quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Predadores ao largo de Hong Kong

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O estudo e conhecimento dos feitos e glórias navais e militares dos portugueses limita-se, amiúde, à era de ouro de Quinhentos e princípios de Seiscentos. Contudo, ao longo dos séculos que se seguiram a esse período de apogeu, marinheiros portugueses houve que continuaram a alimentar feitos merecedores de admiração, não tanto pelo sulco deixado nos anais da História marítima, mas pela demonstração de qualidades singulares de oficiais, sargentos, praças e até simples civis anónimos, totalmente caídos no esquecimento, mas cujos lances tornaram possível a preservação do bom nome e valor dos portugueses nos continentes onde estes se haviam implantado.


Antes, os mares eram perigosos, expondo-se os viajantes a toda a sorte de perigos. Aos ventos, tempestades e vagalhões, adicionava-se a pirataria, velha praga que assolou os mares desde a Antiguidade até tempos muito recentes. Uma simples viagem era, por certo, uma soma de perigos, e em alguns mares do planeta, até um curto itinerário não deixava de estar cheio de riscos.

Contemos, pois, um destes episódios. Em finais de Abril de 1914, o vapor Tai On, registado em Hong Kong, zarpou da colónia britânica em direcção a Singapura. Levava a bordo quatrocentos passageiros e a tripulação era maioritariamente composta por portugueses de Macau fixados em Hong Kong. No terceiro dia de viagem, foram avistados juncos chineses que se foram aproximando estranhamente do Tai One, a tal ponto que o comandante intuiu os propósitos de tão insólito comportamento.

Eram, com efeito, embarcações que se dedicavam à pirataria no Mar da China. Tais piratas infestavam a região, provocavam grande perturbação ao comércio, apossando-se de preciosas cargas, matando ou raptando passageiros e tripulações pelas quais, depois, pediam avultados resgates. O perigo que tais piratas constituíam era de tal modo presente que os navios procuravam sob condição alguma estacar viagem, evitavam bancos de nevoeiro e navegavam de noite com as luzes apagadas para, assim, não denunciarem a presença a esses predadores. Para mais, as amuradas dos navios recebiam um reforço de cordas entrelaçadas, por forma a dificultar abordagens.

Nesse dia, o simples vapor não se submeteu ao direito da força. Ao sinal do comandante do barco, a tripulação correu às armas, disposta a defender a nave. Os piratas seriam cerca de centena e meia. Lançaram-se ao assalto do pequeno navio e conseguiram chegar ao deque. A tripulação refugiou-se no tombadilho e na popa, dali lançando-se sobre os assaltantes. Depois de um duro combate corpo-a-corpo, os piratas foram, por fim, repelidos. Os heróis da jornada, depois elogiados e condecorados pelas autoridades da colónia britânica, foram o guarda da armada A. Dias e um tal Silva, que morreu na defesa do navio após haver abatido doze bandidos. Um episódio lembrando velhas façanhas.

MCB



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