quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Primeira mulher eleita para a presidência da Causa Real

Teresa Côrte-Real sucede a António de Souza-Cardoso na chefia da associação que defende o ideal monárquico em Portugal


As reais associações que integram a Causa Real elegeram este domingo, em Rio Maior, a primeira mulher para a presidência da associação que representa o ideal monárquico em Portugal.

Teresa Côrte-Real, professora no Colégio de Santa Doroteia e formada em Relações Internacionais, liderava a única lista candidata aos órgãos sociais da Causa Real e sucede a António de Souza-Cardoso.
A eleição resultou do voto dos 80 delegados presentes no XXIV Congresso da Causa Real, que decorre este fim de semana em Rio Maior e representando as Reais Associações existentes no continente e ilhas.
A nova presidente explicou ao DN que aceitou candidatar-se com "a missão muito clara de demonstrar a atualidade da solução monárquica".

Isso passa por "dois pontos muito importantes", referiu Teresa Côrte-Real: promover o "património comum que apenas a Monarquia pode representar" como fator de união e "a valorização do mundo português, da comunidade lusíada espalhada no mundo" e que tem em D. Duarte, Duque de Bragança, um elemento agregador.
Eleita para um mandato de três anos, Teresa Côrte-Real disse ir liderar uma "lista de continuidade em que entram pessoas novas" e com uma "representação transversal a todo o país em termos de origens profissionais e etárias".
"Achamos que é possível construir algo de diferente e há uma alternativa que pode aumentar a soberania e a coesão nacional" dada a sua "natureza inclusiva", enfatizou a primeira presidente da Causa Real.
A Causa Real é uma associação que visa a defesa do ideal monárquico, da instituição real "e no limite a restauração da monarquia em Portugal" lê-se na respetiva página oficial na Internet.

Fonte: DN

DEUS - PÁTRIA - REI

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Portugal não era uma potência racista

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas

Um aristocrata do Reino do Congo, no que é hoje Angola, com a bandeira de Portugal. A aristocracia congolesa era reconhecida por Portugal, e os seus membros ocupavam cargos no governo local e no exército.

" Para destuir um povo, devem primeiro cortar-se as suas raízes"

Alexander Solzhenitsyn


DEUS - PÁTRIA -REI


sábado, 27 de outubro de 2018

XXIV Congresso Nacional da Causa Real em Rio Maior


Iniciativa conta com almoço no Restaurante “Salarium” e jantar no Restaurante “Gato Preto”.

O Cine-teatro de Rio Maior recebe no sábado e domingo, 27 e 28 de Outubro, o XXIV Congresso Nacional da Causa Real. A organização do evento está a cargo da Real Associação do Ribatejo.

Durante o congresso vão ser discutidas estratégias para reorganização interna e de comunicação com a sociedade portuguesa em geral e eleito a nova direcção nacional e respectivos órgãos sociais.

Paralelamente ao congresso, no sábado, dia 27, no Restaurante “Salarium”, nas Marinhas de Sal (Rio Maior), decorre um almoço onde vai ser apresentado a nova direcção nacional da Causa Real. Mais tarde, o Restaurante “Gato Preto”, em Rio Maior, recebe um jantar de convívio que contará com a presença dos Duques de Bragança e a presidente do município, Isaura Morais.

A Causa Real é uma organização nacional monárquica, apartidária, composta por várias Reais Associações regionais implantadas em Portugal e no estrangeiro.

DEUS - PÁTRIA - REI

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Foi um português a descobrir a América confirmou Museu do Canadá






Museu do Canadá confirma que foi um português a descobrir a América

Foi um português a descobrir a América confirmou Museu do Canadá


Quem o diz é o Real Canadian Portuguese Historical Museum em Toronto, no Canadá. A instituição pretende reconhecer a presença portuguesa na América do Norte 19 anos antes da chegada de Cristovão Colombo.
“Sempre houve vestígios de que o navegador português João Vaz Corte-Real esteve no Canadá em 1472, dezenove anos antes da chegada de Cristovão Colombo à América do Norte”, afirmou Suzy Soares, a presidente do Real Canadian Portuguese Historical Museum (RCPHM, sigla em inglês).

