segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Aqui repousa o nosso Apóstolo do Oriente

Foto de Nova Portugalidade.

A igreja privativa da Casa Professa foi começada a construir em 24 de Novembro de 1594, à custa dos legados do capitão de Ormuz e Cochim, D. Jerónimo de Mascarenhas, sendo sagrada pelo arcebispo D. frei Aleixo de Meneses, em Maio de 1605. Quando das festividades por ocasião de São Francisco Xavier, em 1624, o templo estava praticamente acabado e a sua decoração interna também a ponto de receber com pompa o novo sarcófago do Apóstolo das Índias.
A capela de São Francisco Xavier, onde se expõe o seu sumptuoso túmulo, foi concluída em 1659, posto que tenha continuado a ser enriquecida, durante as décadas seguintes. A sua estrutura é muito original, pois abre-se para os quatro lados através de grandes portais; um para o transepto, outros dois para a zona da ante-sacristia e finalmente outro para o claustro. Se é assim no piso térreo, igualmente há acesso à sua vista superior através de varandas, uma das quais fica junto à passagem para o coro-alto. 
As paredes são integralmente forradas com talha dourada de fabrico local, onde se incluiram quadros alusivos à vida de São Francisco Xavier, uns de clara origem italiana e outros fruto do engenho de pintores goeses.

A obra mais importante da ourivesaria indo-portuguesa é a caixa de prata deste monumento funerário, aqui numa foto anterior às modificações feitas em 1951. Foi executada em Goa, em 1637, e é claramente obra de artistas indianos, cristãos ou não. Atingiu o preço de 12.000 escudos, e os trinta e dois quadros em prata que o adornam basearam-se, no todo ou em parte, em gravuras do francês Valerien Régnar, impressas em Roma, em 1622, que reproduzem as pinturas de grande dimensão que, durante as festas da canonização cobriram as paredes laterais da igreja de Jesus de Roma, que por sua vez foram inspiradas nos dados relatados na História da Vida de São Francisco Xavier de João de Lucena, de 1600, impressa em Lisboa, e na De Vita B. Francisci Xaveri J., de Orazio Tursellino, publicada em Lion, em 1604. Este conjunto é o mais extenso ciclo hagiográfico xaveriano, com maior número de ícones.
A base do monumento funerário propriamente dito foi oferecido pelo grão-duque da Toscana, Cosimo III de Medice. Já o sarcófago de prata é uma obra indo-portuguesa, executado em Goa, nos anos de 1636 e 1637. Quanto ao soco, só depois do padre Francisco Sarmento ter dado um cochim que estivera sob a cabeça de São Francisco Xavier ao grão-duque, é que este decidiu oferecê-lo, encomendando-o a alguns dos melhores e mais conceituados artistas italianos do tempo.

É composto por um maciço de mármore, paralelipipédico, assente sobre outro mais largo, mas mais baixo, cuja ligação é feita por um ressalto, para melhorar a perspectiva. Este pódio inferior tem mármores amarelos-terra, vermelhos, na parte estrutural, e possui composições em mármore branco de Carrara nas quatro faces, de desenho complexo, com enrolamentos fitomórficos, tudo a enquadrar um escudo à italiana de fantasia.
O segundo nível, paralelipipédico, é feito em mármore azul levemente acinzentado, e cada face tem uma composição constituída por pilastras laterais muito largas, ornadas jarras com flores, e no meio de cada par há quatro belíssimos baixos-relevos em bronze. No primeiro pode ver-se São Francisco Xavier a pregar a nativos das Molucas. Por cima, dois anjos em mármore branquíssimo e de um irreprensível lançamento barroco, seguram um rótulo com enrolamentos vegetais e filactérias, onde se lê: “Nox inimiga fugat”. No segundo baixo relevo, o santo está a baptizar habitantes dessas mesmas ilhas e no conjunto superior, em tudo idêntico aos restantes três, o primeiro dos quais acabámos de descrever, está escrito na filactéria “Ut vitam habeant”. No terceiro relevo a cena é mais dramática, com Xavier a ser atacado por indígenas de Moro, com setas e pedras, e o missionário tenta escapar, atravessando um rio. A legenda superior é a seguinte; “Nihil horum vereor”. Finalmente, a quarta e última evoca a morte de Xavier na Ilha de Sanchoão, enquanto os seus companheiros e um anjo o assistem nesse transe. A legenda é “Major in Occasu”.

As pedras já lavradas, os relevos e demais materiais para o túmulo chegaram a Goa, em Setembro de 1698, levados por Placido Francesco Ramponi, o artista que foi encarregado da sua montagem. A execução propriamente dita, o trabalho de projecto, modelagem e escultura, no entanto, foi da responsabilidade do escultor florentino Giovanni Baptista Foggini. Se é verdade que Ramponi, que escreveu um tão detalhado diário da sua viagem, aliás ilustrado com magníficos desenhos e importantíssimos apontamentos sobre a região, nomeadamente sobre a Botânica, não nos legou a identidade do autor. Porém, no Abecedario Pittorico, publicado em Veneza, em 1753, lê-se que Giovanni Battista Goggini fez várias estátuas que foram dadas ao rei de França Luís XIV, como “…alcuni bassi rilievi, e puttini di marmo, per il Deposito de S. Francesco Saverio in Goa…”. Este artista foi nem mais nem menos do que “architetto primario e primo scultore della Casa Serenissima”, e também “soprintendente dei lavori”, entre 1687 e 1725. Em 1687, adquiriu a fundição que pertencera a Giambologna, situada no Borgo Pinti, o que lhe permitiu executar belíssimos relevos em bronze, como os quatro do monumento de São Francisco Xavier, ou os do túmulo de Galileo Galilei e do altar da capela Corsini, situada dentro da basílica de Santa Maria del Carmine, em Oltranto.

