segunda-feira, 30 de maio de 2011

MESTRE GERARD DE RIDEFORT



GERARD DE RIDEFORT (1185 − 1189)


Era origem flamenga e pertencia à nobreza de Flandres. 
Como filho mais novo de uma linhagem de herdeiros, perdia os direitos sucessórios.

Sem possessões nem bens, rumou à Terra Santa onde permanece ao serviço do conde Raymond III de Trípoli, dele recebendo todo o apoio necessário e prometendo-lhe a mão de Lúcia de Botrun, união que lhe daria uma parte valiosa de terra no Condado de Trípoli; mais tarde o conde quebra a promessa em detrimento de um outro cavaleiro, granjeando um inimigo de respeito!...

Só, parte para Jerusalém onde adoece à chegada. Acolhido e tratado pelos Templários, decide ingressar nas suas fileiras no ano de 1180.

A fama que o precedia deu os seus frutos! É elevado a Senescal em 1183, e sobe ao mais alto grau em 1185, quando é eleito Mestre da Ordem!
Não se sabe o que motivou os treze membros do Capítulo Geral (oito cavaleiros, quatro sargentos e um capelão irmão) a eleger Gerard de Ridefort, em vez do Comendador de Jerusalém Gilbert Erail. Provavelmente, os constantes ataques de Saladino tiveram um peso preponderante na eleição deste cavaleiro?!

Guy de Lusignan
Balduíno IV morreu em 1185 minado pela lepra. Sem herdeiros directos, legou o trono ao seu sobrinho Balduíno V, filho de Sybille sua irmã, quando atingisse a maior idade para governar, confiando a regência a Raymond III de Trípoli.
Mas o trono fica mais uma vez vago! Balduíno V falecera passados meses após a morte do tio, dando origem a uma luta pela sucessão.
Por um lado, seguindo as instruções testamentais de Balduíno IV, Raymond III de Trípoli tem o apoio dos barões da Terra Santa e, na oposição, com o incentivo de Gerard de Ridefort apoiado por Renaud de Châtillon e pelo Patriarca de Jerusalém, Heraclio, está Sybille que entretanto ocupava o trono e, em 20 de Julho de 1186 coroa rei o seu esposo Guy de Lusignan no Santo Sepulcro, levando Raymond III a pactuar com Saladino.

O novo rei de Jerusalém negou-se a sancionar Renaud de Châtillon pelas incursões feitas no território de Saladino em 1185. Perante a recusa, Saladino pretende invadir o reino mas, terá de cruzar as terras de Raymond, que se vê numa situação embaraçosa. Os acordos com o sultão impelia-o a deixá-lo passar mas, não permitiria o massacre dos cristãos!

Honrando o compromisso, Saladino entrou na Galileia, atravessou Tiberíades e Nazaré numa demonstração do poder das suas forças.
O Mestre Gerard de Ridefort viu-se na contingência de recorrer à guarnição de Nazaré, mobilizando os 90 cavaleiros que asseguravam a vila, deixando-a  desprotegida.

Batalha de Cresson
A 1 de Maio de 1187, apesar dos rogos de Roger des Moulins, Mestre dos Hospitalários e de Jacques Mailly marechal do Templo, o Mestre Gerard lançou 140 a 150 cavaleiros contra 7.000 guerreiros Aiyubides, comandados por al-Afdal, filho de Saladino, na batalha de Cresson.
Desta batalha conta-se terem escapado somente três cavaleiros, entre eles encontrava-se o Mestre Gerard. O marechal do Templo, o Mestre dos Hospitalários assim como outros cavaleiros do Templo foram mortos, e os sobreviventes foram capturados e decapitados.
Em consequência desta ocorrência, a população de Nazaré foi na maioria feita cativa.

No intuito de defender o Reino de Jerusalém contra a ofensiva de Saladino, o Mestre  Gerard de Ridefort viu-se forçado a empregar o dinheiro do Templo no investimento em soldados de infantaria, doado por Henrique II de Inglaterra como parte da penitência por ter mandado assassinar Thomas Becket, Arcebispo de Cantuária.

Para garantir a sobrevivência dos Estados Latinos do Ocidente, o rei de Jerusalém Guy de Lusignan e Raymond III de Trípoli reconciliaram-se, e prepararam-se para o próximo embate com o Sultão, cujos movimentos no mês de Junho, não deixavam margens para dúvidas.

