grão Oficiais, Oficiais e membros da Ordem para estarem presentes a este ato e prestarem suas homenagens a Dom Fernando. Esta data foi escolhida porque sabemos que não existe coincidência visto que o Grão-Mestre Jacques Bernard De Molay e o Grão-Mestre Dom Fernando Campello Pereira Pinto de Sousa Fontes morreram em um dia 18. O primeiro em março de 1314 e o segundo em maio de 2018, este quando a Ordem do Templo completa 900 anos de existência. Também escolhemos esta data porque no dia 20 de agosto é comemorado o dia de São Bernardo de Claraval autor da Regras da Ordem do Templo.
Trazemos para vossas reflexões as palavras do Grão-Mestre Jacques Bernard De Molay proferidas em 1307, na reunião que participou em Chipre com os altos escalões da Ordem para anunciar o que estava prestes a acontecer naquele mesmo ano.
Disse o Grão-Mestre: Nós somos os guardiões da verdade Cristã. Nós sabemos quem foi o verdadeiro Jesus e o que Ele, na verdade, desejou. Desejou uma verdadeira fraternidade da qual todas as pessoas pudessem fazer parte, uma fraternidade onde a única religião fosse a consciência do bom e do belo que existe em cada espírito humano... O reino de Deus é o reino da verdadeira Justiça. É o reino da tolerância. É o reino da Fraternidade. Esse é reino pelo qual devemos lutar. O reino que merece o nosso sangue...”
Contamos com a presença de todos!
Recebam o meu Fraternal e Tríplice Abraço Templário
NON NOBIS DOMINE  NON  NOBIS   SED  NOMINI  TUO  DA  GLORIAM  
Maria Suzana Sendim Figueiredo Pinto de Fontes
Príncipe Regente, em Exercício

E D. Duarte, estaria preparado para ter uma nora de Hollywood? “Absolutamente, não”


A Rua dos Duques de Bragança, em Lisboa, deve o seu nome ao palácio da família aristocrata portuguesa, a mesma de que descende D. Duarte. Sem palácio, mas com uma casa num terceiro andar na dita rua, o duque, com 73 anos, recebe as visitas com o mínimo de cerimónia. “Vou pedir pizzas”, exclama. Dito e feito: meia hora depois, estavam três em cima da mesa, bem como pratos, talheres (à vontade não é à vontadinha) e um sortido de bebidas: uma coca-cola, uma cerveja artesanal e três sidras, duas delas de frutos vermelhos.
O casamento do princípe Harry e de Meghan Markle é já no sábado — D. Duarte, herdeiro da coroa portuguesa e um dos vários monarcas europeus não reinantes, tem as suas maiores afinidades distribuídas por outros reinos que não o de sua majestade, Isabel II. É onde estão os “primos”, como diz. Holanda, Luxemburgo, Bélgica, Áustria, Baviera e por aí em diante, só para termos uma amostra de como estas árvores genealógicas são complexas e cheias de nós cegos.
Há 23 anos, foi o próprio casamento do duque que deu que falar. Três mil convidados, uma igreja monumental, a dos Jerónimos, preceitos protocolares até mais não, e uma multidão de gente à porta com direito a acepipes e ecrãs. Até convites falsos houve, uma verdadeira festa. Este fim de semana, D. Duarte e D. Isabel não vão a Windsor.
D. Duarte tem três filhos: Afonso, o mais velho, tem 22 anos, Maria Francisca já tem 21 e o mais novo, Dinis, tem 18. Não será completamente despropositado antecipar o próximo casamento real português. Por cá, a febre com a realeza pode não ser nem metade da dos ingleses, mas é preciso admitir que de um conto de fadas (ou de príncipes e princesas) todos precisamos de vez em quando.
Como é que anda a sua relação com a família real britânica?
Tenho uma relação próxima com o príncipe Eduardo e com o príncipe Carlos. Eu e o Príncipe Eduardo trabalhamos juntos num programa internacional chamado Prémio Duque de Edimburgo, que em Portugal se chama Prémio Infante D. Henrique, do qual sou o presidente honorário. Com o Príncipe Carlos tenho-me encontrado em várias ocasiões e tido conversas muito interessantes, nos aniversários dele, etc… Gostei muito da Camila, pareceu-me uma mulher interessantíssima, inteligente e muito culta. Tivemos uma conversa muito interessante.
Quando é que esteve, pela última vez, num evento oficial da família real?
