sábado, 31 de agosto de 2019

Uma benigna bomba atómica espiritual na história da humanidade

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Os Descobrimentos e a Expansão marítima dos portugueses marcam o início da grande confluência, como um dia notou Felipe Fernández-Armesto. O planeta, até então separado em galáxias civilizacionais fechadas que só interagiam na orla umas das outras, foi convulsionado, gerando-se uma crescente dinâmica de trocas linguísticas, culturais, religiosas, artísticas e comerciais que transformaram radicalmente a face do mundo. Arnold Toynbee chamou a este novo ciclo Era Gâmica, pelo que há um antes e um depois da Expansão portuguesa. Antes, o fechamento do horizonte, a ilusão da unidade, a solidão temerosa do desconhecido. 

No que à Europa respeita, o seu pequeno mundo limitava-se às margens do Mediterrâneo, ao Báltico e ao Mar do Norte, parando abruptamente nas estepes da Rússia já cristianizada, mas sempre exposta à ameaça asiática. Ora, Fernand Braudel, ao escrever esse imenso tratado de erudição e inteligência a que daria o título de O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II, notou que o Mediterrâneo do século XVI era uma região em rápido empobrecimento: terras sobre-exploradas, recursos naturais residuais, sobre-população exposta a fomes cíclicas. A Europa antes do surto expansionista europeu era pobre e incapaz de projectar poder. 

Entre 1415 e 1543, ou seja, entre a tomada de Ceuta e a chegada das naus ao Japão, o mundo sofreu uma dramática mutação. O fascínio motivado pela revelação do mundo aos homens teve um efeito só comparável àquele que um dia, num futuro incerto, terão os nossos descendentes quando - a existirem - forem confrontados com seres inteligentes de outras galáxias. O impacto de Portugal na história dos homens foi profundo e só o podemos comparar a uma bomba atómica espiritual: todas as certezas foram abaladas, todos os medos superados, todos os objectos escondidos revelados. 

Depois, foram cinco séculos de hegemonia europeia, seguidos da era americana, agora em lento mas insofismável declínio. No mundo que está a nascer todos os dias perante os nossos olhos - um mundo em que as civilizações chinesa, indiana e islâmica já exigem o direito a uma globalização negociada, recusando a imposição cega do critério ocidental - a Portugalidade, expressão da primeira globalização, com fortes e profundas raízes na América, em África, na Ásia e na Oceania, pode ser um importante agente de intermediação e actor no diálogo entre as civilizações. 

A Portugalidade não é uma nostalgia pós-imperial; antes pelo contrário, a Portugalidade anuncia a chegada de um tempo em que os homens, passado o ciclo colonial, regressam à universalidade de uma mensagem de liberdade, respeito e abertura que um dia desembarcou nas praias do Brasil ao Japão.

MCB


DEUS - PÁTRIA - REI

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O Bergantim Real de Portugal

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O bergantim real é mais bela de todas as galeotas preservadas e expostas pelo Museu de Marinha, de Lisboa. O bergantim real foi construído em 1780 por encomenda da rainha D. Maria I (daí também ser chamada, por vezes, ‘galeota de D. Maria I’) e distingue-se pelos riquíssimos trabalhos de talha dourada que adornam todo o seu casco, mas com mais visível requinte na popa. Esta magnífica embarcação, concebida para ser usada no estuário do Tejo pelos monarcas e por outros proeminentes membros da casa real, era movida por 40 remos accionados por 78 robustos marujos, dirigidos por um patrão e por um cabo proeiro. A sua única superestrutura, a camarinha, está decorada com elementos luxuosos, dos quais se destacam uma deslumbrante pintura do artista Pedro Alexandrino de Carvalho e uma magnífica caixilharia de espelhos venezianos. Depois de retirado do serviço da família real, este bergantim foi utilizado em várias ocasiões solenes, nomeadamente aquando das visitas oficiais ao nosso país dos soberanos de Inglaterra Eduardo VII e, mais tarde, Isabel II (ocorrendo esta em 1957, última vez em que navegou), do rei Alberto I da Bélgica, do imperador da Alemanha Guilherme II e do presidente da República Francesa Émile Loubet. A preciosa galeota recolheu definitivamente ao Museu de Marinha em 1963, onde foi soberbamente restaurada e onde desperta a admiração dos muitos milhares de turistas que visitam, anualmente, aquela prestimosa instituição.

José de Almeida Basto


DEUS - PÁTRIA - REI

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A ideologia de género, a imprensa e as redes sociais

O despacho que impõe a ideologia de género nas escolas foi ignorado pela imprensa: a primeira notícia foi dada, três dias depois, por uma rede social.

