sábado, 10 de novembro de 2018

Em terras de Portugal nasceu a Europa cristã

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Cem anos depois de Constantino, e cem antes do franco Clóvis, um monarca hoje pouco conhecido, com corte em Braga e reinando sobre a Galiza e o norte de Portugal, foi o primeiro rei bárbaro da História europeia a converter-se ao catolicismo. Antes dele, só, talvez, o vândalo Genserico, o chefe germânico que transferiu a sua tribo das Espanhas para o norte de África, tomou Cartago, saqueou Roma e logrou transformar os vândalos, antigos senhores de cavalos, em mestres do Mediterrâneo. Mas, se alguma vez se converteu à fé católica, Genserico nela não se preservou por muito tempo: apostatou mal pôde e, convertido à heresia ariana, tornou-se veemente opositor do catolicismo nos seus domínios. Requiário, muito diferentemente, recebeu a água do baptismo e jamais a sacudiu. A ele deve Braga a imensa honra de ter sido a segunda capital católica da Europa.

Nas veias de Requiário corria o sangue de homens grandes. O seu avô fora Hermerico, que no ano 409 da nossa era cruzara o Reno à cabeça de larga hoste de suevos e outros germanos, invadira a Gália e, destroçando os romanos uma e outra vez, viera encontrar na Galiza e em Portugal nova pátria para o seu povo. O Império de Roma conhecia nestas décadas a agonia final, com fracos homens por imperadores e generais estrangeiros, como o vândalo Estilicão, como governantes. Foi essa Roma mortiça e esgotada que Réquila, filho e de Hermerico e pai de Requiário, expulsou de meia Espanha e quase atirou ao Mediterrâneo. 

Ao contrário de Hermerico, que fora pagão germânico, e de Réquila, que se convertera à heresia de Ário ou morrera ainda gentio, Requiário foi o primeiro dos reis suevos - e de todos os monarcas germânicos da Europa - a abraçar a fé católica. De acordo com Isidoro de Sevilha, cuja Historia Suevorum é uma das mais importantes fontes sobreviventes sobre a monarquia sueva, Requiário ter-se-ia convertido ao cristianismo católico antes ainda da sua coroação. Teve capital em Braga, com uma corte que se compunha simultaneamente de alemães suevos e de romano-galaicos e romano-lusitanos nativos. Não foi, contudo, um romanizador. Ao contrário de outros reis bárbaros, tantos dos quais se deixaram mesmerizar pelo brilho da civilização latina, Requiário desprezava o direito e as instituições de Roma. Após a morte de Flávio Aécio, o grande general e estadista romano que derrotou Átila nos Campos Cataláunicos, Requiário invadiu o resto da Espanha com o objectivo de estender a toda a península o domínio suevo. Foi derrotado por Teodorico, rei visigodo que interveio contra a ofensiva sueva a mando de Roma, e obrigado a fugir para "Portugale". Foi em "Portugale", hoje a cidade do Porto, que foi capturado e morto. Seguiu-se o saque da grande cidade católica de Braga pelos visigodos arianos, o saque das igrejas e a destruição da monarquia sueva, que caiu em longa e dolorosa anarquia. Assim, morto em Portugale, caiu o primeiro monarca bárbaro a converter-se ao catolicismo. E nascia, com a adopção da fé de Roma por aquele rei alemão, a Idade Média.

RPB




DEUS - PÁTRIA - REI

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