terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

76 Anos da Morte do Comandante PAIVA COUCEIRO, O Último Herói Português

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A 11 de Fevereiro de 1944, há precisamente 76 anos falecia o derradeiro dos heróis Portugueses, Comandante HENRIQUE Mitchell DE PAIVA Cabral COUCEIRO. Herói militar em África, Governador-Geral de Angola e um dos poucos oficiais que na Revolução republicana de 1910 se bateria, com denodo, pela defesa da Monarquia e que seria o Organizador das Incursões Monárquicas e restaurador da Monarquia Constitucional a 19 de Janeiro de 1919 - sendo Regente do Reino em nome de S.M.F. El-Rei Dom Manuel II de Portugal -, no episódio conhecido como ‘Monarquia do Norte’, cujo Centenário se evoca, precisamente, entre 19 de Janeiro e 13 de Fevereiro.
Nas palavras do poeta monárquico, e seu amigo próximo, o genial Afonso Lopes Vieira:

‘É cedo para falar de Paiva Couceiro. Circunstâncias do tempo e da fortuna não deixariam dizer toda a verdade acerca do heroísmo e da glória da sua vida - do seu martírio também.
Por agora apenas podemos sentir o luto espiritual em que ele nos deixou. E esse luto provém da convicção, ao mesmo tempo heróica e angustiada, de que ele foi o ÚLTIMO!’