Esta lei é a que impõe a ideologia de género nas escolas. Por ser de muito duvidosa constitucionalidade, a sua fiscalização foi recentemente pedida por mais de um terço dos deputados. À socapa do parlamento e no mais absoluto desrespeito pelo Tribunal Constitucional, dois membros do governo, em fim de mandato, apressaram-se a implementar, às escondidas dos órgãos de soberania e do país – numa sexta-feira de Agosto, em plena ponte do feriado do dia 15! – medidas que decorrem de uma ideologia que não tem qualquer fundamento científico e, muito provavelmente, é inconstitucional.
Como se todos estes atropelos ao normal funcionamento das instituições democráticas não bastassem, a notícia foi praticamente silenciada pelos principais meios de comunicação social. Com efeito, o referido despacho foi publicado no passado dia 16, mas a primeira notícia do mesmo só foi dada, a 19, pelo Notícias Viriato. O que diz muito da imprensa e das redes sociais que temos.
No caso Watergate, um jornal norte-americano conseguiu o que parecia impossível: a demissão de um presidente dos EUA! Mas, quase meio século depois desta façanha, a imprensa não foi capaz de evitar as eleições de Trump e de Bolsonaro.
Quase toda a imprensa norte-americana empenhou-se em impedir a eleição de Donald Trump, apresentado invariavelmente como um louco e um potencial detonador da terceira guerra mundial. Hoje, estas acusações devem fazer sorrir até os maiores inimigos do dito. Apesar das suas evidentes limitações, a verdade é que Trump parece ter derrotado o Estado islâmico e travado a ameaça nuclear norte-coreana, ou seja, fez muito mais pela paz mundial do que o seu antecessor que, no entanto, recebeu, não se sabe bem porquê, o Nobel da paz. Mas, se a imprensa norte-americana – que, mais do que pró-Hillary Clinton, era furiosamente anti-Trump – não conseguiu evitar a sua eleição presidencial, é porque os eleitores já não ligam ao que alguns media dizem.

O mesmo aconteceu no Brasil: alguma imprensa e muitos intelectuais também tentaram, por todos os meios, que o denominado fascista-nazi-antidemocrático Jair Bolsonaro não ganhasse as eleições presidenciais. Mais uma vez, os cidadãos fizeram orelhas moucas a tais paternalistas advertências e presságios de mau agoiro, e o horrível candidato da direita, passe o pleonasmo, foi mesmo eleito, sem que o seu país tenha mergulhado no caos que muitos profetizaram (e alguns, decerto, desejavam). Decididamente, a imprensa já não é o que era.
Estes acontecimentos criaram uma situação paradoxal: a de pretensos democratas criticarem, em nome da democracia, eleições democráticas. A mal disfarçada irritação dos media pôs também a nu a sua falta de isenção: afinal, os meios de comunicação social não são, salvo honrosas excepções, instâncias de reflexão crítica do poder instituído, mas instrumentos desse mesmo poder. Na realidade, já foi assim no fascismo (Estado Novo) e no social-fascismo (PREC) quando, para saber o que realmente acontecia no país, era preciso recorrer às agências noticiosas estrangeiras.

É verdade que a imprensa é essencial à democracia, mas não é um poder democrático, porque os jornais, rádios e televisões têm donos e interesses que não estão legitimados pelo voto popular. Em geral, a imprensa está alinhada com o politicamente correcto e, por isso, quem queira aceder a um discurso livre, tem que recorrer a meios alternativos, como são as redes sociais, os blogues e sites independentes, que têm também, como é óbvio, as suas debilidades: recorde-se a censura, feita pelo Facebook, a ‘sites’ católicos e o seu fraudulento uso, para fins eleitorais, de dados pessoais.
Um sinal significativo desta perda de influência de alguma comunicação social é o seu insucesso entre a gente mais nova. Durante três semanas deste mês participei num curso de verão, frequentado por mais de três dezenas de profissionais com formação universitária, com idades entre os vinte e cinco e os oitenta anos. Curiosamente, só vi os mais velhos a assistir aos telejornais, porque todos os outros preferiam informar-se por outras vias. Eu próprio, que já não sou jovem, há já vários anos que não vejo um telejornal, não só por falta de tempo, mas também de interesse.
Por acaso, no referido curso, ao passar por uma sala onde três pessoas de idade viam a televisão, vi-me obrigado a ouvir, durante alguns minutos, o telejornal da RTP. Era na antevéspera da greve dos motoristas de combustíveis e essa estação tinha repórteres em várias bombas de gasolina do norte, centro e sul do país. O pivot fez a ligação para os jornalistas destacados e todos, em directo, informaram … que não havia nada para informar! Foi como naquela tempestade-que-era-para-haver-mas-depois-não-houve, da qual as televisões fizeram uma impressionante cobertura! Não critico os infelizes profissionais destacados para tão inglórias missões, mas quem faz questão em informar o país inteiro de que … não há nada para informar! Como alguém disse: bem-aventurados os que, nada tendo para dizer, o não explicam com muitas palavras!

