Na era pós-industrial em que vivemos, os velhos princípios que regiam a alocação de recursos, a produção de bens e a divulgação de produto já não são suficientes. O mercado globalizado, mais do que nunca, impõe a organizações governamentais e não-governamentais novos desafios a que estes respondem com liberalidades, restrições, condicionalismos do mais variado tipo.
O valor da informação e da reputação, do contacto humano, da simbiose civilizacional, tornaram-se factores preponderantes. Pondo as coisas em pratos limpos, a conquista de uma quota de mercado depende, em grande parte, do nosso estatuto na batalha cultural. Um cultura influente impõe-se, responde, transacciona não, de forma unilateral, nos seus termos, mas em harmonia com os agentes envolvidos. E é especialmente no ponto dos afectos, da tradição familiar, do habitus social, mas também na peculiaridade dos seus produtos e do seu modo de vida, que a Portugalidade tem uma hipótese contra a política de consumo imposta pela hegemonia norte-americana.
Portugal tem emigrantes em 140 dos 150 países existentes. Dentro desses países constituíram-se comunidades de diferente peso - em França são 567 mil, em Espanha 136 mil, em Angola 17 mil, enquanto que nas ilhas Maurícias são só 50.
Dentro destas comunidades existe uma "zona de penumbra", como lhe chamam os analistas, que mais não é do que uma fonte quase inesgotável de integração e representação cultural - os luso-descendentes. Que esforço está a ser feito para os ligar à cultura mãe? Praticamente nenhum.
No caso brasileiro, julga-se que pelo menos 800 mil brasileiros vivam nos Estados Unidos e 254 mil no Japão. Essas comunidades trazem consigo a língua e um estilo de viver tropical, aproveitando outro tipo de recursos e com outras perspectivas profissionais e outros hábitos de consumo. O mesmo se passa com os emigrantes de outros países lusófonos - ou seja, um mundo de investimentos ligados por uma língua e por uma base cultural onde a diversidade não nos falta.
O mundo de falantes lusófonos aponta para 250 Milhões. E depois temos os crioulos portugueses, falados desde as Caraíbas até Timor. A seguir esse mapa de propagação da língua e de afluentes dessa língua, estão comunidades que, mesmo tendo esquecido os dizeres mais básicos, mantêm nomes portugueses ou uma memória do mundo lusófono, muitas vezes através de práticas religiosas, memória essa que usam para fins identitários, demarcando-se dos seus vizinhos.
No mundo de mercados globalizados, no mundo onde as comunidades, as empresas e os consumidores procuram fugir à homogeneidade galopante, ao produto massificado, a Portugalidade tem nas mãos duas habilitações únicas: espaço por onde criar uma reputação, espaço por onde colher informação. E falo em "espaço para fazer" porque essa reputação ainda não foi construída e essa informação ainda não foi aproveitada.
Ou seja, a Portugalidade não é um mero adereço - é uma fonte de riqueza por aproveitar. Um mercado criado por mais de 500 anos de emigração, activo pelo menos desde o século XII, que conta com o contributo não só dos que saíram de Portugal mas também do Brasil, de Macau, de Moçambique, da Índia.
Um Valor de Futuro? Sim. Mas um Valor que não espera pela nossa boa vontade. Um Valor que não tem sido bem tratado e que corre sério risco de se degradar. Tal como todas as coisas boas da vida, merece o nosso cuidado, o nosso carinho, merece uma política com visão.
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