Em primeiro lugar, costumo estar nas reuniões do grupo de apoio ao Prémio Duque de Edimburgo. Convidam-me duas vezes por ano para encontros muito interessantes que acontecem no Palácio de St. James, em Londres, ou em vários outros palácios históricos. São pessoas que dão uma contribuição para o prémio. Neste caso, um senhor do Porto, muito simpático, pagou a minha contribuição vitalícia. Depois, há aniversários e casamentos de outras famílias, dos meus primos. A minha bisavó materna foi a princesa Isabel, filha de D. Pedro II do Brasil, uma senhora interessantíssima, mas esse lado da família não é assim tão numeroso. O meu bisavô paterno foi o rei D. Miguel e descendem dele os reis da Bélgica, os grã-duques do Luxemburgo, os príncipes do Liechtenstein e mais uma dúzia de famílias reais europeias. É curioso porque se criou uma rede de solidariedade familiar muito forte, as pessoas gostam muito de se encontrar e de conviver.
Foi convidado para o casamento do príncipe Harry?
Não.
Mas estava à espera de ser?
Não. Pessoalmente, não conheço a lista de convidados, mas imagino que seja muito mais pessoal do que política. No casamento do príncipe herdeiro, a lista foi sobretudo política, com governantes, Commonwealth, casas reais reinantes e com os amigos pessoais. Neste, julgo que será muito mais à base de relações pessoais. Não estou a ver a família a convidar figuras políticas, provavelmente porque a rainha achou que o casamento devia ser mais familiar.
Isso por ser o casamento do número seis na linha de sucessão, certo?
Sim, não tem peso nenhum. Tem um peso mediático muito simbólico pelo facto da rapariga ser de origem africana, mista. Isso tem um impacto muito grande em todas as comunidades que não são de ascendência europeia. Imagino que estejam muito contentes com isso. Os ingleses têm tido a habilidade de aproveitar circunstâncias que, à primeira vista, saem fora do comum e de lhes dar uma mensagem política inteligente.
Nesse sentido, acha que a família real faz um balanço positivo deste casamento?
Creio que sim. Quer dizer, conversando em particular com ingleses, percebe-se que há muitos, obviamente, muito chocados. Aliás, nesse aspeto, os ingleses nunca foram conhecidos pela sua tolerância. Tudo o que não seja inglês… Mesmo que fosse uma rapariga escocesa já iam discutir, quanto mais uma americana, meio africana. Acho eu. Lembro-me de uma história de um amigo cujo filho ia casar com uma escocesa. E ele dizia: “Esta coisa de o meu filho ir casar com uma mestiça”. “Mestiça?” “Sim, com uma escocesa”. E isto só porque não era bem inglesa.
Portanto, se não fosse Meghan Markle, este casamento passaria mais despercebido.
Estes casamentos são um ótimo negócio para Inglaterra, não é? Vão imensos turistas, vendem-se imensas lembranças, fazem-se selos de correio. Mas acho que estão a fazer um esforço para não dar a impressão de que, por ser com esta, o casamento é menos solene, para não parecer que há menos entusiasmo. Ou então, foi o governo a dizer que convinha aproveitar o momento para distrair as pessoas do Brexit. Para as relações com os Estados Unidos, por exemplo, o casamento é certamente muito bom. A grande preocupação do Estados Unidos é que não haja qualquer tipo de discriminação e isto mostra uma modernidade da Inglaterra, por aceitar bem um casamento destes. Podia ser mais chocante, mas até está dentro de uns certos limites, apesar de tudo.
Mas hoje as pessoas já olham para as famílias reais de forma diferente. Acha que a casa real britânica tem contribuído para esta mudança de perspectiva?