Enquanto as televisões estavam entretidas a noticiar o que não aconteceu, ocorreu uma coisa muito importante e grave, não só porque afecta milhares de crianças e famílias, mas também porque é, pela certa, inconstitucional: a publicação, de forma sorrateira, de um despacho que implementa a perniciosa ideologia de género nas escolas. Mas, como se trata de uma manigância muito politicamente correcta, alguma comunicação social fez o favor de nada dizer. Ante esta cúmplice conspiração do silêncio, valeu-nos a rede social que se ufana de ter sido o primeiro meio de comunicação a denunciar o escandaloso despacho, três dias depois da sua publicação.

Não estranha que haja quem não esconda o seu propósito de controlar, ou mesmo proibir, as redes sociais. Em nome da qualidade da democracia, claro! As redes sociais, na medida em que dão voz a quem a não tem nas televisões, rádios e jornais detidos pelo poder politicamente correcto, são hoje um dos mais importantes espaços de liberdade de pensamento e expressão, religiosa e política, dos cidadãos. Felizmente, como dizia o poeta, “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”!
Fonte: OBSERVADOR
DEUS - PÁTRIA - REI

sábado, 24 de agosto de 2019

Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel I, de Portugal

No dia 1 de maio de 1500, Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral, anunciou ao rei Dom Manuel, de Portugal, o descobrimento de novas terras em 22 de Abril e as suas impressões sobre a terra e sua gente.

UM TRECHO da carta: "Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma. Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas.Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos. Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali. Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão.Depois lhe pegaram, mas como espantados.Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dariam ouro por aquilo."

CAMINHA, Pero de Vaz.


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Hoje é aniversário do Império, a maior das realizações portuguesas

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A 21/22 de Agosto de 1415, Portugal conquistava Ceuta, dando assim início à expansão marítima portuguesa, não obstante já terem ocorrido inúmeras incursões no Atlântico.

A tomada de Ceuta, localidade situada no norte do continente africano, deu-se por motivos de ordem religiosa, social, política e estratégica. Representou um passo decisivo na afirmação da cristandade além-mar. Por outro lado, era um ponto estratégico para as investidas que o Infante Dom Henrique delineava no continente africano. Não menos importante ainda, Portugal conseguia, através da empresa, afirmar-se junto dos seus vizinhos peninsulares. Há quem avente motivos de ordem económica, mas as vantagens para Portugal, nesse domínio, são suspeitas. Na falta, então, de um caminho marítimo para a Índia, os produtos orientais passavam também por Ceuta, o que a convertia num entreposto comercial de suma importância. Militarmente, Ceuta permitia uma defesa mais eficaz do Algarve, que facilmente poderia sucumbir ao assédio sarraceno.

Ceuta manter-se-ia portuguesa até 1668. Em 1640, por estar pejada de castelhanos, recusou-se a reconhecer Dom João IV e manteve a sua lealdade aos Habsburgo. Importa acrescentar que, na conquista da cidade, participaram também numerosos galegos.

MTF

DEUS - PÁTRIA - REI


sexta-feira, 23 de agosto de 2019

O grande problema

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Leio que falhou rotundamente o programa que pretende atrair emigrantes portugueses e luso-descendentes. É evidente que programa algum terá sucesso enquanto este for um país profundamente injusto (injusto= oposto à justiça; arbitrário) e onde o trabalho honesto, a dedicação e as qualidades das pessoas raramente conseguem transpor o muro de betão, arame farpado, covas de lobo e chuços que defendem um sem-número de amesendados e medíocres bem escorados. Há pouco mais de sete anos, Portugal viu perder 300.000 jovens, ou seja, 1/3 da sua juventude - quase 10% da população activa - e até houve quem dissesse aos portugueses que se fossem embora, pois que aqui não havia futuro. 

Quando saio de casa muito cedo, por volta das seis e meia, reparo que nas longas filas para os transportes públicos só quase se vêem ucranianos, romenos, moldavos, cabo-verdianos, guineenses, angolanos, brasileiros e banglas, ou seja, a massa invisível sem a qual quase não haveria serviços de limpeza, construção civil, caixas e carregadores nos supermercados, funcionários no comércio, atendimento nos restaurantes; todos corridos com o ordenado mínimo. Se sair de Lisboa, rumo ao Algarve, reparo que as explorações agrícolas já só operam graças a braços tailandeses, nepaleses, indianos e ucranianos. Tirem toda essa gente e Portugal pára. 

Portugal não precisa mais de economistas, gestores, técnicos de marketing, sociólogos, juristas e atendedores de telefones; precisa de electricistas, pedreiros, estucadores, canalizadores, operários especializados, operadores de máquinas de precisão, artífices qualificados, mineiros...

A juventude portuguesa fugiu. A grande questão é esta e não aquelas com que a agenda das frivolidades insiste em distrair os portugueses. Portugal é uma sociedade muito doente, o regime disso não quer saber, pelo que a fuga se apresenta como a solução mais fácil.