A BATALHA DE HATTIN

Comecemos pela movimentação de Saladino:

− Em 27 de Junho de 1187, num sábado, Saladino chegou a al-Uqhuwan, no extremo sul do lago Tiberíades, e assentou arrais próximo da aldeia de Sinnabra, junto a um velho castelo em ruínas da dinastia dos Omíadas.
No dia 30 ele muda-se para noroeste da aldeia de Kfar Sabt, transportando somente o material ligeiro, deixando a bagagem pesada em al-Uqhuwana.
Carga de cavalaria templária
A aldeia pertencia à abadia de Monte Tabor, e fica próximo de um planalto de onde se avista a estrada que liga Acre com o Vale do Jordão e a Transjordânia. A sudeste de Kafr Sabt a estrada serpenteia ao longo da ravina Fidjdjas, que proporciona a maior descida gradual na região da Jordânia. Subindo a rua da aldeia, vislumbra-se o planalto, assim como o Monte Tabor, nas montanhas do nordeste de Nazaré, Monte Tur’an e os Cornos de Hattin. O terreno a oeste e a noroeste de Kafr Sabt, de fácil percurso, liga à estrada principal que nos conduz a Acre através de planuras ou vastos vales. A cerca de 2 Km a leste da aldeia, numa via provavelmente de traçado romano, a estrada vai para nordeste em direcção a Tiberíades.

O exército de Saladino possivelmente terá avançado para Kafr Sabt pelo caminho ascendente ao longo da ravina Fidjdjas, podendo ao mesmo tempo, caso fosse necessário, facultar-lhe um recuo rápido para o Vale do Jordão.

Em Wadi Fidjdjas a água corria em abundância graças a um aqueduto, legado dos tempos de Tiberius.
Ao ocupar a aldeia de Kafr Sabt, Saladino tinha o controlo da estrada principal do acampamento das tropas cristãs (Saffuriya/Saforie de Tiberíades) e, eventualmente terá movido parte do seu exército para Lubiya, que dista 4 Km (de uma subida acessível) de Kafr Sabt, para também obter o domínio dessa estrada.

A 2 de Julho, Saladino (que entretanto transportara o equipamento de cerco de al-Uqhuwana) oportunamente cercou a cidade de Tiberíades na expectativa de induzir as tropas francas a abandonar Springs de Saforie, para resgatar a capital da Galileia; o seu objectivo não foi atingido, e a cidade foi ocupada.

Supostamente as forças cristãs deixaram Saforie no início da manhã a 3 de Julho, uma vez que a distância que separava dos dois exércitos do ponto de reunião fica a 30 Km, e acamparam perto da estrada romana de Tiberíadas.

Sob os olhares atentos dos exploradores muçulmanos, todas estas manobras foram observadas, dando tempo a Saladino para posicionar o seu exército.

Na manhã de sábado, o exército cristão empreendeu a marcha, tendo como objectivo alcançar a nascente de Hattin. Porém, Saladino surpreendeu-os interrompendo a sua progressão; primeiro haviam de transpor os muçulmanos que aguardavam as abordagens, depois descer a encosta − sem a protecção dos soldados de infantaria que não tinham chegado ainda − e finalmente suprimir os arqueiros que lhes faziam frente em torno da água; “na versão francesa relatam − que as tropas fracassaram na tentativa de chegar à nascente do Hattin, parando no cume de uma montanha chamada Carnehatin, ou seja os Chifres de Hattin, e que Raymond de Trípoli o aconselhou a acampar aí, e que o rei aceitou o conselho dele”; outra versão sugere que “Raymond avançara para a descida íngreme até ao Lago de Tiberias, solicitando ao rei para seguir em frente com urgência, para que o exército pudesse abrir caminho para a água. O rei prometeu fazê-lo, mas, pela pressão exercida pelos muçulmanos, subitamente mudou de ideia dando ordens para acampar no local”.

“Raymond de Trípoli considerou esta decisão um erro fatal; um impulso vigoroso para o lago poderia ter salvo o exército. Ao acampar no árido planalto, a derrota seria inevitável”.

Prevendo uma possível fuga para o lago, Saladino mandou erguer um anel de fogo rodeando os cristãos, tornando o ambiente irrespirável.
  
