sábado, 7 de março de 2020

A REPÚBLICA CORRUPTA

“Atolados há mais de um século no mais funesto dos ilogismos políticos, esquecemo-nos de que a unidade nacional, a harmonia, a paz, a felicidade e a força de um povo não têm por base senão o rigoroso e exacto cumprimento colectivo dos deveres do cidadão perante a inviolabilidade sagrada da família, que é a célula da sociedade; perante o culto da religião, que é a alma ancestral da comunidade; e perante o culto da bandeira, que é o símbolo da harmonia e da integridade da pátria”.

Quebramos estouvadamente o fio da nossa História, principiando por substituir o interesse da Pátria pelo interesse do partido, depois o interesse do grupo, e por fim o interesse do grupo pelo interesse individual de cada um”.
Ramalho Ortigão



Tinha e tem toda a razão a Ramalhal figura…

Os Partidos Políticos (PP) são, em termos gerais, a maior doença (cancro) dos regimes democráticos, se é que existe algum, e que no caso português, já colocaram o país por quatro vezes à beira do caos, da bancarrota e da guerra civil – lembro para os “esquecidos” e os que nem suspeitam, que vão ler o que se passou a seguir à implantação do Liberalismo, em 1820; o que se seguiu à vitória liberal na Guerra Civil de 1832-1834; o que ocorreu a seguir ao Golpe de Estado de 1851, com a Regeneração e o Rotativismo e a pavorosa anarquia da I República.
E só não acabou com o país, após o 25 de Abril de 1974 (ainda) e que só vingou depois do 25 de Novembro de 75, porque se foi vivendo do que o Estado Novo amealhou; dos fundos de coesão caudalosos, da CEE/CE/UE e de um brutal e nunca visto endividamento externo, de que não existe memória desde que o Viriato e o Sertório combatiam as legiões de Roma!
Sem embargo, já tivemos praticamente em bancarrota por três vezes (1978/1981/2008); deixámos de ter moeda própria, ficando reféns de decisões de outros e com o que resta das reservas de ouro cativas (382,3 toneladas); praticamente não há bancos nem empresas estratégicas em mãos portuguesas, além de se ter vendido património às paletes; alienado grande parte do sector público e estratégico; quase exterminando as Forças Armadas, para já não falar na alma…
Tivemos ainda uma “troika” a passear-se pelo Terreiro do Paço – nome que deriva do local onde vivia a Família Real e situava o governo do Poder Nacional – como os Filipes nunca se atreveram a cirandar!
No meio disto, e infectando tudo, fica uma mancha enorme de corrupção infrene que só não se pode considerar crónica e cromossomática porque a maioria da população de baixos recursos (da classe média para baixo) sofre com o fenómeno mas não está ainda completamente contaminada. E parte das instituições nacionais ainda se tem conseguido preservar, onde se destacam a Igreja, as Forças Armadas e as Forças de Segurança.
Mas tudo o que mete políticos, negócios e futebol, por exemplo, tem sido um descalabro. A Justiça funciona a sério, como se diz a brincar, dos alentejanos: devagarinho e parada. Além de ser palco também de inúmeros casos de corrupção. Todo o sistema está, aliás, montado para favorecer quem se porta mal em detrimento de quem tenta caminhar pelos ditames da “virtude e da Honra”.
No limbo estão ainda, todos aqueles que só não são corruptos, porque ainda não tiveram oportunidade…
“República corrupta” é de facto e até ver, o melhor epitáfio, que terá quando acabar esta terceira da série iniciada em 5 de Outubro de 1910. E é pena que já não tenha acabado.
E só não acabou, porque ainda consegue colocar dinheiro no bolso dos contribuintes e abastecer as prateleiras dos supermercados com dinheiro que não é o seu e matérias que não produz. E tal leva a que não se ande aos tiros nas ruas. Por alguma razão tudo têm feito para desarmar a população…
Porém vivemos uma realidade virtual: o dinheiro é virtual (escritural); a Verdade é virtual como a mentira; a Moral é virtual (por relativa), a Democracia é virtual (quem se sente representado por esta gente dos Partidos e modo como é eleita?); os centros de decisão são virtuais (estão fora do país), etc…
As tensões têm sido reguladas através das claques de futebol, dos comícios e manifestações políticas, pelas greves constantes (ainda controladas pelo sistema e conivências – vai mudar) e pela imbecilização provocada pela generalidade dos OCS onde se destacam as televisões, a maior parte dos quais estão nas mãos dos próprios “corruptores” de quem pontifica no sistema.
Também ainda porque muito filho d’algo tem metido a mão nos dinheiros públicos e isso alimenta muita coisa.
O acesso desregrado ao crédito faz o resto.
Não se pode dizer que “a coisa” não esteja bem urdida…
Um país tem que ser gerido por homens sérios e capazes, tenham eles as ideias que tiverem (desde que não sejam de traição à Pátria). O fulcro da questão está em como conseguir formá-los, seleccioná-los e colocá-los nos lugares chave.
Nada disto é tido em conta e todas as instituições que podiam assegurar alguma seriedade têm sido sistematicamente corrompidas e destruídas.
Chegou até á família que é a célula base de toda a sociedade.
Nós temos pois, em primeiro lugar, um problema Moral que origina um problema político, daí resultando um problema financeiro o qual deriva num problema económico e tudo desagua num problema social. Por esta ordem.
Ora os Partidos Políticos são a pior ferramenta para lidar e emendar tudo isto. Até porque foram eles que causaram, em primeiro lugar, o “status quo”…