Pedro Dias, Professor Catedrático da Universidade de Coimbra

Foto de Nova Portugalidade.

Foto de Nova Portugalidade.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Portugal, Nação de vocação Atlântica e marítima

Foto de Nova Portugalidade.

Portugal faz parte da Europa quer pela geografia quer pela partilha do substrato cultural comum ao continente, como é natural, e muitas outras semelhanças se poderiam enumerar. Portugal foi por diversas ocasiões tido em conta como potência europeia de primeira linha, tal como nos reinados de D. Manuel I ou de D. João V, altura em que os nossos embaixadores se sentavam à mesa com os agentes de outras nações em pé de igualdade. Ainda assim, os Reis que optaram por não entrar nos conflitos europeus e manter-se afastados das intrigas do centro do continente, concentrando antes as forças na Expansão, foram também os que gozaram uma maior prosperidade e esplendor. Tal explica-se com a simples razão de esses mesmos Reis terem conseguido compreender que uma estratégia inteligente de prosperidade para Portugal jamais passaria por uma política voltada para a Europa, mas sim para o Atlântico e para o mar. Nem poderia ser de outra forma; entalado entre a Espanha e o oceano, nas franjas do continente, só restava ao país aventurar-se pelas águas e expandir-se para o resto do globo, onde teria terreno para se implantar e expandir. 

Sempre que se tentou o contrário, ou seja, concentrar as atenções na Europa, o resultado foi desastroso: dêem-se os exemplos de D. Fernando I ou de D. Afonso V, cujas guerras contra Castela redundaram em fracasso, ou, como supremo paradigma, os políticos liberais do século XIX, que, negando a essência do país (nesta altura já implantado pelo mundo) que governavam, tentaram suprimir a identidade deste através da “europeização”, implantando uma pura imitação dos modelos importados que passaram a dominar a vida nacional. Claro que o resultado foi o completo apagamento de Portugal no palco internacional e a queda num estado de decadência e mediocridade predominantes tanto no Portugal europeu como no Portugal asiático e africano, expressos através de um péssimo desempenho da economia e da falha geral das funções do Estado. O século XIX foi dirigido por políticos predominantemente anti-portugueses, o que só poderia resultar em desastre: se um país tentar ser o que não é, obliterando a sua essência, como é que lá chega? Não chega, e entrega-se à morte. 

Estranha e sombria é, portanto, a política estratégica do regime de 25 de Abril, que, cometendo precisamente o mesmo erro fatal, decidiu apostar de novo na “europeização”, que mais não fez do que destruir a estrutura produtiva do país e apagar a sua relevância e soberania. Hoje, mais não somos do que vassalos de Bruxelas. É este o destino dos descendentes dos Reis de outrora? Como é que a História pode ser honrada assim? 

Os restantes países da Portugalidade, por sua vez, também experimentaram o mesmo processo sofrido por Portugal: o Brasil tentou, a todo o custo, imitar os Estados Unidos da América, negando a sua ligação à terra-mãe onde nasceu, e o resultado está à vista de todos: falhou completamente na sua vendeta contra Portugal ao tentar imitar algo estranho à sua essência. Angola, Moçambique, e outros restantes, também se perderam de si próprios e vagueiam numa indefinição e letargia que os impede de atingir o seu potencial. Só há uma solução para estes problemas: a união de todas estas terras que partilham uma identidade, uma civilização e uma língua. Só quando todos compreenderem que devem regressar à essência primordial da Portugalidade, de Fraternidade e Amizade, partilhando a unicidade que está no âmago de todos eles, é que, finalmente, o esplendor poderá ser de novo vivenciado e celebrado. Resume-se, em suma, a cumprir a verticalidade da essência portuguesa, no sentido de estarmos alinhados com a nossa verdadeira identidade, esquecendo falsas ilusões a respeito de nós mesmos. Só a União faz a força. 

Portugal faz parte da Europa em termos formais, mas em termos espirituais o seu coração está no mar e nos países do Atlântico e dos outros oceanos. Não é na Europa que a solução poderá ser encontrada. Isto não implica que não haja diálogo e colaboração com as nações europeias, mas o cerne da política externa só pode estar na Portugalidade por esse mundo fora, e não num continente do qual sempre fomos diferentes. Está na altura de assumir essa verdadeira identidade. 

