sábado, 30 de maio de 2020

Macau, Orgulho da Portugalidade.

A imagem pode conter: 2 pessoas, interiores

Em 1710, o escritor Valentim da Costa Deslandes, descreve as origens dos Macaenses : "Devido à falta de esposas, os portugueses se mesclaram com mulheres trazidas de Malaca, Índia, China e, principalmente, mulheres Japonesas. De 1626 a 1640, 1.227 jovens mulheres cristãs de Nagasaki que tomaram refúgio em Macau, se casaram com portugueses.

Em 1636, Peter Mundy, um mercador, viajante e escritor britânico em Macau, descreveu os filhos de portugueses e mulheres chinesas: "eram crianças muito bonitas, [...] ensinadas pelos jesuítas que cuidavam [...] da educação dos jovens e dos bebés desta cidade, especialmente os da alta hierarquia."
Em 1638, o italiano Marco d'Avalo, em sua Descrição da Cidade de Macaou ou Maccauw, escreve: "Malaias, chinesas, japonesas e outras mulheres tornaram-se parceiras no casamento com os portugueses. Sua descendência é diferenciada pela denominação de 'Mestiços', ou mestizos. Ao lado dessa classe estão aqueles cujos antepassados não eram portugueses, mas malaios, chineses ou japoneses que se convertem, mas, como a posteridade dos portugueses, são cidadãos livres, somando mais de 40.000 almas ".
O Historiador Jorge Morbey descreve Macau: "Índia, Malásia, Filipinas, Sião, Cochinchina, Japão, Timor, Bengala, China, Rússia Asiática, Arábia e litoral africano, eis as principais origens não europeias dos macaenses. Em boa parte dos casos, os oriundos dessas paragens eram já mestiços com ascendência portuguesa.
Do ponto de vista étnico, a variedade das origens que em quatro séculos e meio se mesclaram nos macaenses estruturou-se em redor do carácter e das manifestações culturais e religiosas próprias dos portugueses, muitas vezes recriadas localmente. Portanto festejar a Historia de Macau é um dever patriótico de todos os portugueses"

Fonte: Nova Portugalidade

O Rinoceronte de Dom Manuel, o animal mais famoso da renascença

Nenhuma descrição de foto disponível.



Uma das gravuras mais famosas da renascença é a de um rinoceronte-indiano, desenhado pelo famoso alemão Albrecht Dürer em 1515, baseada numa descrição detalhada do animal exótico que se encontrava em Lisboa, já que Dürer nunca viu o rinoceronte em pessoa, e daí a existência de erros óbvios em relação ao aspeto de um verdadeiro rinoceronte, animal esse que não era visto na Europa desde os romanos. Esta xilogravura ficou conhecida como o Rinoceronte de Dürer, que imprimiu a imagem e vendeu exemplares por toda a Europa, podendo-se considerar uma das primeiras imagens a ser fabricada em massa, e logo se tornou num símbolo popular de arte europeia.

O rinoceronte foi uma oferta do sultão de Cambaia, Muzaffar Shah II, a Afonso de Albuquerque que logo tratou de enviar o animal como oferenda ao Rei D. Manuel I, juntamente com o seu tratador, partindo de Goa. O rinoceronte chegou a Lisboa em maio de 1515, e as notícias de uma estranha e bizarra criatura logo começaram-se a espalhar por Portugal e pela Europa.

O rinoceronte era mantido no Paço da Ribeira, longe de outros grandes animais do rei, relata-se no entanto uma batalha entre o rinoceronte e um jovem elefante também do monarca, batalha esta que nada mais foi que um frente a frente entre os dois animais, mas o elefante fugiu. Este evento deveu-se a uma ideia do naturalista romano Caio Plínio Segundo (o velho), que dizia que os dois animais eram inimigos, despertando a curiosidade das pessoas e do rei para verificar a veracidade da afirmação.

No final desse ano, D. Manuel I decide enviar o rinoceronte ao Papa Leão X como oferenda. O navio parte em Dezembro de Lisboa a caminho de Roma, passa por Marselha, onde é visto pelo rei Francisco I de França, e após retornar a viagem, uma tempestade atinge o navio, e, infelizmente, o rinoceronte não sobrevive ao naufrágio, mas para sempre ficará imortalizado no imaginário português e europeu como símbolo do exótico e diferente, fruto de novos contactos que os descobrimentos e as grandes viagens possibilitaram e do espírito renascentista da época.

Martim Alvim


Fonte: Nova Portugalidade

DEUS - PÁTRIA - REI

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Acredito profundamente na Monarquia

A imagem pode conter: céu

Acredito profundamente na Monarquia, na instituição real como a solução mais civilizada para a chefia dum Estado europeu e quase milenar como o nosso. Num tempo de relativismo moral, de fragmentação cultural e de enfraquecimento das nacionalidades, mais do que nunca há urgência numa sólida referência no topo da hierarquia do Estado: o Rei, corporização dum legado simbólico identitário nacional, garante dos equilíbrios políticos e reserva moral dum povo e seus ideais. O Rei, primus inter pares, é verdadeiramente livre e, por inerência, assim será o povo.

Sou modesto: espalhar a doutrina e fazer mais monárquicos é o que quero fazer. Por amor a Portugal. Que floresça nas mentalidades o sonho duma nação de pessoas livres, com futuro, ciosas da sua identidade e descomplexada da sua História. De resto, o seu curso é sempre imprevisto e, quem sabe, um dia, num instante, tudo poderá mudar."

João Távora


Boletim Da Causa Real: CORREIO REAL 21

A imagem pode conter: 3 pessoas, texto

Agora sobre coisas sérias: este número do Correio Real a sair em breve foi preparado em tempos adversos, de grande consternação e incerteza por causa da crise sanitária. Neste período, vários foram os eventos da Real Associação de Lisboa adiados por esse imperativo, e por isso decidimos reforçar o empenho editorial. Fomos largamente compensados. Desta revista eu destacaria particularmente a primeira entrevista concedida pela Infanta D. Maria Francisca e, além das notícias habituais, dois esplêndidos ensaios, um sobre os 200 anos da Revolução Liberal, por Carlos Bobone; e outro sobre a redescoberta do sentido da instituição real por Pedro Velez.



28 de Maio de 1926: A 1ª República (dita a Velha) é Derrubada


A 28 de Maio de 1926 ocorre um Golpe militar em Portugal comandado pelo general Gomes da Costa, com o Comandante Mendes Cabeçadas e o General Óscar Carmona. Tudo começou com a Arrancada de Braga, que passou pelo Porto, Coimbra, Entroncamento, Sacavém e acabou com a entrada triunfal, em Lisboa, do então General Gomes da Costa à frente de 15 000 homens.
Assim a lúgubre noite de pesadelo que foi a sanguinolenta 1.ª República acabaria a 28 de Maio de 1926 com o Golpe de Estado, sendo instituída uma ditadura militar que viria a dar origem ao Estado Novo.
O País nunca tinha recuperado do Regicídio e a subsequente revolução que implantou o despotismo nada esclarecido da República Velha sacrificaria o Povo atirando-o para miséria, reprimiria os grevistas com os Capacetes de Aço, coarctaria a imprensa pelo ‘visado pela censura’, lançaria os monárquicos para o Limoeiro depois de ‘julgados’ pelos Tribunais Políticos, desterraria o Patriarca de Lisboa, prenderia e assassinaria padres, assaltaria centros católicos no Porto, ergueria a forca caulina em Campolide para os condenados monárquicos, suspenderia as garantias, e, imolaria toda uma geração de jovens, em holocausto, no altar da Guerra a que chamaram Grande, talvez pela mortandade que provocou, e que custaria a vida de entre Europa e África a 7.500 militares portugueses. Ao todo só em La Lys morreram 1.643 militares portugueses do Corpo Expedicionário e os que não foram mortos ou feitos prisioneiros retiraram desorganizadamente para a retaguarda feita de trincheiras podres de lama e sangue. 200 mil Portugueses foram mobilizados e combateram na Europa e em África, mais de 55.000 no Corpo Expedicionário Português na Flandres. Ao todo, reitere-se, 7.500 soldados portugueses perderam a sua vida e 14.062 foram de alguma forma vítimas da Iª Guerra Mundial, seja como mortos, feridos ou prisioneiros. Além destas baixas foram desmedidos os custos sociais e económicos que tiveram consequências extremas para a capacidade nacional, e, os objectivos que levaram os responsáveis políticos da 1ª República a empurrar a juventude para a guerra saíram gorados em toda a linha.

