segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A 11 de Novembro de 1861 Morria D. Pedro V

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Nunca um Príncipe herdeiro fora tão preparado para reinar. Instruído numa noção voluntarista de governação e em prol do bem da coisa comum enquanto pupilo de Alexandre Herculano, assim como na aquisição de competências técnicas, políticas e culturais ministradas por Seu Pai, o Rei-Artista que promovia o culto da Arte, e pelos mestres por Ele contratados. O Príncipe Real e Duque de Bragança Dom Pedro dominava desde cedo, fluentemente, o francês, alemão, grego, latim e inglês.

Pedro de Alcântara Maria Fernando Miguel Rafael Gonzaga de Saxe-Coburgo-Gotha e Bragança era ainda muito jovem quando, em consequência do falecimento aos 36 anos de Sua mãe a Rainha Dona Maria II – durante o parto do Seu 11.º filho -, ascendeu ao trono de Portugal com apenas 16 anos, embora o Seu Pai D. Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha-Koháry (tornou-se Rei de Portugal jure uxoris, após o nascimento do Príncipe herdeiro) tenha permanecido como Regente até à maioridade do novo Rei. Senhor de um enorme magnetismo pessoal, desde cedo, apesar do Seu pragmatismo, causou um fascínio pouco comum entre o Seu Povo que cedo Lhe dedicou enormíssima afeição.

Não se pense que o encantamento que o nosso Rei provocava era apenas interno, pois as Suas viagens oficiais ao estrangeiro eram sempre acompanhadas pelos locais e pelas mais prestigiadas publicações da Nação visitada.

Era Dom Pedro V ainda um Rei em vias de ser, em 1854, quando iniciou uma viagem, pelas Cortes europeias, para aprender a prática de reinar e dar-se a conhecer aos reais primos. Juntamente, com seu irmão e herdeiro presuntivo, o Infante Dom Luís de Bragança, puderam privar, com a mais importante das cabeças coroadas da época, Sua Majestade Britânica a Rainha Vitória, aquela que de tão grande deu nome a uma Era.

A Família Real Britânica recebeu-Os como membros da Sua própria família e entre a Rainha Vitória, o Príncipe consorte Albert de Saxe-Coburgo-Gotha (primo do Regente de Portugal Rei-consorte Dom Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha) e Dom Pedro V estabeleceu-se uma enorme amizade que perdurará até a trágica e imprevisível morte do monarca português. Numa visita que duraria exactamente um mês e que começou no dia 3 de Junho de 1854, o monarca português nunca foi tratados com visita de Estado, mas apesar das cortesias protocolares em público, mas com manifestações de amizade e familiaridade em privado.

Dom Pedro V e Dom Luís acompanharam sempre a Monarca inglesa e o seu Príncipe-consorte nos mais importantes eventos a que sempre concediam o privilégio da Sua Presença. Assim foi no Baile dos Marqueses de Breadalbane – a quem a Rainha dedicava amizade -, onde perante mil convivas a realeza portuguesa mereceu lugar de destaque como se pode constatar pela entrada dos convidados de honra. Depois de anunciar a entrada da Rainha Vitória pelo braço do anfitrião, o Mordomo anunciou: ‘Sua Majestade o Rei de Portugal e Sua Excelência a Marquesa de Breadalbane’. Depois ‘Suas Altezas Reais o Príncipe Albert e a Duquesa de Cambridge’ e, de seguida, ‘Suas Altezas Reais o Príncipe Dom Luís de Portugal e a Princesa Mary’.
Também, em 10 de Junho de 1854, Dom Pedro V e Dom Luís acompanharam, à direita no lugar de honra, a Rainha Britânica na sumptuosa reabertura do Palácio de Cristal, reinstalado em Sydenham Hill.
Foram pois, o Rei e Príncipe portugueses recebidos na intimidade da Família Real Britânica e essa amizade haveria de perdurar, mesmo para além da estadia nas Terras de Sua Majestade, pois continuariam a corresponder-se com assiduidade tornando-se a Rainha Vitória e o Príncipe Albert, conselheiros e mesmo confidentes do jovem monarca português.

Regressado, Dom Pedro V foi Aclamado Rei aos 18 anos, em Sessão das Cortes de 16 de Setembro de 1855, perante os Pares do Reino e os Deputados da Nação: Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d’Aquém e d’Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Ainda, em 1855, procede à inauguração do primeiro telégrafo eléctrico no país e, a 28 de Outubro, do ano seguinte, inaugura o caminho-de-ferro entre Lisboa e o Carregado. Pouco depois estabelecem-se as primeiras viagens regulares de navio, entre Portugal e Angola. Senhor de enormes preocupações com aculturação, o jovem Soberano criou, em 1859, a próprias expensas, com um donativo de 91 contos de réis, o Cuso Superior de Letras, onde era presença constante não lições do seu amigo, o lente Rebello da Silva.