Miguel Martins

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A MONARQUIA DOS PORTUGUESES

Desde o primeiro dos dias, em que se constituiu a consciência de uma individualidade portuguesa como Nação e os infanções portucalenses quiseram eleger o mais egrégio dos Infantes como seu primus inter pares, para que a liderasse até à Independência enquanto Estado, nos 771 anos que durou o Reino de Portugal, o Rei dos Portugueses assegurou o apoio de toda a Comunidade Portuguesa, reinando sempre de acordo com a vontade declarada de todo o Reino. 


A Monarquia Portuguesa resultava de uma convenção entre a Comunidade dos Portugueses – primeiro, reunidos em Cortes, depois, na vigência da Monarquia Constitucional, através da representação nas duas câmaras das Cortes – e o Rei, sendo que, o poder régio, nesta tão abençoada Nação, ainda que Pela Graça de Deus, também, o não era menos por Vontade dos Homens, pois nunca assentou as suas bases na teoria medieval absoluta da origem divina do poder, mas antes erigiu o seu trono nas bases do sólido apoio de toda a Grei Portuguesa. 

Miguel Villas-Boas 


O Infante português que os espanhóis cantam

Foto de Nova Portugalidade.

"Por Dios, por la Patria y el Rey lucharon nuestros padres,
Por Dios, por la Patria y el Rey lucharemos nosostros también."

Os interessados na História recente do Reino de Espanha conhecerão as campanhas empreendidas pelos Carlistas, primos ideológicos dos Miguelistas portugueses, contra os governos liberais da Espanha oitocentista. O seu combate desigual, e muitas vezes heróico, marcou indelevelmente os últimos dois séculos da vida espanhola. Teve, também, grande e duradouro impacto político, pois os carlistas, ao contrário dos miguelistas portugueses, conservaram até recentemente papel central nos equilíbrios políticos de poder. Na guerra civil de 1936-1939, que opôs as esquerdas às direitas em brutal e sanguinolento conflito, os carlistas formaram parte da coligação vencedora. Hoje ainda, o ramo carlista congrega alguns monárquicos espanhóis, particularmente nas regiões de Navarra e do País Basco. Menos sabido é que um dos mais celebrados chefes carlistas era português e nascido no Rio de Janeiro. 

O hino carlista, a Marcha de Oriamendi, é conhecido cântico patriótico espanhol. Foi, também, parte do hino nacional espanhol durante o regime do General Francisco Franco. O encontro celebrado na marcha, a Batalha de Oriamendi, foi travado entre os exércitos fiéis a Dom Carlos Maria Isidro, Infante de Espanha e irmão do anterior monarca Fernando VII, de persuasão política tradicionalista e anti-liberal, e o exército liberal de Isabel II de Espanha, sobrinha de Carlos e filha de Fernando. Entre os isabelinos marchavam numerosos ingleses da Legião Auxiliar Britânica, enviados pela Grã-Bretanha para o esmagamento da insurreição carlista. A batalha terminou em rotundo triunfo para os fiéis a Dom Carlos, não obstante a larga superioridade de homens e armas dos isabelinos. O general carlista era Dom Sebastião Gabriel de Bourbon e Bragança, Infante de Portugal.

Simultaneamente neto de Dona Maria I e do filho daquela, Dom João VI (o seu pai, Pedro Carlos de Bourbon e Bragança, era filho da Infanta Mariana Vitória de Portugal, por sua vez filha de Dona Maria e irmã de Dom João VI; a sua mãe, a Infanta Maria Teresa de Portugal, era filha de Dom João VI e neta de Dona Maria), o Infante nasceu no Rio de Janeiro, em 1811, e foi baptizado como Sebastião Gabriel Maria Carlos João José Francisco Xavier de Paula Miguel Bartolomeu de S. Geminiano Rafael Gonzaga de Bourbon e Bragança. Neto, como vimos, de dois monarcas portugueses, Dom Sebastião era, ainda, bisneto do Rei Carlos III de Espanha. Contudo, o único título que carregou desde o berço foi o de Infante de Portugal - o de Infante de Espanha só o receberia em 1824. 

Devido à invasão francesa da metrópole portuguesa, o Infante Dom Sebastião nasceu, como se viu, no Rio de Janeiro, e no Rio de Janeiro residiu até 1821. Nesse ano, retornando a corte portuguesa à Europa, Sebastião seguiu-a também. Não, todavia, para Lisboa. Embora o seu pai tivesse falecido em 1812, Sebastião e a mãe instalaram-se em Madrid no regresso à Europa. A sua mãe, como Infanta de Espanha, o que era por direito do marido já morto; Sebastião, como Infante de Portugal com razoável pretensão aos seus direitos espanhóis. Estes foram-lhe reconhecidos por Fernando VII de Espanha, passando Sebastião a Infante de Espanha e de Portugal.

Com a morte de Fernando VII e a guerra civil entre os partidários de Carlos, defensores da monarquia tradicional e católica, e os de liberais de Isabel confrontando-se pelo futuro da Espanha, o Infante Sebastião acabaria por erguer armas por Carlos. Nisso foi muito influenciado pela sua mãe, Maria Teresa de Portugal, cuja simpatia estava com o partido carlista. Em 1838, de resto, a mesma Maria Teresa casar-se-ia em segundas núpcias com Carlos Maria Isidro, convertendo-se desse modo em Rainha de Espanha para os carlistas. Foi incentivado pela mãe, pois, que o Infante Sebastião se alistou na causa de Carlos, e essa causa defendeu esmeradamente. Oriamendi foi, provavelmente, a maior das vitórias carlistas contra as forças liberais espanholas.