Após 16 anos, cuja contabilidade não mente, com 35 mil mortos, feridos e prisioneiros na Grande Guerra - sangrenta e que não era portuguesa -, 7 parlamentos, 8 presidentes, 45 governos, 2 juntas militares, 1 Junta Governativa do Reino de Portugal com a Restauração da Monarquia Portuguesa no célebre movimento Monarquia do Norte cortada violentamente, 1 governo de excepção, 1 greve geral brutalmente reprimida, revolverismo de Formiga-branca e Formiga-negra, monturo, centenas de milhares de crimes políticos e ajustes de contas, fuzilamentos, noites sangrentas, atentados, prisões arbitrárias, tortura… caía de podre a corrupta Primeira República ou República Velha.

MVB


Plataforma de Cidadania Monárquica

O papel dos partidos e do parlamento

A imagem pode conter: interiores

“Os partidos doutrinários e radicais saídos da Revolução Francesa apenas tiveram um programa: demolir toda a estrutura do edifício que com sublimes e seculares esforços levantaram as gerações católicas e monárquicas sobre um solo amassado com o seu sangue.
A cada empreendimento histórico opuseram uma catástrofe, a cada glória uma ignomínia, a cada direito uma licença, a cada virtude cívica uma corrupção e, por fim, à comunidade de crenças, de sentimentos, de instituições fundamentais, de tradições, de recordações e de aspirações comuns que constituíam o espírito nacional, aplicaram um só princípio: negar esse espírito; e uma só liberdade: a de romper essas unidades e de dissolver a Pátria.

Eliminar os partidos parlamentares não é cercear o ser da Pátria, é aliviá-la de um peso que a oprime, é libertar um cativo, é fazer renascer uma Nação desfalecida e humilhada.

Também o Parlamento não serve para governar, não serve para legislar, não serve para evitar desperdícios e é impotente para evitar revoluções. Então não serve para nada e quando uma instituição não tem qualquer utilidade, suprimi-la é responder sensatamente às questões mais rudimentares do senso comum.”



Causa Tradicionalista

DEUS - PÁTRIA  - REI

quinta-feira, 28 de maio de 2020

“O Berço Exilado do Príncipe da Beira”, 1946

Nenhuma descrição de foto disponível.

‘Senhor meu Rei, aqui em Portugal há que desfazer esta atoarda de que tudo é do Estado! Os Vossos tão práticos Antepassados bem sabiam que, primeiro deviam garantir os vassalos e só depois a Eles mesmos que a Nação incarnavam.

Agora, há só contribuintes e Estado democrático surdo e mudo, que hermético se encerra na sua torre de marfim, fazendo acreditar que tudo caminha, no melhor dos mundos possíveis! Na velha Bizâncio, entrada já pelos turcos, também assim se cuidava, protocolarmente…’

Francisco Perfeito de Magalhães e Menezes de Villas-Boas (Maga), 3.° Conde de Alvellos

Fonte: Miguel Villas-Boas

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Os 376 anos da Batalha do Montijo

Nenhuma descrição de foto disponível.


Em plena Guerra da Restauração, travada por Portugal em prol da sua independência da vizinha Espanha, ocorre a 26 de maio de 1644 a batalha do Montijo, na vila espanhola do mesmo nome.

As tropas portuguesas, lideradas por Matias de Albuquerque, enfrentariam neste dia um exército espanhol comandado pelo Barão de Mollingen, destacado para tal posto pelo famoso Marquês de Torrecuso, que confrontava os portugueses após estes terem tomado sem enfrentar resistência a vila espanhola supramencionada.

O primeiro embate com as tropas filipinas revelou-se desastroso para os portugueses, pelo forte ataque da cavalaria castelhana sobre o seu flanco esquerdo, que levou a uma grande desorganização dos elementos que o integravam.

Sem se conformar com a infelicidade inicial, Matias de Albuquerque, ajudado pela artilharia liderada pelo conjurado D. João da Costa, terá conseguido reunir a infantaria lusitana e obrigado os soldados do Barão de Mollingen que ainda não tinham perecido a retirar-se para a outra margem do rio Guadiana.

Matias de Albuquerque seria posteriormente recebido em Portugal com grandes honras e a vitória portuguesa levou à elevação da moral das tropas e populações, causando regozijo em Lisboa e grande espanto nas cortes estrangeiras, perante a humilhação sofrida pelo exército de D. Filipe IV de Castela.

Miguel Louro

Fonte: Nova Portugalidade

DEUS - PÁTRIA - REI

terça-feira, 26 de maio de 2020

Sangue Português

DEUS - PÁTRIA - REI: Sangue Português: Sangue de Portugal... Devemos honrá-lo, mas sem cair no mito do sangue e sem pretender divinizá-lo, como querem alguns por cá e fazem o...

domingo, 24 de maio de 2020

sábado, 23 de maio de 2020

Um milagre chamado Portugal

DEUS - PÁTRIA - REI: Um milagre chamado Portugal: Como é possível que vós, embora sendo poucos, tenham feito tanto na santa cristandade? Onde Portugal encontrou forças para acolher tant...

sexta-feira, 22 de maio de 2020

22 de Maio de 1886 - Casamento de D. Carlos e D. Amélia

A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas em pé e casamento

O Casamento Real entre o Príncipe Real de Portugal Dom Carlos, 4.º Príncipe Real de Portugal e 21.º Duque de Bragança e a Princesa Dona Amélia de Orleães, Princesa de França, foi celebrado no dia 22 de Maio de 1886, na Paroquial Igreja de Santa Justa e Rufina, vulgo Igreja de São Domingos, e foi acompanhado por uma imensa multidão popular que saiu às ruas de Lisboa engalanada para acompanhar o cortejo nupcial.
O cortejo do noivo encimado por um Esquadrão de Lanceiros n.º 2 da Rainha, saído da Ajuda, chegou às 12 horas à Igreja de S. Domingos, onde hasteado no balcão nobre estava o Pavilhão Real, com as Armas Reais sobre fundo vermelho-púrpura. Em torno da praça, vários bandeiras do Reino e estandartes bipartidos com as cores Azul & Branco da Monarquia Portuguesa, rematados por Coroa Real. A noiva com os pais, os Condes de Paris, e respectiva comitiva, vindos do Palácio das Necessidades, chegaram às 12h45m.

A cerimónia começou às 13 horas e foi oficiada pelo Cardeal Patriarca Dom José Neto. Junto ao altar, na capela-mor do templo, sob um pálio vermelho bordado a ouro, com os brasões de armas da Casa Real Portuguesa e da Casa Real de França, estavam os noivos: D. Carlos fardado de uniforme de gala de Major de Lanceiros n.º 2 e a seu lado, vestida de noiva, uma encantadora Dona Amélia que dominava a atenção. À esquerda, guardados por dois alabardeiros, nos respectivos tronos os Reis D. Luís I e D. Maria Pia. O Rei trajando de grande uniforme de Marechal-General e a Rainha um vestido de gala e sobre os ombros um majestoso manto cor-de-rosa que foi realizado tendo como inspiração o pintado num quadro de Peter-Paul Rubens intitulado ‘Triunfo de Maria de Médicis’. Ao lado o sólio e a cadeira gestatória para o Cardeal Patriarca capelão-mor da casa real, que oficiava auxiliado pelo cabido patriarcal.

À direita ficavam os Coxins para o Mordomo-mor, Duques e Marqueses, e lugares reservados para as damas de Sua Majestade a Rainha, oficiais-mor, ajudantes de campo, oficiais às ordens e médicos da real câmara. Do lado da epístola, cadeiras para o cardeal bispo do Porto, para os arcebispos e demais bispos.

Defronte do trono real, os Príncipes representantes dos soberanos estrangeiros e demais príncipes.
Atrás da realeza europeia, lugares para o seu séquito e lugares para os Presidente e Membros do Ministério (governo), Conselho de Estado, ministros e secretários de estado honorários.

Atrás e acostados à parede os cónegos, protonotários, desembargadores, beneficiados e capelães cantores. No cruzeiro do templo, junto da capela-mor e do lado do evangelho, ficaram os membros do corpo diplomático e senhoras de sua família, assim como as Duquesas e mais Senhoras da Grandeza do Reino, mulheres dos Ministros de Estado efectivos, dos Conselheiros de Estado, dos Ministros de Estado honorários e dos oficiais-mor, bem como as filhas solteiras de todos. Defronte ficaram as deputações dos corpos legislativos e tribunais superiores.

Em frente destes e do lado oposto, ficaram o governador civil de Lisboa e a deputação da junta geral do Distrito de Lisboa. Do mesmo lado estavam os assentos para os Condes, viscondes e barões, e demais pessoas da corte. Do lado oposto ficaram o comandante da divisão militar e mais oficiais de mar e terra. No corpo da igreja e tribunas laterais, além do espaço destinado para estrangeiros de distinção, ficaram, do lado do evangelho, os lugares para senhoras e para as deputações de quaisquer corporações, e do lado da epístola para funcionários públicos e para a imprensa. O resto do templo ficou franco para o público. O coro ao fundo do templo foi destinado para a música da capela e casa real.

