Armand de Périgord nasceu em 1178, e procedia da Casa Périgord. Entrou muito jovem para a Ordem do Templo, e aos vinte e sete anos, torna-se Mestre da Apúlia e da Sicília, quando o imperador Frederico II se julgava o senhor e dono da Sicília. Muitos desaguisados começam nesse território, entre o imperador e o Mestre do Templo, e continuaram, quando este ascendeu ao mais alto cargo da Ordem em 1232.
No início do seu Mestrado, dirigiu várias ofensivas, tanto pelo mar como por terra, a diversas cidades, mas sem resultados aparentes.
Em 04 de Outubro de 1232, em Chipre, ele mediou um encontro entre o clero e os barões da ilha, acerca dos dízimos devidos por estes últimos.
Em 25 de Julho de 1233 proximidades de São João d’Acre, a foi promulgado uma concórdia entre os Mestres, Armand de Périgord e Guerin de Montaigu dos Hospitalários (a que chamaram de harmonia perpétua), sobre a água e moinhos de Acre. Do resultado deste entendimento entre as duas Ordens, Frederich II rebelou-se violando e trégua imposta, mas não conseguiu tributar a cidade de Hama, na Síria.
Espírito Indomável…
Ruinas do castelo de Darbsak |
Acalentados pelo sonho de recuperar as antigas possessões que o Templo perdera, diplomaticamente acabaram por recuperar a fortaleza de Gastim (Gastun), em 1216, que estava em poder do principado de Antioquia – ponto fundamental para guardar a fronteira Sírio-Ciliciana – decidindo por isso, avançar mais para norte, para a cidade de Darbsak (atualmente cidade de Terbezek), que havia sido conquista por Saladino em 1188.
Em Junho de 1237, nessa fronteira (território da Turquia conhecido na Idade Média como Arménia Mediterrânea), uma força composta por 120 cavaleiros do Templo, juntamente com algumas centenas arqueiros Turcopoles (filho de mãe grega de pai turco), propunham-se a reconquistar a fortaleza de Trapessac erguida pela Ordem no séc. XI.
Surpreendentemente conseguem adentrar-se na baixa da cidade, apesar da forte oposição dos ocupantes – valor não faltava ao soldado ayyubid, descendente dos herdeiros de Saladino! A batalha pendia a favor dos Templários, até que chegaram reforços vindos de Aleppo. A partir daí, a peleja mudou de feição; pela frente, apresentavam-se os defensores da cidade, e por de traz, estava a cavalaria vinda de Aleppo.
Nesta desditosa situação, as forças do Templo lutaram quase até último homem. Desta contenda, temos que enfatizar o comportamento paradigmático do cavaleiro inglês William de Argenson, o porta-estandarte de guerra denominado Beaucéant, que foi decepado dos dois braços, para lhe poderem retirar a bandeira.
Em Março de 1238 morre al-Kamil, sultão do Egipto, e a situação na Terra Santa deteriorou-se. Ventos de guerra percorreram toda essa Nação; porém os cruzados não souberam tirar partido dessa situação!
A Cruzada Francesa
Com o incentivo do Papa Gregório IX, foi iniciada sob o comando de Thibaut IV (conde de Champagne e rei de Navarra) uma nova Cruzada, que aportou em São João d’Acre em 1 de Setembro de 1239.
Iniciou a construção de um castelo em Ascalon, e participou em duas pequenas batalhas, saindo-se airosamente (vitorioso) na primeira, e na segunda, em Gaza, redundou num autêntico desastre militar com a perda de Jerusalém.
As advertências dos senhores feudais, e dos três Mestres em campo, não encontraram eco neste príncipe, partindo à aventura sem saber o que o aguardava! Ordinariamente tinha de aguardar reforços, que não tardariam em chegar, comandados por Richard da Cornwall (Cornualha), porém não foi isso que sucedeu. Quanto as três Ordens, opuseram-se a participar em semelhante suicídio, limitando-se a acolher e tratar os poucos sobreviventes em São João d’Acre.