Derrotados os carlistas, Sebastião foi forçado ao exílio e privado de todos os seus títulos espanhóis, passando novamente a assinar apenas como Infante de Portugal. Regressou a Espanha décadas mais tarde, perdoado pelos vencedores e obtendo a recuperação das dignidades que lhe devia o país nosso vizinho. Tentou mais que uma vez a reconciliação entre os ramos desavindos da família, mas sem sucesso. Morreu em 1875 com 63 anos. 

RPB

PAPA DITADOR

O Papa ignorou uma petição de 870 mil assinaturas e não respondeu a uma carta assinada por mais de 50 estudiosos de nível internacional

Nas últimas semanas houve três entrevistas a alguns eminentes Cardeais. A primeira foi concedida em 28 de Outubro de 2017 pelo Cardeal Walter Brandmüller a Christian Geyer e Hannes Hintermeier, do Frankfurter Allgemeine Zeitung. A segunda foi dada em 14 de Novembro pelo Cardeal Raymond Leo Burke a Edward Pentin, do National Catholic Register. E a terceira, do Cardeal Gerhard Müller ao jornalista Massimo Franco, apareceu em 26 de Novembro nas colunas do Corriere della Sera.
O Cardeal Brandmüller manifestou a sua preocupação pela possibilidade de se abrir uma divisão na Igreja. «Levanta questões o simples facto de permanecer sem resposta uma petição com 870.000 assinaturas dirigidas ao Papa para lhe solicitar esclarecimentos e o facto de continuar sem responder a 50 estudiosos de nível internacional. É francamente difícil de entender. Apresentar “dubia” ao Papa, pedindo-lhe que esclareça questões duvidosas, foi sempre uma forma absolutamente normal de dissipar as ambiguidades. Simplificando, a questão é a seguinte: o que ontem era pecado pode hoje ser bom? Pergunta-se, por outro lado, se existem realmente actos – como sempre foi na doutrina constante da Igreja – que são sempre moralmente reprováveis em todas as circunstâncias?Como, por exemplo, o assassinato do inocente ou o adultério? Esta é a questão. Caso, de facto, se devesse responder à primeira pergunta com um ‘sim’ e com um ‘não’ à segunda, isso seria realmente uma heresia e, portanto, um cisma, uma divisão na Igreja.»
Há um perigo de cisma na Igreja e a responsabilidade disso cabe ao “círculo mágico” do Papa, que impede um debate aberto sobre os problemas doutrinários levantados pela “Amoris Laetitia”
O cardeal Burke, que declarou estar sempre em comunicação com o cardeal Brandmüller, formulou um novo alerta «sobre a gravidade de uma situação que nunca cessa de piorar» e reafirmou a necessidade de que todas as passagens heterodoxas da Amoris Laetitia sejam esclarecidas. Assistimos de facto a um processo que constitui «uma subversão das partes essenciais da Tradição. Para além do debate sobre a moral, está cada vez mais erodido na Igreja o sentido da prática sacramental, especialmente no que diz respeito à Penitência e à Eucaristia.»
O Cardeal dirige-se novamente ao Papa Francisco e a toda a Igreja, frisando «quão urgente é que o Papa, exercendo o ministério que recebeu do Senhor, possa confirmar os seus irmãos na fé, exprimindo claramente o ensinamento sobre a moral cristã e o significado da prática sacramental da Igreja».
O cardeal Müller, por sua vez, afirma existir o perigo de um cisma dentro da Igreja e diz que a responsabilidade da divisão não é dos Cardeais das dubia sobre a Amoris laetitia nem dos signatários da Correctio filialis ao Papa Francisco, mas do “círculo mágico” do Papa, que impede um debate aberto e equilibrado sobre os problemas doutrinários levantados por essas críticas:
Agora os católicos (e os não-católicos) são classificados conforme forem considerados “amigos” ou “inimigos” do Papa
«Atenção: se a Cúria Romana der a entender que se cometeu uma injustiça, poderia desencadear-se, quase por inércia, uma dinâmica cismática da qual seria depois difícil sair.Creio que seria importante escutar os Cardeais que expressaram as suas dúvidas sobre a Amoris Laetitia ou mesmo os 62 signatários de uma carta com críticas até excessivas ao Papa, em vez de qualificá-los de fariseus ou revoltosos. A única maneira de sair desta situação é um diálogo claro e franco. Pelo contrário, tenho a impressão de que no “círculo mágico” do Papa há quem se preocupe, acima de tudo, em espiar os seus presumíveis adversários, impedindo assim uma discussão aberta e equilibrada. O dano mais grave que eles causam à Igreja é o de classificar todos os católicos de acordo com as categorias “amigo” ou “inimigo” do Papa. Causa perplexidade que um conhecido jornalista ateu [Eugenio Scalfari, fundador do La Repubblicase gabe de ser amigo do Papa. E, inversamente, que um bispo e um cardeal católico como eu seja difamado e qualificado como adversário do Santo Padre. Não acho que essas pessoas possam dar-me lições de teologia sobre o primado do Romano Pontífice».