Terminada a cerimónia de celebração do casamento de D. Carlos e D. Amélia de Orleães, os recém-casados saíram da Igreja de S. Domingos e receberam as honras da Guarda Real que apresentou as armas. Precedidos por dois Reis-de-Armas a cavalo, arautos, passavantes e acompanhados pelos criados da Casa Real nas vistosas librés vermelhas e amarelas, os noivos seguiram no coche do Papa Clemente XI, dentro do qual acenavam para a multidão popular que enchia as ruas da Capital, em especial num mar de gente sem fim nos Restauradores. A Monarquia mostrava a sua popularidade junto do Povo honesto e bom!

Depois do copo-de-água no Palácio da Ajuda, e terminada a idílica lua-de-mel em Sintra, os Duques de Bragança mudaram-se para a sua nova residência, o Palácio de Belém.

Miguel Villas-Boas

O primeiro tratado de equitação europeu

Nenhuma descrição de foto disponível.

Como temos vindo a explanar em publicações anteriores, a bibliografia eduardina é repleta de surpresas e dotada de categórica originalidade. Se já se falou que o Leal Conselheiro foi escrito apenas para um círculo restrito, o monarca quis compor, para além desta, outra obra absolutamente inovadora que pensava vir a atingir maior divulgação. Infelizmente a sua morte inesperada, com quarenta e seis anos, não o permitiu terminar. Porém, um frade, ou alguém que conseguiu obter o manuscrito, copiou-o e finalizou-o com o tradicional “Deo gracias”, como se a obra estivesse acabada. Não sendo, ao que se sabe, mais copiada, andou como perdida até ao século XIX, restando dela apenas uma vaga memória; considerando-a mesmo perdida, Barbosa Machado no século XVIII, na sua monumental Biblioteca Lusitana, escreveu que o Rei teria escrito um livro sobre “domar cavalos”, que desconhecia. Tratava-se portanto de o Livro da Ensinança de bem Cavalgar Toda a Sela.


Desenhado para ser composto por dezasseis partes, ficou apenas com sete redigidas. Não obstante uma obra inacabada, é muito mais que um tratado puramente técnico, pois a há nitidamente uma promoção das capacidades tanto físicas como emocionais. Desenvolve temas como a vontade humana para cavalgar, o poder do corpo, os requisitos materiais para a aprendizagem da arte equestre, princípios elementares da técnica de montar, formas como saber lidar com o medo, a segurança no cavalo, a elegância ou os preceitos do torneio. Estamos diante de “o nosso primeiro tratado completo, perfeito, científico, de pedagogia desportiva”, escreveu Joseph Peil, responsável pela excelente edição da obra. Mais, Rodrigues Lapa acrescentou ser um tratado de equitação escrito por um psicólogo. O zelo da sua actividade física e a paixão pelos cavalos, a sua fervorosa vida religiosa - própria de alguém conhecedor do psicológico pela ultrapassagem de uma depressão, e daí saber do que lhe valia a sua dimensão espiritual -, foram os condimentos para esta obra, que começou a escrever apaixonado, logo quando ainda era infante. “Insisto numa ideia: o Livro de Cavalgar, como o Leal Conselheiro, foram terminados pela mesma altura, remetem constantemente de um para o outro, de forma explícita, reproduzindo capítulos ou passagens, ou indirecta, e comungam das mesmas preocupações, dos mesmos gostos, dos mesmos objectivos.” O pensamento é de Luís Miguel Duarte, que biografou este Rei.

Escarneceu com refinado talento os fidalgos que se arrastavam obesos e inúteis, preocupados com jogos e intrigas palacianas, com o vestir e com o calçar, quando deveriam cavalgar, caçar javalis pelos montados, exercitar o físico e respirar ar puro. Lembra o seu saudoso pai, apresentando-o como paradigma, que com setenta anos ainda subia para a sela do cavalo sem qualquer tipo de ajuda, exercício que muitos homens de cinquenta anos já não era capazes de fazer.

Peça da nossa literatura, jóia da cultura medieval europeia, seja o pioneiro Livro da Ensinança de bem Cavalgar Toda a Sela, exemplo da essência dos homens que construíram este Portugal.

Tomás Pinto Bravo

Fonte: Nova Portugalidade

DEUS - PÁTRIA - REI

quarta-feira, 20 de maio de 2020

AUSTERIDADE OU IMBECILIDADE MILITANTE?

                                    

                                      “A Política passou de ser (se é que alguma vez foi)
                                        a “arte” de governar para ser a arte de mentir”.
                                       Autor: espero ter sido eu.


        Austeridade, do latim, “austeritas”, qualidade do que é austero (rigor, severo); o que aplicado à Economia significa “rigor teórico no controle dos gastos”. Uma política de austeridade é utilizada quando o nível do “deficit” é considerado insustentável e é implementada através do corte de despesas.

    Imbecil, do latim, “imbecillis”, fraco, sem carácter, humilde; quem demonstra fraca inteligência ou discernimento; idiota, parvo, tolo; o que manifesta imbecilidade. Em Psicopatologia representa um atraso mental equivalente a uma idade mental entre os três e os sete anos e um QI entre os 30 e os 50.

    Agora que estamos situados, vamos imaginar uma família que tenha um rendimento mensal de 9.000 euros. Se devido a uma doença, um acidente, um mau investimento, ou qualquer outra coisa que corra mal (em que a vida é fértil), perder um terço do seu rendimento, no mês seguinte tem apenas 6.000 euros para gastar.

    Daqui decorre uma coisa simples e que é esta, a família não pode viver do mesmo modo como vivia no mês anterior (isto é, manter o nível de vida). Vai ter de se adaptar. Vai ter de se tornar mais austera…

    Tal só não acontecerá se dispuser de reservas acumuladas (poupança) ou se tenha precavido com planos de contingência (seguros, aplicações financeiras, etc..).

    Mesmo alguns muito ricos, que vivem de especulação bolsista (ou bolseira?) podem cair de um dia para o outro…

    Ora a esmagadora maioria das famílias e empresas portuguesas, além de terem baixos rendimentos; guardarem pouquíssimas reservas (poupanças), ou estarem descapitalizadas, estão afogadas em dívidas, sem fim à vista.

    O Estado está exactamente na mesma posição. Arrasta-se em falência técnica permanente; vive de habilidades (a que chamam “engenharia financeira”); de alienação de património (às vezes para resolver problemas de tesouraria), aliena a Soberania a troco de “apoios” investimentos e “solidariedades” várias e prostitui a nacionalidade. E tudo isto sacando ao cidadão, uma quantia que já ultrapassa os 40% da sua riqueza, em carga fiscal (impostos directos e indirectos).

    A banca então nem se fala, há décadas que é um desastre inominável (mas nunca paga pelos erros…), está também descapitalizada; cheia de crédito mal parado; metendo-se amiúde em negócios especulativos ruinosos e “empréstimos duvidosos a amigos”, etc.. E foi esticando a corda tão inconscientemente (o termo correcto é outro) que, estou em crer que se 10% dos depositantes fosse levantar metade do que lá têm a maioria dos bancos colapsava em horas. Mas nunca se regateia dividendos aos administradores; eles nem admitem discussões sobre a sua ganância…

    Em síntese a banca em vez de investir dinheiro na economia, tem sobrevivido com o dinheiro que suga aos depositantes e com o dinheiro que o Estado (essa figura anónima de costas largas) lá mete, sacado dos impostos dos contribuintes. Desde os anos 80 calcula-se que o “saque” já vá em cerca de 50 mil milhões de euros, ninguém sabe ao certo. O que se sabe é que foi sempre a piorar e cada vez com menos pudor. Assaz educativo.

   O que tem acontecido debaixo do olhar vigilante de uma corte de supervisores, principescamente paga, cuja característica maior tem sido a de nunca dar conta, ter presente nem se lembrar de nada! É obra.

     Tudo isto vai passando sempre embrulhado em papel celofane com perfume rasca e mentiras q.b.. Perdão, “inverdades” pois é feio mentir!

    Estávamos nós neste preparo e doce remanso que a ampla liberdade para mentir não chegava já para esconder, quando nos cai em cima esta história mal contada do “Covid19”, o qual por obra e graça do confinamento profilático nos meteu em casa, fazendo a vida social e económica cair a pique.

    As estimativas projectadas a esmo vão variando, mas podemos fixar isto: as consequências económicas, financeiras e sociais vão ser muito, muito graves. E ainda só passaram dois meses.

    Preparam-se agora as “forças vivas” do país para encetar a volta à “normalidade” e o retomar da vida – tanto quanto possível - a que estávamos habituados - e bem seria útil aproveitarmos para reverter as más práticas, que são muitas.