Saladino ordenou a seu sobrinho Taqi al-Din o comando da ala direita do exército e Muzaffar al-Din comandava a ala esquerda, ficando o centro para Saladino. As duas alas pressionaram o exército cristão, ficando completamente cercados e o centro muçulmano atacava por trás.
Batalha dos Cornos de Hattin
O Libellus de Expugnatione Terrae Sanctae diz que as forças do Templo ficaram na traseira sob um ataque de esmagamento mouro. O choque da turba muçulmana ao centro e na retaguarda, sugere que a mourama carregava no terreno elevado no sul contra o exército cristão, que estavam avançando para o lado leste ao longo do vale de Tur’an.
Sedentos homens e cavalos, depois de duas cargas de cavalaria repelidas pelos muçulmanos, as forças cristãs continuaram a lutar apeadas.
Assim que os muçulmanos capturaram a Verdadeira Cruz, o exército cristão assumiu a sua derrota.
Raymond III de Trípoli logrou pôr-se a salvo, mas o Mestre do Templo, Gerard de Ridefort, o rei Guy de Lusignan e Reinaldo de Châtillon foram capturados por Saladino.

Os Templários, Hospitalários e os soldados que não aceitaram converter-se ao Islão, foram executados, mas a instâncias de Guy, o Mestre foi poupado.

“Quando a batalha se deu por concluída, o sultão sentou-se numa tenda. O rei Guy foi introduzido na tenda, e foi convidado a sentar-se a seu lado. Sedento e acalorado, o rei Guy aceitou a taça que Saladino lhe estendia coberta de neve?! e água. Quando o rei passou a taça a Renaud de Châtillon, o sultão afastou o copo, argumentando, que este homem danado não deve beber a água sem minha autorização.

O sultão falou com Renaud repreendendo-o pela sua falta de fé e de sua tentativa de ataque contra as duas cidades de Medina e Meca. O próprio Saladino levantou-se e com sua própria mão, degolou o Senhor de Kerak. Um receio de violência assomou ao rosto do rei Guy, mas Saladino tranquilizou-o”.
Saladino, astuciosamente consegue a rendição da cidade de Gaza e das fortalezas vizinhas e solta os dois prisioneiros.

(O relato que se segue, descreve os termos da batalha numa tradução que tentámos reproduzir na íntegra).

Vamos dizer-vos, Senhor Archumbald, mestre dos Hospitalários da Itália, e os irmãos a respeito de tudo que ocorreu nas terras além-mar.

Voz deveis saber que o rei de Jerusalém estava em Saffuriya em torno da festa dos Apóstolos Pedro e Paulo (29 de Junho), com um enorme exército de pelo menos 30.000 homens. Ele tinha sido devidamente reconciliado com a contagem de Trípoli, e da contagem foi com ele no exército.

«And behold, Saladin, the pagan king, came against Tiberias with 80,000 cavalry and captured it.»
E eis que, Saladino, o rei pagão, veio contra Tiberíades com 80.000 cavaleiros.

«The king of Jerusalem was informed, and he moved from Saffuriya and went with his men against Saladin.»  
O rei de Jerusalém foi informado, e ele mudou de Saffuriya e foi com seus homens contra Saladino.

«Saladin attacked them at Meskenah on the Friday after the feast of the Apostles Peter and Paul (3 July).»
Saladino atacou em Meskenah na sexta-feira após a festa dos Apóstolos Pedro e Paulo (3 de Julho).

«Battle was joined, and for the whole day they fought bitterly.» 
Batalha foi juntado, e para todo o dia eles lutaram amargamente.

«But night put an end to the strife.» 
Mas a noite pôs fim à contenda. 

«With the coming of night, the king of Jerusalem pitched his tents near Lubiyah, and next day - the Saturday - he set off with his army.» 
Com a chegada da noite, o rei de Jerusalém suas tendas perto Lubiyah, e no dia seguinte - o sábado -, ele partiu com seu exército. 

«At around the third hour the master of the Temple charged with all his brothers.» 
Por volta da hora terceira o mestre do Templo, acusados de todos os seus irmãos. 

«They received no assistance, and God allowed most of them to be lost.» 
Eles receberam nenhuma assistência, e Deus permitiu que a maioria deles seja perdido.

«After that the king with his army forced his way with great difficulty to a point about a league from Nimrin, and there the count of Tripoli came to him and had him pitch his tents near a mountain that is like a castle.»
 Depois que o rei com seu exército forçou seu caminho com muita dificuldade, até um ponto a uma légua de Nimrin, e não a contagem de Trípoli foi ter com ele e ele tinha suas tendas perto de uma montanha, que é como um castelo. 

«They could only get three tents up.» 
Elas só poderiam receber até três tendas. 

«Once the Turks saw them marking out their defences, they lit fires round the king's army, and so great was the heat that the roasting horses could neither eat nor drink.»  
Uma vez que os turcos viram marcação das suas defesas, eles acendiam fogos rodada do exército do rei, e tão grande era o calor que os cavalos assar poderia comer nem beber. 