Tal como nos regimes comunistas, a denúncia anónima conquistou no Vaticano um poder decisivo nas destituições
Segundo o seu entrevistador, o cardeal Müller ainda não se recuperou do trauma causado pela exoneração de três dos seus colaboradores, exactamente antes de lhe ter sido negada a recondução ao cargo de Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, no passado mês de Junho. «Eram bons e competentes sacerdotes que trabalhavam para a Igreja com dedicação exemplar», segundo a sua opinião. «Não se pode destituir uma pessoa apenas por capricho, sem provas nem processo, só porque alguém denunciou anonimamente as suas vagas críticas ao Papa…».
«Qual é o regime em que as pessoas são tratadas desta maneira?», perguntou Damian Thompson em The Spectator no passado dia 17 de Julho.
E responde que a destituição dos colaboradores do Cardeal Müller «traz à mente alguns dos seus predecessores mais autoritários ou até mesmo algum ditador latino-americano que abraça as multidões e mostra um estilo de vida humilde enquanto os seus lugar-tenentes vivem no temor da sua cólera». Este aspecto do pontificado do Papa Francisco é agora tema de um livro que acaba de ser publicado com o significativo título O Papa ditador [“Il Papa Dittatore”]. O autor é um historiador formado em Oxford que se oculta sob o pseudónimo de “Marcantonio Colonna”. O estilo é sóbrio e documentado, e as acusações dirigidas ao papa Bergoglio são fundamentadas e abundantes.
Muitos dos elementos em que se baseia para formular as suas acusações já eram do conhecimento público. O que é novo é a acurada reconstrução de uma série de “quadros históricos”: [1] Os bastidores da eleição do Papa Bergoglio, dirigida pela “máfia de Saint Gallen”; [2] As andanças de Bergoglio na Argentina antes da sua eleição; [3] Os obstáculos encontrados pelo Cardeal Pell ao tentar fazer uma reforma financeira da Cúria; [4] As mudanças na Pontifícia Academia para a Vida; [5] A perseguição aos Franciscanos da Imaculada e a decapitação da Soberana Ordem Militar de Malta.
O medo é a nota dominante da Cúria sob a lei de Francisco
A comunicação social, sempre pronta a fustigar desdenhosamente qualquer caso de má governação e de corrupção, silencia-se diante desses escândalos. O principal mérito deste estudo histórico consiste em tê-los trazido à luz. «O medo é a nota dominante da Cúria sob a lei de Francisco, juntamente com a desconfiança mútua. Não se trata apenas de informadores que procuram vantagens relatando uma conversa privada, como constataram os três subordinados do Cardeal Müller. Numa organização onde as pessoas moralmente corruptas continuam a exercer os seus cargos e são até promovidas pelo Papa Francisco, há uma subtil chantagem na ordem do dia. Um sacerdote da Cúria ironizou assim: Costuma dizer-se que o importante não é o que sabes mas quem conheces. Assim é o Vaticano: O importante é o que sabes daqueles que conheces».
Em suma, o livro de Marcantonio Colonna confirma, aquilo que admite o Cardeal Müller na sua entrevista: a existência de um clima de espionagem e denúncia que o antigo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé atribui a um “círculo mágico” que condiciona as decisões do Papa, enquanto o historiador de Oxford o imputa ao próprio modus gubernandi do Papa Francisco, que ele compara aos métodos autocráticos do ditador argentino Juan Domingo Perón, do qual o jovem Bergoglio era um partidário.
Poder-se-ia responder nihil sub sole novum (Eclesiastes 1:10). A Igreja teve muitos governos deficientes. Mas se este pontificado conduz realmente a uma divisão entre os fiéis, como sublinharam os três Cardeais, os motivos não podem limitar-se ao modo de governar de um Papa, mas devem ser procurados em algo absolutamente inédito na História da Igreja: o afastamento do Romano Pontífice da doutrina do Evangelho, que ele tem, por mandato divino, o dever de transmitir e guardar. Este é o cerne do problema religioso do nosso tempo.
Roberto de Mattei
Fonte: Corrispondenza Romana

