terça-feira, 31 de outubro de 2017

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

O bravo sipaio landim, tropa de choque do exército africano português

Foto de Nova Portugalidade.

Garbosos, disciplinados e ferozes em combate, os sipaios landins foram durante décadas a espinha dorsal do exército da África Oriental portuguesa, prestando serviço nas terras do Índico português, mas igualmente nas parcelas asiáticas do Império. Os landins eram os vátuas, outrora destemidos guerreiros que serviram Gungunhana com lealdade no decurso das guerras contra o exército português. Após a rendição do grande chefe negro, os guerreiros landins prestaram voto de lealdade ao Rei de Portugal, constituindo-se em unidades de infantaria com funções de policiamento.
No decurso da Grande Guerra, lutaram ombro a ombro com as unidades do corpo expedicionário enviado a Moçambique para combater os alemães no norte do território e no Tanganica, então colónia alemã, dando provas de grande coragem e destemor. Depois, os landins passaram a polícias adstritos à rede administrativa colonial e a guarda dos mais importantes quadros coloniais, nomeadamente os governadores de distrito e o Governador-Geral de Moçambique.

Foto de Nova Portugalidade.

Foto de Nova Portugalidade.
MCB
(1) Sipaio (ou cipaio) vem de sepoy, palavra oriunda do persa sepāhī que significa soldado de infantaria.
Fotos: Sipaio landim. NP agradece a António Botelho de Mello.

Nova Portugalidade 


sábado, 28 de outubro de 2017

JUVENTUDE MONÁRQUICA DEBATEU "MONARQUIA VS REPÚBLI...

Real Associação da Beira Litoral: JUVENTUDE MONÁRQUICA DEBATEU "MONARQUIA VS REPÚBLI...: Monarquia VS República Foi o tema proposta pela Revista Gira a debate, por ocasião das Comemorações do 05 de Outubro. O Presidente d...

5 PORTUGUESES SALTARAM PARA A BRECHA

Foto de Nova Portugalidade.

Durante o primeiro cerco a Diu (1538), António da Silveira defendeu a fortaleza com 600 portugueses, contra dezenas de milhares de turcos e cambaios. Ao fim de meses de lutas incessantes, o número de portugueses ainda capazes de manusear o mosquete ou a espada desceu para uns meros 40, tendo o adversário perdido para cima de 3.000 homens, acabando por desistir e ir-se embora.
Mas para o turco, a derrota no primeiro cerco não significou a desistência. Ao tomar conhecimento de que tão poucos portugueses se encontravam na fortaleza quando levantara o primeiro cerco, decidiu reaparecer, devidamente preparado e com novo exército gigante. Desta feita, no ano de 1546 surgiu com 13.000 homens em frente à fortaleza, entretanto restaurada, mas defendida apenas por 250 portugueses, liderados pelo seu capitão D. João de Mascarenhas. Ambos os lados tentaram conseguir introduzir reforços, recebendo os portugueses mais 200 e o turco mais 20.000.

A situação era desesperada, pois os nossos perderiam inevitavelmente se dessem luta em campo aberto, só lhes restando a defensiva. E desta vez o inimigo trazia engenheiros experimentados, que abriram grande quantidade de trincheiras à volta da nossa fortaleza, colocando nelas bombardas de enormes dimensões para derrubar os nossos muros.

Mas até se dar esta grande vitória, houve muitos momentos de dúvida, em que não se sabia se ela penderia para um lado ou para o outro.

Os engenheiros e artilheiros ao serviço dos turcos, parte deles italianos alistados para este fim, mandaram construir minas, aproximando-se assim da fortaleza portuguesa por baixo. Conseguiram colocar um grande número de barris de pólvora sob um dos nossos baluartes. Quando tudo explodiu, deu-se o caos. O grande efeito da pólvora oprimida fez com que as pedras da fortaleza fossem projectadas com tão violento impulso, que mataram 60 portugueses e centenas de adversários no campo inimigo! O turco não tinha dado ordem para recuar às suas próprias tropas para que os portugueses não se apercebessem do que estava tramando!

O baluarte estava destruído e em ruínas, tinha-se aberto uma brecha que permitia a entrada ao inimigo. Logo que os fumos da explosão se desvaneceram, o turco deu ordem a quinhentos dos seus mais experimentados soldados para assaltarem a fortaleza por aquela brecha.

Para os portugueses parecia ter chegado o fim. Tinham perdido tantos dos seus melhores homens, entre eles o filho do Vice-Rei, ficando muitos outros feridos e soterrados e agora o turco atacava por uma brecha que mais parecia uma porta aberta, como convite para que se apoderasse da fortaleza!

Porém, nesse mesmo instante, sem prévia combinação, saltaram cinco portugueses para a brecha a fim de fazerem frente aos 500 que, aos gritos, por ela tentavam entrar. O espaço era estreito e os turcos não se podiam fazer valer da sua quantidade numérica, aparecendo os seus soldados armados de cimitarras e sabres, mas não conseguindo atravessar a brecha mais do que três ou quatro de cada vez. Os portugueses recebiam-nos com as suas espadas e adagas de mão esquerda, mostrando como tinham aprendido a lutar.