MCB



Claro, os portugueses e os espanhóis não eram racistas

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Do primeiro Congresso Pan-Africano realizado em Bruxelas em Setembro de 1921, reunindo cinquenta e sete delegados provenientes de quinze países e territórios colonizados - com impedimento para os delegados negros norte-americanos, proibidos de saírem do seu país por confiscação dos respectivos passaportes - saiu uma Carta da Raça Negra, acrescentada por um estudo da situação da condição dos negros nas possessões britânicas, belgas, francesas, espanholas e portuguesas.

Se em relação a britânicos e belgas se lembravam os tremendos atropelos cometidos contra os negros, a respeito de Portugal e Espanha o documento precisava: 

"Nas suas leis, Portugal e Espanha jamais estabeleceram a diferença entre negros e brancos; Portugal tem para os seus indígenas um código humano e começou a dar-lhes instrução. Infelizmente, as concessões industriais na África Portuguesa estão quase todas nas mãos de grandes companhias estrangeiras que Portugal não pode controlar e que exploram a terra e os trabalhadores, ali estabelecendo na prática o trabalho servil". 

Não seria impertinente lembrar que, logo após o regresso de tais interesses económicos a mãos portuguesas, foi implementado um código de trabalho indígena que mitigou as duras condições praticadas pelas empresas majestáticas britânicas em territórios portugueses e que apenas uma década depois a todos os negros foi concedida a plena cidadania portuguesa e direitos laborais inscritos na lei portuguesa.
MCB

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

O Brasil é um Portugal maior

No último Sábado, dia 17, a Academia Militar das Agulhas Negras, no Brasil, realizou a sua tradicional solenidade de entrega de Espadins aos cadetes. Frente ao presidente brasileiro, voltaram a voar as bandeiras que são de Portugal e do Brasil, do passado, do presente e do futuro, do sangue derramado por lusíadas das duas margens do Atlântico ao longo dos séculos, da nossa História comum e do nosso amanhã partilhado. Sim, o Brasil é um Portugal maior. Há que mostrá-lo ao mundo e a nós mesmos.
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Fonte: Nova Portugalidade

Este, sim, devia dar o nome ao aeroporto de Lisboa

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Bartolomeu de Gusmão, “o padre voador” cientista e inventor nascido na capitania de São Vicente, Santos, no Brasil português. Educado pelos Jesuítas, ficou famoso na corte de Dom João V por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, a que chamou de "passarola". Fez perante a corte portuguesa cinco experiências com balões de pequenas e médias dimensões construídos por ele. Cinco testemunhas registaram essas experiências: o cardeal italiano Miquelângelo Conti, eleito papa em 1721 sob o nome de Inocêncio XIII, os escritores Francisco Leitão Ferreira e José Soares da Silva, nomeados membros da Academia Real de História Portuguesa em 1720, o diplomata José da Cunha Brochado e o cronista Salvador António Ferreira, portugueses. O invento, divulgado por meia Europa em estampas fantasiosas que, em geral, o retratavam como uma barca com formato de pássaro, ficou conhecido como “Passarola”. Gusmão faleceu aos 38 anos de idade em Toledo, Espanha. Era irmão do famoso diplomata Alexandre de Gusmão.


DEUS - PÁTRIA - REI


quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A RESTAURAÇÃO DA MONARQUIA DEPENDE SÓ DA VONTADE DO POVO PORTUGUÊS

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Gonçalo Ribeiro Telles pode ser considerado o monárquico oficial da Terceira República. O arquitecto paisagista, Conselheiro Honorário da APAM - Associação Portuguesa dos Autarcas Monárquicos, pertenceu aos governos da Aliança Democrática (AD) de Francisco Sá Carneiro e foi obreiro de um partido monárquico e ecologista (o PPM), provando que o ideário do rei não estava necessariamente ligado a brasões, anéis, colarinhos engomados e Estado Novo.

“Há uma crise dos portugueses consigo próprios. Têm vergonha de ser portugueses. A única coisa que os exalta é o futebol. Por isso, considero que o ideal monárquico nunca esteve tão ligado ao futuro do país como neste momento. A monarquia tem uma oportunidade única para refazer esta unidade nacional”. Para haver uma mudança de regime, o ex-ministro não refere nem referendos ou mudanças da Constituição: “A restauração depende só da vontade do povo português.”

Ribeiro Telles sabe que ainda há preconceitos sobre a monarquia: “Mas ela é de todos, dos comunistas aos conservadores, e não de uma elite nobiliárquica.” Aliás, um dos motivos que o levou a sair do PPM foi o de acreditar que o movimento é transversal na sociedade. O casamento de SAR D. Duarte com D. Isabel reforçou a sua convicção que a causa monárquica deveria ser “alargada e não estreitada.” Daí que torça o nariz a partidos ou federações exclusivamente monárquicas.