Thibaut IV |
Excelente diplomata, e um dos maiores poetas líricos do séc. XIII – Dante, teceu-lhe críticas muito abonatórias, (quando se retirou da cruzada, nos bastidores com o fim de despertar o zelo da nobreza, compôs poemas em abono das Cruzadas) – negociou com o sultão de Damasco e com o do Egipto, conseguindo reaver Beaufort e Saphet.
As diferenças de opinião divergem de autor quanto à partida de Thibaut IV; para alguns, foi para evitar atritos de liderança, e achou por bem, retirar-se da cruzada iniciada por ele, dando lugar a Ricardo da Cornualha, que chegaria em Outubro de 1240 a São João d’Acre; para outros, argumentam que Thibaut abandonou a cruzada, desagradado com o desinteresse demonstrado pelas três Ordens, e sobretudo pelas alianças que fizeram. – os Templários aliam-se ao sultão de Damasco e os Hospitalários aliam-se ao sultão do Cairo.
Armas de Richard de Cornwall |
O poderoso conde Ricardo da Cornualha, da Casa Plantageneta, filho do rei John Lackland de Inglaterra e futuro rei da Alemanha e cunhado de Frederich II, apresentou-se na Terra Santa na data prevista. Não participou em nenhuma batalha, mas assinalou a sua passagem no campo diplomático, negociando a libertação dos prisioneiros que ficaram cativos na batalha de Gaza (1239) e, conseguiu a permissão de proporcionar funerais cristãos, aos que tombaram nessa contenda. Também deixou marcas da sua passagem, na reconstrução da cidadela de Ascalon, que havia sido demolida por Saladino. Finalizadas estas tarefas, Ricardo abandonou a Cruzada, depois de assistir à celebração da Pascoa em Jerusalém, em Maio de 1241.
Em Novembro de 1240, com o consentimento de vários dignitários do Templo, Armand de Périgord doou ao Mestre da Ordem de São Lázaro, um terreno em São João d’Acre, no Montsumard, na designada área do Inglês.
A tolerância entre as duas Ordens (assinada em Julho de 1233), não foi duradoira. Romperam as tréguas em 1240, pelo facto de cada uma das Ordens assinarem acordos distintos. Por um lado, os Templários assinaram uma trégua com o sultão de Damasco, beneficiando com a devolução dos lugares santos, e os Hospitalários e Teutónicos, pactuaram com o sultão de Egipto.
Como resultado dessas alianças, o reino latino recebeu Beaufort, Saphet, Galileia, Jerusalém e Belém. A Ordem do Templo, não entrou em letargia, face ao tratado dos Hospitalários, mas para o Templo, avizinhavam-se tempos difíceis por causa desta aliança, por muito pouco tempo que durasse!
Devido à invasão do Império Khwarezmid, pelas hordas dos herdeiros de Genghis Khan, os khwarezmids deambularam perdidos pelas estepes, procurando um porto seguro onde ficar.
Pouco civilizados, devastavam tudo à sua passagem e, impetuosamente tomaram a direção do Egipto.
As-Salih Ismail, sultão do Egipto, não podia suportar semelhantes desordeiros no seu Reino e enviou mensageiros a Barbaquan, seu líder, com o intuito de enviá-los para a Palestina, e foram!… E um novo tormento surgiu para as três Ordens e para o sultão de Damasco. Os khwarezmids trouxeram com eles a dor a morte e a destruição. Então, pela frente, depararam-se com a (infortunada) cidade santa de Jerusalém, que foi saqueada, depois de ter sido evacuada, para Jaffa, pelos Templários e pelos Hospitalários. Os mais renitentes em abandonar os seus haveres (falam em 7.000 habitantes), foram impiedosamente massacrados, ante a impotência das duas Ordens, para conterem tamanha força avassaladora. – Alguns historiadores falam em 20.000 guerreiros, vindos das estepes, devidamente montados a cavalo, disparando os seus arcos mortais.
