quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A célebre carta de António da Silveira, capitão de Diu, aos turcos que o sitiavam

Foto de Nova Portugalidade.


"Muyto honrado capitão bayxá. Bem vy as palavras de tua carta e do capitão do baluarte, que tens cativo per trayção e mentira de tua palavra, affirmada com tua chapa; o que fizeste porque nom hes homem pois não tens c... que és como molher mentirosa, e de pouco saber. Como me cometes que faça contigo concerto, pois diante de meus olhos fizeste traição e falsidade? Polo que nom tenho em nenhuma conta, porque de judeu he seres trédor. Eu quando vy tu'armada, e atégora, temi que me podias fazer algum dano; mas agora já estou seguro, porque de homem judeu he fazeres traição, e assy o fizeram os que tomaram Rodes e Belgrado, porque per batalha houveram medo; e se em Rodes estiveram os cavalleiros que estão aqui n'este curral, desengana-te que ele nom fora tomado. E sabe por certo que aqui estão portuguese acostumados a matar muytos mouros e que têm por capitão António da Silveira, que tem um par de c... mais fortes que os pelouros dos seus basaliscos, que nom ha medo nenhum a que nom tem c... nem verdade e de judeu faz traição; o curral diante de ti está, com tal gado que já lhe tens medo e cometes concerto para fazer trayção; o qual concerto, indaque o eu quisesse fazer, aquy estão taes cavalleiros que me deitarião ao mar e eles lho defenderiam." 

In Gaspar Correia (1558-1563) Lendas da Índia, edição de 1864, Academia Real das Sciencias de Lisboa, livro IV, p.35

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