quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

O pior da lusofobia está em Portugal, não em Angola ou no Brasil

 



Ontem, em post nosso sobre a popularidade crescente da ideia de unificação confederal do mundo de expressão inglesa, um leitor particularmente atento perguntava-se se, como no caso da Comunidade Britânica, o maior cepticismo à ideia de reintegração não estaria na antiga metrópole, Portugal, em lugar de estar nos países extra-europeus do mundo português. Na experiência da Nova Portugalidade, essa avaliação não poderia estar mais correcta. Apercebemo-nos há muito - com menos surpresa do que se imaginará - que é precisamente em Portugal, muito mais que em qualquer outra parte da Portugalidade, que vive a lusofobia mais violenta, mais preconceituosa, mais raivosa e mais abrangente. Impressionava-nos, de início, o número de lusíadas do Brasil, de Angola, de Cabo Verde e de Timor que nos chegavam, animados por um entusiasmo imparável e um orgulho pleno, transbordante, na sua herança portuguesa. E sabemos que é em Portugal que se tem revelado mais difícil conquistar apoio para a ideia de reunificação pan-portuguesa - sobretudo, entre a intelligentsia nativa, que há muito abdicou de pensar, que não tem mundo para lá do permanente beija-mão à classe política que a subsidia e cujo horizonte espiritual se esgota na Europa que lhes paga viagens, papers e delírios de auto-importância.

Muito se fala, em Portugal, da propaganda anti-portuguesa no Brasil ou em Angola. Que ela é pujante ao ponto de atingir o dinamismo e a organização de uma indústria, ninguém negará. Mas os portugueses melhor informados olham para o Brasil, onde de há uns dez anos para cá ganha corpo e importância um impressionante movimento de auto-descoberta histórica e redignificação nacional, e só podem sentir inveja. A democratização da comunicação e da produção intelectual – pela internet, pelas redes sociais, etc – produziram no Brasil uma verdadeira, e positiva, revolução cultural. Serão hoje muitas dezenas de milhões de brasileiros os que sentem a vontade de recompreender a sua História, atirando ao chão a lente enganadora do ensino oficial e dos programas ideologicamente inquinados, ministrados por professores igualmente desonestos. Desde a fundação da NP, o movimento lusófilo no Brasil cresceu e fortaleceu-se – e o sucesso da NP no Brasil é disso indiscutível prova.

É na Portugalidade europeia – no que é hoje a República portuguesa, rump state da Portugalidade - que mais está por fazer. Um espesso lamaçal de mentiras desceu sobre os portugueses. Muitos, convencidos ao longo de cinco décadas da inviabilidade política e económica do país, mais não pedem que a segurança medíocre dos fundos (subornos) europeus. Uma parte relevante do povo português foi levada a crer, mediante uma lavagem ao cérebro que começa no jardim-de-infância e se alastra pela televisão, pelos jornais e pela linguagem das autoridades, que em África, entre 1961 e 1975, Portugal esteve em guerra com os povos de Angola, de Moçambique e da Guiné – quando, na verdade, metade da tropa portuguesa em África era negra e de recrutamento local, ao passo que as guerrilhas eram frequentemente recrutadas em países limítrofes e usadas como instrumento das grandes potências (EUA, URSS e China) que se opunham à bandeira das quinas. A narrativa oficial, de que Portugal era uma potência rapinadora e opressora em guerra com povos inteiros que obtiveram em 75 o que desejavam, de que Portugal é naturalmente este micro-estado de 92 000 km2, de que esse micro-estado é inviável e incapaz de existir soberanamente e de que, por isso, o único destino que lhe é possível é uma mendicância silenciosa, irrelevante e indigna junto da Europa próspera entrou nas cabeças – e não são poucos os portugueses que nela acreditam.

A convicção – artificial, mas pregada até à exaustão aos cérebros dos portugueses – de que a sua bandeira e o seu país são genuinamente odiados pelos restantes povos do mundo português é falsa. Vemo-lo na popularidade extraordinária – milionária, com efeito – dos vídeos e documentários brasileiros que falam com admiração e respeito da História de Portugal. Vemo-lo em África sempre – sempre – que um responsável político português visita aquelas terras e é recebido por mares de carinho que nem o mais eficaz dos propagandistas saberia esconder. Vemo-lo na reverência afectuosa com que são tratados os monumentos aos maiores filhos do nosso povo em Timor, em Cabo Verde ou em São Tomé. Em Díli, na Praça do Palácio do Governo, continua a ondear a bandeira portuguesa, juntamente com todas as outras do mundo português. Em Portugal, é a bandeira da União Europeia que vemos posta ao lado da nossa, a sombra daquela a lembrar-nos de quem agora manda. Em Lisboa, a estátua ao Padre António Vieira foi vandalizada. Em Díli, as estátuas dos navegadores não sofreram um arranhão.

O inimigo da Portugalidade não está além-mar. Está aqui, na cabeça odiosa e manipulada de intelectuais de pacotilha, ensinados em universidades estrangeiras a odiarem o próprio país. Está aqui, nos jornais, nas televisões, nas instituições. Está aqui, na ideologia depressiva, suicida, detestável do Portugal-Portugalinho, do Portugal-precisa-de-esmola, do Portugal-não-era-nada-sem-a-UE. Só os portugueses podem limpar o próprio espírito, recuperar a confiança e redescobrir a vontade de serem portugueses. Até lá, continuaremos nesta apatia resignada e mortiça de quem constrói a sua pira funerária.

RPB

Fonte: Nova Portugalidade

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