Fizeram rosto ao inimigo, travando uma nova batalha de 5 contra 500! Ficaram sós por muito tempo, tendo os outros defensores portugueses pensado que o baluarte tinha caído e que o mouro tinha conseguido entrar, fazendo uma enorme gritaria, amedrontando qualquer um que se quisesse dirigir naquela direcção. D. João de Mascarenhas, que se encontrava com a maioria dos seus a defender outros baluartes e a porta principal, começou a dar-se conta de que a grande gritaria se mantinha no baluarte destruído mas estranhou que ainda não houvesse turcos no interior da fortaleza. Com quinze companheiros resolveu ir ver o que se passava. O espectáculo que viu ficou na história militar mundial.


Dos cinco portugueses, um estava morto e dos outros, três estavam feridos, porém continuavam em pé e a combater. À sua frente amontoavam-se os corpos dos adversários mortos e feridos, calculados em cerca de 200 e os restantes 300 turcos, com gritos de raiva e escalando a brecha por cima dos corpos dos seus camaradas, continuavam, em vão, a tentar conseguir entrar! Quando os reforços portugueses chegaram, substituindo os braços feridos e cansados por outros mais frescos, mais numerosos e prontos para participar, acabaram os turcos por recuar e abandonar o local. Mais do que lutar ficou aos novos combatentes a tarefa de rapidamente fechar a brecha.

O feito dos cinco homens animou todos os portugueses que ainda restavam na fortaleza, Embora tristes pela morte dos seus 60 camaradas na explosão do baluarte, conseguiram a vitória pela acção de cinco homens cujos nomes aqui menciono para que a sua memória se perpetue:


SEBASTIÃO DE SÁ
ANTÓNIO PESSANHA
BENTO BARBOSA
BARTOLOMEU CORRÊA
MESTRE JOÃO, o cirurgião de Diu.

Guilherme Carinha
Jacinto Freire de Andrade: "Vida de Dom João de Castro Quarto Visorey da índia", edição de 1671, pág. 160; "Portugal Diccionario Histórico", edição de 1907, voi III. pág, 73/74).
fonte: Rainer Daehnhardt: "Homens, Espadas e Tomates", pág. 117-120


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A Portugalidade explicada por José Hermano Saraiva

Foto de Nova Portugalidade.


"Isto é que é muito importante. É que existiu, e continua a existir, um Oriente português que nada tem a ver com a política. Eu há muitos anos publiquei um livro chamado "A formação do espaço português" em que acentuo exactamente isso: Portugal não era um Estado, não era uma organização política. Era uma ideia, era um "espaço de missão, como eu lá chamo. Onde quer que houvesse portugueses e se rezasse em português, eles diziam que eram portugueses. Essa ideia continua hoje a ser verdadeira." 


«O principal responsável por esta exposição, o dr. Miguel Castelo-Branco, contou-me há momentos que quando apresentou o seu passaporte lá na alfândega [na Tailândia], o funcionário viu e disse: "Português? Ah, tem graça. Eu também sou português". Ele ficou espantado com um asiático que lhe dizia que era português e lhe falava em inglês e disse "Mas português porquê?" "Bom, eu também sou cristão."»

"A ideia da Portugalidade, do império português, não tem nada a ver com organização política, com obediência a um senhor. Não, é uma ideia espiritual. É uma comunidade de gente que acredita talvez no mesmo Deus, embora sob formas muito diferentes, é uma comunidade dispersa pelo mundo. E isso lembra muito a comunidade judaica. O espaço português não é um Estado, não é um país, não é um império, não é um domínio. Não, é sobretudo uma ideia. E isso continua a ser. Continua a haver a ideia de um Portugal, de um português que eles [os portugueses do Oriente] não sabem já bem o que é. Ligam vagamente com tradições religiosas, com o culto de antepassados, com vários viajantes que ali passaram. E os nossos diplomatas, com toda a razão, sublinham a urgência política que é organizar, dar consciência, dar instituições a essa realidade espiritual e cultural que persiste na Ásia apesar de todas as transformações políticas." 


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

HOMENAGEM A RAMA IX, REI DA TAILÂNDIA E GRANDE AMI...

Real Associação da Beira Litoral: HOMENAGEM A RAMA IX, REI DA TAILÂNDIA E GRANDE AMI...: A memória do Rei tailandês cujas exéquias terão hoje lugar em Bangkok é objecto de uma veneração que não conhecemos na Europa desde os ...

O mais antigo astrolábio do mundo acaba de ser descoberto - e é, claro, português

Noticia a Agence France Press o descobrimento do mais antigo astrolábio do mundo nas costas do Sultanato de Omã. Quando o explorador David Mearns o achou, em 2014, imediatamente pareceu provável que o instrumento pertencesse ao "Esmeralda", uma das embarcações da segunda armada comandada por Vasco da Gama até à Índia. Confirma-se agora que assim é, sendo este astrolábio trinta anos mais velho que o mais antigo conhecido até agora. Comenta David Mearns:

"The Portuguese were at the forefront of developing astrolabes at sea. The oldest reference of them using them at sea is about 1480. The previous oldest was on a ship from 1533."