«At this point Baldwin of Fatinor, Bachaberboeus of Tiberias and Leisius, with three other companions, separated themselves from the army and went to Saladin and, sad to say, renounced their faith.»  
Neste ponto, Balduíno de Fatinor, Bachaberboeus de Tiberíades e Leisius, com três outros companheiros, separam-se do exército e foi para Saladino e, infelizmente, renunciou à sua fé.

«They surrendered themselves and told him the situation in the king of Jerusalem's army and its dire condition.»   
Eles renderam-se e disse-lhe que a situação no exército do rei de Jerusalém, e sua condição terrível. 

«Thereupon Saladin sent Taqi al-Din against us with 20,000 chosen knights.  They charged at the Christian army, and from nones until vespers the fighting was most bitter.» 
Imediatamente Saladino enviou Din al -Taqi contra nós com 20.000 cavaleiros escolhidos. Eles pagam o exército cristão, e de Nones até as vésperas de combate foi o mais amargo. 

«As a consequence of our sins many of our men were killed, and the Christians were defeated.»  
Como consequência de nossos pecados muitos dos nossos homens foram mortos, e os cristãos foram derrotados.
  
«The king was captured and the Holy Cross.» 
O rei foi capturado e a Santa Cruz. 

«So too were Count Gabula, Miles of Colaverdo, Humphrey the Younger [of Toron], Prince Reynald who was captured and killed, Walter of Arsur, Hugh of Jubail, the lord of Botron and the lord of Maraclea.»  
Assim também foram Count Gabula, Miles de Colaverdo, Humphrey o Jovem [de Toron], Príncipe Reynald que foi capturado e morto, Walter de Arsur, Hugo de Jubail, o senhor de Botron e senhor de Maraclea.
   
«A thousand more of the better men were captured and killed, with the result that no more than 200 of the knights or footsoldiers escaped.»  
A mais de mil homens melhores foram capturados e mortos, com o resultado que não mais de 200 dos cavaleiros e peões escapou.
  
«The count of Tripoli, the lord Balian and Reynald lord of Sidon got away.»  
A contagem de Trípoli, a Balian senhor e Reynald senhor de Sidon fugiu.

Esta carta foi presumivelmente após um mês e meio depois da batalha.
Traduzida do francês original para inglês por Benjamin Kedar,com adaptação do seu autor. Com português arcaico de tradutor desconhecido.

(Enquanto durou o cativeiro Gerard, o cargo de Mestre assumido interinamente pelo Preceptor da Casa do Templo em Jerusalém, de seu nome John Terric ou Thierry ou Thérence. Numa carta enviada ao Papa Urbano III, comunicou que ele escapara com alguns cavaleiros. Em outra carta enviada ao rei de Inglaterra em 1188, anuncia a captura de Jerusalém pelos muçulmanos; − gerou-se alguma confusão ao redor desta personagem tomando-o pelo antecessor do Mestre Gerard de Ridefort).
    
Em 1189, o Mestre Gerard de Ridefort participou no cerco de São João D’Acre, vindo a falecer do dia 1 de Outubro desse ano num confronto no sopé do Monte Toron, perto  das muralhas de Acre, perecendo de morte gloriosa!

O seu mestrado foi considerado um desastre para o Templo e, pela primeira vez foi objecto de criticas; depois da morte de Gerard, o Capitulo Geral decidiu reestruturar determinados aspectos quanto às medidas disciplinares quando o Mestre falta ao seu sentido moral e de responsabilidade.

Escudo de armas: − Esquartelado; I e IV Cruz do Templo sobre campo de prata; II e III em campo de ouro um leão de sable armado e lampassado.




CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

1185, Tratado de nova trégua de 4 anos, entre Saladino e Balduíno IV.
1185, Renaud de Châtillon quebra trégua entre Saladino e Balduíno IV ao atacar uma caravana de peregrinos  com destino a Meca.                        
1187, Guy de Lusignan torna-se rei de Jerusalém, após breve reinado de Balduíno V.
1187, 4/Julho − Batalha de Hattin; militares das Ordens e Renaud de Châtillon são executados, e Guy de Lusignan assim como o Mestre Gerard ficam prisioneiros.
1187, Saladino retoma Acre, (Joppa) Jaffa, Cesareia, Sídon, Beirute e Ascalon.
1187, 20/Setº. a 2 de Outubro − Cerco e conquista de Jerusalém pelos muçulmanos; o Santo Sepulcro é encerrado e as mesquitas reabertas.
1187, O Arcebispo de Tiro prega a Cruzada.
1188, Frederico Barba-Roxa, imperador alemão, Filipe Augusto, rei de França, Ricardo Coração de Leão de Inglaterra organizam a III Cruzada a pedido do Papa Gregório VIII.        
1188, 1/Janeiro − Saladino abandona o cerco a Tiro, defendido por Conrado de Montferrat, marquês piemontês.         
1188, Saladino conquista todo o território franco, excepto Tripoli, Tiro e Antioquia.
1188, O Templo perde a fortaleza de Gastein na Antioquia.
1189, Guy de Lusignan e o Mestre Gerard de Ridefort são libertados por Saladino, e cercam São João de Acre.
1189, Maio − Frederico I Barba-Roxa ruma à Terra Santa.
1189, 1/Outubro − Morre o Mestre Gerard de Ridefort.