Publicado por: Arautos d'El-Rei

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Preferia Ser Súbdito

É preferível ser Súbdito numa Monarquia, do que Vassalo numa República!
Hoje nas Monarquias já não existem propriamente súbditos, mas cidadãos de pleno direito, iguais perante a Lei e que são muito estimados pelo Seu Rei/ Rainha e que vê essa estima retribuída e gratificada pelo Povo, que entende ter no Monarca o bem mais precioso da Nação. O Rei assume-se como um funcionário da Nação e do Povo acautelando por cumprir qualquer dos imperativos intrínsecos à Função Real, encarando-a como serviço e assim reinando rectamente.
A ideia de que numa Monarquia o Povo se teria de desfazer em obséquios perante o Rei e diante de uma nobreza a pairar sobre os demais, é completamente errada e mesmo absurda, e só pode resultar de 107 anos em que os escribas do regime republicano, com camada sobre camada de ‘entulho’, reescreveram a História, formatando o Povo orientando-o para próximo do pensamento único, tornando a república um oratório (quase) indiscutível.
Até porque, e desfaça-se a atoarda, já nos inícios do século XX, El-Rei Dom Manuel II de Portugal, apesar de por simpatia ser condescendente com o tradicional acto protocolar do gesto do Beija-mão dispensado aos Reis – reminiscência da adoratio dedicada aos Césares -, Sua Majestade Fidelíssima, não o apreciava, tendo mesmo sido o primeiro Rei de Portugal e no Mundo a abdicar do Cerimonial do Beija-mão ao não dar a mão a beijar na cerimónia de apresentação de cumprimentos após a Sua Aclamação.
Primorosamente educado, nunca fazia sentir aos quantos d’Ele se acercavam que era o Rei’, escreveu Costa Cabral, in “Memórias II”. Efetivamente, El-Rei Dom Manuel II de Portugal foi o primeiro Monarca no mundo a introduzir uma forma de relacionamento moderno com os súbditos, sendo mesmo, Sua Majestade Fidelíssima, o primeiro Chefe de Estado mundial a estabelecer uma relação de proximidade pública com o Povo, pois esse relacionamento ia ao encontro do que pretendia: informar as vantagens da Monarquia e unir a Coroa com os Portugueses.
Também, Seu Augusto irmão foi exemplo da mais genuína simpatia e bem-querer ao Povo português. In ‘Carta do Tenente-Coronel Joaquim Mouzinho de Albuquerque ao Príncipe Real D. Luís Filipe’ pode-se bem constatar que reinar, longe de ser um privilégio, é um ofício de serviço em prol da Comunidade: ‘Ninguém como o Rei tem de se esquecer de si para pensar em todos, ninguém como ele tem que levar a abnegação ao maior extremo, ninguém como ele precisa de ser soldado na acepção mais lata e sublime desta palavra. O Rei é uma sentinela permanente que não tem folga. Enquanto vive, tem o Rei de conservar os olhos sempre bem abertos, vendo tudo, olhando por todos. Nele reside o amparo dos desprotegidos, o descanso dos velhos, a esperança dos novos. O Rei tem de se esquecer de si para pensar em todos.’ E, continua, Mouzinho de Albuquerque in ‘Carta…’ a SAR O Senhor Dom Luís Filipe de Bragança, (21/03/1887 – 01/02/1908), 5.º Príncipe Real de Portugal (jurado herdeiro do Trono, em Maio de 1901), 4.º Príncipe da Beira e 22.º Duque de Bragança, um Rei a Ser, que viu a Sua jovem vida, ainda nos primeiros capítulos, ceifada aos 20 anos, – juntamente com a D’El-Rei Dom Carlos I de Portugal, Seu Pai – a 1 de Fevereiro de 1908 pelo terror republicano dos facínoras da organização Carbonária, no assassinato que ficou tristemente conhecido na nossa História como ‘O Regicídio’, e que, com estas mortes, num período tão abundante de esperanças, acontece o primeiro sinal das mais trágicas desilusões: ‘Enquanto vive tem o Rei de conservar os olhos sempre bem abertos, vendo tudo, olhando por todos. Nele reside o amparo dos desprotegidos, o descanso dos velhos, a esperança dos novos; dele fiam os ricos a sua fazenda, os pobres o seu pão e todos nós a honra do país em que nascemos, que é a honra de todos nós!’Ainda de tenra idade, com apenas cinco anos, Dom Luís Filipe deu prova dessa bondade para com os outros, quando uma humilde mulher se aproximou do seu Príncipe Real e se ajoelhou a seus pés para em seguida lhe agarrar e beijar as mãos uma após a outra, ao que D. Luís Filipe retorquiu: ‘ Levante-se, eu não sou Deus!’