Picture released on October 24, 2017 by Blue Water Recoveries shows the world's oldest maritime astrolabe, which guided Portuguese explorers on a perilous voyage to India at the beginning of the 16th century

Picture released on October 24, 2017 by Blue Water Recoveries shows the world's oldest maritime astrolabe, which guided Portuguese explorers on a perilous voyage to India at the beginning of the 16th century (AFP Photo/David L. MEARNS)
London (AFP) - A British-based shipwreck hunter said Tuesday a navigation tool he found that guided Portuguese explorers on a perilous voyage to India in the 16th century has been confirmed as the world's oldest astrolabe.
David Mearns found the bronze disc during a dive on a shipwreck off the coast of Oman in 2014 but said Warwick University had only recently confirmed what it was after laser scans revealed etches on it.
"I knew immediately when I saw it that this was a very, very important object. I could see the royal coat of arms on it," Mearns told AFP.
"This is the oldest maritime astrolabe," he said, dating it to between 1496 and 1500 -- around 30 years earlier than the previous oldest known astrolabe.
Astrolabes have been in use since ancient times and the mariners' version was developed by Portuguese explorers using the altitudes of the sun or stars to determine the latitude of a ship at sea.
Warwick University professor Mark Williams carried out the scans of the 17.5-centimetre wide artefact, finding etches separated by five degrees intervals to calculate the height of the sun.
"It was fantastic to apply our 3D scanning technology to such an exciting project and help with the identification of such a rare and fascinating item," Williams said in a statement.
Mearns's company Blue Water Recoveries found the shipwreck in 1998 after researching it but excavations on the site did not begin until 2013 in collaboration with Oman's culture ministry.
Mearns said he believes the shipwreck is of a ship called the Esmeralda, which was part of Vasco da Gama's second expedition to India of 1502-1503 and was captained by the explorer's uncle.
Da Gama was the first European to reach India by sea in 1498, a discovery that opened the way for an age of colonialism and trade between Europe and Asia.
US-born Mearns, who has worked on shipwrecks around the world, said the astrolabe carried the personal emblem of King Manuel I of Portugal, who came to the throne in October 1495.
"The Portuguese were at the forefront of developing astrolabes at sea. The oldest reference of them using them at sea is about 1480. The previous oldest was on a ship from 1533," Mearns said.
The astrolabe is with Oman's National Museum.
Nova Portugalidade

A Armada na dianteira: o Espadarte, o primeiro submergível militar português

Foto de Nova Portugalidade.


Dado pouco conhecido da nossa História naval, Portugal foi um dos primeiros Estados a reconhecer o extraordinário potencial militar da arma submarina. Em 1907, reinava ainda D. Carlos, Lisboa encomendou o seu primeiro submergível aos estaleiros italianos La Spezia. A decisão não poderia ter sido mais corajosa, uma vez que o U-1 alemão, primeiro U-Boot plenamente funcional ao serviço de Berlim, fora lançado ao mar apenas três anos antes, em 1904. Já o Forelle, construído pelo estaleiro Germaniawerft de Kiel, fora concluído em 1903 e logo vendido ao Império Russo. Arrojo, atrevimento, visão, pois; eis o que marcava o pensamento dos nossos estrategas navais de então.

A aposta portuguesa em meios tecnologicamente avançados e de valor militar ainda questionável - para os dois grandes reformadores navais daquelas décadas, o inglês Sir Jack Fisher e o alemão Alfred von Tirpitz, parecia limitado o impacto da nova arma - foi prova de coragem estratégica. Dom Carlos, cuja devoção pelo mar facilitara a decisão, não chegaria, contudo, a assistir à chegada do navio a Portugal. Assassinado em 1908 o rei por extremistas e abolida a monarquia em 1910, o Espadarte chegaria a Portugal em 1913 já como "Navio da República Portuguesa". A embarcação serviu o país durante a Grande Guerra em missões de patrulha e, abertas em 1916 as hostilidades entre Lisboa e Berlim, no esforço empreendido pelo país contra as Potências Centrais. Seria abatido ao serviço em 1928.

Rafael Pinto Borges


Nova Portugalidade


Sob estas cores se fez o império

Foto de Nova Portugalidade.


Da esquerda para a direita: o estandarte da Casa Real de Avis, usado entre os reinados de Dom João I e de Dom João II, a bandeira da Ordem de Cristo, o estandarte de Dom Manuel I e o estandarte das Quinas, usado também como insígnia do Rei de Portugal.




Ou o futuro é de unidade na Portugalidade, ou não há futuro que valha a pena.


Foto de Nova Portugalidade.

A Portugalidade veio para ficar

O I Congresso da Nova Portugalidade aproxima-se. No dia 28, nas Caldas, a NP conta com os patriotas da Portugalidade. Se quer estar presente e juntar-se ao movimento, fale-nos por mensagem privada aqui na página ou através de portugalidade.nova@gmail.com.

Que ninguém diga não ter sido convocado.

Diga à RTP que não paga insultos a Portugal

A NP DE PÉ pela verdade


Para dar expressão à inqualificável provocação, desacertos, manipulação emocional, deformação histórica, embuste anti-científico e terrorismo cultural insertos no programa História a História – África, apresentado por Fernando Rosas, um historiador ideologicamente comprometido que nada sabe de África e nutre indisfarçável ódio por Portugal, a Nova Portugalidade pede a todos os portugueses que sentem o ultraje daquele programa pago por dinheiros públicos e difundido pelo canal público de televisão que façam chegar à RTP o seu protesto e desagravo. 


