quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A Ilustração da Dinastia de Avis- Parte I

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Em Portugal, foi durante os reinados da Dinastia de Avis que se verificou a maior aculturação dos Príncipes e reflexamente a do País.

O gosto pelos autores clássicos, pelas letras, resultado da esmerada educação dos Príncipes da Dinastia de Avis, propiciou a difusão dos textos clássicos. Era a introdução da mentalidade Humanista do Renascimento em Portugal.


É com o início da Dinastia de Avis que, de facto, a sociedade portuguesa sofre a sua maior metamorfose. Para começar a língua portuguesa toma a sua característica e inconfundível fisionomia que é enriquecida com os neologismos que advém do contacto com as obras clássicas. Com o Renascimento vem a ideia de tomar a Antiguidade Clássica como modelo.


A educação que Dom João I recebeu como Grão-mestre da Ordem de Avis transformou-o num Rei invulgarmente culto para a época e o seu gosto pelo saber passou-o para a sua Ínclita Geração.
O Infante Dom Pedro de Portugal, Duque de Coimbra, quarto filho d’el-Rei Dom João I e da Rainha Dona Filipa de Lencastre, traduz o “De Officiis” de Cícero, e redige ele próprio a maior parte do “Tratado da Virtuosa Benfeitoria”, obra inspirada e assente em Séneca e Cícero. Além, dessa valia pessoal como autor e tradutor não foi menos importante o seu papel como mecenas das Artes, sobretudo das Letras, tendo inclusive sido traduzido por encomenda sua o “De Senectute” por Vasco Fernandes de Lucena, e o “De Amicitia” pelo Prior São Jorge.


Os Príncipes de Avis, quase sem excepção, como nenhuma outra Dinastia, inclusive na Europa, desde a primeira geração até Dom António, Prior do Crato, brilham nas mais variadas áreas das Artes.
Nem vamos abordar o papel guerreiro que o Infante D. Henrique teve nos descobrimentos portugueses – pois não é o tema em análise -, mas sim o seu papel como patrocinador da criação de uma cadeira de Astronomia na Universidade de Coimbra, ou o seu empenho no desenvolvimento da Caravela, de portulanos, de roteiros e de instrumentos náuticos que facilitassem essas mesmas descobertas por parte dos navegadores. "O Navegador" investiu toda a sua fortuna em investigação relacionada com navegação, náutica e cartografia, dando início à epopeia dos Descobrimentos. Esta descoberta geográfica do Mundo empreendida pelos portugueses é reflexo do paradigma do Renascimento na medida que o humanismo não se trata apenas de um ideal de cultura, mas um ideal de pensamento de confiança no Homem. Com os Descobrimentos, Portugal participa na primeira linha da construção de um admirável Mundo Novo.


A mais importante edificação do Reinado de Dom João I foi o Mosteiro de Santa Maria da Vitória, mais conhecido por Mosteiro da Batalha que o Rei mandou edificar como agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota, e onde aliás jaz, na Capela do Fundador, o Rei da “Boa Memória”.


Embora, a História existisse já desde os primórdios da Monarquia Portuguesa, é nessa época, com o Doutor Fernão Lopes, que esta se autonomiza e se converte em género próprio.
Fernão Lopes nas suas “Crónicas” inicia um novo e inédito género na literatura portuguesa, a prosa literária, «em que a arte alcança o grau supremo da naturalidade», vincou António José Saraiva in “História da Literatura Portuguesa”. Nesta sublime obra da prosa histórica portuguesa, o historiador oficial da Corte de Avis reúne uma exposição sequente da história dos sucessivos reinados, sem esquecer o exercício narrativo da época, embora o faça de uma maneira independente compilando factos seleccionados nas mais diversas fontes e narrando-os de uma forma muito particular, o que permite dizer que criou um estilo literário próprio. «A História há-de ser luz da verdade e testemunha dos antigos tempos», escreveu. Assim foi!, escrevemos nós.


D. Isabel de Portugal, única filha de Dom João I e de Dona Filipa de Lencastre, foi uma mulher muito lúcida, inteligente e refinada. Foi uma Mecenas das artes que se fez rodear de artistas e poetas, na corte de seu marido na Borgonha. Também na política exerceu a sua influência sobre o filho Carlos, O Temerário e, em especial, sobre o marido Filipe III, O Bom, Duque de Borgonha, que representou em várias missões de carácter diplomático.


Continuando na Ínclita Geração da Dinastia de Avis, Dom Duarte I que sempre acompanhou o seu pai nos assuntos do reino, sendo portanto um herdeiro preparado para reinar, foi cognominado o Eloquente ou o Rei-Filósofo pelo seu interesse pela cultura e pelas obras que escreveu como o “Leal Conselheiro” um ensaio sobre variados temas onde a moral e religião têm especial enfoque e o “Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela”, manual para Cavaleiros.


Falecido Dom Duarte I, e na menoridade de D. Afonso V, primeiro sua mãe e depois o tio D. Pedro, Duque de Coimbra assumem a regência. Como regente, D. Pedro procurou limitar o desenvolvimento de grandes casas aristocráticas e concentrar o poder na pessoa do Rei. Por sua ordem, cerca de 1448, foram revistas e concluídas as chamadas Ordenações Afonsinas, a primeira compilação oficial de leis do século XV, resultado de um pedido das Cortes a D. João I para a organização de uma colectânea em que se coordenasse e actualizasse o direito vigente, para a boa litigância e fácil administração na justiça.

O país floresceu sob a sua regência, mas o ambiente político não era o mais saudável uma vez que D. Pedro interpunha-se na ambição da nobreza. D. Afonso (filho natural de Dom João I com Inês Pires), Conde de Barcelos, converteu-se no tio predilecto de D. Afonso V e é agraciado com o título de Duque de Bragança em 1442, pelo regente D. Pedro, tornando-se assim no homem mais poderoso de Portugal e num dos mais ricos da Europa. Mas o 1.º Duque de Bragança, casado com D. Beatriz Pereira Alvim, filha única do Santo Condestável Dom Nuno Álvares Pereira, era inimigo pessoal de D. Pedro, embora meios-irmãos, e assim começou uma luta pelo poder entre duas facções – conjuntura que relatamos sem fazer considerações de que lado se encontrava a justeza de pretensões -, e que terminou com a morte de D. Pedro na Batalha de Alfarrobeira.

 
Com a estabilidade política retoma-se a afeição pelas artes, tão ao gosto da Dinastia da Boa-Memória. Assim, no século XV, no reinado de Dom Afonso V a pintura portuguesa atinge o seu auge. É de Nuno Gonçalves a autoria do esplendoroso tríptico “Painéis de S. Vicente”.
Também, realizado sob encomenda de D. Afonso V em 1457 e concluído a 24 de Abril 1459, temos o “mapa-múndi de Fra Mauro”, que reúne o conhecimento geográfico da época.


Miguel Villas-Boas

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