    Eis senão quando, aparecem uns cómicos que dizem que tudo se tem que resolver sem a tal austeridade…

    Eu sei que a maioria dos políticos de que temos sido servidos erraram a “profissão” pois deviam ter ido para ilusionistas, mas irrita-me que queiram fazer de nós todos imbecis, ou reduzirem-nos à imbecilidade!

    A Economia não é uma ciência exacta e possui muitas variáveis. A única coisa que é exacta é a soma algébrica das operações, que é zero. Mas para ser zero há um fluxo de meios - o mais conhecido dos quais se chama dinheiro – que se movem de um lado para outros. E não é fácil saírem todos a ganhar.

    Muitos factores contribuem para isso, mas quando se actua num, tal vai replicar-se noutros. Sempre. E tudo tem consequências. Por isso a Economia não é apenas ciência também tem algo de “arte”. De que resulta ser difícil encontrar dois economistas a defender a mesma coisa…

    Como a Estratégia, que deriva de uma política a qual tem origem numa ideia. Ora quanto melhores forem a ideia, a política e a estratégia, melhor será a economia.

    Acontece, porém, que há muito que não existe uma Ideia para Portugal; a Política é medíocre e escreve-se com minúscula e a estratégia desprezada. Não é de estranhar que a economia e as finanças (e tudo o resto) se ressintam disso…

    Ou seja a Economia deve derivar de uma Política e ser instrumento de uma Estratégia e as Finanças devem servir a Economia e ambas terem preocupações sociais. Não devem apenas servir para engordar banqueiros, promover negociatas e corrupções ou ser objecto de influência de “lóbis” político/empresariais.

    Por este encadeamento simples de entender (ou falta dele), se pode perceber o descalabro das últimas décadas, do qual só saíremos com muitos sacrifícios e mudanças radicais de comportamento e organização política.

    Ora não se tem encontrado um filho d’Algo interessado e na disposição de o fazer. E também jamais haverá enquanto não se vislumbrar nos altos cargos do Poder pessoas dispostas a dar o exemplo. Vai-se fugindo para a frente…

    E, deste modo, a “liberdade” mais utilizada na sociedade seja a do livre arbítrio de mentir. Mentir muito e impunemente (a que alguns se atrevem a chamar de “certezas ideológicas”).

    Por isso a “tanga” da austeridade ou falta dela, vai continuar com as "nuances" necessárias a prepararem a opinião pública para mudarem de agulha quando necessário. E tal vai acontecer quando finalmente, a nível da UE, se tiver acordado (ou não) no pacote de ajudas para fazer face à débacle. E independentemente daquelas que surgirem haverá aí sempre, campo de manobra a ser usado como desculpa…

    Não há, todavia, alternativa para Portugal, que não seja o tal rigor prático no controlo dos gastos!

     A preocupação deveria ser então, procurar distribuir os custos e danos que tal vai acarretar de um modo equitativo por toda a Nação, com os órgãos do Estado a darem o exemplo…

    Em conclusão já vimos que não temos reservas de nada (nem de divisas – o que resta do ouro não se pode tocar pois está “hipotecado” ao BCE – de cereais; de outros alimentos (a não ser algum vinho e azeite); de metais e outras matérias primas; até de água, etc..). Dispomos apenas de três meses de reservas de crude, mas a maioria está guardada na Alemanha… E alguma capacidade recente para guardar gaz natural por via das cavernas construídas na zona de Pombal, cujo montante desconheço.

    O Estado está sempre em fio de bancarrota, e os bancos não têm dinheiro para emprestar.

    A Economia (partindo do princípio que a balança comercial seria positiva) não tem capacidade de nos retirar só por si do fundo do poço onde nos encontramos.

    Ainda se consegue financiamento externo, mas tal já não será ao preço baixo a que nos habituámos últimamente, mas deitar mão dessa ferramenta é absolutamente desaconselhável, pelo gravíssimo endividamento em que já estamos e ao estado de escravatura a que nos sujeitamos; e vender património é a mesma coisa por outra via… Mas parece que ainda se aventa a hipótese de despejar na TAP centenas de milhões de euros, depois de se andar a fazer asneiras grossas com ela desde… 1974!

    De facto só resta o dinheiro da UE, mas mesmo esse é uma ilusão de óptica. Ninguém dá nada a ninguém…

    Mas de onde sairá o dinheiro?

    Do orçamento comunitário? Mas esse pertence a todos os países.

    Serão os países ricos que disponham de “superavit” a emprestar aos mais necessitados? Mas isso implica juros; seria a fundo perdido? Mas como justificar tal medida? As formigas vão dar dinheiro sempre que as cigarras precisem?

    Portanto o dinheiro só pode vir do BCE, mas o bolo lá guardado também é de todos (os que aderiram à moeda única – e há que resolver também o problemas dos outros) além de que tem accionistas privados, algo que é por norma escamoteado.

    Há sempre a solução de produzir moeda – a maioria em circulação é já escritural há muito tempo (ou seja é algo fictícia pois não tem nenhum “bem” a sustentá - la) e é baseada numa coisa a que chamam “confiança” - que ninguém sabe definir muito bem - mas tal iria depreciar o valor da moeda, incorrer em inflação e afectar a concorrência das exportações e o preço das importações.

    E, mais uma vez neste âmbito, para o valor final ser zero há uns que perdem e outros que ganham.

    Como qualquer agricultor sabe, por mais humilde que seja, não se pode ter sol na eira e chuva no nabal ao mesmo tempo, que é o que os espertos da política – querendo fazer dos outros cidadãos, imbecis (não é por acaso que se tem assistido à imbecilização da sociedade) - andam a tentar fazer há muito. Democraticamente é claro.

     Não era pois necessário o governo ter-se dado ao trabalho de declarar o “estado de calamidade” no país. Há mais de quatro décadas que ele existe.



                                             João José Brandão Ferreira
                                            Oficial Piloto Aviador (Ref.)

terça-feira, 19 de maio de 2020

O Tratado de Windsor: 634 anos (1386-2020)

A imagem pode conter: 3 pessoas, pessoas sentadas


A mais antiga aliança diplomática em vigor, o Tratado de Windsor foi assinado no dia 9 de maio de 1386, na Casa capitular da Capela Real do Palácio de Windsor. Estavam presentes, como plenipotenciários portugueses em representação de D. João I, o chanceler Lourenço Anes Fogaça e o Mestre da Ordem de Santiago Fernando Afonso de Albuquerque, e como ingleses, em representação de Ricardo II, os cavaleiros Richard Alberbury e John Clanowe e o doutor Richard Ronhale.

Dispõe o primeiro artigo no sentido de que, a fim de assegurar «o bem público e tranquilidade dos Reis e dos vassalos e dos dois Reinos», seria estabelecida uma «liga, amizade e confederação geral e perpétua», inclusive com os respectivos aliados. Para além desta cláusula, sem dúvida fundamental, contêm-se no tratado outras pelas quais se oferece segurança e capacidade de comerciar aos naturais dos dois reinos, assim como se veda aos mesmos qualquer auxílio a inimigos. Foi também previsto que os herdeiros e sucessores dos reinos de Portugal e da Inglaterra fossem «obrigados a jurar e a renovar, ratificar e confirmar as suas alianças».

Testemunho de uma aliança seis vezes secular, o Tratado de Windsor não foi, contudo, o primeiro instrumento diplomático a ser formalizado entre Portugal e Inglaterra. De facto, e excluindo as relações de forte cooperação militar facilitadas pelos ingleses no que à conquista de Lisboa diz respeito, o primeiro tratado anglo-luso data de 1353, reinando D. Afonso IV em Portugal e Eduardo III em Inglaterra. Consistiu, essencialmente, no estabelecimento de um acordo comercial durante 50 anos. Não obstante, vinte anos volvidos, no seguimento de dificuldades políticas, o rei D. Fernando enviava novos plenipotenciários para negociar um tratado de «verdadeira, fiel, constante, mútua e perpétua paz e amizade, união e aliança» com Eduardo III de Inglaterra, assinado no dia 16 de junho de 1373.

Seguiu-se o Tratado de Windsor, já referido, e só no século XVII é que voltariam a ser formalizados novos acordos, tais como o Tratado de Whitehall, de 1661, que estabelece o casamento de D. Catarina de Bragança com Carlos II. Ficou célebre o discurso de 12 de Outubro de 1943, do primeiro-ministro britânico Winston Churchill à Câmara dos Comuns, no qual citou, com total impassibilidade e grande espanto dos presentes, todo o rol das datas dos antigos tratados anglo-lusos – a velha aliança ia ser mais uma vez evocada a fim de negociar com o Governo português um acordo de facilidades no Açores, para efeito da guerra submarina que então era travada.

Nuno de Abreu e Lima


Fonte: Nova Portugalidade

19 de Maio de 1797: Nasce D. Isabel de Bragança, I...