Autor: *++ Fr. João Duarte. Comendador Delegado da Comendadoria de Sta. Maria do Castelo de C. Branco
**Consulta "Grandes Mestres da Ordem do Templo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

NOS PRIMÓRDIOS DA ORDEM DO TEMPLO...ROBERT DE CRAON



MESTRE ROBERT DE CRAON (1136 − 1147)


Originário do Maine da região de Vitré, era filho do senhor de Craon e menor de três irmãos; foi eleito Mestre do Templo em Junho de 1136 e faleceu a 13 de Janeiro de 1147.

Instalou-se na Aquitania onde foi prometido em casamento à filha do senhor de Confolens e de Chabanes pelo conde Angouléme.
Ao tomar conhecimento da presença de Hugues de Payns em França, Robert retira a sua promessa de casamento, parte para a Terra Santa e ingressa na cavalaria da Ordem do Templo.
As provas de coragem e bravura dadas nas batalhas em que participou valeram-lhe a nomeação de Mestre da Ordem do Templo, após o falecimento de Hugues.

Como convinha a um cavalheiro de sua estirpe, era gentil, bondoso e possuidor de uma inteligência que deixou marca como legista ao consolidar a organização da Ordem; também redactou os estatutos de todas as comendas, das províncias e do Capítulo Geral. A ele se deve a tradução da Regra Latina para a língua francesa; criou uma rede de comunicações com os chefes islamitas e dotou a Ordem de secretários árabes.

Em 29 Março de 1139, o Papa Inocêncio II promulga a bula Omne Datum Optimun, onde concede extraordinários privilégios aos Templários.
Foi nesta bula, o Papa libertou a Ordem do Templo da tutela eclesiástica, permitindo-lhe construir capelas, oratórios, cemitérios e autoriza formação dos seus próprios capelães que passam a ministrar os sacramentos; desvincula-os da autoridade do Patriarca de Jerusalém; também lhes concede o direito ao usufruto de todos bens conquistados pela Ordem aos muçulmanos sem a reivindicação de terceiros.

D. Alfonso I, o Batalhador, rei de Aragão fez doação do seu reino após a sua morte;
Sem descendência, (foi casado com D. Urraca até que este a repudiou em 1114) deixou em testamento às Ordens que servem a Deus no Sepulcro do Senhor:

“…Para después de mi muerte, dejo como heredero y sucesor mío al Sepulcro de Señor que está en Jerusalén y a los que lo custodian y sirven allí a Dios; y al Hospital de los pobres de Jerusalén; y al Templo de Salomón con los caballeros que vigilan allí para defender la cristiandad. A estos tres les concedo mi reino. También el señorío que tengo en toda la tierra de mi reino y el pricipado y jurisdicción que tengo sobre todos los hombres de mi tierra, tanto clérigos como lacaios, obispos, abades, canónigos, monjes, nobles, caballeros, burgueses, rústicos, mercaderes, hombres, mujeres, pequeños y grandes, ricos y pobres, judíos y sarracenos, con las mismas leyes y usos que mi padre, mi Hermano y yo mismo tuvimos y debemos tener.” (Fragmento do testamento de D. Alfonso I confirmado em 4 de Setembro de 1134, três dias antes da sua morte).

As Ordens recusaram-se a receber semelhante doação!...
  
Na sequência das guerras efectuadas durante a Primeira Cruzada, os cristãos criaram estados nas regiões antes dominadas pelos turcos seljúcidas e danismenditas (inimigos dos seljúcidas), egípcios do sultanato fatímida do Cairo e em várias cidades muçulmanas.

O primeiro combate de que há memória entre os Templários e os infiéis na Terra Santa ocorreu em 1138 na batalha de Tekoa, nas montanhas perto de Judá.
As forças turcas que haviam recentemente conquistado a aldeia de Tekoa puseram-se em fuga. Ao darem-se conta de que os cavaleiros cristãos não os perseguiam, reagruparam-se e contra-atacaram. O resultado foi desastroso! Com o exército franco em debandada, os Templários para os proteger sacrificaram mais de metade dos seus guerreiros.

