sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Sabia que o Bangladeche também é um país português?

Foto de Nova Portugalidade.

No dia da visita papal, um pouco de Portugalidade bangla 

O Santo Padre está de visita ao Bangladeche. Trata-se de acontecimento da máxima relevância para os povos portugueses, pois o Bangladeche, que é o terceiro mais populoso estado islâmico do mundo, é igualmente lar de forte comunidade luso-católica de quatrocentas mil pessoas. 

Os portugueses chegaram ao actual Bangladeche, como ao resto da península indostânica, em busca de riqueza, glória e almas. Os portos banglas eram reputados pela prosperidade do seu comércio, e Goa - em Goa se achava o governo português - não tardou a saber que dali saíam boa seda, algodão e têxteis, especiaria, arroz, pólvora e sal. Em 1512, pois, chegou a Bengala João da Silveira, que viria a ser o primeiro capitão do Ceilão português, com uma embaixada e notícia de que uma nova ordem, agora dominada pelos portugueses, fora estabelecida nos mares do Oriente. Em 1518, Portugal estabeleceu uma feitoria em Chittagong, conhecida por nós como "Porto Grande de Bengala" e Satgaon, ou "Porto Pequeno de Bengala". Por 1528, já o Sultão de Bengala permitia aos conquistadores cristãos a edificação de novas estruturas. Expandiu-se rapidamente o complexo comercial, levantaram-se em "Porto Grande" muralhas, apareceram igrejas e fez-se um forte, convenientemente dotado de porto e outras facilidades navais, em localidade próxima a que os locais chamaram "Firingi Bandar", ou, em persa", "Bandar-e-Faranj". "Firingi Bandar" significa, na nossa língua, "Porto dos Francos", sendo "franco" o nome dado pelos locais aos portugueses. Por estes anos já ali vigorava, como em toda a Ásia, o Cartaz português e, com ele, a obrigação de só navegar mediante autorização, protecção e pagamento de pesados impostos ao Estado da Índia. Dali, ainda, podiam controlar os portugueses o acesso fluvial à capital real de Gouda, motivo que não terá deixado de pesar-lhes ao decidirem a instalação em Chittagong.

Em 1590, António de Sousa Godinho tomava para os portugueses as ilhas próximas de Sandwip, que viria a servir de baluarte a uma poderosa comunidade de piratas - ou antes, objectivamente, corsários - e aventureiros portugueses. Dessas novas possessões perturbariam os cristãos o comércio mogol, que se fizera mais forte e difícil de controlar com a ascensão daquele império muçulmano ao longo do século XVI. Em 1615, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, recém-chegada à Ásia, tentava expulsar os portugueses da área e da própria fortaleza de Chittagong. Sem sucesso, pois acabariam rotundamente derrotados e obrigados a ignominiosa retirada. A presença portuguesa em Bengala, contudo, tornara-se precária. Em 1632, após estadia mais que secular, Portugal foi expulso de Chittagong. 

Foi expulso Portugal, mas não o foram os portugueses. Activo precioso nas ciências, na indústria e na arte da guerra, os "eurasiáticos" - eurasiáticos é como se chama também a estes homens de ascendência asiática e portuguesa - ficaram. Como as outras comunidades lusíadas da Ásia, esta imprimiu na terra que escolheu a sua lei, a sua língua e a sua fé. O simples facto de a comunidade ter sobrevivido e prosperado tão longe da terra-mãe, privada durante quatrocentos anos do amparo de Portugal, atesta brilhantemente a capacidade de adaptação do português. Ora, sobreviveram e refizeram Bengala à sua imagem. Na língua bangla, existem mais de mil e quinhentos vocábulos de origem portuguesa; a gastronomia, influenciadíssima por produtos que ali chegaram do Brasil português, de Moçambique e de Timor, é prova dessa facilidade ecuménica, até no comer e no beber, que distingue os portugueses de outros povos. O queijo, a que se chama "franco", é o que lá chegou das naus. E, nas faces e nos nomes, Portugal está sempre presente. De visita ao país, o Papa Francisco encontrar-se-á com o cardeal Patrick D’Rozario (do Rosário)e os seus dois bispos auxiliares Shorot Francis Gomes e Theotonius Gomes., assim como com os bispos Moses Costa e Bejoy Nicephorus D’Cruze (da Cruz). 

É estranho, e sem dúvida revelador da inconsciência em que caíram as autoridades e os próprios portugueses, que o Estado se haja divorciado tão completamente das muitas comunidades lusíadas da Ásia, da África e da América. É da mais elementar justiça que a estes portugueses sejam estendidas todas as dignidades e direitos de que beneficiam os portugueses nascidos na Europa, oferecendo-se-lhes a nacionalidade portuguesa e zelando Lisboa pela preservação da sua cultura e dos seus interesses. Trata-se de combate que a Nova Portugalidade não deixará de ir travando.

Na imagem, batalha entre Portugal e os mogóis. Este recontro travou-se em 1666 no rio Karnaphuli.

RPB


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