Estórias da História: 19 de Maio de 1797: Nasce D. Isabel de Bragança, I...: Maria Isabel De Bragança é considerada a fundadora do Museu do Prado. Na sala 75 do Museu descobre-se um episódio histórico bem conhecid...

Dom António de Orleáns e Bragança

A imagem pode conter: 1 pessoa, texto

sábado, 16 de maio de 2020

PORTUCALE REX PRIMUS

A imagem pode conter: 1 pessoa
14 de Maio de 1125: O Infante Dom Afonso Henriques Arma-se Cavaleiro, a si próprio, na Catedral de Zamora

PORTUCALE REX PRIMUS :


Dom Afonso Henriques 1º Rei de Portugal, *Guimarães, Coimbra ou Viseu 25/07/1109 - †Coimbra, Coimbra 06/12/1185, era filho de Henrique da Borgonha, Conde de Portugal e de Dona Teresa de Leão, Condessa de Portugal. Neto paterno de Roberto I (O Velho), Duque da Borgonha e de Dona Beatriz (?) de Barcelona; neto materno de Don Alfonso VI, Rei de Castela e de Ximena Moniz.

" D. Afonso Henriques "O Conquistador" - 1143 – 1185

Provavelmente em 1109, nasce Afonso Henriques, filho de Henrique de Borgonha e da infanta Teresa de Leão.

A sua mãe era filha ilegítima do Rei Afonso VI de Leão e Castela, a quem Afonso VI doara o Condado de Portucale pelo casamento. Há quem defenda também que era filho de Egas Moniz.

Almeida Fernandes, autor da hipótese que indica Viseu como local de nascimento de D. Afonso Henriques refere a probabilidade de ter nascido em Agosto, enquanto outros autores, baseando-se em documentos que remontam ao século XIII referem a data de 25 de Julho do mesmo ano.

Já foram defendidas outras datas e locais para o nascimento do primeiro rei de Portugal, como o ano de 1106 ou de 1111 (hipótese avançada por Alexandre Herculano após a sua leitura da "Crónica dos Godos").

Tradicionalmente, acredita-se que terá nascido e sido criado em Guimarães, onde viveu até 1128.

Mas há ainda quem defenda Coimbra como local provável para o nascimento do primeiro Rei de Portugal.

Tradicionalmente teria sido criado por Egas Moniz de Ribadouro, “o Aio”, mas há dúvidas sobre se teria sido antes Ermígio Moniz, o irmão. Considera-se que teria sido alguém da família de Ribadouro.

Henrique de Borgonha, o pai, era um aventureiro, ousado e ambicioso, de alta descendência, verdadeiro chefe do grupo de cavaleiros, monges e clérigos de origem francesa que desempenhou papel importante na remodelação da política e da igreja do ocidente peninsular (séc. IX) – Trouxeram costumes monásticos cluniacenses, preencheram lugares eclesiásticos e políticos. Henrique morreu quando o filho tinha apenas dois anos.

D. Teresa: Não era um modelo de virtudes cristãs, mas também não era uma mulher de costumes depravados (embora tivesse coabitado sucessivamente com os dois irmãos Trava, o que para a época era um escândalo). Personalidade ambiciosa, fortemente convencida do seu direito a herdar um dos Estados governados pelo seu pai (Galiza). Nunca reconheceu a irmã como rainha e herdeira do pai. Intitulava-se rainha. Conviveu pouco com o filho. Em 1112 fica viúva. Aproximadamente em 1116, D. Teresa aproxima-se dos Travas, que a encorajam a reivindicar o senhorio da Galiza – Por esta altura envolve-se com Bermudo Peres de Trava, filho de Pedro Froilaz. Em 1121 Fernão Peres já estava na sua corte. Não se sabe se chegou mesmo a casar com ele.

A Infância e a Adolescência - Clima de intensas lutas, intrigas e contradições.

Pressão para que tomasse partido entre as posições assumidas pelos senhores e familiares que viviam à sua volta.

Em 1122 o panorama político alterou-se, tinha o infante 13 anos.

Deixam de figura como confirmantes dos diplomas da “rainha”, os nobres Soeiro Mendes de Sousa, Ermígio, Egas e Mendo Moniz de Ribadouro, Paio Soares da Maia e Sancho Nunes de Barbosa – Oposição à autoridade confiada ao Conde de Trava pela rainha.

Eram os mais respeitados nobres de Entre Douro e Minho.

O mais verosímil é que os senhores portucalenses se tenham revoltado porque Fernão Peres os excluíra de qualquer papel de chefia no combate ao Islão (da glória inerente à participação na guerra santa e das vantagens materiais e simbólicas).

1125 – Nova vaga de deserções na corte – A revolta estendia-se a todo o Entre Douro e Minho (a sul atingia a Terra de Santa Maria).

A revolta dos barões portucalenses não foi, de início comandada por D. Afonso Henriques, pois em 1122 este era demasiado jovem.

Para além disso, viveu com o seu aio até aos 11 ou 12 anos, mas em 1120 deixou de estar na sua dependência – A partir daí passou a subscrever os documentos de D. Teresa (até 1127). Confirma-os em posição superior à do Conde de Trava, mas juntamente com ele.

Até 1127 (tinha 18 anos), não há indícios de conflitos entre ele e a rainha.

Em (14 de Maio de) 1125, Afonso Henriques ter-se-á investido Cavaleiro, na Sé de Zamora, no dia Santo de Pentecostes, teria 16 anos.

Zamora pertencia ao senhorio de D. Teresa, pelo que a cerimónia ter-se-á realizado com o seu consentimento – Para assegurar os direitos de D. Afonso à sucessão.

8 de Março de 1126 – Morre D. Urraca e sucede-lhe Afonso Raimundes (Afonso VII).

Setembro e Outubro de 1127 – Percorria o norte de Portugal para exigir pela força o reconhecimento da sua autoridade por parte dos senhores galegos e portugueses - O Cerco de Guimarães.

É difícil saber quem tomou a iniciativa do acordo entre Afonso e a nobreza.

As circunstâncias em que se deu o cerco e a participação nele de nobres revoltosos terão facilitado o acordo.

Devem ter pensado que se tornaria fácil convencer aquele jovem de 18 anos a defender os seus interesses, se lhe entregassem o poder.

O infante começou, pouco depois do cerco de Guimarães, a exercer actos de soberania – Apropriou-se portanto do condado, contra a vontade da mãe.

Depois do cerco de Guimarães, Afonso tomou do padrasto o Castelo de Santa Maria da Feira.

S. Mamede - As conversações não resolveram o conflito, o confronto armado era inevitável.

24 de Junho de 1128 – Festa litúrgica de S. João Baptista.

Batalha campal perto do Castelo de D. Afonso, em Guimarães, entre as suas tropas e as da sua mãe.

Afonso Henriques apoderou-se da herança de D. Teresa pela força, mas ao contrário do que diz a tradição do povo, D. Teresa e o Conde, pouco tempo depois, estavam livres na Galiza, com as duas filhas Sancha e Teresa Fernandes, ainda pequenas.

D. Teresa morreu em 1130 (no 2.º ano do “reinado” do Infante).

Fernão Peres de Trava ofereceu uma herdade à Sé de Coimbra pela alma da esposa.

A reconciliação do Senhor de Trava com D. Afonso Henriques foi anterior à morte de D. Teresa (confirmou doações do infante).

O fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres – O auxílio prestado pelos Barões Portucalenses obrigava-o a ser generoso para com eles.

Situação de dependência nos primeiros tempos do seu governo.

Os primeiros diplomas emitidos pelo príncipe favorecem a igreja (pobres eremitas e mosteiro).

Quis captar a benevolência das duas categorias extremas da hierarquia eclesiástica: A máxima autoridade religiosa do condado e os religiosos mais pobres.

O Arcebispo de Braga, Paio Mendes, representava a outra força essencial que colaborou para que Fernão Peres de Trava fosse vencido.

Era contra as pretensões do Arcebispo de Compostela (Guelmírez). Reivindicava para si o exercício da autoridade canónica sobre as dioceses portuguesas. Queria independência do seu rival de Compostela.

João Peculiar sucedeu a Paio Mendes, em 1139, no cargo de chanceler e defendeu mais a independência política do rei, do que a sua submissão ao partido feudal.

Afonso vai progressivamente libertando-se dos compromissos com a nobreza.

Tudo começa quando o infante se estabelece em Coimbra e acentua-se com a conquista de Lisboa – Protecção das comunidades vilãs e das ordens militares.

Evolução de uma situação tipicamente feudal para um efectivo exercício do poder político, por intermédio das suas funções guerreiras.

Sobretudo na frente muçulmana, onde conta com a importante colaboração dos cavaleiros – vilãos e das ordens militares.