Krak dos Cavaleiros
O rei de Jerusalém Foulques I falecera em Novembro de 1143, deixando um herdeiro de menor idade. A regência ficou assegurada pela mãe Melisende de Bolonha, até que este atingisse a idade de poder governar.
Tirando proveito de tal situação, o governador de Mossul de Alepo, Zengi, ao serviço dos seljúcidas, conquista aos cristãos o Condado de Edessa em 24 de Dezembro de 1144 e ameaça Constantinopla.

O reino cruzado do Oriente pressente o perigo e apela ao Papa Eugénio III o envio de reforços.
Em 1145, o Sumo Pontífice convoca por bula especial a viria a ser Segunda Cruzada.
Para exortar os cristãos a pegarem em armas e rumarem à Terra Santa, o Papa antigo monge cistercense, solicitou a presença do místico São Bernardo de Claraval.

Notável orador, São Bernardo atrai à expedição senhores poderosos como Frederico da Suábia (futuro imperador da Germânia), os reis da Polónia e da Arménia, Luís VII de França, Conrado III do Sacro Império Romano-Germânico, e muitos experimentados homens de armas, entre os quais se encontravam ingleses e flamengos que haviam ajudado D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa.
Escudo de armas: − Esquartelado; I e IV Cruz do Templo sobre campo de prata; II e III losangos em ouro em campo de goles.

                            


CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

1138, Trava-se a batalha de Tekoa.
1139, 29/Março – Bula Omne Datum Optimun emitida por Inocêncio II.
1142, O Krak dos Cavaleiros é cedido aos Hospitalários de São João.
1144, 25/Dezembro – Zengi, atabaque de Alepo e de Mossul, conquista Edessa.
1145, 14/Dezembro – O Papa Eugénio III proclama a Segunda Cruzada.
1146, 31/Março – Sermão de São Bernardo de Claraval na basílica de Vézelay, a
          pregar a cruzada.                                                             
1146, 14/Setembro – O atabaque de Alepo, Zengi é assassinado pelos seus pajens; o
           reino de Edessa é partilhado pelos seus dois filhos, Ghazi e Nur ed-Din.
1146, 27/Outubro a 03/Novembro – Jocelino II reocupa Edessa para voltar a perde-la.
1146, 25 a 27/Dezembro – São Bernardo de Claraval ordena a Conrado III, imperador
          alemão, que dirija a cruzada.



Autor: ++ Fr. João Duarte. Comendador da Comendadoria de Santa Maria do Castelo de Castelo Branco.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

MESTRE EUDES DE SAINT-AMAND




EUDES DE SAINT-AMAND (1171 – 1179)

Eudes ou Odo de Saint-Amand nasceu na Provença em 1110 (?), foi baptizado na região de Artois e era proveniente de uma nobre família de Limousin.
Provavelmente embarcou cedo na aventura em busca de glória, uma vez que os seus feitos militares depressa se revelaram na Palestina.
Foi marechal do reino e, posteriormente, visconde de Jerusalém antes de entrar para as fileiras do Templo.

Depois de Philippe de Milly ter abandonado o mestrado da Ordem, impunha-se uma nova chefia pragmática, e inteligente. A escolha recaiu em Eudes de Saint-Amand, uma vez que os dignitários da Ordem viam crescer a influência de Saladino.
     
Sem ter em conta a opinião do Templo, o rei Amalrico pactuou com El Beled, o chefe dos Ismaelitas, uma seita conhecida como “Assassis” ou assassinos. No pacto selaram o compromisso de El Beled ajudar Amalrico na luta contra o Islão. Como pagamento pela colaboração, isentava os Assassis do tributo que pagavam aos Templários.
     
O recém-eleito Mestre dos Templários opôs-se a Amalrico I, após ser confrontado pela acusação de ter mandado matar um emissário do Velho da Montanha (xiita islâmico), às mãos do cavaleiro Gauthier Maisnil, quando este se dirigia para a fortaleza de Masyaf na Síria. A morte repentina de Amalrico põe fim a este confronto com o advento de Balduíno IV.
   
Eudes de Saint-Amand adquire a reputação de duro, inflexível e intransigente.    
Guillaume de Tyr escreveu a propósito do Mestre: «Homme méchant, superbe, arrogant, ne respirant que la fureur, sans crainte de Dieu et sans égard pour les hommes».    “Feminino vilão, bonito, arrogante, respirando a ira de Deus sem medo e sem ter em conta para os homens”.    
(Na verdade, Guillaume de Tyr não suportava os poderes conferidos às Ordens pela Santa Sé e, particularmente aos Templários).
    