Foto de Nova Portugalidade.

Pede a NP que tal expressão de protesto patriótico e cidadão seja enviado a:

1. faleconnosco@rtp.pt
2. provedor.telespectador@rtp.pt




Contamos consigo para defender a honra e memória da obra social, cultural, espiritual e material desenvolvida por Portugal em África, pedindo que tal infâmia seja retirada da programação ou que a RTP conceda o direito do contraditório.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

UM PORQUÊ PARA SER MONÁRQUICO

Bandeira de Portugal

   A questão do regime, em Portugal, tem sido um assunto ausente dos principais meios de comunicação social, o que a torna, de certa maneira, adormecida no debate público. Como tal, quando em conversas mais politizadas, onde a forma de designação do chefe de Estado vem ao de cima, sou recorrentemente confrontado com a pergunta: "mas porque é que és monárquico?" - se bem que duvido que similar interrogação possa ser feita aos - poucos - republicanos convictos que fui encontrando.

    Quando confrontado com essa curiosidade gosto de oferecer um só argumento, e um que seja muito simples, pois convém que nos lembremos que desde os bancos da escola que a ideia de República é associada ao progresso social e à democracia, de uma forma intelectualmente desonesta e que, se tivermos por referência a I República, não resiste a qualquer análise objectiva.

    E o argumento que lanço é o seguinte: o Rei é o melhor garante da democracia - entendida aqui à maneira Ocidental: Constituição, Liberdades, Parlamento. Tal resposta é, parece-me, o completo oposto do que os meus interlocutores estão à espera, habituados àquela associação democracia/república.

    Esta tese que proponho é acompanhada por uma pequena reflexão sobre os poderes constitucionais nas democracias europeias e como, pelo menos dois deles, estão sempre reféns de interesses partidários ou de grupo que, nas repúblicas, afectam, também, a figura do chefe de Estado. Convirá admitir que, do ponto de vista meramente constitucional, quando tudo corre bem, talvez não se sinta como flagrante tal situação; porém o problema ocorre quando o país se vê sujeito a um tipo qualquer de crise: aí, os interesses clientelares vêm à superfície, com dano para o interesse nacional - e o chefe de Estado passa a ser mais um patrono da sua clientela do que uma figura de referência e de estabilidade das instituições políticas.

    Ora, pelo contrário, é evidente que se a designação do chefe do Estado não tiver natureza electiva (leia-se, se for hereditária), tal ofício é subtraído à influência da 'partidocracia' ou dos grupos de interesses: tal circunstância permite que mais se possam rever no trono.

    Depois, tem igualmente importância a estabilidade do cargo e a tendencial longa duração dos reinados - não sujeitos a um contínuo 'tic-tac' eleitoral que antecipa a luta política. Esta estabilidade tende a reflectir-se nas restantes instituições de um país - os Parlamentos passam por menos convulsões, vemos surgir menos fenómenos revolucionários e há uma grande estabilidade constitucional, aspecto essencial para a manutenção dos nossos direitos, liberdades e garantias.

    Aqui chegados, procuro então acompanhar estes desenvolvimentos teóricos com um exemplo retirado da recente história política: com a excepção da Confederação Helvética, todos os países europeus que no ano de 1900 eram Monarquias e, sem interrupção, assim se mantiveram até ao ano 2000 foram democracias; pelo contrário, todos os que enveredaram pelo caminho republicano experimentaram, nesse longo século XX, pelo menos um momento autoritário ou totalitário. Todos! De um lado podemos incluir: o Reino Unido, a Suécia, a Bélgica, o Luxemburgo, a Holanda; já do outro: a Rússia, a Alemanha, a Espanha, Portugal.

    Esta pequena reflexão tem, habitualmente, o condão de começar a derrubar preconceitos e de permitir uma troca de ideias mais frutífera e, sobretudo, mais honesta. No fim, gosto sempre de atirar uma pergunta: “então porque continuas republicano?”.


Nelson Marques Nascimento



Natalia Juskiewicz 'Foi Deus' (um Violino no Fado) | 1001 TopVideos

Natalia Juskiewicz 'Foi Deus' (um Violino no Fado) | 1001 TopVideos

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

23 E 24 DE NOVEMBRO: CONGRESSO INTERNACIONAL DE HERÁLDICA MILITAR

Foto de Diogo Teixeira Dias.


Um congresso para os amantes da Heráldica e Falerística Militares. A vertente Falerística - dia 24 de Novembro - conta com um elenco de luxo: Eric TripnauxGuyDeploige, Jean-François Dubos, Jose Vicente de BragançaPaulo EstrelaPavol Marciš e este que vos escreve. A não perder a entrada é livre.


O Preste João das Índias

Foto de Nova Portugalidade.

"Em chegando el-rei lhe falou em grande segredo dizendo que esperava dele um grande serviço porque sempre o achara bom e leal servidor e ditoso em seus feitos e serviços; o qual serviço era que ele e outro companheiro que se chamava Afonso Paiva lhe haverem ambos de ir descobrir e saber do Preste João e onde acham há canela e outras especiarias que daquela parte iam a Veneza por terras de mouros."