O receio de que um Rei incompetente se possa perpetuar na cadeira do poder é afastado categoricamente: “Defendo que se um monarca não proceder bem poderá vir a ser substituído por referendo ou plebiscito.” A História tem como grande exemplo o de D. Afonso VI.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

IMPÉRIO DAS NAÇÕES

Agora, que até o assustado sistema mundialista já fala em internacional nacionalista, dá-me gozo recordar que sempre disse e escrevi, aqui e em toda a parte, há décadas, que este século seria o do triunfo definitivo dos nacionalismos. E também sempre acreditei que os ventos de mudança viriam das nações do leste da Europa. De facto, Rússia, Polónia, Hungria, República Checa, Eslováquia, e etc. e tal, não me deixaram ficar mal, reencontrando-se com as suas diferentes mas semelhantes identidades culturais e provando que é possível criar uma sinergia comum em prol da verdadeira Europa. Confesso contudo que não esperava que a primeira nação ocidental a despertar e a dar o sinal fosse a Itália; mas, afinal, bem vistas as coisas, essa é a tradição. 

domingo, 18 de agosto de 2019

sábado, 17 de agosto de 2019

Festas da Senhora D’Agonia



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D. Manuel II ao Colo de Minhota

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Atestando a importância do Traje à Vianesa e das Festas da Senhora D’Agonia, neste cliché datado de 1890, uma rapariga vestida à lavradeira de Viana, segura ao colo o então Infante Dom Manuel de Bragança – na fotografia com apenas cinco meses de idade -, Duque de Beja e futuro e último Rei de Portugal.

A minhota D. Maria José Coelho de Castro Malheiro Villas-Boas, à altura, fazia parte da Casa Civil do Paço Real, e pertencia a algumas das mais distintas Famílias do Minho: Coelho Villas-Boas (Casa da Boa-Viagem), Malheiro Pereira, Pitta, Castro Araújo, Mogueimas de São Miguel, Couros Carneiro, etc…

Já neste ano de 2019, as Festas da Senhora D’Agonia, em Viana do Castelo, tradição já com 235 anos, decorrem de hoje até 20 de Agosto.

É neste dia 16 de Agosto de 2019, que decorre a partir das 16 horas o, já icónico Desfile da Mordomia, o mais popular evento das Festas da Senhora D’Agonia, em Viana do Castelo, onde desde há 50 anos centenas de raparigas e senhoras desfilam no Cortejo da Mordomia vestidas com os trajes tradicionais de cada freguesia da capital minhota. Neste concorrido e emblemático desfile das mordomas e lavradeiras na Romaria D'Agonia, as mulheres Trajadas à Vianense progridem pelas principais ruas do Centro Histórico de Viana do Castelo, envergando os tradicionais e coloridos Trajes à Vianense de lavradeira, de mordoma, de noiva, de meia senhora ou com traje de festa, segurando na mão, envoltos num lenço de Viana, uma vela votiva ou um palmito e envergando ao peitilho os mais variados artefactos do chamado Ouro de Viana: gramalheiras, fios – alguns de três metros - com e sem pendente, colares de contas, peças, custódias, borboletas, cruzes de raios e de Malta, Corações de Viana em filigrana, brincos à Rainha, escravas, tudo em ouro e num valor que rondará os 14 milhões de euros.


O Traje à Vianense ou Domingueiro de mulher é confeccionado artesanalmente, usando materiais como a lã e o linho. O Traje à Lavradeira é uma criação das camponesas de freguesias de Viana do Castelo, e hoje em dia é usado principalmente em festas, feiras ou grupos folclórico.


O Traje à Vianense é composto por várias peças, realçando-se a saia que vai identificar a aldeia da rapariga; essa saia característica é de tecido vermelho com estreitas listras pretas e brancas, mas como é usada em toda a região possui variantes em azul, verde ou preto ou branco. 


O Avental é bordado de acordo com a flora da região. As cores mais comuns dos bordados de linha de algodão são o vermelho, o branco e o azul.


Os lenços são de cores diferentes consoante as freguesias, sendo que que o Traje da Areosa é o copiosamente vermelho e que corresponde ao Traje que a retina melhor identifica como o à Vianense: saia vermelha com barra vermelha com motivos bordados a algodão, por vezes com missangas e lantejoulas, colete vermelho com a cinta preta e os lenços típicos da cabeça e do peito os dois vermelhos.


Depois o traje varia consoante as Freguesias do Distrito de Viana do Castelo, sendo que o que emprega mais preto na saia é o de Santa Marta de Portuzelo. O de Dem é o mais azul e garrido.
Tradições seculares que enchem Portugal de orgulho!


‘Minho, o espectáculo prodigioso que faz amar Portugal!’, escreveu Camilo Castelo Branco.

Miguel Villas-Boas

Máximas de um Rei católico

DEUS - PÁTRIA - REI: Máximas de um Rei católico: Num memorial de sua letra, que fez antes de tomar o governo do Reino, El-Rei D. Sebastião escreveu as máximas que devia observar, e são...