O Papa Alexandre III através da bula de 1172 conferiu novos poderes há Ordem, permitindo-lhes ter o seu próprio clero, após uma profissão de um ano de noviciado, consentir a construção casas de Priorados ou oratórios para o enterro dos irmãos, evitando contactos com o público.
       
Nur ad-Din morre em 1174, e o seu império cai sob o domínio de Saladino, que em 1177 lança uma ofensiva contra a Palestina, assolando a periferia de Ascalon.


BATALHA DE MONTGISARD
Saladino

Saladino à frente de 20 a 30.000 homens, segundo Guillaume de Tyr, tem como objectivo atacar Jerusalém. Pelo caminho ataca Ramla, Lida e Apollonia (Israel).    
As informações que obtivera sobre as tropas de Balduíno permitiam-lhe uma marcha descontraída. Sobrevalorizando o adversário, permite que o exército se espalhe para se reabastecer e pilhar o que pudesse.
   
O rei de Jerusalém reúne cerca de 3.000 de infantaria e 375 cavaleiros,  dos quais faziam parte 80 templários, comandados pelo Mestre Eudes de Saint-Amand e seguidos por Renaud de Châtillon, Jocelín III de Courtenay (tio de Balduíno), Reinaldo de Sidón e Aubert, bispo de Belém; com este pequeno exército vai ao encontro de Saladino, surpreendendo-o em Montgisard, a 24 de Novembro de 1177.
  
Os cristãos carregaram pela retaguarda o desprevenido exército de Saladino. Voluntarioso, o Mestre Eudes toma a iniciativa (como habitualmente) de lançar os seus cavaleiros ao ataque. “O anjo da morte parecia segui-los para a peleja” escreveu um cronista, varrendo todo o ser vivo que se lhes deparava pela frente.  
Cerca de noventa por cento do exército de Saladino, incluindo a sua guarda pessoal de Mamelucos, foram destruídos. Apenas um décimo das suas forças conseguiram pôr-se a salvo refugiando-se com Saladino no Egipto.
     
O exército de Balduíno saldou-se pela perda de 1.100 homens, e 750 feridos, assegurando desta forma a sobrevivência do Reino de Jerusalém durante o seu reinado.
       
Após a destruição do exército de Saladino, os Templários são contemplados com várias doações importantes, algumas das quais feitas por Renaud de Châtillon, Senhor de Margat, que atribuem à Ordem metade das rendas de várias cidades.
   
Entretanto Saladino decide fazer tréguas entre ele e os Estados Cruzados com o fim de reconstruir o seu depauperado exército, regressando ao ataque em 1179.
   
Apesar da forte oposição de Saladino, contrário à construção de um castelo no Vado (Vale) de Jacob (violando o tratado de paz assinado com Balduíno), durante o mestrado de Eudes de Saint-Amand concluída a construção do “Chastellet”.
    
Em Maio de 1179, Saladino intenta invadir o reino de Jerusalém, mas depara-se com uma forte resistência aos seus ataques, vindas do “Chastellet” defendida ferozmente pelos Templários e os homens de Humphrey II de Toron, Condestável do Reino de Jerusalém. Saladino cria uma base em Banias, e envia forças para as zonas costeiras.   
Em resposta, Balduíno move o seu exército para Tiberíadas, e de lá marcham para a fortaleza de Safed avançando na direcção de Toron.

Cavalgando ao seu encontro, juntaram-se-lhes os cavaleiros do Templo liderados pelo  Mestre Eudes, um grupo de Hospitalários comandados pelo Mestre Roger de Moulins e uma força do Condado de Trípoli, encabeçada pelo conde Raymond III. À distancia avistavam-se as tendas de campanha dos muçulmanos.  
Estavam reunidas as condições para um confronto bélico. Assim surgiu a batalha de Marj Ayyun…

A BATALHA DE MARJ AYYUN

Uma vez mais, o exército de Saladino foi apanhado desprevenido! À imagem do ano de 1177, seus homens encontravam-se espalhados com o intuito de pilharem o que pudessem.
   
Descendo com os nobres à planície, sem delongas Balduíno atacou o incauto acampamento, deixando a infantaria para traz.
   
Aparentemente a vitória sorria a Balduíno!... Pensando que a batalha estava ganha, os francos baixam a guarda e deram descanso à infantaria após a sua marcha forçada.
 
