Há cerca de trinta anos, antes da fase indigenista, uma certa historiografia brasileira quis exercitar a possibilidade de uma história do Brasil, mas sem Portugal. Foi o tempo de ouro do "Brasil holandês", com hinos e incensório a Maurício de Nassau, ainda persistente entre alguns retardatários. Sim, os holandeses estavam no Brasil para implantar a industrialização avant la lettre, promover a difusão do conhecimento científico, aplicar tecnologias que libertariam o escravo negro do brutal regime da sanzala. Se assim fosse, por que razão haviam tomado S. Paulo de Luanda, porta de saída da mão de obra escrava destinada ao Brasil holandês ? A mesma perspectiva volta contraditoriamente à carga na análise da guerra entre "brasileiros" e holandeses, a qual terminou nos Guararapes (1648). O facciosismo quis ver nessa vitória a certidão de nascimento do Brasil e da "brasilidade". Coubera aos "brasileiros" reconquistar a sua terra ocupada pelos próceres da VOC e nessa empresa não precisaram nem do Rei de Portugal nem de soldados vindos da Europa.
A verdade que querem esconder é que se houve Brasil, essa foi obra portuguesa, não obra do acaso e das errâncias e feitos de homens duros, como os Bandeirantes, mas de um escopo legislativo que produziu e conformou o imenso espaço a uma unidade irreversível que se veio a realizar com a independência do país filho de Portugal. Das capitanias hereditárias às capitanias gerais e aos municípios, aí viveram portugueses e não "brasileiros", pois era essa a designação que ostentavam. Havia "portugueses de Angola", "portugueses de Macau", "portugueses da Índia", divididos entre reinóis (nascidos na Europa) e nascidos no território, mas todos portugueses. O que aqui aflora é, somada à ignorância, a vontade de minorias recém-chegadas em imporem a sua "brasilidade", nomeadamente imigrantes que foram ganhando protagonismo e riqueza ao longo das últimas décadas.
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