Real Canadian Portuguese Historical Museum - Museu do Canadá confirma que foi um português a descobrir a América
Real Canadian Portuguese Historical Museum – Foi um português a descobrir a América confirma Museu do Canadá

Alguns historiadores canadianos continuam, nos dias de hoje, a ter algumas dúvidas de que o antigo capitão-donatário de Angra (Açores) tenha estado onde hoje se localiza o Canadá, antes de 1492, mas em Portugal, para muitos estudiosos “é um dado adquirido”, juntando agora os vários pontos de vista e provar de que João Vaz Corte-Real “passou realmente pelo Canadá antes de Colombo”.

Museu do Canadá confirma que foi um português a descobrir a América
Real Canadian Portuguese Historical Museum – Foi um português a descobrir a América confirma Museu do Canadá

“Todos sabem da existência da Pedra de Dighton, localizada em Berkley, Massachusetts (Estados Unidos), e que tem palavras escritas que só podem ser em português. No entanto a história é muito complexa, pois há sempre várias versões dos acontecimentos”, sublinhou.
Suzy Soares estabelece como objetivo do museu ir à procura de mais provas e “reconhecer a descoberta da América” pelo navegador português João Vaz Corte-Real.

Museu do Canadá confirma que foi um português a descobrir a América
Real Canadian Portuguese Historical Museum – Foi um português a descobrir a América confirma Museu do Canadá

O Real Canadian Portuguese Historical Museum comemorou o 32.º aniversário homenageando ‘João Vaz Corte-Real’ durante um jantar de gala.
No evento esteve em exposição uma réplica de uma caravela com três metros de comprimento, utilizada pelo navegador na viagem até ao Canadá, e foi apresentado ainda um busto de Corte-Real.

Museu do Canadá confirma que foi um português a descobrir a América
Nau Portuguesa – Foi um português a descobrir a América confirma Museu do Canadá

O primeiro-tenente Nuno Gonçalves da Marinha Portuguesa, chefe de investigação do departamento do Museologia, abordou a presença portuguesa no Canadá. Já o realizador Rui Bela apresentou o documentário ‘Memórias do Mar’.
O evento teve também o objetivo de “angariar apoio financeiro para dar continuidade ao trabalho do museu”, que tem dado destaque à presença portuguesa na história do país.

Museu do Canadá confirma que foi um português a descobrir a América
Viagem de João Corte Real – Foi um português a descobrir a América confirma Museu do Canadá

A denominação da região e mar do Labrador no Canadá, é em homenagem ao navegador português João Fernandes Lavrador que em 1498, juntamente com Pedro Barcelos, explorou aquela região.
Mathieu da Costa, provavelmente de pai português e mãe africana, foi o primeiro afrodescendente de que há registo no Canadá (1600) e o português Pedro da Silva, foi o primeiro carteiro no Canadá (1673).

Museu do Canadá confirma que foi um português a descobrir a América
Caravela – Foi um português a descobrir a América confirma Museu do Canadá

Joe Silvey (1853) um pioneiro na colonização da costa oeste do Canadá, um exemplo de miscigenação, porque tomou duas índias como esposas, é outra das referências portuguesas em terras do Canadá.
Calcula-se que existam no Canadá cerca de 550 mil portugueses e luso descendentes, estando a grande maioria localizada na província do Ontário.
_

domingo, 21 de outubro de 2018

A Portugalidade, obra do padre e do missionário

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas


«Se quiseres chegar ao coração dos povos e tocar a sua alma, começa por compreendê-los – na sua língua, nas suas tradições, nos seus costumes, nos seus olhos, nos seus valores; só então poderás ver a sua alma e saberás como levar até ela a Mensagem.»

Eis uma citação de um Manual de Instruções para os Missionários Portugueses de meados do século XVI, tão longe do «crês ou morres» referido por historiadores desonestos como atitude predominante dos evangelizadores lusos. Para que esta tarefa se tornasse possível, os Missionários Portugueses elaboraram manuais para a aprendizagem da língua portuguesa para as populações autóctones, bem como para tornar acessível aos missionários e colonizadores as línguas nativas. Desse extraordinário esforço resultou um conjunto de obras impressas que ainda hoje nos espanta pela sua precisão e técnica pedagógica: desde as «Cartinhas para ensinar a ler» de D. Diogo de Ortiz, Bispo de Ceuta, até aos manuais, dicionários e gramáticas das línguas nativas, como a «Arte da Língua de Angola» ou «Arte da Gramática das Línguas mais usadas no Brasil», entre muitos outros.