Era um grande futuro que estava a ser preparado para Portugal, com um Príncipe assim, que havia de levar novamente o País à cumeada da Glória e aprontar para este tão grande Povo mais grandes feitos. ‘Viana do Castelo acarinhou-o. As mais formosas raparigas o saudaram, com seus trajos garridos, seus sorrisos e encantos; abriram-se para ele todas as graças da lindíssima cidade e no seu hotel, já familiarizado, conversou, riu, fez perguntas ao Coronel Lacueva, comandante militar, e a quantos se lhe aproximaram. O alto Minho chamava-o; Ponte da Barca, Monção, Caminha, disputavam-no e como nessas encantadas regiões tivesse sido mais familiar, pois os políticos andavam desviados de seus passos, ao contrário do sucedido no Porto’,Rocha Martins in D. Carlos, pp. 409 – 412.
Em termos culturais, foi durante os reinados da Dinastia de Avis que se verificou a maior aculturação dos Príncipes e reflexamente a de Portugal. O gosto pelos autores clássicos, pelas letras, resultado da esmerada educação dos Príncipes da Dinastia de Avis, propiciou a difusão dos textos clássicos. Era a introdução da mentalidade Humanista do Renascimento em Portugal. É com o início da Dinastia de Avis que, de facto, a sociedade portuguesa sofre a sua maior metamorfose. Para começar a língua portuguesa toma a sua característica e inconfundível fisionomia que é enriquecida com os neologismos que advém do contacto com as obras clássicas.
A Dinastia de Bragança foi berço de Reis preclaros e profundamente criativos: Dom João IV, de acordo com Joaquim Veríssimo Serrão, ‘para além do monarca e do restaurador, impõe-se considerar nele o artista e o letrado, o amador de música que, no seu tempo, esteve à altura dos maiores de Portugal.’ De facto, deve-se a El-Rei Dom João IV, a autoria do Hino Natalício, Adeste Fidelis. Do ponto de vista cultural o reinado de Dom João V é profícuo, com Dom José I dá-se a refundação da Universidade em 1772 e a instituição de uma Biblioteca Pública. Já Dom Luís I traduzia Shakespeare, pintava, compunha música e executava com mestria o Violoncelo e organizou uma Galeria de Pintura aberta ao público na Ajuda, El-Rei Dom Carlos I foi um dos melhores aguarelistas da Sua época e o melhor pintor a pastel português da Sua era, pois a pintura com esta técnica não admite correcções, e as telas do monarca até se assemelham a óleos que poderiam ombrear com os mais renomados pintores mundiais do Seu tempo. Porque será que hoje, em República, a Cultura tem para os responsáveis políticos um papel tão irrelevante?!
Quanto à Rainha de Portugal foi sempre a Primeira Senhora do País e como tal a mais alta representante da Mulher Portuguesa; ora na república tentam converter esse papel de símbolo máximo da identidade da mulher portuguesa num sucedâneo que é o de primeira-dama, só que a mulher de um presidente da república não pode assumir esse atributo uma vez é apenas uma cidadã comum que não têm qualquer incarnação histórica da Nação e das suas mulheres, nem pode representá-los uma vez que não recebeu qualquer mandato, carecendo mesmo, como é o caso de Portugal, de consagração constitucional – e muito menos uma ex-consorte presidencial. Assim sendo, a titularia de primeira-dama é uma tentativa das repúblicas em suprir a falta de uma Rainha que, realmente, representa as naturais do País e as famílias.

