quinta-feira, 22 de outubro de 2020

As Outubradas Monárquicas

 A 21 de Outubro de 1913 deu-se a Primeira Outubrada, a conspiração monárquica que ocorreu em diversas cidades portuguesas, e que, em Lisboa, foi liderada pelo heróico Almirante João de Azevedo Coutinho, coup que só foi contido porque o governo tinha um infiltrado entre os conspiradores.

João de Azevedo Coutinho foi um político, administrador colonial e militar da Armada Portuguesa, que apenas com 25 anos foi um dos heróis africanos proclamados Benemérito da Pátria pela Câmara dos Deputados das Cortes, pelo seu papel nas Campanhas de Conquista e Pacificação das colónias portuguesas de África. Foi nomeado governador-geral de Moçambique (1905-1906). A 31 de Dezembro de 1904 foi-lhe atribuído o Título de Conselheiro de Sua Majestade Fidelíssima como Capitão-Tenente da Armada e Governador-Geral da Província de Moçambique. A 9 de Fevereiro de 1908, após o terrível Regicídio que pôs termo às vidas d’El-Rei D. Carlos I de Portugal e do herdeiro o Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, Azevedo Coutinho foi nomeado 53.º Governador Civil do Distrito de Lisboa, então um cargo de grande importância face ao clima insurreccional que se vivia na cidade. A 4 de Janeiro de 1909, sendo do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima e Governador Civil do Distrito de Lisboa, por relevantes serviços prestados ao Estado, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. Depois, foi, por duas vezes, Ministro da Marinha e Ultramar (1909-1910) nos últimos governos da Monarquia Constitucional Portuguesa.

A implantação da República Portuguesa levou a que fosse reformado compulsivamente em 1910, no posto de capitão-de-fragata, já que se manteve fiel aos ideais monárquicos. Como se articulou acima fez parte da conspiração monárquica de 21 de Outubro de 1913, conhecida por Primeira Outubrada, dirigido por ele em Lisboa.

A 20 de Outubro de 1914 deu-se a 2.ª Outubrada mais conhecida por ‘Revolta da Água-pé’, o levantamento monárquico que ocorreu na região de Mafra e Torres Vedras.
A insurreição decorreu na conjuntura do rebuliço pró-monárquico que se verificou no dealbar da periclitante e conflituosa Primeira República Portuguesa. A revolta contra-revolucionária começou com o assalto ao Quartel da Escola de Tiro de Mafra, às 8 horas da manhã desse 20 de Outubro de 1914. A ação foi executada por um grupo de monárquicos comandados pelo major Rodrigues Nogueira, para obterem armas e munições naquele quartel. De seguida os revoltosos puseram-se a caminho de Torres Vedras, onde esperavam encontrar reforços, o que não ocorreu pois, a meio do percurso, quando atravessavam a freguesia de Ventosa, foram interceptados por uma força da Guarda Nacional Republicana, vinda de Torres Vedras, e por uma brigada do exército fiel ao governo, saída de Mafra, sob o comando do capitão Álvaro Poppe. Assim, o movimento culminou com um recontro perto de S. Pedro da Cadeira, onde os contra-revolucionários monárquicos foram derrotados por razão da disparidade numérica das forças em confronto e obrigados a dispersar. Do recontro resultaram três mortos e vários feridos. Por a data coincidir com apogeu da época de fabrico da água-pé, a Primeira Outubrada ficou conhecida por Revolta da Água da Pé.

No seguimento dos acontecimentos, a 22 de Outubro foi criado um tribunal militar especial para julgar os monárquicos capturados, e que não viram respeitados os mais elementares meios de defesa.

Miguel Villas-Boas


 

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