A queda da cidade santa aconteceu a 23 de Agosto de 1244.
Insatisfeitos com a conquista de Jerusalém, onde estabeleceram a sua base, os khwarezmids, qual praga de gafanhotos, avançaram na direção de Gaza, onde os esperavam as forças egípcias, para lhes prestar apoio.
Sultão Baibars |
Era uma vez… um homem que tinha sido vendido como escravo, por um mercador, ao sultão al-Adil II do Cairo – situação comum naquela época, – Ruknuddin Baibars al-Bundukdari Ibn Abdullah, assim se chamava. Era de elevada estatura, dotado de um porte atlético, de cabelo castanho, e uns penetrantes olhos azuis, que traduzia o seu carácter esforçado e severo, e apresentava uma curiosa mancha branca numa das pupilas.
Tinha nascido na Crimeia, no ano 1223, nas margens do mar Negro, e pertencia à raça turca dos kipchaks. Com estas características, foi imediatamente integrado como membro da guarda pessoal do sultão.
Gradualmente foi subindo de posto, e torna-se um dos mais proeminentes comandantes do exército egípcio. Foi ele quem comandou a cavalaria egípcia na batalha de La Forbie em 1244. O seu nome deixou profundas marcas na história pois, foi o verdadeiro fundador do império mameluco. Atingiu o cargo de sultão, governando de 1260 a 1277.
Santo Cristo!.. – Por ironia do destino, o sultão de Damasco foi obrigado a juntar-se com as três Ordens juntamente com senhores feudais, para fazer frente a um inimigo comum. O sultão fez-se representar com 4.000 soldados e pela sua cavalaria beduína. Assim, prepararam-se para a guerra, lutando ombro a ombro, tropas cristãs e muçulmanas.
Finalmente esse dia chegou, para desgraça das forças envolvidas em campo. A 17 de Outubro de 1244, deu-se o choque entre os dois exércitos, nas proximidades de La Forbie (Herbiya).
A ala esquerda coube aos Hospitalários, ao centro ficaram os Templários e os Senhores feudais e ala direita, ficou coberta pela cavalaria beduína, comandada pelo emir de Al Karak, Na-Nasir Dawud, e al-Mansur, emir de Homs. Dois duros dias durou esta peleja. Deste encontro bélico (segundo os historiadores), resultaram cerca de 30.000 mortos para ambos os lados.
O Mestre Armand de Périgord foi dado como morto (ou desaparecido em combate); o
Mestre dos Hospitalários, Guillaume de Chateauneuf (1242-1258), ferido nesta contenda, e feito prisioneiro. O Mestre da Ordem Teutónica abandonou o campo de batalha. Cerca de trinta Templários e Hospilalários, procuraram abrigo nos muros de Ascalon, que por enquanto, estava em posse dos cristãos.
Num excerto do livro de Michel Picar sobre Os Templários, reza assim sobre o imperador Frederico II:
Sic: Para desgraça da cristandade, o Ocidente vai «delegar» em Frederico II da Alemanha.
Depois de oito anos de espera e de tormentos, a cruzada de Frederico dirige-se para a Palestina mas, durante a viagem, após somente dois dias de travessia, o imperador volta para trás. Motivos de saúde. O novo papa, Gregório IX, desiludido pela atitude hesitante do imperador e irritado pelos acordos que este estabeleceu com o sultão Al-Kâmil, excomunga-o. Tal como os seus predecessores, Gregório não quer nem tréguas nem moras para com os infiéis.
Frederico chega à Terra Santa, finalmente, na Primavera de 1228, a Chipre, onde desembarca com 40 homens. Imediatamente pede o apoio da ordem que melhor conhece. Os cavaleiros Teutónicos auxiliam-no sem reservas quando, a 18 de Março de 1229, depois de uma série de compromissos estabelecidos com os muçulmanos, o imperador pega na coroa e, sobre os degraus do Santo Sepulcro, consagra-se rei de Jerusalém.