«Se quiseres chegar ao coração dos povos e tocar a sua alma…». Esta frase e tudo o que se lhe segue, escrita no século XVI por Portugueses e para Portugueses, traduz exatamente o sentir e a alma de um povo que soube encontrar-se com os outros povos que a Europa ainda não conhecia; com todos os defeitos, erros e desatinos que muitos cometeram – sem eles não seriam humanos; mas era uma linha de conduta que acabava sempre por vir ao de cima, tal como vinha já dos primeiros tempos da nacionalidade, e como continua ainda hoje num povo que não perdeu as faculdades de hospitalidade, convivência e abertura.

É este o sentido profundo da Portugalidade, que, apesar das sombras que também a enegreceram, conseguiu criar uma identidade e civilização comuns. Mau grado as dificuldades e obstáculos, o pequeno retângulo europeu conseguiu espalhar-se pelo mundo graças à sua capacidade de se envolver com o outro e compreendê-lo.

Miguel Martins



DEUS - PÁTRIA - REI

sábado, 20 de outubro de 2018

Despertai, nobres soberanos

A imagem pode conter: árvore, céu, planta, ar livre e natureza

Despertai, nobres soberanos, que queimaram vossas naus!

Fizeram arder vossas verdes muralhas, há séculos erguidas contra a sanha árida das areias.

Despertai, Dom Afonso III, acordai, Dom Dinis, que vossas terras e vossas gentes padecem desgovernadas.

Despertai, reis, e despertai essas gentes -aqueles mesmos que no passado domaram as águas do mundo, fazendo das ondas as suas estradas, hoje se esquecem de sua grandeza e apenas assistem, impotentes, à espera dos milagres.

Despertai então, ó Santa Rainha, e derramai vossas pétalas sobre as feridas na terra e nas almas, nos troncos calcinados dos pinhais que nos deram as naus, e nos corações e pulmões das gentes sofridas das aldeias e dos nobres animais que povoam as vossas florestas.

Despertai: a vós mesmos e a nós todos, herdeiros da grandeza Lusa, viva onde quer que se respire nossa rica língua camoniana (pois o Português não se fala, se vive!).

Despertai, reis: não como mero ideal, não como bandeira a defender, mas em cada um de nós como interior centelha divina de coragem: para enfrentar, prevenir, reerguer, reconstruir, replantar.

Despertai e vede que vossos herdeiros hão-de devolver o Pinhal, aquele das naus, a vosso e nosso amado Portugal.

Claudio Quintino


Associação dos Autarcas Monárquicos

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Obrigado, Brasil, pela coragem e pela fidelidade

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé

Lindíssima cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos junto dos túmulos de Vasco da Gama e Luís de Camões, onde a Armada brasileira foi deixar prova de afecto e de respeito. O Navio-escola Brasil, da Marinha daquele país-irmão, esteve em Lisboa por ocasião de uma viagem de instrução. Na capital portuguesa, a tripulação brasileira visitou o Mosteiro dos Jerónimos, tendo depositado uma coroa de flores junto do túmulo de Vasco da Gama e homenageado os descobridores portugueses. Gesto importante nos tempos que correm, e prova de que estes ódios que hoje vemos acirrados contra os grandes da nossa História são coisa artificial e sem relação com a opinião dos povos com que nos fomos encontrando ao longo das eras. Se o Brasil vem prestar tributo a Vasco da Gama, porque deveria Portugal envergonhar-se do grande capitão?



DEUS - PÁTRIA  - REI

16 de Outubro de 1847 – Nasceu A Rainha D. Maria Pia

A imagem pode conter: 1 pessoa

Dona Maria Pia de Saboia, Princesa da Sardenha e do Piemonte, depois Princesa de Itália nasceu em Turim e era filha do Rei Vittorio Emmanuel II da Sardenha e do Piemonte, que viria a ser o Primeiro Rei da Itália unificada. Há 171 anos nascia numa Europa que senhoreava o Mundo.