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Os colonizadores eram negros portugueses


Recebemos uma amável como extensa nota de uma jovem universitária que nos pergunta como podiam os portugueses, tão pouco numerosos na África de finais do século XIX, "submeter tantas populações". De facto e de jure, não houve nem colonização, nem colonialismo antes do início do século XX. Até aí, as autoridades em grande parte da África portuguesa eram homens como José de Araújo Lobo, conhecido por Mataquenha, capitão-mor do Zumbo (distrito de Tete, Moçambique), homem tão temido como reverenciado que insistiu "assistir à festa [do baptizado da filha] vestido de gala e de espada à cintura, o bicórnio emplumado na cabeça e ao peito uma condecoração que lhe enviara Dom Luís I", in Novo Mensageiro, T. XIII, 1893.

Nova Portugalidade

O nosso império foi um império de civilização, não de extorsão

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Na imagem, uma alegoria do século XVIII ao Império português. Na legenda pode ler-se, em latim, "Império da Religião e da Justiça".

Se o que nos pedem é histeria auto-penitencial, remorso pelo que de grande fizemos e desculpas a todo o embaixador, ministro e dignitário dos povos com que nos cruzámos ao longo da História, recusamos educadamente o pedido. Não há dúvida de que os portugueses praticaram violências - a violência é da natureza dos impérios, e fatalidade da vida. Sem conquista, não teria havido Pérsia, mas é à Pérsia que devemos as primeiras grandes redes de comunicações, a noção de direitos básicos e a arte de integrar num só Estado a povos diversos e de distinta tradição. Sem conquista não teria havido Grécia, e desconheceríamos hoje a Platão e a Aristóteles; não teria havido Roma, nem nos teria chegado a sua luminosa herança. Mao Tsé-Tung dizia que o "poder nasce do cano do fuzil". Os impérios fazem-se pela guerra, e o nosso não foi nisso excepção. 


O que distingue os portugueses e a sua obra não foram tanto os seus meios quanto os seus propósitos. É que, certamente ao contrário de holandeses e ingleses, os portugueses não fizeram os Descobrimentos e a «Expansão» por sede de dinheiros - ou, pelo menos, não os fizeram somente com esse objectivo. Sim, houve portugueses animados pela cobiça, que é pecado comum a todos os tempos e a todas as nacionalidades. Mas a construção do nosso império, hoje objecto de tantas críticas, obedeceu verdadeiramente a ideias mais latas que aquelas que podem ser colocadas numa carteira. Talvez essa noção surja peculiar ao cínico homem do nosso tempo; talvez lhe custe, a ele que vive para o dinheiro, o carro novo, as férias e o telemóvel de nova geração, acreditar que outros homens noutros tempos matassem e se deixassem matar por Deus e pelo Rei. E, contudo, foi justamente essa a bússola por que se guiaram os portugueses construtores de impérios. Francisco de Almeida ou Afonso de Albuquerque não eram particularmente ricos quando partiram para as Índias, e nenhum dos dois voltou da Ásia para vidas de confortos: Almeida morreu perto do Cabo da Boa Esperança em 1510, e Albuquerque faleceu em Goa entristecido com a ingratidão do Rei e as intrigas da corte.

O império português foi europeu de origem, mas não foi como os restantes impérios europeus. A Inglaterra colonizou a Jamaica com um pirata (o infame Henry Morgan), a América através da escravização e deportação de irlandeses e escoceses (a Indentured Servitude) e a Índia recorrendo a um traficante (Pitt). A Holanda ocupou o Brasil com mercenários pagos por banqueiros; além-mar, não era um império, mas um par de grandes companhias comerciais. A sua preocupação era o lucro rápido, não lhe interessando questões de civilização. Eram, um e o outro, impérios de flibusteiros, de bandidos reconciliados com a lei, de oportunistas e ladrões transformados em "comerciantes". Existiam para o "business" - business, de resto, frequentemente sujo - e mais coisa nenhuma. Já o império português, com os defeitos que certamente teve, foi coisa em tudo diferente: era um império de padres e aristocratas, de homens comprometidos com um código de cavalaria e o serviço da Cristandade. Por isso se encarregaram os portugueses de banir a queima ritual de viúvas na Índia logo no século XVI, quando os ingleses só fariam o mesmo trezentos anos mais tarde; por isso tratou o missionário de libertar o indígena brasileiro da sua vida tradicional, em que a antropofagia era comum e a vida sempre incerta; por isso se criaram em todos os nossos domínios missões e aldeamentos em que os locais, cristianizados e aportuguesados, pudessem tornar-se súbditos de primeira dignidade do Rei de Portugal. Por isso o Império ergueu a maior catedral da Ásia em Goa, e fez as primeiras instituições de tipo universitário daquele continente. Por isso o Império não arredou pé da Índia, onde tinha cristãos a proteger, mesmo quando os nossos domínios no subcontinente deixaram de ser claramente lucrativos. Por isso Portugal abdicou de relevantes oportunidades comerciais, como no Japão, sempre que os negócios pareceram colidir com as suas ambições de evangelização. Portugal era um império de escrúpulos e com uma missão moral. Aí não residiu sempre a sua força - mas é essa a verdadeira razão da sua grandeza. 

