Félix da Rocha, missionário preparado em Macau “nos mistérios das muitas Chinas”, foi um dos pioneiros da região actualmente conhecida como Mongólia Interior.
Nascido em Lisboa a 31 de Agosto de 1713, optou pela missão da China após oito anos de estudos – quatro de filosofia e quatro de teologia. Entrou no continente em 1735, após ter frequentado o seminário de Macau, tendo ingressado posteriormente na corte de Pequim, em 1738, onde foi astrónomo. Cedo caiu nas boas graças do imperador que via nele um homem de muita ciência e virtude. Em 1753 é nomeado, por Qianlong, assessor do Tribunal das Matemáticas e passa a dirigir o Observatório Astronómico de Pequim.
Em 1755, como recompensa por ter, com a ajuda do padre Pedro Espinha, mapeado as regiões do Turquestão (actual província chinesa do Xinjiang) e da Tartária, “habitadas por elutos e torgutes”, aquando uma das campanhas de “pacificação” imperiais, Qianlong nomeia-o mandarim de segunda ordem.
O padre Félix da Rocha regressaria, com Espinha, desafiando perigos sem conta, a esta inóspita região para terminar o seu trabalho: observar a latitude, deduzir a longitude, as curvas orográficas e as distâncias. No total foram determinadas quarenta e três posições geográficas. Foram os dois primeiros europeus a percorrer tais paragens, desde que nela andara, século e meio antes, Bento de Góis na demanda do Cataio.
Por duas ocasiões, em 20 de Agosto de 1774 e em Março de 1777, Félix da Rocha seria enviado ao pequeno Tibete, Tibete Oriental, recentemente anexado ao império chinês, com o objectivo de traçar o mapa de toda aquela região.
Os mapas de Félix da Rocha e de Pedro Espinha serviriam de base aos estudos e mapas sobre a Ásia Central, hoje mundialmente conhecidos, efectuados por Klaproth, Ritter e Alex de Humboldt. Que, como sempre acontece nestas coisas, ficaram com todos os louros, relegando para o esquecimento os pioneiros portugueses.
Em 1770, o jesuíta Cibot escrevia, a propósito, o seguinte: “Acabam de ser publicadas mapas e notícias sobre regiões recentemente conquistadas, sem que sejam mencionados os nomes dos nossos padres portugueses que, por ordem imperial, recolheram os dados e as coordenadas desses mesmos locais”.
No ano de 1750, em carta enviada a D. Policarpo de Sousa, bispo de Pequim – que aportara a Macau, vindo de Portugal, em 1726 –, Félix da Rocha desabafava: “eu sou o da Vice Província o mais velho na missão dos que se acham em Pequim, porque todos os padres que aqui achei, excepto sua Exa., já lá vão para outra vida e nenhum desde que cá estou, tem servido mais por neves, frios, perigos e consumições do que eu, mas como tudo é por Deus, só dele terei o prémio, como espero na Sua Divina Bondade...”
O padre Rocha ocupou o cargo de procurador da missão portuguesa em Pequim, e de vice provincial em 1754–1757 e de 1762 a 1766, e a sua intervenção foi preponderante para que os prisioneiros portugueses em Nanquim – padres Araújo, Viegas, Pires, Dinis Ferreira e José da Silva – fossem libertados e pudessem regressar a Macau.
Félix da Rocha morreu em Pequim, a 22 de Maio de 1781.
Joaquim Magalhães de Castro
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