A figura mítico-lendária do Preste João não é nada mais que uma lenda persistente que povoou a imaginação dos povos do sul da Europa durante quase quatro séculos. Essa lenda, nascida no século XII, afirmava a existência de um poderosíssimo Rei cristão que habitaria numa região que se localizaria algures entre a Abissínia e os confins da então Berbéria e cujo império seria de uma riqueza inimaginável. Este Preste João seria um rei-sacerdote que liderava a cristandade assumindo um papel de patriarca e de líder religioso do seu povo; talvez daí o nome de Preste João ou Presbítero João - "Presbyter Ioannes, sic enim eum nominare solent...".
A partir desta fantasia houve quem se aproveitasse, quem escrevesse cartas falsas aos reis e ao Papa, quem incentivasse expedições em busca do reino do Preste João. No livro das Maravilhas de Marco Polo, afirma-se que o verdadeiro Preste João é Ong-Cã, rei dos turcos de Oengut, na Mongólia, descendente de cristãos nestorianos. Mas com excepção desta fonte, poucas eram aquelas que mereciam credibilidade, por mais embaixadores e cartas que chegassem a Roma em nome do Presbítero encoberto nas brumas da distância.

Posto isto, no quadro do início da expansão portuguesa, D. João II enviou em expedição dois leais servidores: Pêro da Covilhã e Afonso Paiva. Em 1487 ambos partiram para o Cairo, onde se separariam. Um iria buscar na Índia, impenetrável e desconhecida, o paradeiro desse patriarca, bem como recolher o máximo de informações necessárias para preparar a expedição que os portugueses já preparavam para atingir a Ásia por mar; o outro seguiu para os territórios da actual Etiópia em busca do Preste João. Quando, finalmente, Pêro da Covilhã regressou da Índia, soube da morte de Afonso, exigindo-se-lhe que se dirigisse à Abissínia e ali confirmasse a existência do Preste João. O monarca cristão lutava então contra a pressão muçulmana, pelo que pediu a ajuda dos portugueses na disputa travada com os Mamelucos pelo controle das rotas comerciais do Mar Vermelho.

Tomás Severino Bravo





Mentiras da História de Portugal A lenda negra de Carlota Joaquina

Foto de Nova Portugalidade.



Li em tempos As Lobas do Escorial, de Michel del Castillo, verdadeiro novelo erótico-paródico e dei-me conta das flagrantes similitudes com muita da panfletagem posta a circular nas décadas de 1830 e 1840 contra uma das mais inteligentes, argutas e politizadas mulheres de finais do Antigo Regime em Portugal e Espanha. Carlota Joaquina, infanta de Espanha, Princesa Real de Portugal e, depois, Rainha de Portugal, uma das mais ridicularizadas e caricaturadas figuras desse extraordinário momento de transição da ordem antiga para o Liberalismo, merece sem dúvida um lugar destacado na história da difamação. Não obstante terem sido impugnadas as lendas e acintes contra ela postos a circular por uma sub-literatura inquinada a extremos de pornografia - vide Sara Marques Pereira, D. Carlota Joaquina e os Espelhos de Clio, Lisboa, Livros Horizonte, 1999 - persiste a lenda de uma mulher desbragada, desequilibrada, presa de furores de uma Messalina, matéria quente que comprova o sucesso antecipado dos enredos baixos; espelho, afinal, da irresistível atracção que as pessoas vulgares têm pelo sórdido.

Conhecidas são as Cartas Inéditas de Carlota Joaquina, editadas por Francisca Nogueira de Azevedo. Ali, não há vislumbre de loucura, de desequilíbrio nem qualquer palavra que indicie o estendal de imundície que logo se instituiria.

Tratando-se de uma das principais protagonistas da intriga política que culminaria com a invasão de Portugal e Guerra Civil entre legitimistas e pedristas, sempre me questionei sobre o lugar e o papel de Carlota Joaquina nesse crisol de ódios caseiros [inspirados e pagos de fora] e que culminou com a instauração de uma nova ordem política na década de 1830. Não, uma figura insignificante, medíocre e torpe não poderia ter alcançado o lugar que Carlota Joaquina ocupou ao longo de quase duas décadas. O ódio contra ela foi crescendo, atingindo culminâncias após a sua morte e continuando a acastelar-se de anedotas e piadas ao longo de um século - vide de Francisco de Assis Cintra, Os Escândalos de Carlota Joaquina, 1934; vide Laurentino Gomes, 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil, Rio de Janeiro, Planeta, 2007 - a tal ponto que se converteu em anexim do partido derrotado. O século XIX foi particularmente cruel com as mulheres - que haviam dominado o século XVIII - e a ordem burguesa triunfante tratou de as reduzir a mínimos de visibilidade, inteligência e importância, pelo que Carlota Joaquina - por ser mulher, por ser política, por ser tenaz e, também, por ser espanhola - reuniu o complexo de medos e preconceitos de uma nova sociedade.