Há uma caricatura muito engraçada de uma artista inglesa em que se vê o príncipe Philip desmaiado no chão e a rainha a dizer: “Philip, querido, ela é Markle, não é Merkel”. Acredito que deve ser bastante chocante para a rainha e para o príncipe Philip que o neto case com uma rapariga divorciada e já com uma história de vida complicada. Mas aceita-se. Porquê? Porque faz parte da cultura da nossa época. E o que acontece é que, em todas as alturas, as famílias reais se adaptaram sempre aos valores culturais da sua época, tentando moderá-los, tentando dar exemplos de outro tipo de comportamento mais clássico. Mas acabam por se adaptar e isso é uma constante histórica. Na Idade Média, os reis participavam nas batalhas, porque tinham de ser guerreiros. Na Renascença, preocupavam-se muito com a cultura, com o progresso e com a ciência, eram os valores da época. Hoje em dia, qual é o valor aparentemente mais fundamental? É a democracia. Então as famílias reais fazem casamentos muito democráticos. Também aconteceu na Suécia e na Noruega. A própria rainha de Espanha é um exemplo. Até agora, a força e o prestígio da instituição monárquica tem sabido ultrapassar problemas que surgiram, às vezes por falta de preparação das rainhas e dos príncipes que casam com elas. Já o marido da rainha da Holanda, o príncipe Bernardo, teve um problema muito complicado porque recebeu dinheiro de uma indústria americana para favorecer a compra de uns aviões. A reação dos holandeses foi: “Coitada da rainha que tem de aturar a estupidez deste marido”.
Considera então que a monarquia britânica soube lidar com essas transformações.
Há um filme chamado “A Rainha” que retrata isso muito bem. O facto de a população dos países onde há monarquias vibrar imenso e sentir-se muito próxima dos problemas das famílias reais mostra exatamente a importância da instituição. Ninguém  fica muito preocupado se a filha do Presidente da República se divorcia, por exemplo. No entanto, existe uma ligação afetiva que dá uma face humana ao Estado e que nos leva a considerar o Estado não só como aquela máquina dos políticos e dos cobradores de impostos, mas com qualquer coisa de humano. Os presidentes inteligentes e competentes, como o nosso actual ou como foi o general Ramalho Eanes, sabem interpretar isso e sabem perceber que o que o povo quer de um presidente é que ele tenha o comportamento de um rei.
Voltando à comparação com o divórcio da filha de um presidente, porque é que há menos tolerância? É porque a monarquia está intrinsecamente associada a determinados valores e a república não?
Por um lado sim, é isso. Por outro lado, porque é uma ligação familiar. Os povos conhecem os seus reis desde sempre. São muitas gerações, em geral. Qual é o inconveniente principal das monarquias? É exatamente essa ligação afetiva muito forte que, quando as coisas correrem mal, causa também perturbação e infelicidade às populações. Houve, recentemente, o caso de uma monarquia em que as coisas correram muito mal, o Nepal. Aparentemente, tinha havido ali um assassinato dentro da família real, foi um drama enorme e o país acabou por cair nas mãos dos maoistas. São casos extremamente raros. O Japão tem uma monarquia de 2000 anos, com a mesma dinastia, e nunca teve um drama com a família real. Pelo menos, que se saiba. Deve ter havido mas foram abafados. Quando as coisas correm mal, como foi o caso da princesa Diana, há um drama nacional. Nós temos dramas parecidos, mas com o futebol.
Mas, para alguém que tinha entrado em cena há relativamente pouco tempo, a princesa Diana teve um grande impacto, interferindo mesmo na relação dos britânicos com a Rainha. Na história das monarquias europeias, há um pré e um pós princesa Diana?
Depois desse drama, houve uma sondagem em que se perguntou ao povo inglês se, caso a Inglaterra se tornasse numa república, quem é que seria o candidato mais provável. O segundo foi o Richard Branson e o número um foi o príncipe Carlos. De facto, a popularidade do príncipe Carlos não teve nada a ver com aquilo que veio nos jornais. Os jornais estiveram muito hostis contra ele, mas na verdade fabricaram muito o drama. Eram dominados por grupos económicos e o que aconteceu foi que a alta finança inglesa estava muito incomodada com as posições que o príncipe Carlos estava a assumir em defesa dos mineiros, da arquitetura rural e da justiça e fizeram aquela campanha toda para desestabilizá-lo. Ele também se prestou, obviamente. Hoje, toda a imprensa quer que ele abdique e seja o filho, mas acho que isso não vai acontecer.
Esteve no casamento de William, em 2011?
Não. Casamentos de famílias reais fui ao da Holanda, Luxemburgo, Bélgica, Marrocos, Jordânia e de outras famílias reais não reinantes na Europa, da Áustria, Baviera. É onde estão os nossos primos, os familiares mais chegados. Ah, e da Dinamarca, sou muito amigo da família real dinamarquesa.
Imagina, nestes momentos, como será quando um dos seus filhos casar?