Leandro de Faria

Nova Portugalidade

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Napoleão: foi em Portugal que começou a queda

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Celebra-se amanhã o 250º aniversário do nascimento de Napoleão Bonaparte, o homem que veio da obscuridade, subiu às culminâncias, fez-se Imperador dos Franceses e morreu degredado numa ilha semi-desértica do Atlântico Sul. 

Há um culto popular em torno de Napoleão e do 1.º Império, adesão que não se confina ao hexágono. Há estátuas e bustos celebrativos de Napoleão um pouco por todo o mundo e na Bélgica, Holanda, Itália, Canadá, Estados Unidos e México, activas associações de estudos incensam, entre a lenda e a realidade, a personalidade de Napoleão. Este sobrevive ao tempo, os seus aforismos, a petite histoire das suas paixões e anedotário são património comum, até das pessoas que não lêem; a sua aventura, das escarpas escalvadas da Córsega aos campos de Waterloo, da sagração a Santa Helena, surgem como irresistíveis histórias quase tocadas pelo fabuloso. Napoleão não deixa ninguém indiferente. A passagem pela história europeia de um homem desses, que se afirmava expoente da razão e em quem outros viram a história montada sobre um cavalo, continua a ser uma bela história. 

Em 1809 e 1810 em Portugal, em 1812 na Rússia e em 1815 em Waterloo, a estrela de Napoleão empalideceu, congelou e estilhaçou-se. A derrota do Ogre, do Anti-Cristo, do Crocodilo Corso, da Besta Monstruosa, Novo Átila ou simplesmente Bonny para os britânicos – então satirizado como tronco de couve decepada, bilha partida, boneco esventrado - também convidava a interpretações providencialistas e dos desígnios de Deus, mudo desde 1789, em vão confiante no arrependimento dos homens, até finalmente se pronunciar, castigando aqueles que Dele se haviam afastado.

Entre o mito e a lenda, a propaganda e a caricatura, importa fazer a pergunta fatal. Quem derrotou Napoleão? Ora, Portugal, a Rússia e a sempre teimosa Inglaterra. Portugal foi o primeiro grande fracasso político e militar do Imperador. Há que lembrá-lo, sempre, pois, a quantos pensam [erradamente] que aquela partida da Família real para o Brasil foi um acto de cobardia. Não, se a família real portuguesa tivesse caído nas mãos de Junot, não teria havido resistência popular, heróica e desesperada, assim como não teria havido o levantamento nacional espanhol e a invasão de França pelos exércitos coligados.

MCB

Espada de Justiça

DEUS - PÁTRIA - REI: Espada de Justiça: Nosso Senhor Jesus Cristo abençoa  os que têm fome e sede de justiça ; o Apóstolo das Nações designa os Príncipes como vingadores do cr...

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Meritocracia sem obstáculo racial

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Pela lei de 19 de Fevereiro de 1624, aplicada em Goa e todo o Oriente português a partir do ano seguinte, ficava estabelecido que doravante chinês algum pudesse ser reduzido à condição de escravo, fosse qual fosse a sua origem e situação jurídica, e que todos, sendo livres na plenitude de direitos, pudessem ocupar postos, desempenhar funções e receber honras (i.e. títulos de nobreza), sendo que os únicos critérios para os investir eram os do mérito (merecimento) e graduação [escolar]. Esta moldura seria depois ampliada em 1761 (Alvará de 2 de Abril), pelo qual que todos os súbditos do rei de Portugal nos domínios asiáticos se poderiam apresentar a concurso para a ocupação de cargos, funções, postos e jurisdições, em plena igualdade jurídica com os naturais do Reino [Portugal]. Mais se advertia que tais asiáticos e luso-asiáticos deviam ser tratados como se europeus fossem, sendo que insultos odiosos e referências à sua origem étnica passariam a ser duramente castigados. 

Imagem: Coronel Nicolau de Mesquita, de família luso-chinesa, membro do Conselho do Governo e comandante militar de Macau.

DEUS - PÁTRIA - REI

domingo, 11 de agosto de 2019

S.A.R. o Príncipe da Beira

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S.A.R. o Príncipe da Beira o Senhor Dom Afonso de Bragança, segundo na Linha de Sucessão ao Trono e à Coroa Portuguesa, filho mais velho do Chefe da Casa Real de Portugal, S.A.R. o Senhor Dom Duarte Duque de Bragança.

Detalhe, na foto, o Príncipe está logo à frente de um quadro do primeiro Rei de Portugal, Dom Afonso Henriques.
Na semana passada li uma entrevista com um candidato a deputado (cabeça-de-lista) pelo circulo eleitoral do Porto. Neste breve texto, não é relevante referir nem o nome da pessoa, nem o partido que representa, pois essa é uma óptica que para aqui não é chamada. Apenas direi que se trata de um jovem estreante nestas lides e de uma organização partidária pertencente ao que se convencionou chamar o “arco da governação”. Daí a relevância do que a seguir descrevo e comento.