A lenda negra de Carlota Joaquina tem por promotor um tal Jose Prezas, aventureiro espanhol que em 1808 se insinuou junto da Corte e passou a ocupar funções de secretariado da então Princesa Real no Rio de Janeiro. Tratava Prezas de todas as matérias atinentes à relação de Carlota Joaquina com a agitada vida da corte espanhola, num momento em que se iniciava em Espanha - por força da aliança com Napoleão, logo transformada em ocupação francesa - uma sangrenta luta pelo poder. Carlota Joaquina tinha ambições e estava decidida a jogar toda a sua capacidade na ocupação da regência espanhola. Era uma ardente defensora a ordem antiga, mas temperada pela leitura e alguma curiosidade pelo Iluminismo católico. Ferozmente anti-revolucionária, não era contudo uma imobilista. Na sua correspondência evidencia-se a capacidade de procurar compreender o que estava em curso na Europa pós-1789, havendo até na sua correspondência curiosas notas e reflexões sobre a possibilidade de dominar o curso dos acontecimentos por meio de concessões negociadas com sectores aberturistas do Antigo Regime e com os homens de "ideias avançadas" (liberais). Não deixa, porém, de ser uma evidência que era uma fiel depositária de um conceito de ordem política centrada na Coroa, uma católica devota e uma inimiga declarada de forças obscuras cuja menção se nos afigura desnecessário referir. Ora, entre 1808 e 1812 (Cortes de Cádis), Prezas foi o confidente da Princesa Real. Em Cádis decidiu-se que a regência passaria para um orgão colegial - Conselho de Regência - e não para um Príncipe/ Princesa de sangue, pelo que Carlota Joaquina abandonou as suas pretensões. Prezas, subitamente desempregado, passou a exercer chantagem sobre a sua benfeitora, pedindo-lhe uma pensão por serviços prestados. Carlota Joaquina sacudiu a criatura, não temeu as ameaças. De secretário, Prezas transformou-se em inimigo e partiu, convertendo-se em apóstolo das "novas ideias", coisa não rara noutros momentos da história, quando rancores, ódios, invejas comezinhas se coroam de princípios para melhor se justificarem. Assim foi com Junqueiro contra D. Carlos e até com Herculano contra o Portugal Antigo.

A obrazinha de Prezas seria publicada em França em 1827 (Memorias secretas de la Princeza del Brazil) pelo editor Carlos Lavalle e Sobrinho. Brest era, na França que antecedeu a Revolução de Julho (1830), um viveiro de imprensa anti-monárquica. A edição das Memórias Secretas - correspondência apócrifa do punho de Prezas - transformou-se num dos estandartes dos "exilados". Paga por Mendizábal, foi acolhida com grande júbilo. Não se compreende como D. Pedro, filho de Carlota Joaquina, pôde dar assentimento a tal repugnante ultraje à memória da sua mãe, entretanto já falecida. Como sempre digo a um bom amigo, a política é coisa perigosa como repugnante - um Minotauro sem alma e sem princípios - mas há limites para a indecência.

Miguel Castelo-Branco


Nova Portugalidade

domingo, 22 de outubro de 2017

Na hora decisiva da Catalunha, fazemos a pergunta que se exige: é a independência da Catalunha do interesse de Portugal?

Foto de Nova Portugalidade.

