Sá Fernandes está furioso. Às televisões e aos jornais que o questionam sobre a petição que a NP organiza e já quase dez mil assinaram, não diz uma palavra: já todos sabem que nem motivos estéticos, nem urbanísticos, nem financeiros presidiram à decisão da Câmara. Sá Fernandes remete-se ao silêncio de quem nada tem a dizer, encurralado pela marcha imparável da verdade. Limitam-se os seus assessores a escrevinhar umas coisas desconexas, ilógicas e raivosas nos respectivos perfis de Facebook - remoques insignificantes em que já nem se coíbem de atacar de frente portugueses unanimemente respeitados cuja única e nova falta é terem vértebras. Vértebras para se oporem a um crime contra o património, vértebras para dar voz à sua consciência, vértebras para agir quando seria mais conveniente e mais confortável ficar parado.
Eles estão furiosos porque a cidadania está a ganhar. Quando, em 2016, a NP lhes fez chegar a primeira petição em defesa dos brasões da Praça do Império, fizeram aquilo a que estão habituados: leram o texto, subscrito por milhares de portugueses como eles, e atiraram-no ao lixo sem medo, sem vergonha e sem cerimónia. Estranha democracia a deles, em que não vale nada a vontade expressa de tantos homens e mulheres. Ignorando-nos, esperavam certamente pelo nosso cansaço; desejavam que desistíssemos por exaustão e desalento, que alçássemos bandeira branca e nos dedicássemos a outra coisa, se possível longe e silenciosamente. Não aconteceu. Não vai acontecer.
Não vai acontecer porque a NP, os proponentes que nos acompanham e estes quase dez mil portugueses percebem que em causa estão muito mais que os canteiros, valiosos que possam ser - e são - por si mesmos. Está ainda em causa o que eles representam, por um lado. E está em causa o que o futuro nos trará se perdermos esta batalha. Estamos perante a obsessão de um homem que deseja utilizar os recursos e os poderes de Lisboa contra Lisboa, terraplanando-a e reduzindo-a a plasticina da ideologia. Ora, no Reino Unido, começou-se pelas estátuas de figuras semi-ignotas, acusadas de crimes que não o eram no tempo em que viveram. Depois, quis-se apear os monumentos a Nelson e a Rhodes, um porque "imperialista" - imperialista, o homem que parou Napoleão -, outro porque "colonialista". No ano passado, já era Churchill - o capitão vitorioso dos povos livres da Europa contra a hidra nazi - a vítima da turba. Nos Estados Unidos, a purga fez-se primeiro com figuras facilmente demonizáveis. Hoje, já se muda o nome a liceus que foram até há pouco "George Washington" ou "Abraham Lincoln". Pois bem, a Praça é uma obra de arte. É insubstituível. Os brasões são parte da Praça. Aqueles canteiros valem mil petições e milhões de assinaturas. Mas, defendendo os brasões e a Praça, defendemos muito mais: mantemos o cadeado numa caixa que, como a de Pandora, libertará se aberta a pestilência da censura, da correcção política e do talibanismo por esta terra portuguesa.
Há dias, em entrevista ao DN, perguntava-se António Barreto se depois da destruição dos brasões, purgados da memória e do direito ao espaço público por desagradarem a um vereador extremista, acabaríamos a discutir a demolição do Padrão dos Descobrimentos, ou mesmo do Mosteiro dos Jerónimos. Se a experiência estrangeira nos prova algo é que esse receio de António Barreto é mais do que justificado. É por isso que temos de vencer aqui. É por isso que assinar é um imperativo de consciência, de cidadania e de patriotismo.
Rafael Pinto Borges
Aqui, a nossa petição: https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT105983
Fonte: Nova Portugalidade
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