Henrique Mitchell de Paiva Couceiro nasceu, em Lisboa, a 30 de Dezembro de 1861. Depois de concluir os seus estudos preparatórios em Lisboa, assentou praça a 14 de Janeiro de 1879, com 17 anos de idade, como voluntário no Regimento de Cavalaria Lanceiros de El-Rei (o Regimento de Cavalaria n.º 2), no qual serviu até ao ano de 1880. Neste último ano foi transferido para o Regimento de Artilharia n.º 1, como aspirante, frequentando o curso preparatório da arma de artilharia na Escola Politécnica de Lisboa. Ingressou então na Escola do Exército, onde frequentou o curso de Artilharia de 1881 a 1884.
No Regimento de Artilharia n.º 1 fez parte de um grupo de jovens tenentes que cultivavam as chamadas artes militares, dedicando-se à esgrima e à equitação. Foi promovido a primeiro-tenente em 27 de Janeiro de 1886. Foi novamente promovido a 4 de Julho de 1889, desta feita ao posto de capitão, oferecendo-se então para realizar, como voluntário, uma comissão de serviço nas colónias ultramarinas, onde então se desenvolvia um esforço de efectiva ocupação do território, consequência da Conferência de Berlim sobre a partição da África entre as potências coloniais europeias. Foi enviado para Angola, desembarcando em Luanda a 1 de Setembro de 1889.
Pela acção militar notável que conduziu em Humpata e pela sua extraordinária viagem de exploração, é recebido em Glória, em Lisboa.
Paiva Couceiro foi convidado e aceitou o convite para o cargo de ajudante de campo do comissário régio António Ennes, em Moçambique, onde chega a 18 de Janeiro de 1895.
Aí foi um militar notável, e no combate de Marracuene, travado a 2 de Fevereiro de 1895, Paiva Couceiro ganhou grande destaque, particularmente ao liderar as tropas que repeliram as forças inimigas que tinham penetrado o quadrado defensivo português, uma manobra considerada de extrema dificuldade e que exigia enorme coragem.
Paiva Couceiro ficou célebre, nomeadamente, na luta contra as forças de Gungunhana. Pelos seus feitos militares, foi alvo de diversas condecorações e homenagens. Chegado a Lisboa, em Fevereiro de 1896 foi proclamado Benemérito da Pátria, por decisão unânime das Cortes, como reconhecimento pela apreensão de Gungunhana, e feito comendador da Torre e Espada, com uma pensão anual de 500$000 réis, que de resto nunca recebeu durante a república. Foi o primeiro e provavelmente o único oficial Português a ser agraciado, até hoje, com três graus da Torre e Espada. Mas as honrarias não se ficaram por ali: foi nomeado ajudante-de-campo honorário do rei D. Carlos I de Portugal e seu oficial às ordens, passando a integrar a Casa Militar do Rei, e em Março recebeu a medalha de ouro de valor militar e a Medalha de Prata Rainha D. Amélia, por ter combatido na campanha de Moçambique.
Em 1905, após as eleições gerais de 12 de Fevereiro (a 37.ª legislatura) e quando se tornou claro que o rei D. Carlos I pretendia finalmente apoiar a reforma do regime, o que eventualmente passaria pela entrega do poder a João Franco, Paiva Couceiro e outros ‘’africanistas’’ famosos, entre os quais Freire de Andrade, Aires de Ornelas, Ivens Ferraz e João Baptista Ferreira, decidiram-se finalmente a abandonar a posição pretensamente supra-partidária em que se tinham colocado e inscreveram-se no Partido Regenerador-Liberal, anunciando que o faziam para que os portugueses não perdessem a confiança no futuro da raça.
Inserido nas listas do Partido Regenerador-Liberal, concorreu nas eleições gerais de 19 de Agosto de 1906 (39.ª legislatura), pelo círculo n.º 15, de Lisboa Oriental, e foi eleito deputado às Cortes para legislatura de 1906 a 1907. No parlamento foi vogal da Comissão Parlamentar do Ultramar (1906); vogal da Comissão Parlamentar de Administração Pública (1906-1907) e vogal da Comissão Parlamentar da Guerra (1906-1907).
Depois voltou a Angola como Governador-Geral, onde foi um extraordinário administrador colonial; saindo de Luanda, em Junho de 1909, apesar dos protestos da população europeia que queria a sua permanência no governo.
Paiva Couceiro manteve-se relativamente arredado da vida pública, prestando em Setembro provas para promoção a major.
Este silêncio foi quebrado em Julho de 1910, quando Paiva Couceiro publicou no jornal franquista O Correio da Manhã uma carta, assinada como Agá Pê Cê (HPC), onde apela a uma contra-revolução que salve a monarquia. Depois envolve-se num conjunto de pretensas conspirações inconsequentes, aparentemente visando implantar um regime monárquico liberto do parlamento, defendendo, paradoxalmente, muitas das ideias que depois os republicanos antidemocráticos adoptariam. Sem que os seus apelos fossem ouvidos, o regime degrada-se rapidamente e a 5 de Outubro ocorre a esperada revolução e é implantada a República Portuguesa. Paiva Couceiro foi um dos poucos comandantes militares que se bateu com denodo para travar a revolução republicana, mas sem sucesso.
Nas palavras do próprio: "Depois pedi a minha demissão de oficial. E pedi-a porque, depois de tantos anos de sacrifícios e de trabalhos à sombra das cores azul e branca e dos castelos e quinas da nossa bandeira não me acho com forças para abandonar o símbolo onde me habituei a ler escrita a história do meu País. Fazer com que um símbolo tenha raízes na alma de um povo e inspire respeito a todo o Mundo, é trabalho de muitas gerações. E eu, pela minha parte, acho-me velho para principiar agora o esforço novo que os louros de uma bandeira nova implicam" - subiu as escadas do Ministério da Guerra e demitiu-se, entregando a sua espada e dizendo "Entrego a minha demissão e saio do País para conspirar. Prendam-me se quiserem". Sem resposta, voltou as costas e deixou o Ministério sem que alguém intentasse prendê-lo.
Depois do exílio auto-imposto organizou as Incursões Monárquicas de 5 de Outubro de 1911 e 6 e 8 de Julho de 1912.
Com 57 anos de idade, o Comandante Paiva Couceiro tomou a decisão de aceitar liderar a Revolta que reporia a Monarquia legítima, e às 13 horas do dia 19 de Janeiro de 1919, sabendo que apenas parte da tropa aquartelada em Lisboa estava do seu lado: Cavalaria 2 Lanceiros D’El-Rei e 4, Infantaria 5 e 16 e grupos de baterias de Queluz, à frente de um milhar de soldados e algumas peças de artilharia, entra no Porto e Restaura a Monarquia Constitucional, na pessoa d’El-Rei Dom Manuel II, depositário de 771 anos de História de Portugal!
A Junta Governativa do Reino, que ficou sob o comando do Comandante Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, instalou-se junto ao Governo Civil do Porto, e governou como Regente durante 25 dias, até prevaleceram as forças republicanas muito melhor armadas e com contingente militar imensamente superior.

‘Só é vencido aquele que reconhece a sua derrota’, diria mais tarde.

Morreu, em Lisboa, a 11 de Fevereiro de 1944 aos 82 anos de uma vida heróica e dedicada ao serviço de Portugal.

Miguel Villas-Boas

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