É a Catalunha nação? O autor crê que sim, e, tudo o sugere, fá-lo também maioria gorda dos catalães. A Constituição da Espanha, de resto, o mesmo afirma. Deve a Catalunha ser Estado independente? Isso não sabe o autor, que entende que desses assuntos só os povos, sem infiltração que lhes seja estranha, podem ajuizar e decidir. No que à família espanhola pertence, é feio e de má vizinhança que vá português pôr a mão ou enfiar argumento. Tal como desagradaria a Lisboa ou ao patriota de Portugal que a Espanha se exprimisse se, de futuro, parte do nosso Estado desejasse autonomizar-se, é natural - e, logo, coisa de evitar - que o espanhol se sinta incomodado com as paixões catalanistas de quem vê a crise deste lado da raia. Pela mesma razão pode, e deve, o catalão que quer o corte com Madrid irritar-se quando o português aficionado da Espanha lhe diz que a legalidade constitucional se sobrepõe aos direitos dos povos e que, por isso, os independentistas mais não devem fazer que enterrar fundo o desejo de separação. Silêncio, paciência, prudência; eis o caminho que interessa a Portugal até que a confusão ibérica amaine e se perceba se a Espanha se manterá unida ou se, como aconteceu na península até Isabel e Fernando, voltará a haver nela três grandes países.
Se a separação da Catalunha é questão de catalães e restantes espanhóis, o que convém a Portugal na crise catalã é compreender o que é do seu interesse. Não que, como se dizia, Portugal possa agir em função dele; a Espanha é Estado soberano e a intervenção, como ao vizinho de família que viva momento difícil, encontra-se-nos vedada. Mas convém estudar se, como é argumento de tantos inimigos da unidade espanhola, Portugal teria vida facilitada numa península dividida ou fraccionada. Diz-se frequentemente que sim e mostra-se, como prova para a tese, que foram tensas durante muitos séculos as relações entre Lisboa e Madrid; atribuem-se á Espanha intenções sinistras e o desejo de unificar a península à força. A resistência a Castela fez-se, particularmente após a Restauração de 1640, parte importante da mitologia nacional portuguesa. Recorda-se Godoy, Fontainebleau e o plano franco-espanhol para a destruição e partição da nação portuguesa; fala-se de Afonso XIII, que no século XX terá querido invadir Portugal após a revolução republicana de 1910; treme-se de indignação com Franco, que com a tese "Como invadir Portugal?" se fez general; recorda-se Alcântara, a sorte do Prior do Crato, que a mitologia nacionalista canonizou, e a conquista do trono português por Filipe II de Espanha, depois I de Portugal. Também o nacionalismo espanhol acusa, injustamente, Portugal de haver traído a unidade peninsular e católica para abraçar a Inglaterra protestante. Uma leitura mais racional da relação luso-espanhola, menos dada a excitações e mais amiga da realidade histórica e compreensiva da posição de ambos os países permite relativizar as faltas que ambos atribuem ao outro.
A relação luso-espanhola pode ou não ser de hostilidade - e é do interesse de ambos, Portugal e Espanha, que o não seja. A máxima grandeza peninsular - o Siglo de Oro espanhol, que coincidiu com o auge imperial de Portugal - não se fez do antagonismo entre as coroas de Castela e de Portugal, mas de colaboração franca e estreita entre as duas. Não é verdade que Portugal participou, em defesa da Espanha sua aliada e da Europa católica, nas campanhas marítimas que Castela conduziu no Mediterrâneo contra a ameaça islamo-turca? Não dividiram os dois o mundo entre si, primeiro com Alcáçovas-Toledo e depois em Tordesilhas e Saragoça? Não combateram irmanados a competição francesa, Portugal no Brasil e a Espanha na Europa? E não coube a Portugal a protecção das rotas atlânticas que, usadas pelos galeões vindos do México e do Rio da Prata, engordaram os cofres da Espanha e permitiram pagar a defesa da Europa contra o avanço coligado do Sultão otomano e do protestantismo luterano e calvinista? Trabalhando juntos Portugal e Espanha, tomaram a Europa e o mundo para si; dividindo-se - e dividiram-se traumaticamente em 1640 porque, para prejuízo dos dois, se haviam unido em 1580 - caíram os dois em imparável espiral de decadência. A lição é dupla: que a Espanha europeia e o Portugal marítimo não podem, para bem dos dois, confundir os seus interesses (e isso fizeram entre 1580 e 1640) e que, também para bem dos dois, devem ser parceiros.
Em medida que não pode ser ignorada, a expansão mundial de Portugal no século XVI - que exigiu, como sabemos, a completa mobilização de todos os recursos humanos, militares, diplomáticos, económicos e científicos ao dispor da nação portuguesa - só foi possível porque houve tranquilização da vida peninsular através da unificação entre Aragão e Castela. A existência a oriente de um aliado capaz de guarnecer as fronteiras terrestres de Portugal e de impedir a entrada na Ibéria de actores externos - a França, especialmente - foi o dado novo que possibilitou investir na construção do império meios que teriam, de outro meio, sido necessários à salvaguarda da metrópole europeia de Portugal. Sem dúvida, a expansão para o Atlântico e Marrocos iniciou-se antes da união entre Castela e Aragão, e isso não se pretende ocultar; o que se diz é que semelhante largueza de meios não poderia ter sido devotada à conquista e povoamento da Índia e do Brasil sem a amizade luso-espanhola que durou de Toro, em 1476, até 1580.
A lição do século XVI, o mais feliz e luminoso da História de Portugal, deve ser escutada pelos portugueses que desejem ver no nosso tempo uma nova política nacional de reencontro com a Portugalidade. Como nas centúrias de Quatrocentos e Quinhentos, uma deriva marítima e extra-europeia por Portugal requereria todos os parcos meios que Lisboa tem ao seu dispor. Se, como necessariamente aconteceria após uma independência catalã, a Ibéria do futuro for de conflitos latentes, ódios vários e alianças e contra-alianças entre Portugal e os países que venham a suceder à Espanha, Lisboa ver-se-á forçada a dar à defesa do rectângulo peninsular atenção que não atribui desde que, em verdadeiro golpe de génio, o governo português de então fez o Pacto Ibérico de 1939 e reconstruiu, após tantos anos de oposição entre Portugal e a Espanha, a situação que vingou no século de ouro - o XVI - de ambos os países.

RPB


Bartolomeu de Gusmão, o brasileiro que quis voar (ou de como o Brasil português era atrasado e obscurantista)

Foto de Nova Portugalidade.


Nascido em Dezembro de 1685, em Santos (Estado do Brasil, Reino de Portugal), Bartolomeu Lourenço de Gusmão foi um pioneiro na arte da aviação. De facto, foi este ilustre Português que colocou a funcionar, pela primeira vez, um aeróstato – isto é, uma aeronave que voa por ser mais leve que o ar. (Nota: há quem afirme que Leonardo Da Vinci o teria feito antes mas, regra geral, Bartolomeu de Gusmão é referido como o pioneiro neste campo).