Atenção dos media vai haver, de certeza. Impõe-se também saber se o casamento é em Portugal ou no estrangeiro, porque, normalmente, os casamentos são a convite da família da noiva. O importante para eles é que seja um casamento equilibrado, com pessoas do mesmo meio cultural e, sobretudo, que haja uma identidade espiritual, fundamental para um casamento ser feliz. Os outros aspectos são menos importantes. Quando o marido ou a mulher têm vergonha de coisas que o outro faz, porque acha que é ridículo ou que é possidónio, ou que dá mau aspecto, já é um problema cultural. Pelo que tenho visto a nível internacional, quando o nível cultural é semelhante, a raça tem muito pouca importância. Vejo casamentos muito felizes de europeus com africanos ou asiáticos, porque conseguiram ter uma identidade e valores espirituais semelhantes, mesmo com religiões diferentes. Aliás, acho que hoje em dia o racismo tem muito pouco a ver com a raça propriamente dita, tem a ver com a cultura. Lembro-me, por exemplo, do tempo português em Angola. Havia casamentos mistos que funcionavam lindamente bem porque, precisamente, eram pessoas que tinham o mesmo nível cultural, fosse ele popular ou erudito.
É essa a expectativa que deposita nos seus filhos, que escolham alguém do mesmo nível cultural?
Exactamente.
Tendo em mente a possibilidade de não casarem com aristocratas.
Pois, exactamente. O importante é que os maridos e as mulheres dos meus filhos percebam que, ao entrarem na nossa família, assumem obrigações e que não podem fazer o mesmo que fariam se estivessem noutra família qualquer. Têm que ter uma certa responsabilidade para com o país. Se estivessem noutra família qualquer, a prioridade era somente ter sucesso na vida, sem se preocuparem muito com outras causas. No nosso caso, espero que mantenham esse sentido de responsabilidade para com Portugal e para com o futuro do país.
E está preparado para a possibilidade de ser uma atriz ou um ator de Hollywood?
Absolutamente, não. Deve ser muito problemático ver a mulher ou o marido na cama com outro, deve ser muito complicado. E deve ser quase como estar casado com um piloto de linha aérea, sempre fora de casa.
Quem é que acha que vai casar primeiro?Não faço ideia, só espero que não sigam o exemplo do pai.
Imagina os portugueses a acompanharem esse momento, tal como agora vemos no Reino Unido?
Bem, o nosso casamento teve mais sucesso do que alguns casamentos reais europeus. Todas as pessoas que convidei vieram, o que foi um problema. Contava que muitos não viessem, pela distância geográfica ou por opções políticas, e acabei por ter 40 presidentes de câmara e metade eram do Partido Comunista, não estava à espera que viessem assim tão entusiasticamente. Depois, também vieram convidados de países longínquos, da Nova Guiné, da Austrália, de África. Tivemos de fazer uma receção no claustro dos Jerónimos, depois da missa. Na parte de fora, havia imensa gente a ver. Com a ajuda de amigos, organizou-se uma festa de rua com comidas, bebidas e música. Tínhamos ecrãs grandes lá fora. Não digo que vá ser um casamento tão espetacular como o nosso… Não faço ideia, tudo depende da situação. Se os portugueses estiverem em crise, então a festa vai ser muito grande. Se estiverem todos muito bem, de barriga cheia, então talvez seja um pouco mais discreta.
Mas acha que a mobilização será a mesma?
Creio que sim. Também depende do orçamento, não é? Não vou convidar tanta gente. No nosso estiveram 3000 e depois houve os que não tinham sido convidados. Falsificaram convites. Houve situações muito cómicas. Pessoas que eram conhecidas dos jornais e que os seguranças, por isso, deixaram passar, mas que não tinham sido convidadas, receberam convites falsos. Houve quem tivesse falsificado convites e mandado para algumas personalidades conhecidas, entre as quais a Lili Caneças. Eu não conhecia a senhora, não tinha razão nenhuma para convidá-la. Na altura, vieram perguntar-me o que fazer e eu deixei entrar. O Mário Soares foi o último a entrar, ainda o recebi. Quando cheguei, estava com o meu irmão Miguel. Vínhamos num carro descapotável e com uma escolta voluntária dos alunos do Colégio Militar. Na altura, havia uma campanha para o uso do cinto de segurança e perguntaram se podiam usar uma imagem para essa promoção. Dissemos que sim, claro. Mal entrámos no carro, pusemos o cinto. No final, as pessoas ficaram muito ofendidas porque acharam que tínhamos vendido as imagens.
Fonte: Observador
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