O conceito de Povo, do qual todos somos parte, não tem qualquer depreciação nem se distingue com concepções aristocráticas de outras classes, distingue-se sim da multidão, da turbamulta, pois ‘o Povo não é uma multidão unida de qualquer maneira mas antes como uma multidão unida pelo consenso do direito e pela utilidade comum.’, como o descreveu Cícero. Isto é, o Povo é usualmente concebido como um conjunto de indivíduos, que num dado momento histórico constitui a Nação. POVO E NÃO POPULAÇÃO! Pois não se trata apenas de um conjunto de pessoas que residem habitualmente num determinado território.
A Nação é uma comunidade estável constituída, historicamente, com base num território, numa língua, e com aspirações materiais e espirituais comuns. A Nação é pois o agregado de indivíduos constituído por vontade própria e não reunido de uma forma acidental. Por isso o Povo não pode ser apenas a margem de manobra dos políticos republicanos.
O que falta, então, para que Nação e Povo recuperem a sua expressão ampla?!
Falta o Rei de Sua Nação e do Seu Povo, independente e livre de estranhas tutelas!
Recorde-se a divisa d’ El-Rei D. João II, Pola Ley e pola Grey – Pela Lei e pelo Povo’, figurada depois num Pelicano, alimentando as crias com o seu próprio sangue, isto porque o pelicano é um animal muito devoto à sua prole, que perfura o seu próprio peito e alimenta as suas crias com o seu sangue. Assim numa Monarquia o Povo é ele uma pessoa jurídica, e no Reino de Portugal, utilizou-se, como equipolente, a noção de Grei, do grego grege – grupo -, pelo que, assim, o Povo aparece na divisa de D. João II ‘Pola ley e polagrey‘, não como uma classe ou a camada mais baixa da população, mas como a totalidade da Comunidade. É por isso que, D. Francisco de Almeida definiu o Povo ou a Grei como a ’congregação de nossos parentes, amigos compatriotas, a que chamamos república’, pelo que a isso não é alheio a visão voluntarista de Reinar, de dever perante o Povo que os Reis de Portugal sempre tiveram: Reinar em prol do Bem Comum; até porque a Monarquia Portuguesa era uma verdadeira Monarquia Popular, em que a Coroa, o Poder Real, a Graça de Reinar era transmitida por intermédio da Comunidade, sendo a Aclamação Popular o passo jurídico que verdadeiramente fazia o novo Rei, um Rei Eleito pelo Povo e para o Povo, ou seja, para reinar para o bem do Povo, para o bem da Comunidade, da Grei, da Res Publica. O Rei traduzia a vontade nacional, sentindo com o Seu Povo, fazendo seus os problemas deste e transmitindo as suas ânsias aos políticos. O Rei tinha de pôr em primeiríssimo lugar os interesses do próprio Povo e da Nação tendo por dever fundamental reinar ’em prol do comum e aproveitança da terra’.
O Rei, o Supremo Magistrado da Nação que, acima de tramas partidárias, independente de um calendário político, dispõe da equidistância e da legitimidade para actuar como moderador entre as várias facções políticas ou demais grupos da sociedade civil evitando más políticas, más leis, e mesmo conflitos e efervescência social. Como estatuía o Artigo 71.º da Carta Constitucional de 1826: ‘O Poder Moderador é a chave de toda a organização política e compete privativamente ao Rei, como Chefe supremo da Nação, para que incessantemente vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos mais Poderes Políticos.’ Este Poder competia privatisticamente ao Rei, mas não era um poder pessoal, mas para arbitrar, digamos que uma fonte de imparcialidade, uma possibilidade de travão e contrapeso contra políticos eleitos e suas disposições que poderiam procurar obter poderes maiores aos atribuídos pela Constituição, e assim, em último caso, até mesmo uma cautela contra a ditadura.
Mas mesmo que ainda existissem súbditos no sentido lato da palavra, mais valia ser súbdito numa Monarquia do que um lacaio encarneirado, contribuintes dispostos em fila indiana, uma multidão amorfa, uma massa ignara, que os políticos que sobraçam o poder pretendem que, os cidadãos de uma república hodierna, sejam.
A generalidade das repúblicas nem são democracias – sim pasme-se: república não é sinónimo de democracia -, até porque das 135 repúblicas que estão contabilizadas apenas o somítico número de 53 são verdadeiras democracias. Antes, a generalidade das repúblicas, mesmo as que não se confundem com ditaduras, estão presas a um sistema que não é mais do que o poder pessoal organizado. Nesse Estado das Coisas republicano, ao esquadro e compasso maçónicos, junta-se a aritmética economista liberal e o poder pessoal de corporações, famílias, facções que se assenhoraram das repúblicas transformando a Comunidade numa soma bruta de indivíduos e o governo da liberdade ficou sendo a tirania das minorias, que têm como propósito garantir aos seus detentores e sequazes os melhores cargos, os melhores negócios à sombra da qual se fabricam, sem decoro, fortunas, essa sim uma verdadeira Corte, mas de oligarcas. Hoje é mínimo o número de votantes quando comparado com os eleitores escritos o que revela esse distanciamento da maioria face à minoria que a domina não por génio ou superioridade intelectual, mas apenas porque se apropriou dos meios de poder, coacção e opressão. A história sempre confirmou isso: os mais pobres e os sem poder não têm como se afirmar!
Mas se na Idade Média os mais pobres não reclamavam do destino para o qual haviam nascido – que parecia ser inevitável – e comiam raízes e bolotas, vivendo dos bodos comunitários e da caridade da Igreja, hoje a maioria não pode ser tomada por ignara, nem em carne para holocausto ou epidemias.
Não pode ser coincidência que os Países mais democráticos sejam Monarquias, que os Países Mais desenvolvidos são Monarquias, que os Povos Mais Felizes vivem em Monarquias, que os Países Menos Corruptos são Monarquias, que os Países com Maior Liberdade de Imprensa são Monarquias, que os Países com os Salários Mais Elevados são Monarquia, que…, que…, que….
O Povo não pode ser apenas a margem de manobra dos políticos republicanos. Recordemos a violenta crítica do método demoliberal que J. Pedro de Oliveira Martins deu à estampa no século XIX, em As Eleições‘As eleições liberais individualistas são o sofisma da representação; não por vício dos homens, embora os homens sejam viciosos, mas por essência do errado princípio que os dirige: só quando, outra vez, se compreender (e agora conscientemente) que a Sociedade é um corpo vivo, e não um agregado de indivíduos, só então tornará a haver representação verdadeira e ordem na democracia.’
É, POIS, UM REI QUE QUEREMOS!, pois só um Rei traduz a vontade nacional, sentindo com o Seu Povo e a Sua Nação. O Povo não é uma amálgama de indivíduos, mas um conjunto de entes que num dado momento histórico constitui a Nação, uma comunidade estável constituída por vontade própria, historicamente, com base num território, numa LÍNGUA, e com aspirações materiais e espirituais comuns. Ora se a Nação estiver constituída em Reino, e uma vez que Monarquia é uma instituição que contém um peso emblemático, todos se sentirão parte de um Todo.
Ser Rei é ser Pai duma Nação, que dá olhos à Lei cega, que obriga a pôr certas as contas que andam tortas, que ouça tanto júbilos como queixumes; ou seja, uma Mão Justa auxiliada pelas forças vivas da Comunidade.
Um Rei nunca olhará convenientemente para o lado, nunca se enclausurará, mas desempenhará a Sua função de Monarca com brio, sem cair no desvario, no excesso, sem se deixar embriagar de poder e deslumbrar pelos aplausos! E defenderá a Sua cultura, a Sua Língua e a Nação, que encarna historicamente, como mais ninguém o poderá fazer.
Por isto tudo: MAIS VALE SER SÚBDITO NUMA MONARQUIA DO QUE LACAIO NUMA REPÚBLICA!

Miguel Villas-Boas |Plataforma de Cidadania Monárquica