O rei vai-se libertando da tutela dos ricos – homens nortenhos para se apoiar numa nobreza mais fiel e dependente sem tradições muito antigas, e que lhe deve a sua promoção (ex. família Soverosa, oriunda talvez de um bastardo galego que ascende de alferes a mordomo-mor).

O rei devia possuir qualidades políticas excepcionais – Coerência de opções durante todo o reinado – Rigorosa continuidade das suas orientações.

Mas terá sido também influenciado pessoalmente por João Peculiar, um dos fundadores de Santa Cruz de Coimbra, depois bispo do Porto e Arcebispo de Braga.

1129 – Afonso confirma doação de D. Teresa à Ordem militar do templo.

As divergências de S. Mamede passavam para segundo plano quando estava em causa um ideal que envolvia toda a cristandade – Concretizado nas cruzadas.

Ampla corrente religiosa, cultural, social e económica orientada para Jerusalém (o centro do mundo, na mente dos europeus).

A mudança de residência de Afonso Henriques de Guimarães para Coimbra constituí um facto da maior importância histórica – A decisão mais transcendente para a sobrevivência de Portugal como nação sobrevivente, em cinco aspectos:

1. A nobreza senhorial

2. Os cavaleiros – vilãos

3. As estruturas urbanas

4. A guerra externa

5. A cultura moçárabe

O Mosteiro de Santa Cruz - 1131 (lançamento da primeira pedra a 28 de Junho) – Fundação de uma comunidade de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, pelo arcediago da sé da mesma cidade, o presbítero Telo, associado a João Peculiar.

Afonso ofereceu-lhes uma importante propriedade urbana junto dos muros da cidade, onde estavam situados os banhos muçulmanos.

Afonso Henriques apresentava-se como neto do imperador Afonso VI e como tal achava-se no direito de herdar alguns dos Estados de seu avô.

Conflitos armados nas fronteiras galega e leonesa – Afonso pretendia não só alargar o seu território, mas também mostrar que tinha direito de aceitar vassalos, mesmo em território galego e que não necessitava do acordo do primo.

Afonso Henriques aproveitou a rebelião de Garcia de Navarra para ocupar pela força os condados de Toroño e de Límia, nomeadamente Tui.

Aí foi assinado um pacto com o primo (1137).

Considera-se que Afonso teve de deixar a sua posição favorável nessas terras para ir defender o castelo de Leiria, cujo ataque mouro era uma ameaça à cidade de Coimbra.

A Batalha de Ourique - Em 1139, Afonso terá organizado um grande fossado, em pleno gharb – A incursão em território inimigo terá sido interceptada em Ourique pelo rei Esmar, que foi vencido e teve de abandonar o campo.

Ourique seria em princípio uma extensão de território despovoado que abrangia quase todo o Baixo Alentejo.

As incursões militares profundas e prolongadas eram frequentes – O fossado português deve ter penetrado até à Andaluzia e trouxera muitos despojos e cativos, até que foi interceptado pelo inimigo mas conseguiu vencê-lo.

A tradição diz que antes do combate, Afonso foi aclamado rei pelas suas tropas, alçado num escudo.

Podia haver uma coincidência aproximada entre a data da batalha e o novo título atribuído pelos notários régios ao infante de Portugal.

Afonso deve o sucesso do seu reinado, não apenas ao seu talento militar, mas também à

colaboração de auxiliares dedicados e inteligentes:

Recontro de Valdevez (1141) - Afonso VII, depois de vencer o rei Garcia de Navarra, confiou aos condes de Castela a defesa da frente oriental e dirigiu-se com um grande exército à fronteira portuguesa (c/ a Galiza), onde começou a devastar a terra.

Tudo porque Afonso Henriques queria ter como vassalos senhores de territórios que pertenciam à Galiza.

Afonso Henriques reuniu também as suas tropas e atacou um grupo de leoneses, capturando o conde Ramiro.

Existe ainda outra versão que diz que antes de se dar a batalha houve um «bafordo» (torneio a cavalo), proposto pelos portugueses para evitar a batalha.

D. João Peculiar serviu de mediador entre os dois primos.

De qualquer modo, Afonso VII, teria aceite a proposta de paz para evitar uma mortandade inútil.

O recontro terminou com um pacto de tréguas – Remetendo para mais tarde as questões que os opunham.

Não voltaram a registar-se confrontações na fronteira galega até à morte de Afonso VII.

Ataques Mouros em 1140 - Destruição do castelo de Leiria.

A partir de 1143, no mundo árabe, os almóadas começavam a destituir os almorávidas.

Às tendências institucionais e aristocráticas dos seus adversários, os Almóadas opunham uma vivência carismática, popular, contestatária e fundamentalista.

Os almoádas estavam descontentes com o insucesso dos almorávidas em revigorar os estados muçulmanos na Península Ibérica, bem como em suster a reconquista cristã.

Miles Sancti Petri

No verão de 1143, chegou ao reino de Leão o cardeal legado da Sé Apostólica, Guido de Vico.

O Tratado de Zamora:

A 5 de Outubro de 1143, foi assinado o Tratado de Zamora, diploma resultante da conferência de paz entre Afonso Henriques e Afonso VII, na presença do cardeal Guido de Vico.

Considerada a data do início do reinado de Afonso Henriques.

Afonso VII concordou em que o Condado Portucalense passasse a ser Reino, tendo D. Afonso Henriques como seu "rex" (rei).

Embora reconhecesse a independência, D. Afonso Henriques continuava a ser seu vassalo, pois D. Afonso VII para além de ser rei de Leão e Castela, considerava-se imperador de toda a Hispânia.

Contudo nunca D. Afonso Henriques lhe prestou vassalagem, sendo caso único de entre todos os reis existentes na península Ibérica.

Comprometeu-se então o monarca português, ante o cardeal, a considerar-se vassalo da Santa Sé, obrigando-se, por si e pelos seus descendentes, ao pagamento de um censo anual.

A 13 de Dezembro de 1143, Afonso dirigiu uma carta ao Papa declarando que tinha feito homenagem à Sé Apostólica nas mãos do cardeal Guido como cavaleiro de S. Pedro (miles sancti petri).

E que se obrigava a pagar à Santa Sé o censo anual de quatro onças de ouro (o que respondia aos apelos da mesma), sob a condição de o Papa defender a sua honra e a dignidade da sua «terra».

No mesmo documento afirmava que não reconhecia a autoridade de nenhum outro poder eclesiástico ou secular, a não ser o do Papa – Carta de vassalagem do rei à Santa Sé (Claves Regni Celorum – primeiras palavras do documento).

Aceitação da homenagem ao Papa em vez da que, até ali o vinculava ao rei de Leão.

Não se conhece nenhuma reacção de Afonso VII até 1148 – Protestou junto do Papa por causa de a cúria romana ter aceitado favores que o prejudicavam.

D. João Peculiar empreendeu em 1144 nova viagem a Roma, para o Papa definir a sua isenção da autoridade episcopal e incluir o mosteiro de Grijó no património da Sé Apostólica. Quis levar pessoalmente a carta de vassalagem do rei.

A aceitação da homenagem do rei, pelo Papa Lúcio II, na Bula Devotionem Tuam, de 1 de Maio de 1144, foi um fracasso, pois o papa deu a Afonso Henriques apenas o título de dux, o que deve ter sido humilhante para o rei.

Para a cúria romana, não estava provada a sua verdadeira independência.

Ainda só tinham como prova a batalha de Ourique, Lisboa ainda não tinha sido conquistada.

Aos 37 anos, Afonso continuava solteiro.

Conquista de Santarém: Madrugada de 15 de Março de 1147 (conquista numa só madrugada!).

Ataque Surpresa - Poderá no entanto ter havido ajuda de alguém de dentro, uma vez que em Santarém existiam muitos moçárabes.

Afonso deve ter permanecido em Santarém para consolidar a sua posição durante dois ou três meses, e para bater os arredores.

Conquista de Lisboa - 25 de Outubro de 1147 - Depois de um cerco de quase 4 meses e com a ajuda dos cruzados que iam para a Terra Santa - Alemães, Flamengos e Bolonheses, Ingleses e Normandos.

A Reorganização do Reino

O repentino alargamento da fronteira, em 1147, não podia deixar de intensificar o fluxo migratório para sul.

A canalização dos excedentes populacionais do norte para a Estremadura e mesmo para as terras menos acolhedoras a leste do Zêzere equilibrou a relação entre a população e os recursos naturais.

O alargamento do território submetido ao primeiro rei de Portugal, incorporando nele duas importantes cidades, dotadas de grandes potencialidades económicas consolidou o seu poder político.

Garantiu a sua sobrevivência definitiva, enquanto nação, que até aqui estava em risco pelo crescente poder do rei de Leão e Castela e pelo rei de Aragão.

Depois da conquista de Lisboa, Afonso aproveitou o abandono das fortificações que protegiam a cidade para as ocupar rapidamente.