O exército de Saladino outrora disperso, ia engrossando as suas fileiras, enquanto Raymond e os cavaleiros do Templo se postaram entre as margens dos rios Ayyun Marj e Litani.  
Subitamente, exército principal de Saladino lançou um ataque sobre as hostes cristãs apanhando-os desprevenidos. A derrota foi inevitável! O rei Balduíno ficou seriamente ferido e, Eudes de Saint-Amand foi feito prisioneiro.
 
Saladino pretendia trocar o prisioneiro por um seu sobrinho, cativo dos Templários, mas o Mestre retorquiu citando um estatuto da Ordem: 
“Por nenhum motivo quero dar um exemplo que fomente a cobardia entre os monges, que se deixariam capturar tendo em mente o pagamento de um resgate. Um Templário deve vencer ou morrer. Só se pode pagar com o próprio punhal e cinto”.
 
Depois de ouvir esta resposta, o chefe muçulmano agrilhetou-o, submetendo-o a um tratamento cruel, e pô-lo a definhar numa masmorra.
  
(Que nobreza de comportamento! Aguardou a face da morte e esperou por ela). 
Os ventos da vitória sopravam a favor do “malik”; aproveitando a ocasião, dirigiu-se para o castelo do Vado de Jacob, e as vagas sucessivas de muçulmanos contra os muros do castelo surtiram os efeitos desejados; a 30 de Agosto, os cruzados são derrotados na batalha de Vadun Iacob e Saladino finalmente liberta-se do “Chastellet”, não deixando pedra sobre pedra.
  
O Mestre Eudes de Saint-Amand faleceu em Damasco no cativeiro, em 19 de Outubro de 1179.


Escudo de armas: − Esquartelado; I e IV Cruz do Templo sobre campo de prata; II e III sobre campo de prata três faixas em sinople com um bordo dentelado. 




CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

1173, Saladino manda construir uma uhanqab (convento) no Cairo e adopta o titulo de
          malik (rei) e ocupa o Alto Egipto e envia uma expedição ao Iémen.
1174, 18/Abril − O Mestre subscreveu a confirmação do rei Amalrico de uma anuidade 
          aos Hospitalários.
1174, 15/Maio − Morte de Nur ad-Din. Saladino apodera-se da Síria.
1174, 11/Julho − Morte do rei Amalrico I. Sucede-lhe Balduíno IV.
1174, Manuel I Comneno imperador bizantino, manteve-se em guerra com Kilij Arslan
          II sultão seljúcida de Run, até 1176.
1174, 13/Setembro − Mestre Eudes, foi citado numa acta de Balduíno IV.
1176, Os turcos seljúcidas do Run derrotam o exército de Manuel I em Myriokephalon.
1176, Novo testemunho do Mestre Eudes, ao termo da confirmação da venda do Casal
          de Beit Daras.
1177, Cruzada dirigida pelo conde da Flandres, Filipe da Alsácia.
1177, 24/Novembro − Saladino é derrotado em Montgisard.
1178, Mestre Eudes, recebe metade das rendas de Brahin, do Casal Albot e do Casal de Talaore conforme prometido por Reinaldo, Senhor de Margat.                            
1179, Fevereiro − Conclui-se um acordo entre os Mestres Eudes e Roger des Moulins.
1179, Sucedem-se vários ataques de Saladino nomeadamente à cidade de Tiro.
1179, 19/Outubro − Morre o Mestre Eudes de Saint-Amand.


Autor:  ++ Fr. João Duarte. Comendador da Comendadoria de Santa  Maria do Castelo de Castelo Branco.

CAÇA



Acerca Da Caça
A pomba e o falcão, simbolos da vida contemplativa e da vida activa. Obra de Hugo de Folieto de 1138

LV

Colectivamente proibimos a qualquer irmão caçar uma ave. Não é conveniente a um homem religioso sucumbir aos prazeres, senão ouvir voluntariamente os mandamentos de Deus, estar inúmeras vezes em oração e a cada dia confessar choroso a Deus em suas orações os pecados que cometeu.

Falcão
Nenhum irmão pode presumir particularmente de ir com um homem que caça uma ave com outra. Mais conveniente para um homem religioso será ir simplesmente com humildade sem demasiada conversa ou riso, senão razoavelmente e sem elevar a sua voz e por esta razão vos ordenamos especialmente a todos os irmãos a não irem ao bosque com arco e besta a caçar animais ou acompanhar qualquer que faça isto, excepto por amor para o salvar dos pagãos infiéis.


Segundo a Regra Primitiva dos Cavaleiros do Templo.