Aos 15 anos, contra as expectativas, mas talvez por aconselhamento do Marquês de Sá da Bandeira, Presidente do Conselho de Ministros que considerou importante uma aliança com Itália, o Rei Dom Luís I de Portugal casou então primeiro por procuração e depois ratificado, já presencialmente, em Lisboa, a 6 de Outubro de 1862, com a Princesa D. Maria Pia, segunda filha do recente Rei de Itália, e a jovem Rainha toma conhecimento com uma realidade do Portugal agitado pelas convenções próprias de um País saído da guerra civil e depois de umas Invasões francesas que o delapidaram e fecharam o tecido produtivo nacional, e depois de uma luta fratricida que desembocou numa guerra civil.

Ao lado d’El-Rei Dom Luís I, que realçou a realeza da Sua estirpe com os preclaros dotes de uma inteligência cultíssima, a Rainha Senhora Dona Maria participou como figura de frente, com um papel preponderante na sociedade, na reconstrução de um Reino de Portugal que emergiu da anarquia que o desmantelava desde 1820. Junto ao Rei de Portugal, Sua Majestade a Rainha Dona Maria Pia asseguraria a unidade no seio de um país demasiado dividido por querelas políticas, por questiúnculas sociais, pelo individualismo dos políticos eleitos, depois do abandono das utopias doutrinárias, contribuindo de forma indelével para Portugal completar o seu divórcio com o passado recente, deixar as ideologias vãs, e desembocar, energicamente, na senda do utilitarismo, do fomento e do desenvolvimento material e ganhar a estabilidade necessária para o progresso material e permitir um período tão interessante da nossa história: ele foi a estrada de macadame, o serviço postal, o caminho-de-ferro e o fontanário, numa expressão: política prática.

Do matrimónio com o Rei Dom Luís I teve a Rainha Dona Maria Pia dois filhos: Dom Carlos – Príncipe Real, Duque de Bragança e futuro Rei – e o Infante Dom Afonso – Duque do Porto e último Condestável do Reino.

Dona Maria Pia gastava avultadas somas de dinheiro na ajuda dos mais carenciados, quantias que injustamente eram atribuídas para próprio fausto.
O Anjo da Caridade e A Mãe dos Pobres foram alguns dos cognomes com que a Rainha Dona Maria Pia foi agraciada pelo seu Povo Português, consequência da sua compaixão pelos mais necessitados e pela sua entrega às mais diversas causas sociais.

Em jeito de homenagem e reconhecimento à Rainha Senhora Dona Maria, pelo Seu trabalho para com os mais carentes da sociedade, a Cidade do Porto, em 1881, ao Palácio dos Serviços do Hospital Para Crianças da Cidade Invicta, dá o nome de Hospital Dona Maria Pia.

Foi mãe extremosa dos seus filhos e manteve-se alheia aos assuntos políticos, excepto aquando da Saldanhada, em 1870, no qual o Marechal Saldanha sitiou o Palácio da Ajuda, residência da Família Real, e obrigou o Rei a nomeá-lo presidente do Conselho de Ministros. Lenda ou não, ficou na estória uma frase que D. Maria Pia teria vociferado ao Marechal-Duque: ‘Se eu fosse o Rei, mandava-o fuzilar!’

Com a morte de Dom Luís e após a ascensão ao trono português de seu filho, o Rei D. Carlos I, já Rainha-mãe, D. Maria Pia adjudica o papel de protagonista à sua nora, a Rainha Senhora Dona Amélia, e passou a viver num chalé sito no Estoril. Na menoridade do neto Dom Luís Filipe, serviu diversas vezes como Regente do Reino durante as visitas oficiais do seu filho e da nora ao estrangeiro. Após o trágico Regicídio, derrubada pelo desgosto, retira-se do serviço público e começa a dar indícios de esclerose. Em 5 de Outubro parte para o exílio com a restante família real, mas com destino diferente: a Família Real Italiana transborda-a do Yacht Real Amélia e leva-a Sua Majestade de volta ao Piemonte que a viu nascer.