Apoderou-se sem dificuldade de Sintra a norte e de Palmela e Almada a sul.

Afonso VII morre em Agosto de 1157. Em 1155, dois anos antes de morrer, Afonso VII decidiu dividir o reino pelos dois filhos, deixando Castela ao mais velho, Sancho III e Leão ao mais novo Fernando II.

No fim de Agosto de 1158, morre inesperadamente Sancho III de Castela.

Como se procedesse a uma manobra de antecipação contra uma eventual reunificação de Leão e Castela e consequente reforço do poder leonês, Afonso Henriques entra, no mês de Setembro no condado de Toroño à frente do seu exército.

Parece ter havido muitos combates até meados de Novembro.

Em 1158 (Setembro), assinou com Fernando II um acordo de tréguas.

O rei de Leão precisava de espaço de manobra para resolver o problema da sucessão de Castela. Existia um herdeiro, Afonso VIII, de apenas 3 anos.

Entregaram a tutoria do menino a Guterre Fernandes de Castro e a regência do reino a D. Manrique de Lara.

Durante o ano de 1159 sucederam-se combates entre Leoneses e Castelhanos.

Afonso Henriques continuou a dominar o território de Tui.

Em 1160 (Janeiro), negociou com o conde de Barcelona, Raimundo Berenguer IV, casado com Petronilha, herdeira do reino de Aragão, o casamento da infanta Mafalda (6 ou 7 anos) com o futuro Afonso II de Aragão (3 ou 4 anos).

Este contrato considera-se como o indício do começo do período dos «cinco reinos»: Portugal, Leão, Castela, Navarra e Aragão.

Durante o qual não se verificou a supremacia de nenhum deles e que todos mantêm uma relativa consistência interna.

Os conflitos são compensados por alianças pontuais ou recorrentes, o que permite prolongar o equilíbrio, apesar de instável.

A negociação do casamento da infanta Mafalda significava a aceitação de Afonso Henriques como um parceiro de pleno direito no mercado matrimonial das cortes ibéricas.

Tanto Portugal, como Aragão, tiveram várias vezes de unir forças para resistir ao expansionismo castelhano ou castelhano – leonês.

No fim do ano de 1160, o rei de Leão tinha recuperado forças e impôs a Afonso Henriques o acordo no qual este se comprometia a devolver-lhe Tui.

Mas durante 1162, Afonso exercia actos de soberania sobre Límia e no ano seguinte conseguia recuperar Toroño.

No verão de 1162, faleceu Ramon Berenguer IV e Fernando II de Leão, convenceu a rainha Petronilha de Aragão a anular o compromisso com Afonso Henriques e a casar antes o seu filho, futuro Afonso II de Aragão, com D. Sancha, filha do segundo casamento de Afonso VII (portanto irmã de Fernando II), que teria 7 anos.

Com a revolta dos cavaleiros de Salamanca, Afonso Henriques veio até à cidade, onde nos primeiros meses de 1163 exerceu actos de soberania.

Em Castela continuavam as lutas entre Laras e Castros.

1165 – A presença de Afonso Henriques na Galiza tornou-se mais agressiva – Instala-se no castelo de Cedofeita e dirige ataques contra Pontevedra, Ribadavia e Orense.

Em Maio desse ano, faz novo acordo com Fernando II em Pontevedra, combinando o casamento deste com a sua filha Urraca, de 17 anos.

Mas havia um impedimento canónico, pois Urraca e Fernando II tinham o mesmo bisavô, Afonso VI (o casamento viria a ser anulado em 1175).

Do casamento nasceu o futuro rei Afonso IX de Leão, em Agosto de 1171, primeiro neto de Afonso Henriques.

Afonso Henriques deve ter mantido domínio sobre os dois condados galegos de Límia e Toroño até 1169.

A guerra era uma forma de pressão para conseguir acordos vantajosos, como o casamento de Urraca, que confirmava a posição do rei de Portugal ao nível dos restantes soberanos peninsulares.

A conquista de Alcácer do Sal abriu o caminho a novas incursões a sul do Tejo.

Tornaram-se habituais os bandos de arqueiros atraídos pelo saque, que actuavam na fronteira por conta própria, sem coordenação com as tropas recrutadas pelos reis de cada país.

Podiam negociar a sua colaboração com os cristãos ou com os almóadas.

Havia ainda os mercenários, contratados pelos reis para combater integrados em exércitos regulares ou recrutados por senhores de taifas.

É surpreendente verificar que a conquista de Beja (1 de Dezembro de 1162) se deu antes de Évora, pois situava-se numa posição recuada em relação com a fronteira.

Geraldo Geraldes "O Sem Pavor" - Usava a técnica de atacar de noite, durante o inverno, e não na primavera ou verão como era costume.

Conseguia penetrar nas fortalezas por meio de escadas encostadas às muralhas.

Évora foi tomada por ele e pelos «ladrões seus companheiros».

Geraldo Geraldes actuava por conta própria, e embora tivesse durante anos colaborado com Afonso Henriques, com quem negociou a posse de Évora depois de a ter conquistado (1165) e a quem se associou para tentar apoderar-se de Badajoz, viria a pôr-se ao serviço do Emir de Marrocos.

1166 – Serpa e Juromenha – Instalou-se então neste castelo, servindo de base para atacar Badajoz.

Eliminadas as fortificações exteriores de defesa, Badajoz ficava isolada.

Era uma cidade populosa e rica, a mais importante da fronteira ocidental e comandava as operações militares contra os reinos de Leão e Portugal.

Afonso Henriques tinha, até 1165 permanecido em contacto frequente com a Galiza.

Em Maio ou em Junho assistiu ao casamento da filha Urraca, pouco tempo depois deve ter ido a Évora negociar a entrega da cidade.

Évora era um dos centros islâmicos mais importantes do Gharb. Para reforçar a sua defesa, Afonso reedificou o castelo de Coruche.

Situado numa posição estratégica fundamental como elo de ligação e de controlo da via que assegurava a comunicação de Évora a Santarém.

Estava demasiado exposta aos ataques almóadas devido à sua proximidade da fronteira.

Pela mesma altura ou pouco depois Afonso conquistou os castelos de Moura, Serpa (pode ter sido vendido ao rei por Geraldo) e Alconchel (últimas defesas de Badajoz).

Badajoz daria a Portugal a plena posse da antiga província romana da Lusitânia.

No entanto passaram mais de dois anos até que Afonso e Geraldo tentassem conquistar tal cidade.

Permitiu reparar as muralhas de Évora e reunir as forças necessárias para um cerco demorado (já não podiam contar com as vantagens de um ataque surpresa).

A sacralização do poder político: O combate pela defesa do reino dava direito aos mesmos privilégios espirituais que a luta pela fé.

Durante estes ataques de Geraldo e Afonso, Fernando II estava demasiado ocupado a tentar reunificar os reinos de Leão e Castela depois da morte do irmão, lutando contra os nobres de Castela que tinham a tutela do sobrinho.

Afonso Henriques deve ter considerado que era a ocasião propícia para tomar Badajoz.

3 de Maio de 1169 – Geraldo conseguiu romper as muralhas exteriores da cidade.

A guarnição militar muçulmana refugiou-se na alcáçova (zona em cota mais elevada e mais protegida dentro de um castelo, com funções de defesa, onde residiam as autoridades civis ou eclesiásticas da povoação).

Perante a sua resistência, Afonso, que não devia estar longe, marchou à frente das suas tropas para ajudar os sitiantes.

O califa de Marrocos reuniu um grande exército para socorrer a cidade.

Quando as tropas de socorro chegaram a Sevilha souberam que o Rei Fernando II também tinha marchado em direcção a Badajoz.

Aliou-se aos Almóadas para impedir os Portugueses de se apoderarem da cidade.

O rei de Leão acampou junto da cidade, mandou um mensageiro ao governador almóada (na alcáçova) para o encorajar a resistir.

Os muçulmanos fizeram uma investida inesperada na zona da Medina, conseguiram chegar às portas exteriores e abriram-nas, permitindo a entrada dos seus aliados.

Geraldo e Afonso Henriques tiveram de se retirar precipitadamente.

Quando Afonso tentava fugir a cavalo chocou contra o ferrolho de uma das portas da muralha exterior e partiu a perna direita. Transportado pelos seus companheiros de armas conseguiu chegar até Caia, mas foi capturado pelos Leoneses que o levaram até Fernando II.

O rei de Leão, seu genro, prendeu-o durante dois meses.

Por fim deu-lhe a liberdade mediante a cedência da maioria dos castelos que ele e Geraldo tinham conquistado a leste do Guadiana.

Mais a promessa de cessar os ataques a Badajoz e o abandono de todas as terras da Galiza de que se apoderara.

