domingo, 3 de dezembro de 2017

Uma vergonha para Portugal

Foto de Nova Portugalidade.

Preferível seria instalar Embaixadas da Portugalidade

Decorrente do Tratado de Lisboa e saltando por cima das relações bilaterais entre os diferentes Estados europeus e países terceiros, nomeadamente nas Américas, em África e na Ásia, a União Europeia tem vindo a estender uma rede de "representações diplomáticas" com o fito de "representar a Europa" nas quatro partidas do planeta. 

Acenando com uma fictícia carreira diplomática a pessoas estranhas ao ofício, a UE tem já cerca de 100 representações acreditadas. Ora, parece-nos estranho que portugueses (João Cravinho em Brasília, Ana Paula Zacarias em Bogotá, Victor Madeira dos Santos em Bissau, Raul Mateus Paula no Níger, João Vale de Almeida nas Nações Unidas), cuja obediência e lealdade devia ser exclusiva ao Estado português, representem a "Europa". Os tais "embaixadores da Europa" têm-se evidenciado pelo atrevimento com que se imiscuem nos assuntos internos dos Estados onde estão acreditados, ali forçando agendas políticas estranhas aos modos locais e, quantas vezes, tomando parte na vida política local apoiando partidos e grupos que se opõem a governos legítimos. 

Mais grave se torna tal cisão da lealdade em países onde o nome de Portugal evoca uma antiguidade que é testemunho de velhas alianças que datam dos alvores da expansão ultramarina lusa, e onde Portugal goza do prestígio de potência histórica, como são os casos da Tailândia, Myanmar, Camboja, Vietname, Sri Lanka, Indonésia, et al. 

Não, não são mentiras patrioteiras nem delírios de apagada grandeza; é o peso da História, a tal que tantos apoucam, ridicularizam e querem esquecer na espuma dos negócios e da tonta socialite. Portugal foi e ainda pode ser na Ásia a tal "potência histórica" que outros nunca foram. Somos uma "potência histórica" com um capital de memória e afectos que ultrapassa largamente o peso económico e político do país na arena mundial. Infelizmente, mesmerizados pela utopia ideológica da "Europa", os nossos governantes não o querem ver.

Ora, nada melhor do que lembrar, com um breve apontamento, o peso dos portugueses nas longínquas paragens da Ásia, num tempo em que ainda a maior parte dos actuais Estados europeus não existiam.

"Chegados ao deck [da barca do Rei do Sião], ouvia-se falar uma língua ininteligível, certamente português. Esta gente [a tripulação] estava cheia de curiosidade e perguntaram-nos tudo o que quiseram. Um dos soldados aproximou-se, dirigindo-se-me num claro latim: "Inquis Latinum, Domine ? ". Por ele fui informado que toda a tripulação da barca era composta por cristãos e haviam sido educados por missionários portugueses. Disse-me que todos eles tinham de aprender latim, (...) mas todos mascavam betel e tabaco"(1).

MCB

(1) Rauschenberger, W.S.W. Narrative of the round the world during the years 1835, 36, and 37, including a narrative of an embassy to the sultan of Muscat and the king of Siam. London: Richard Bentley, 1838



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