Quando Petrarca se referiu a um medium tempus, ou seja, àqueles mil anos compreendidos entre o estertor de Roma e a época em que vivia, falando na proximidade de um Renascimento que restauraria a grandeza Clássica, terá cometido certamente um dos mais graves erros da história cultural ocidental. O desprezo por esse longo período de maturação do Ocidente fez história, ao ponto de os britânicos persistirem em chamar-lhe The Dark Ages. Essa "Idade Média" nunca existiu. A prová-lo, a recente descoberta que chocou os historiadores da arte: as catedrais góticas eram garridas, coruscantes, chocantes pela policromia, luminosas; um exaltado hino à alegria de viver e aspiração à salvação. Deram-me há tempos um catálogo publicado por ocasião das celebrações dos 800 anos da catedral de Reims. Lá estão - "indianíssimas", como se de um templo hindu se tratasse - os arcanjos, as legiões celestiais, os evangelistas, os Padres da Igreja, os Reis irradiando cor. Logo, chegou-se à mesma conclusão: as catedrais de Amiens, Frankfurt, Colónia eram, elas também, torres de cor. Estudo análogo foi feito em 2017 no Mosteiro da Batalha, chegando os investigadores à conclusão que as capelas eram profusamente pintadas e que a policromia era um elemento fundamental das estruturas arquitectónicas medievais.
Há quem alimente mitos e medos sobre a Idade Média. Temos, sim, medo justificado da Idade Moderna e desta "idade Contemporânea". Olhando para as nossas sinistras torres caixotes-humanos em betão e vidro, marcas da tecno-civilização - as colmeias do homem horizontalizado - compreendemos quão teremos regredido.
DEUS - PÁTRIA - REI
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