Uma vez libertado, Afonso foi para Coimbra e dali para as termas de S. Pedro do Sul (Lafões) onde permaneceu convalescente durante alguns meses.

Geraldo também foi preso, mas obteve a liberdade mediante a entrega a Fernão Rodrigues de Castro (governador de Toledo nomeado por Fernando II) das praças em poder dos seus homens: Montánchez, Trujillo, Santa Cruz e Monfrague.

Fernando II ficava com Albuquerque e Cáceres.

A predominância da ofensiva Portuguesa, tal como a Leonesa e a Castelhana tinha chegado ao fim.

Já não se tratava de ocupar novos territórios, mas de não perder os adquiridos.

Assegurar a defesa: O repovoamento de territórios conquistados. O auxílio de Gualdim Pais, mestre templário (1125?-1195).

D. Afonso Henriques deixou de poder andar a cavalo.

O que lhe deve ter trazido graves limitações às suas responsabilidades governativas.

As viagens do rei não eram apenas necessárias para a guerra – A deslocação constante da corte e a presença física do rei em todo o território eram indispensáveis à governação.

Era por isso humilhante para o rei estar em tal condição.

Acabara de fazer 60 anos – Sendo a esperança média de vida 30 anos, o rei tinha de se considerar já velho.

Os acontecimentos negativos começam por invadir a corte, devido à imobilização do rei (2 meses), de repente tudo se punha em causa.

Não havia nenhuma autoridade óbvia além do rei. D. Mafalda já tinha morrido há 11, 12 anos e o príncipe Sancho era ainda demasiado jovem (15 anos).

O Alferes – Mor há mais de 20 anos, Pêro Pais da Maia, abandonou a corte para ir servir Fernando II.

Morreram os mais fieis auxiliares de Afonso Henriques.

As dificuldades que Portugal teve de suportar a partir de 1169, atenuaram-se entre 1175 e 1180.

O Príncipe Herdeiro - Sancho, já armado cavaleiro começava a comandar o exército.

Afonso continuou a orientar o reino como co-regente.

Em 1174 Sancho casou-se com D. Dulce de Aragão, filha de Raimundo Berenguer IV e Petronilha de Aragão e irmã de Afonso II de Aragão, que havia rompido o casamento com D. Mafalda.

A posição de Sancho como futuro rei não podia deixar de consolidar-se com o casamento.

A primeira filha, infanta Teresa Sanches nasceu em 1175 (Afonso teria 66 anos).

Do casamento, extremamente fecundo, nasceram sete filhas e quatro filhos.

Afonso Henriques, forçado à imobilidade, podia minorar as suas prováveis impaciências entretendo-se com os seus netos.

D. Teresa, D. Sancha e D. Constança, nascidas entre 1175 e 1182, ainda em vida do avô.

Em 1170 Geraldo ainda tentou novamente conquistar Badajoz, provavelmente com a ajuda do príncipe D. Sancho.

Mas não teve sucesso. Tentou então lutar ao lado dos Almóadas. Acabou preso e condenado à morte em 1173.

Entretanto foram criadas as Ordens Militares de Santiago da Espada em Cáceres e a Ordem de Évora, para auxílio dos Templários na defesa da fronteira.

Bula Manifestis Probatum Est

Três meses depois de Afonso ter ditado o seu primeiro testamento, no dia 23 de Maio de 1179.

O Papa Alexandre III, por meio da Bula Manifestis Probatum Est, reconheceu a Afonso Henriques o título de rei, declarou que o tomava a ele e aos seus herdeiros sob a protecção da Santa Sé, considerou Portugal como um reino pertencente a S. Pedro e prometeu o auxílio Papal sempre que fosse necessário defender a dignidade régia do soberano português.

Terminava assim o longo período de trinta e seis anos que mediou entre a homenagem prestada por Afonso ao Papa como Miles Sancti Petri e o pleno reconhecimento da sua dignidade e independência.

Provavelmente por em testamento o rei se dispor a duplicar o montante do censo.

Em 1185, os Almóadas cercam Santarém, mas são vencidos pelos Portugueses comandados pelo príncipe Sancho, que inclusive matam o califa.

O rei estava velho, tinha já 75 anos e tinha ultrapassado de longe a idade com que os guerreiros morriam naquele tempo.

O condado que herdara havia-se tornado, graças ao seu valor militar, à sua sagacidade política e à inteligente colaboração de alguns, um verdadeiro reino.

Não muito vasto, nem muito rico, mas com número suficiente de habitantes e diversidade de recursos para subsistir.

A futura rainha Dulce tinha já três filhas e era de esperar que em breve aparecesse um menino, o que veio a acontecer em 1186 (Afonso II).

Por isso a infanta Teresa Afonso, que até ali fora considerada herdeira de recurso em caso de morte de Sancho podia agora aceitar propostas de casamento.

Foi o que aconteceu em 1184, no verão, já com 33 anos, a princesa foi dada em casamento por seu pai a Filipe da Alsácia, conde da Flandres, viúvo há sete anos.

Afonso teria grande predilecção por esta filha, o certo é que enviou com ela um séquito carregado de magníficos presentes que causaram a admiração do conde e da sua corte e chamaram a atenção dos cronistas da época.

Afonso Henriques morreu no fim do Outono de 1185, a 6 de Dezembro, aos 76 anos.

Foi sepultado no mosteiro que ajudou a fundar, junto da esposa e provavelmente dos filhos que já tinham morrido.

Depuseram o seu corpo num túmulo que o seu sucessor D. Manuel considerou demasiado modesto e que por isso mandou reformar em 1515.

O primeiro túmulo ostentava uma inscrição latina que testemunhava bem a veneração que rodeava o velho rei.

«Aqui jaz um outro Alexandre, ou outro Júlio César, guerreiro invencível, honra brilhante do orbe

Douto na arte de governar, alcançou tempos seguros, alternando a sucessão da paz e das armas.

Quanto a religião de Cristo deve a este homem provam-no os reinos conquistados para o culto da fé.

Alimentado pela doçura da mesma fé, cumulou, além das honras do reino, riquezas para os pobres infelizes.

Que foi defensor da cruz e protegido pela Cruz, assinala-o a Cruz, formada de escudos, no seu próprio escudo.

Ó fama imortal, ainda que reserves para ti tempos longos, ninguém pode proclamar palavras dignas de seus méritos.

(Bibliografia: Dom Afonso Henriques, Domingues, Mário - Ed. Prefácio, 2007; Mattoso, José - D. Afonso Henriques, Ed. Temas e Debates, 2007; Wikipédia, a enciclopédia livre.

Publicada por Branca Flor à(s) 1/09/2011

Etiquetas: Afonso Henriques, História de Portugal). "

https://ensina.rtp.pt/artigo/a-morte-de-d-afonso-henriques/?fbclid=IwAR2thTcz5Ohx94UBUTYz7xnGZ73GcXFzMibJ34Xg-NIt_Gfzo5OfagVnGbo

Descendência de Dom Afonso Henriques:

Filhos do casamento com Dona Mafalda de Sabóia (minha 27ª, 28ª, 29ª, 30ª, 31ª e 32ª avó):

• Dom Henrique, Infante de Portugal (* 05.03.1147)

• Dona Urraca, Infanta de Portugal (minha 27ª, 28ª, 29ª, 30ª e 31ª avó)(* 1151), c.c. Fernando II, Rei de Leão

• Dona Mafalda, Infanta de Portugal

• Dom Sancho I, Rei de Portugal (meu 26º, 27º, 28º, 29º e 31º avô)(* 11.11.1154), c.c. Dona Dulce de Barcelona, Infanta de Aragão e c.c. D. Maria Pais Ribeira

• Dom João, Infante de Portugal (* 1160)

• Dona Teresa (Matilde), Infanta de Portugal (* 1157), c.c. Philippe, Conde da Flandres, e c.c. Eudes III, Duque da Borgonha

• Dona Sancha, infanta de Portugal (* 1160)

Filhos com mãe desconhecida:

Dom Fernando Afonso

Dom Pedro Afonso, mestre da Ordem de Avis (* 1130)

Dom Afonso de Portugal (* 1135)

Filhos com D. Elvira Gualter (* 1110):

• Dona Teresa Afonso (minha 29ª, 30ª, 31ª e 32ª avó)(* 1135), c.c. D. Sancho Nunes de Barbosa, Conde de Barbosa

• Dona Urraca Afonso, Senhora de Aveiro (* 1130), c.c. Pedro Afonso Viegas

(Fontes: Investigação de António Carlos Janes Monteiro, GeneAll, App.- Family Tree Maker 4.0, Estórias da História, Wikipédia e "Dom Afonso Henriques", Domingues, Mário - Ed. Prefácio, 2007; Mattoso, José - "D. Afonso Henriques", Ed. Temas e Debates, 2007)

Fonte: Associação dos Autarcas Monárquicos