Este povo é um verdadeiro prodígio de sobrevivência. Temos uma cultura teimosa e uma visão do mundo que persiste, mau grado o flagelamento, a desconstrução dos mitos mobilizadores e a acção persistente de tudo o que nos faz esquecer o passado. Temos a terceira língua mais falada no hemisfério ocidental, temos no Brasil a 6ª potência económica mundial, países lusófonos espalhados pelos 5 continentes.
Persiste, entre os portugueses, uma feroz desconfiança em relação ao espanhol, o único adversário físico que contivemos e vencemos à custa da nossa riqueza passada. O Iberismo é claramente negado pelo português comum. Estamos na Europa, integrados nas principais instituições, onde o nosso voto pouco conta. Temos, ainda, esse incontido sentimento de sermos maiores do que a geografia que ocupamos. O nosso erro tem sido, precisamente, o de compararmos Portugal com a França, a Espanha, a Grã-Bretanha ou a Alemanha. Entre os pequenos, somos os maiores. O que deixaram a Dinamarca, a Holanda, a Bélgica, a Suécia, a Finlândia, a Irlanda ou a Suíça na história mundial? Língua ? Literatura universalmente reconhecida? Figuras marcantes na acção política, artística, no conhecimento? O nosso nome, a nossa memória, as nossas fortalezas, igrejas, vilas e aldeias continuam a ser proferidos com respeito. Ir a Goa, a Malaca, à Ilha de Moçambique ou a Timor dá-nos a esperança da permanência de Portugal.
A grande pergunta – a decisiva e mais difícil, que Lenine apôs a um dos seus mais notáveis escritos – “o que fazer ?”, respondemos: aceitarmos o que ainda nos faz diferentes, deitar fora o que nos marca com o estigma do desajustamento.
Tudo indica que a UE, tal como a conhecemos, se aproxima do fim. Infelizmente, os nossos governantes parece não quererem ver o evidente. Terão pensado numa alternativa, caso sejamos confrontados com a súbita desaparição da UE? Uma das funções da Nova Portugalidade é, pois, a de apontar uma alternativa. Nós estamos mais preocupados com o futuro do que com a evocação do passado.
MCB
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