Os Templários indignam-se: um excomungado apropriou-se do trono. Tal como se tinha comprometido, por outro lado negligenciou a reedificação das fortificações da Cidade Santa. Exasperadas, as autoridades eclesiásticas da Terra Santa, classificam a cidade como interdita e confirmam a excomunhão de Frederico. Seguro dos acordos feitos com os muçulmanos, o imperador agride os acusadores. Cerca do castelo Peregrino ataca o castelo dos Templários, em Acre. Perante uma tal ignomínia o povo revolta-se. A situação torna-se insustentável para Frederico que, embaraçado, reembarca rapidamente, sem deixar de fazer o último insulto: oferece ao sultão várias catapultas que estavam destinadas à defesa de São João de Acre. Ver-se-á, mais tarde, como os sarracenos se servirão delas contra a cidade que aquelas deveriam defender.
A incursão de Frederico II ao Oriente e a desordem criada pela «cruzada», semeou a discórdia entre as ordens militares. De momento, o Templo está de faca afiada com o Hospital e os Teutões, os quais chegam a fazer alianças contra ele, cada um procurando apoio junto de uma ou de outra facção do mundo muçulmano. Os Templários chegam-se a Damas; os Hospitaleiros ao Cairo. Os beneficiários destes anacrónicos cruzamentos serão as hordas de turcos, mamelucos e karisménios, que devastarão os Lugares Santos em 1244, matando o mestre do Templo e aniquilarão, pura e simplesmente, o exército franco da Palestina. Desta aniquilante digressão, só restarão vinte e seis cavaleiros do Templo, dos trezentos e quarenta iniciais; o mestre do Hospital será feito prisioneiro; o dos Teutónicos foge. Quanto a Frederico II, este não largará a sua presa. A sua vingança é mais importante que o destino da Palestina. Empreende desacreditar os Templários através de toda a Europa.
«Frederico II está na origem das suspeitas que pesam sobre o Templo: ele acusa os cavaleiros de entendimentos com o inimigo, de festejarem os emissários do sultão de Damas, de assistirem à celebração de ritos islâmicos dentro da casa do Templo de Acre. Aliás, tudo isto foi considerado no processo. (12)» Fim de citação.
Escudo de armas: - Esquartelado; I e IV Cruz do Templo em campo de prata; II e III três leões de ouro rampantes coroados de azul em campo de goles.
CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS
1232, 4/Outubro – Chipre; O Mestre Armand é mediador no conflito gerado entre o
clero e os barões da ilha, acerca dos dízimos que estes devem à Igreja.
1232, Ivan (João) Asen II, rei da Bulgária, corta os laços com Roma, tornando a igreja búlgara indepêndente.
1235, Aliança de João Asen, com o imperador bizantino de Niceia contra os Francos.
1237, Junho – Templários massacrados na Síria.
1238, Março – Morte do sultão al-Kamil.
1239, Julho – Fim da trégua assinada entre Frederico II e al-Kamil.
1239, 1/Setembro – Desembarque em Acre da expedição dirigida por Thibaut IV.
1239,13/Novembro - Derrota dos cruzados em Gaza. Reconquista de Jerusalém pelos muçulmanos.
1240, Aliança com o sultão de Damasco e os Templários.
1240, Outubro – Aporta em Acre, a cruzada inglesa, dirigida por Ricardo da Cornualha
1240, Novembro – Armand de Périgord, doa um terreno ao Mestre da Ordem de S. Lázaro.
1241, 23/Abril – Tratado de Áscalon.
1244, 23/Agosto – Tomada definitiva de Jerusalém pelos khwarezmians.
1244,17/Outubro – Desastre de La Forbie. O Mestre Armand de Périgord foi dado como desaparecido em combate.
*++ Fr. João Duarte-Grande Oficial/Comendador Delegado da Comendadoria Sta. Maria do Castelo de Castelo Branco.
*++ Fr. João Duarte-Grande Oficial/Comendador Delegado da Comendadoria Sta. Maria do Castelo de Castelo Branco.
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