Quem inventou o termo partido político devia ter saído de uma ressaca de vinho reles, pois o nome é mais feio que uma noite de breu onde troveja!
O que parte ou está partido nunca pode ser uma coisa inteira ou consertar um todo. É uma facção, vive do antagonismo. Do “bota abaixo”.
Por isso o regime de partidos representa a guerra civil permanente, sem tiros (nem sempre) é certo, mas guerra civil. E ninguém consegue governar minimamente no meio das “guerras” partidárias.
Um PP é sempre um agrupamento que surge de uma forma algo caótica (muitas vezes na sequência de um almoço bem regado) onde o que preside é a angariação de membros para fazer número e pagarem quotas (de que nenhum Partido consegue viver…).
Aqui começa logo o problema maior: um Partido não vive de princípios, de doutrina, ou do bem-comum: vive de dinheiro e de votos. O dinheiro compra votos e os votos também podem atrair dinheiro.
Daqui decorrem várias coisas.
Como não há selecção, preparação, regras ou seja que condicionante for, qualquer bicho careta entra para um PP o que torna uma desorganização daquelas, vinte vezes pior do que uma reunião de condóminos. Ao menos estes têm um interesse único em comum que é a gestão da sua morada, e é o que se sabe…
E tirando aqueles que afrontam o líder do partido, raramente qualquer um é expulso.
A seguir o dinheiro. Sem dinheiro não se faz nada. Grande parte do dinheiro vem – no nosso caso – dos impostos dos contribuintes, mas como a gula por dinheiro não tem limite, o mesmo nunca chega; mesmo tendo em conta os miseráveis perdões fiscais aos PP, a que temos assistido, fora as incontáveis benesses que mais ninguém tem.
Por isso há que ir buscar dinheiro a quem o queira dispensar. O controlo e fiscalização destas “contribuições” é outro quebra - cabeças.
Ora quem dá dinheiro quer mandar. Quem dá mais dinheiro, quer mandar mais. Daqui resulta que ninguém consegue cumprir nada do que promete, manter qualquer esteio doutrinário ou resistir a interesses pessoais ou de grupo. Com o passar do tempo, quem tem dinheiro acaba por se apoderar do “partido”, nascendo assim a plutocracia, que não tem nada a ver com a pregoada Demo Cracia…
Alguns partidos em vez de terem Princípios e Doutrina (a que são relapsos), têm (ou dizem ter) ideologia.
Ora aqui a coisa ainda é pior pois está tudo estragado, por inquinado! Nunca se resolveu nada através da ideologia – a não ser arranjar lutas fratricidas, crises e guerras – não há maneira de se perceber isto.
Como um “partido” não é uma coisa inteira, a sua tendência é também ele partir-se em “tendências”, “grupos de reflexão”, moções alternativas, às vezes mesmo em rupturas definitivas com a formação de novos “partidos”, o que resulta na maior das confusões, frustrações, rancores e pulverização do Poder”.
Para pagar tudo isto e tentar dar alguma coerência e estabilidade ao “sistema”, retiram-se largas somas do dinheiro dos impostos dos contribuintes para sustentar toda esta babilónia. Chamam-lhe, eufemisticamente, os custos da Democracia…
É claro que como os legisladores saem dos PP (para a PR, AR, Governo, Autarquias, etc.) fácil é perceber quer tudo o que sair irá no interesse dos Partidos, blindando o sistema. E aqui têm tido, aparentemente, um papel relevante algumas “Sociedades de Advogados”. Aliás, hão - de fazer o favor de reparar que cerca de 80% dos deputados serem licenciados em Direito. Não sei se já terão dado conta disso e porque tal se verifica…
Para um líder partidário conseguir aguentar-se no poder vai ter que distribuir cargos e prebendas, os chamados “tachos”. Por isso se diz que um PP não é mais do que uma agência de empregos. É verdade.
Como não há regras, repito, formação e selecção, a luta para se obter influencia e lugares não passa por aquilo que de bom tem a natureza humana, ms sim no que tem de mau. Ou seja a deslealdade, a lisonja, a intriga, a traição, a mentira.
Ou seja, os partidos passam a ser palco maioritário, dos incompetentes, dos sem carácter e dos amorais.
Por isso é que os antigamente chamados “homens bons dos concelhos”, se afastam com nojo dos PP e da vida política, abandonando o palco aos arrivistas com estômago para prosperarem no reino da iniquidade.
Como o objectivo fundamental é obter votos – única fórmula admitida actualmente para a legitimação do Poder – por isso e por exemplo, é que um tolo qualquer que vá a presidente de câmara, tem precedência protocolar, relativamente aos Chefes de Estado-Maior – todas as campanhas eleitorais são feitas à imagem dos partidos: financiamentos “por baixo da mesa”; mentiras, meias verdades; prometer o que não podem realizar; dizer uma coisa hoje e o seu contrário no dia seguinte; propaganda; números circenses de mau gosto, demagogia a esmo, etc..
Logo nunca se faz o que se deve mas sim o que se julga, na altura, poder render mais votos…
Os meios humanos, financeiros e materiais necessários a todo este espectáculo para tentar esturricar os miolos aos putativos votantes, são enormes e a tendência é de não pararem de aumentar.
O eleitorado ao fim de algum tempo dá-se conta de todo este embuste e pura e simplesmente deixa de ir votar.
O que piora ainda mais todo o sistema.