Rapidamente conseguiu reconciliar o povo português com a Família Real, depois da cisão que a guerra civil provocara, graças a ter preocupações sociais bem presentes no Seu reinado, pugnando pela abolição da escravatura – tornou livres os filhos nascidos das ainda escravas -, por percorrer os hospitais onde se demorava à cabeceira dos doentes durante as epidemias de cólera (1853/56) e de febre-amarela (1856/57), o que lhe granjeou enorme popularidade, pelas grandes obras públicas efectuadas e por ser um Monarca infatigável e meticuloso soberano que se dedicava afincadamente no governo do País, estudando com minúcia as deliberações governamentais propostas e os impacto delas, tendo mandado pôr à porta do Palácio da Ajuda a famosa caixa verde, cuja chave guardava, para que o seu povo pudesse falar-Lhe com franqueza, depositando lá as suas expectativas e queixas!

Em 1858, D. Pedro V, casa-se com a sua alma gémea, a princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, o ramo católico da família real de Hohenzollern. O feliz casamento é abruptamente ceifado no ano seguinte pela morte da Rainha Dona Estefânia, vítima de difteria. Sendo a saúde pública um dos interesses do casal real, Dom Pedro V, correspondendo à vontade da mulher, fundou o hospital público D. Estefânia, como o e instituições de caridade.

Além do progresso material e da política prática, do Fontismo com a mala-posta, os caminhos-de-ferro, a modernização agrícola, etc., Dom Pedro dá um carácter humano à função real, com a reforma da educação, e claro pela Sua filantropia, com acções nos hospitais, prisões, e asilos.
Mas, a nível político nem tudo foi do agrado do Monarca, pois do novo situacionismo de 1856 a 1860 diria D. Pedro V era uma Canalhocracia estabelecida entre Saldanha, Fontes e Rodrigo. Saldanha tenta reunir antigos conservadores, como Atouguia, cartistas dissidentes de Cabral e setembristas moderados, como o Duque de Loulé, começando por organizar um centro eleitoral, preparado por Reis e Vasconcelos, Rebelo da Silva, entre outros. A partir de 7 de Julho, a dinâmica do novo situacionismo passa a ser marcada pela acção governamental de Rodrigo da Fonseca e Fontes Pereira de Melo. Lavradio vai para embaixador em Londres e Loulé abandona o governo, mantendo-se Atouguia. Ainda em Julho derrotando as perspectivas de conciliação com o setembrismo e com os cartistas à maneira de Alexandre Herculano que se remete para o exílio interno de Vale de Lobos, vencia a Regeneração, o Fontismo!

Os seus pensamentos, que redigia freneticamente, são intemporais:
‘Devemos também lembrar-nos que existe para eles [Reis] uma lei moral muito mais severa do que para os outros, porque quanto mais elevada é a posição tanto maior é a influência do exemplo.’

Assim Disse El-Rei:

'Um dos caracteres essenciais das manobras políticas da nossa época é, sem dúvida, que todos se odeiam, e que ninguém quer sinceramente o mal do outro; além disso, noto que se enforcam os pequenos ladrões, mas que se louvam os grandes [ladrões].'

‘Os olhos já vão rompendo a nuvem de poeira que se tem levantado diante deles; e o Povo algum dia declarar-se-á solenemente contra o escárnio que há 20 anos todos os governos em Portugal dele têm feito. E fatal e tremendo será esse desagravo. Ainda é tempo de remediá-lo, mas não há tempo a perder.’

Mas a tragédia atinge Portugal e o Rei Bem-Amado morre, inesperadamente!
Quando Dom Pedro V falece precocemente a 11 de Novembro de 1861, com apenas 24 anos, vitimado pela febre tifóide que contraíra em Portalegre, depois de consolar alguns doentes.
A Rainha Vitória do Reino Unido escreveu:
‘Que infortúnio horrível! (…) Com a mão da morte teima em perseguir aquela querida Família! (…) Parece inacreditável, que terrível calamidade para Portugal, e que grande perda para a Europa! O querido Pedro era tão bom, tão inteligente, tão fantástico!’
O Povo sofreu, inconsolável, pela perda do Seu Soberano Dom Pedro V de Portugal, O Esperançoso que dera Esperança e alento, novamente, para se Cumprir Portugal!

‘Foi a única vez que vi Herculano chorar’, alguém disse.

- Chorai Nobres! Chorai Povo! Morreu o Vosso Rei! Morreu o Rei! Viv’ó Rei!, o Arauto, um gentil-homem usando as antigas vestes, soltou este brado à porta da câmara mortuária.

Os sinos soluçaram, todos se vestiram de dor e na Câmara Municipal, enlutados, confluíam os fidalgos, os vereadores, os procuradores do Povo! O alferes mor do Reino, montava o seu Bucéfalo e de estoque real desfraldado e, seguido por todos, serpenteou as ruas da Capital do Reino bradando a plenos pulmões: ’Real! Real! Real! Pelo Muito Alto e Muito Poderoso e Fidelíssimo Rei de Portugal, Dom Pedro V. Desembocaram no Castelo de S. Jorge onde o alferes mor subiu à Torre de Menagem e colocou o Pavilhão Real a meia-haste.

Miguel Villas-Boas



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