No meio da entrevista, deparei com uma pergunta sobre a hipotética alteração da idade mínima para o direito de voto a partir dos 16 anos. Questão para a qual, certamente, todos poderemos encontrar razões favoráveis ou desfavoráveis. Acontece que um dos argumentos usados pelo entrevistado para reflectir sobre o assunto está expresso neste naco da sua posição: “Quanto mais argumentos me dão para que o jovem não possa votar aos 16, mais eu tenho a certeza de que se calhar é o contrário. Porque os argumentos são na linha do ‘a pessoa de 16 anos não tem maturidade para fazer uma escolha’ e eu conheço muitas pessoas de 70 que também não têm” (in Publico, 17.07.2019). Voltei a ler, não queria acreditar no que estava escrito…

Não é que eu goste do neologismo, mas veio-me logo à cabeça o chamado idadismo, que tem sido definido como o pensamento e a atitude preconceituosas e discriminatórias com base na idade, sobretudo em relação a pessoas idosas. Não conheço o jovem e até acredito que, no fundo, não tenha tido a intenção de assim se exprimir. Mas questionei-me sobre o que o candidato quis dizer com falta de maturidade aos 70 anos, mistério que prefiro não abordar, para não chegar a conclusões familiares, sociais ou geracionais perigosas ou absurdas. Acontece que a argumentação usada, além de falaciosa, é profundamente injusta e mesmo insultuosa. Numa lógica silogística e num confronto entre “seniores” e “juniores”, eis o esplendor do seu raciocínio: se dizem que uma pessoa de 16 anos não tem maturidade para fazer uma escolha (votar), como conheço muitas (!) pessoas de 70 anos que também não têm maturidade, então estas também não estão em condições de fazer escolhas (votar)…

Hoje condenam-se – com justeza – diferentes formas de discriminação, designadamente de origem social e étnica. Não há dia em que não haja notícias sobre o assunto. Quanto a formas de apartar e discriminar os mais velhos, vamos ouvindo, mais larvarmente ou mais directamente (lembro aqui um deputado que, há poucos anos, falou na AR da “peste grisalha”, referindo-se aos reformados), considerações gerontofóbicas, ainda que sem manchetes mediáticas. A velhice, antes uma dignidade inalienável e uma conquista civilizacional é, agora, e não raro, considerada um peso, um passivo ou um fardo social numa abordagem estritamente utilitarista, hedonista e de cultura de descarte (e até de indiferença).

Como dizem os africanos a morte de um velho é como o arder uma biblioteca, a que eu acrescentaria de uma biblioteca de que só existe um exemplar, o que torna a sua sabedoria um bem precioso, uma verdadeira universidade da vida, para a qual não há manuais e dispositivos técnicos para a substituir. É bom não esquecer que uma pessoa mais velha já antes foi nova, ao passo que uma pessoa nova ainda não foi velha…

Uma pessoa mais velha tem naturalmente o desgaste inerente à idade e a longos percursos de trabalho, mas pode transmitir a sabedoria de vida através de um mais livre e integral modo, como também transmitir o testemunho da vivência, a memória que está para além da mera factualidade, a seriedade despojada da agressividade do quotidiano, a disponibilidade, a partilha e a ternura juntas numa simbiose desinteressada de dar sem exigência de troca.

Enquanto somos jovens, somos levados a ignorar a velhice, como se fosse uma enfermidade da qual nos devemos manter à distância; depois, quando envelhecemos […], experimentamos as lacunas de uma sociedade programada sobre a eficácia que, consequentemente, ignora os idosos. Mas os idosos são uma riqueza, não podem ser ignorados! Os anciãos são a reserva sapiencial do nosso povo!”,afirmou o Papa Francisco. Já Bento XVI sintetizou assim: “a qualidade de uma sociedade vê-se a partir do modo como ela trata os idosos”.

Não certamente por acaso, e no meio de tanto lixo mediático que transforma ninharias em assuntos pseudo relevantes, sobre este assunto houve um silêncio desprezível e o habitual “aconchego” mediático, eufemístico e endogâmico político-partidário.

Por coincidência ou talvez não, quanto à questão da “identidade de género” (sic), o entrevistado defende, a mudança de sexo a partir dos 16 anos por decisão própria, o que, certamente, terá sido do agrado do “espectro político fracturante”.

Em suma: na velhice arde-se de maturidade, ao contrário do que disse o jovem político que, por certo, ainda irá beneficiar do conselho de muitas pessoas de 70 e mais anos. Provavelmente, a começar no seu seio familiar.

(O texto não segue o AO, por vontade expressa do autor)

ANTÓNIO BAGÃO FÉLIX



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