Em conclusão, o “sistema de partidos”, em tese, teria alguma lógica e virtualidades, já que permitiria (teoricamente) que as naturais tensões e visões (o mundo tornou-se muito complexo) dentro de uma sociedade quanto à sua governação fossem agrupadas em opções distintas devidamente formuladas; pudessem ser discutidas e depois votadas e levadas à prática. E eventualmente emendadas na votação seguinte, sem que isso implicasse violência. Pois é, teoricamente a coisa poderia funcionar, mesmo tendo em conta não existir um sistema ideal ou perfeito.
Acontece, porém, que na prática a teoria vira um desastre, o que tem a sua causa principal na natureza humana, perdendo-se o interesse da sociedade e o interesse nacional, no interesse do Partido e, não raro, no interesse pessoal de quem tem estômago para tudo, vendeu a alma e tornou o córtex (e a espinha) dúctil como o estanho. Como referiu o Ramalho Ortigão.
Há alguma excepção a isto? Raramente, o sistema tritura tudo.
Por alguma razão organizações meio “clandestinas” como a Maçonaria (como será possível um regime dizer-se “democrático” e admitir organizações destas?), que “infiltram” aparentemente, todos os partidos (enfim, menos o Partido Comunista, na medida em que este não deixa, pois são ambos autoexclusivo), nunca se transformou num partido…
Em síntese, o sistema democrático baseado em partidos políticos é ineficaz, incompetente, corrupto, muitas vezes sórdido, multiplicador dos piores instintos humanos e atentatório da unidade e coesão nacional.
Enquanto tivermos partidos jamais teremos país, que foi aquilo que aconteceu em Portugal, desde 1820, em degradação crescente, com a excepção do período conhecido por Estado Novo.
E podem colocar-se as melhores pessoas à frente do destino da Nação – palavra que representa a antítese de “Partido”, que jamais teremos sucesso. Pois não se pode fazer de um erro uma coisa boa.
Um país organizado em Partidos jamais o poderá ser, pois é a mesma coisa que querer misturar tribos ou imaginar que os minhotos quisessem coisas diferentes que os algarvios.
O que, parte desta classe política medíocre e antipatriótica, quer agravar com a ideia criminosa da regionalização.
A sua avidez por tachos é insaciável, quando a base da política e da “Respública” deve ser o ideal do serviço público.
Isto está tudo errado e quando digo tudo, é tudo!
Entrei nesta enorme “catilinária” por causa da carta de demissão do Dr. Abel Matos Santos, do cargo para que tinha sido eleito na lista do recém - eleito Presidente do CDS, onde durou uma semana.1 Embora outros casos não faltem…
Presumo que o actual líder do CDS já conheceria o que Matos Santos pensava e escrevia antes de o escolher para conselheiro nacional do CDS ou CDS-PP, ou lá que sigla ou ideologia tenha. E não faz sentido nenhum que não soubesse…
E também não creio que tenha questionado o pensamento de Matos Santos, quando os votos que ele representava foram decisivos na vitória que obteve.
Um chefe não deixa cair um “camarada” e combatente da mesma (suposta) luta. E o jovem, apesar de demasiado jovem para ocupar a função que passou a ocupar, devia saber disso. Tinha até obrigação de saber, pois não cursou uma escola secundária qualquer: frequentou o Colégio Militar!
Conheço Matos Santos há alguns anos e não devemos nada um ao outro a não ser amizade.
Para o que estou a escrever interessa dizer que o tenho por homem íntegro, competente e um português de lei. Ora estas três coisas condenam à partida, qualquer cidadão que queira fazer política partidária. Tentei dizer-lhe isto em tempos, mas ele não acreditou. Longe de mim, porém, criticá-lo por isso.
Tanto quanto sei Matos Santos foi para o CDS com o intuito de o reformar por dentro, e após algum tempo fundou uma “tendência” que teve algum sucesso. E foi a partir de aqui que, após a estrondosa derrota da Dr.ª Assunção Cristas, se uniram esforços para acabar com a “direitinha copo de leite”, que não dava um passo além do centro, adepta encapotada da teoria de género e semeada de rapazinhos adeptos do demagogo político falsete que dá pelo nome de Portas (ou Paulinho das feiras).
Ainda não tinha esfriado o contentamento do novo líder, pelo deslumbramento da vitória, já a principal facção vencida atacava insidiosamente Matos Santos. Obviamente depois de todos terem jurado lealdade à nova direcção e terem feito votos piedosos de união até que a morte os separasse!
E atacaram-no como? Pois indo repescar algumas frases escritas há algum tempo atrás, em conversa de cara-livro (“facebook”) tirando-as do contexto.
A primeira tentativa baseou-se numa frase algo infeliz relativamente ao antigo cônsul português em Bordéus, Aristides Sousa Mendes (ASM), sobre ter sido “agiota de judeus”. Denúncia onde entrou alguém ligado à embaixada de Israel.
Ora apesar de quase tudo o que passaram a dizer e a assumir sobre ASM, dever ser considerado como uma “mentira de Estado” a figura do desobediente cônsul passou a ser uma “vaca sagrada” no actual regime (que há - de passar à História, repito, como a “república da corrupção).
É claro que o pobre do cônsul não tem culpa nenhuma do que andaram a inventar sobre o que ele fez ou não fez e o modo como foi tratado pelos seus pares e superiores hierárquicos, como é retratado modernamente pela tal “mentira de Estado”. Quero apenas lembrar que o labéu a que Matos Santos fez referência foi levantado pela Embaixada Inglesa em Lisboa, causa primeira do último dos cinco processos com que ASM foi “agraciado” durante a sua carreira.