Quase um ano depois do golpe revolucionário que implantou a república em Portugal, morria no exílio a 5 de Julho de 1911, no seu Piemonte natal, a penúltima Rainha de Portugal: Sua Majestade a Rainha Dona Maria Pia. No leito, instantes antes do suspiro final, pediu que a voltassem na direcção de Portugal, País onde foi Rainha durante quarenta e oito anos, primeiro como consorte do Rei Dom Luís I, depois como Rainha-mãe do grande Rei Dom Carlos I.

Jaz sepultada nos arredores de Turim, na Basílica de Superga, no Panteão Real dos Sabóias onde se encontram sepultados os Reis e Príncipes da Casa Real de Saboia. A Rainha Senhora Dona Maria Pia é o único membro da Família Real Portuguesa exilada que não voltou para o descanso eterno em solo português.

Miguel Villas-Boas

sábado, 13 de outubro de 2018

Urgente regressar à Ásia

Texto alt automático indisponível.


Os estudos coloniais e pós-coloniais estão na moda. Infelizmente, só um punhado de portugueses, grandes leitores e atentos aos escaparates das editoras transelvenses - aquelas que estão para lá da fronteira, pois aqui não se publica, vai-se publicando - se dá conta das novidades. 

Se os estudos africanos ainda se sustêm graças à torrencial produção conseguida pelos exaustivos levantamentos antropológicos realizados ao longo da década de 60 pelos saudosos Instituto Superior de Estudos Ultramarinos e Junta de Investigação do Ultramar, os estudos orientais nunca tiveram grande tradição em Portugal. Se nos séculos XVI e XVII fomos pioneiros no domínio das línguas e culturas orientais, como o atestam as Cartas Ânuas, os trabalhos de Francisco de Pina na romanização do vietnamita, a Arte breve da lingoa japoa, de João Rodrigues, ou ainda nessas figuras heróicas de António de Andrade, Francisco de Azevedo, Bento de Góis e João Cabral, que da Índia partiram rumo ao Tibete, perdemos todo o interesse pela matéria oriental. Do colégio de Évora saíam missionários com conhecimentos elementares de Guóy (mandarim clássico) e do Seminário Maior de Macau exímios tradutores de japonês e calígrafos de sinogramas. Depois, com os Brasis e as Áfricas em primeiro plano, esquecemo-nos. Em finais de Oitocentos, Vasconcelos Abreu reabriu brevemente a tradição, sendo o último dos portugueses a poder ler o Sutta-pitaka, o Tripitaca, o Ramayana ou o Mahabharata. Tornamo-nos ágrafos na matéria. Ignorantes, também, todos os quadros coloniais e diplomáticos que aportavam a Goa, a Macau, embaixadas e consulados sem saber balbuciar uma palavra e decifrar um caracter. Este afastamento da realidade asiática teve os seus efeitos perniciosos, hoje bem evidentes, no desinteresse, que estimo suicida, da diplomacia portuguesa em relação ao Oriente.

Sem um Instituto de Estudos Orientais, sem um curso superior em línguas, culturas e história orientais, como poderemos ambicionar ao tráfico comercial, à penetração nos mercados, à cooperação cultural, científica e tecnológica com as potências emergentes da Ásia do Sul e do Extremo-Oriente ? A vastidão bibliográfica dos temas relacionados com o Oriente seria motivo sobejo de interrogação, inquietação e espanto se fossemos conscientes do que tal representa. Mas não, ninguém quer saber. 

A qualquer momento a Ásia cai-nos em cima. Não faz mal, não será amanhã: talvez depois de amanhã.

MCB



Quando um povo se faz patriota

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas

Comemora-se dentro de dias a batalha de Valverde, travada a 14 de Outubro de 1385, dois meses após Aljubarrota. Coube uma vez mais a Nuno Álvares Pereira vencer no campo de batalha. 

