Inaugurador da liberdade portuguesa, o ano de 1139 determinou, igualmente, o divórcio – que foi involuntário e nunca plenamente aceite – entre Portugal e a Galiza. A separação foi afronta à realidade linguística, à unidade cultural, à própria justiça histórica: no século XII, a delimitação entre o Condado Portucalense e o restante Reino da Galiza – este último integrado, ele próprio, na coroa castelhano-leonesa de que Afonso Henriques decidiu apartar-se – era meramente administrativa e resultara da atribuição, por Afonso VI de Leão, de Portucale a Henrique de Borgonha. Hoje, a fronteira mantém-se tão artificial como no passado, sendo o português a língua dominante em toda a faixa ocidental da Península Ibérica.
A separação entre os dois pedaços originais da Portugalidade – de um lado, a Galiza, que foi berço da língua e o primeiro dos países portugueses; do outro, o Condado que se autonomizou, fortaleceu, manteve forte a chamada da nossa liberdade e se expandiu pelo globo – foi motivadora de incontáveis conflitos entre Portugal e o seu vizinho espanhol. Décadas sobre a tomada de Lisboa, em 1147, Afonso I tentaria capturar Tui e outras localidades galegas, intento que abandonaria após ser derrotado pelos leoneses em Badajoz. No século XIV, Fernando I seria – o que aconteceu em diversas ocasiões – aclamado como rei pela Galiza; novamente, foi a força do braço castelhano a impedir a reunificação entre os dois países portugueses da Península. Também presente esteve a Galiza na mente de D. Luís de Vasconcelos e Sousa, conde de Castelo Melhor, que pretendeu juntá-la a nós a troco da paz com a Espanha dos Habsburgo. A tentativa saiu novamente gorada, pois, ainda que avançassem vitoriosas as armas portuguesas, o governo do Conde foi derrotado nos gabinetes por políticos invejosos e homens menores.
Não se encontrando hoje aberto - pelo menos, não para a maioria dos galegos - o problema do estatuto político da Galiza, o combate a travar é, lá, fundamentalmente cultural. Com a língua galego-portuguesa perigada por um projecto de aculturação – de facto, castelhanização – que dura há séculos, o mundo português deve devotar àquela parcela de si própria a maior das atenções. É o que fará, também, a Nova Portugalidade, tão empenhada na defesa da Portugalidade na Galiza como em qualquer outro pedaço do nosso espaço civilizacional.
Portugal e Galiza são e serão um só coração.
RPB
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