Filho de um cirurgião, é fácil de imaginar que o espírito científico lhe fora incutido desde tenra idade. À data do baptismo, foi registado somente como Bartolomeu Lourenço, adicionando, mais tarde, o apelido “de Gusmão” mais tarde, em honra ao seu tutor Alexandre de Gusmão (padre Jesuíta).

Desde muito cedo, destacou-se como inventor e era conhecido pelo brilhantismo das suas ideias. Após frequentar o Seminário, é ordenado padre da Companhia de Jesus, tendo pelo caminho registado a patente de “o invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar”, um sistema criado pelo genial padre nos seus tempos de Seminário.

Na Metrópole, ingressaria na Universidade de Coimbra e, mais tarde, abandonaria essa mesma instituição para se instalar em Lisboa, onde foi recebido com bastante apreço pelo Rei D.João V.

É em Lisboa que começa a sua pesquisa para criar “um instrumento para se andar no ar”, requisitando, de imediato, esta patente. A notícia depressa se espalha pelo Reino e por toda a Europa, onde começam a surgir ilustrações fantasiosas do célebre engenho. O Velho Continente fica, assim, a conhecer a “Passarola”. Não obstante, estas ilustrações não eram, de todo, fidedignas. Com efeito, os primeiros desenhos da “Passarola” foram deliberadamente falsos, tendo sido elaborados pelo colaborador de Bartolomeu de Gusmão - D. Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes -, a única pessoa com acesso ao projecto para além do próprio padre jesuíta.

Estes desenhos falsos tinham como objectivo esconder a invenção dos olhos do mundo, ludibriando aqueles que a tentassem replicar. De facto, até o próprio princípio de funcionamento da “Passarola” era mentira: Bartolomeu e o seu protegido afirmavam que o balão funcionava graças ao magnetismo. Na realidade, o segredo da “Passarola” era o Princípio de Arquimedes e, mais uma vez, o padre jesuíta conseguia iludir aqueles que tentavam replicar a sua invenção.

Ao longo do ano de 1709, Bartolomeu de Gusmão realizou diversas demonstrações públicas das capacidades da sua invenção. Entre os admiradores do engenho do padre jesuíta estava aquele que viria a ser, mais tarde, o Papa Inocêncio XIII. Ainda assim, os seus balões de ar quente não vingariam, pois havia o receio de que estes provocassem incêndios e a falta de poder de controlo sobre eles impediu a construção de um modelo que permitisse transportar um homem.

Mais tarde, Bartolomeu de Gusmão teve problemas com a Inquisição, por quem era acusado de ser conivente com cristãos-novos. Houve até quem chegasse a afirmar que o padre, numa crise de Fé, se teria convertido ao judaísmo. Aquilo que fica para a História é que à data da sua morte, estava confessado e teria comungado – estava, portanto, em comunhão com a Santa Igreja Católica. Foi, desta forma, sepultado na Igreja de São Romão, em Toledo, a 18 de Novembro de 1724.

Mamede Broa Fernandes




sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O português como língua da planetarização

Foto de Nova Portugalidade.

Primeira língua europeia ouvida e exercitada fora da Europa, o português foi, para muitos africanos, asiáticos e ameríndios, a língua primordial por excelência da universalização dos saberes, a grande dádiva pela qual fluíram os quadros e arrumações científicas que a planetarização tornou possível. Para povos até então ágrafos, o português depressa se converteu no veículo da civilização, como bem lembrava Garcia de Resende na Vida e Feitos d’El Rei Dom João II ao referir-se aos jovens congoleses que desde finais do século XV aprenderam a ler e escrever pelas Cartilhas portuguesas.

O fluxo de impressos não parou de crescer, sendo tão grande a procura que em 1490 seguiram para o Golfo da Guiné dois impressores de cartilhas. Na Europa, ainda a arte da imprensa dava os primeiros passos, e já em remotas paragens tropicais pequenas mãos de crianças negras folheavam livros – essas maravilhas de saber – em busca de conhecimento. A avidez com que os africanos receberam a imprensa tornou-se manifesta assim que o poder português se estabeleceu no Índico. Para a Etiópia seguiram em 1515 dois mil e quinhentos volumes impressos, prenda de Dom Manuel I para o Negus. Afonso de Albuquerque, numa das suas cartas ao Venturoso, dava conta do zelo com que se entregavam os portugueses à difusão da língua, informando o Rei que em Cochim se abrira uma escola que acolhia uma centena de crianças indianas. Depressa, porém, teve de se abandonar a prática do envio de livros de Lisboa, tamanha a solicitação. Preferiu a Coroa portuguesa instalar na Ásia tipografias que respondessem com celeridade à procura. Assim, em Goa montou-se uma tipografia em 1556, e quando a marcha para Leste alargou o espaço português oriental, logo surgiu uma tipografia em Macau (1584) e outra no Japão (1591).

A revolução cultural portuguesa estava em marcha. Em meados do século XVII, o português convertera-se na língua franca asiática e, como tal, não havia inglês ou holandês que àquelas paragens chegasse que não tivesse de aprender o idioma português.

Miguel Castelo-Branco
Imagem: Dom Manuel não foi apenas um dos mais ricos monarcas do seu tempo. Foi um dos maiores difusores da língua portuguesa.

Nova Portugalidade