1 Catilinária – acusação enérgica e eloquente; discurso agressivo que censura ou repreende por meio de palavras. Vem de “catilinárias”, uma série de quatro discursos célebres do cônsul Marco Túlio Cícero, pronunciado em 63 a. C., contra uma conspiração promovida pelo senador Lúcio Sérgio Catilina. É conhecida a célebre imprecação logo no início do discurso “Quosque tandem ó Catilina abutere patientia nostra” (“até quando ó Catilina abusarás da nossa paciência?”) …

Apesar das pressões para que se demitisse a coisa lá passou com uma declaração de desculpas a quem pudesse ter ficado ofendido e algumas acções sobre a comunidade judaica.
Mas os adversários (ou serão inimigos?) voltaram à carga e lá vieram a terreiro umas frases sobre o incontornável Professor Salazar e a PIDE/DGS. Aqui o “líder” não aguentou mais as “pressões” e o seu incómodo e convidou Matos Santos a abandonar o navio.
Pelo andar da carruagem o “navio” vai ficar sem guarnição que o sustente a navegar…
Matos Santos limitou-se a ser ele próprio e a dizer o que pensa, só que os actuais censores do politicamente correcto e do que está vertido oficialmente nos livros de história do ensino público (e privado) – e que contêm erros grosseiros e aleivosos relativamente aos factos históricos e ao perfil, pensamento e actuação dos seus principais actores - não dormem na sua função inquisitorial e perturbam claramente as mentes mais frágeis e, ou, ignaras.
Enquanto estas atitudes não mudarem também nada mudará.
E o que resta do País continuará a afundar-se no pântano da corrupção, da vileza e da mentira.
Lamento dizê-lo, mas é verdade.




João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.

DEUS - PÁTRIA - REI

Sem comentários:

Enviar um comentário