A vida do Santo Condestável é orgulhosa réplica ao anti-herói que hoje se exalta como exemplo. Não é, pois, de estranhar que tantos desertores medalhados e promovidos às culminâncias do Estado, tantos objectores de consciência e tantos arranjistas tenham saído à liça para macular o herói português de sempre com defeitos e até, pasmemos, com as mais descabeladas insinuações sobre o património que Nuno Álvares Pereira teria acumulado no rescaldo da Revolução de 1383-85. Uns, menos atrevidos, nele só querem ver o cavaleiro da Idade Média tardia, entranhado da ética cavaleiresca. Outros, cujo horizonte e gabarito se limita à exaltação da vida entre a gamela e os negócios, minimizam-lhe as qualidades intemporais do arrojo e destemor reduzindo-o a um caudilho militar ou, pior, a um ambicioso manipulador que "fez" D. João I para destruir a velha nobreza que tomara partido por Castela. De Nuno Álvares conheço razoavelmente a bio-bibliografia oitocentista e novecentista, mas às interpretações hodiernas da grande figura prefiro, de longe, por que mais impressivas e exaltantes, a Crónica do Condestável (1526), o Condestável de Portugal (1610), de Francisco Rodrigues Lobo e El Heroe Portugues : vida, haçañas, vitorias, virtud, i muerte d'el Excelentissimo Señor, el señor D. Nuño Alvares Pereira, Condestable de Portugal , de António de Escobar.

O verdadeiro milagre de Nuno Álvares foi o de formalizar o patriotismo. Onde antes havia comunidades dispersas, vínculos e suzeranias, feudatários e pendões e caldeiras, Nuno Álvares fez uma comunidade de destino, insuflou-lhe unidade e libertou-a do tempo pequeno dos interesses. O milagre português confunde-se com Nuno de Santa Maria. Antes dele, para além dos "factores democráticos", pouco mais havia que uma lealdade dinástica, um território-património, um Estado que se confundia com as necessidades dos reis. Depois de Nuno Álvares, o Estado passou a ser um nós e os reis passaram a ser reis portugueses. Tudo isto confunde os marxistas e os capitalistas, que só entendem a nação ou como "superestrutura" ideológica ao serviço de "interesses de classe" ou como necessidade "sexy", que a não vingar, aceita a mudança "sexy" das fidelidades bem pagas, o confortozinho da alcova e da mesa bem servida. Portugal foi e é uma nação pobre. Milagre foi o de haver conseguido fazer tanto com tão pouco e, depois, com tanto medo à solta, projectar Portugal para fora da Europa, dando-lhe um destino e uma missão que continua, queiram ou não os tribalistazinhos filoeuropeus, a confundir-se com as sete partidas do mundo. D. Nuno não é uma personagem literária; existiu e é vulto inspirador para tantos que teimam em permanecer portugueses - isto é, nós - num tempo de penumbra e demissão.

MCB


DEUS - PÁTRIA - REI

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A espada sagrada

Texto alt automático indisponível.


Entre a chegada de Pêro da Covilhã, em 1490, e a morte do jesuíta português Luís Cordeiro, em 1640, foi marcante a presença portuguesa na Etiópia. Depois, um manto de silêncio abateu-se sobre a memória daquelas relações, não só por Portugal ter perdido o interesse pelo Corno de África, mas por aquele reino cristão africano ter entrado num longo ciclo de decadência, guerras civis e invasões que se prolongariam até meados do século XIX.

Em 1860, dois padres capuchinhos italianos internaram-se na Etiópia e foi-lhes dito que num mosteiro das terras altas havia uma bandeira sagrada, objecto de veneração, e que todos os anos era passeada em procissão. Curiosos, os dois religiosos requisitaram um guia e tomaram caminho para ver a preciosa relíquia. No dia da procissão, foi desvelado o segredo: a bandeira era a de Portugal, o pendão das quinas. 

Décadas depois, o viajante austríaco Philipp Victor Paulitschke (1854-1899), pioneiro dos estudos etnográficos naquela parte do continente negro, sabendo da existência de uma espada sagrada à qual as tribos Gallas prestavam adoração, pediu que a mesma lhe fosse mostrada. Para seu grande espanto, mostraram-lhe uma espada portuguesa do século XVI. 

MCB


DEUS - PÁTRIA - REI