Durante o primeiro cerco a Diu (1538), António da Silveira defendeu a fortaleza com 600 portugueses, contra dezenas de milhares de turcos e cambaios. Ao fim de meses de lutas incessantes, o número de portugueses ainda capazes de manusear o mosquete ou a espada desceu para uns meros 40, tendo o adversário perdido para cima de 3.000 homens, acabando por desistir e ir-se embora.
Mas para o turco, a derrota no primeiro cerco não significou a desistência. Ao tomar conhecimento de que tão poucos portugueses se encontravam na fortaleza quando levantara o primeiro cerco, decidiu reaparecer, devidamente preparado e com novo exército gigante. Desta feita, no ano de 1546 surgiu com 13.000 homens em frente à fortaleza, entretanto restaurada, mas defendida apenas por 250 portugueses, liderados pelo seu capitão D. João de Mascarenhas. Ambos os lados tentaram conseguir introduzir reforços, recebendo os portugueses mais 200 e o turco mais 20.000.
A situação era desesperada, pois os nossos perderiam inevitavelmente se dessem luta em campo aberto, só lhes restando a defensiva. E desta vez o inimigo trazia engenheiros experimentados, que abriram grande quantidade de trincheiras à volta da nossa fortaleza, colocando nelas bombardas de enormes dimensões para derrubar os nossos muros.
Mas até se dar esta grande vitória, houve muitos momentos de dúvida, em que não se sabia se ela penderia para um lado ou para o outro.
Os engenheiros e artilheiros ao serviço dos turcos, parte deles italianos alistados para este fim, mandaram construir minas, aproximando-se assim da fortaleza portuguesa por baixo. Conseguiram colocar um grande número de barris de pólvora sob um dos nossos baluartes. Quando tudo explodiu, deu-se o caos. O grande efeito da pólvora oprimida fez com que as pedras da fortaleza fossem projectadas com tão violento impulso, que mataram 60 portugueses e centenas de adversários no campo inimigo! O turco não tinha dado ordem para recuar às suas próprias tropas para que os portugueses não se apercebessem do que estava tramando!
O baluarte estava destruído e em ruínas, tinha-se aberto uma brecha que permitia a entrada ao inimigo. Logo que os fumos da explosão se desvaneceram, o turco deu ordem a quinhentos dos seus mais experimentados soldados para assaltarem a fortaleza por aquela brecha.
Para os portugueses parecia ter chegado o fim. Tinham perdido tantos dos seus melhores homens, entre eles o filho do Vice-Rei, ficando muitos outros feridos e soterrados e agora o turco atacava por uma brecha que mais parecia uma porta aberta, como convite para que se apoderasse da fortaleza!
Porém, nesse mesmo instante, sem prévia combinação, saltaram cinco portugueses para a brecha a fim de fazerem frente aos 500 que, aos gritos, por ela tentavam entrar. O espaço era estreito e os turcos não se podiam fazer valer da sua quantidade numérica, aparecendo os seus soldados armados de cimitarras e sabres, mas não conseguindo atravessar a brecha mais do que três ou quatro de cada vez. Os portugueses recebiam-nos com as suas espadas e adagas de mão esquerda, mostrando como tinham aprendido a lutar.
Fizeram rosto ao inimigo, travando uma nova batalha de 5 contra 500! Ficaram sós por muito tempo, tendo os outros defensores portugueses pensado que o baluarte tinha caído e que o mouro tinha conseguido entrar, fazendo uma enorme gritaria, amedrontando qualquer um que se quisesse dirigir naquela direcção. D. João de Mascarenhas, que se encontrava com a maioria dos seus a defender outros baluartes e a porta principal, começou a dar-se conta de que a grande gritaria se mantinha no baluarte destruído mas estranhou que ainda não houvesse turcos no interior da fortaleza. Com quinze companheiros resolveu ir ver o que se passava. O espectáculo que viu ficou na história militar mundial.
Dos cinco portugueses, um estava morto e dos outros, três estavam feridos, porém continuavam em pé e a combater. À sua frente amontoavam-se os corpos dos adversários mortos e feridos, calculados em cerca de 200 e os restantes 300 turcos, com gritos de raiva e escalando a brecha por cima dos corpos dos seus camaradas, continuavam, em vão, a tentar conseguir entrar! Quando os reforços portugueses chegaram, substituindo os braços feridos e cansados por outros mais frescos, mais numerosos e prontos para participar, acabaram os turcos por recuar e abandonar o local. Mais do que lutar ficou aos novos combatentes a tarefa de rapidamente fechar a brecha.
O feito dos cinco homens animou todos os portugueses que ainda restavam na fortaleza, Embora tristes pela morte dos seus 60 camaradas na explosão do baluarte, conseguiram a vitória pela acção de cinco homens cujos nomes aqui menciono para que a sua memória se perpetue:
SEBASTIÃO DE SÁ
ANTÓNIO PESSANHA
BENTO BARBOSA
BARTOLOMEU CORRÊA
MESTRE JOÃO, o cirurgião de Diu.
ANTÓNIO PESSANHA
BENTO BARBOSA
BARTOLOMEU CORRÊA
MESTRE JOÃO, o cirurgião de Diu.
Guilherme Carinha
Jacinto Freire de Andrade: "Vida de Dom João de Castro Quarto Visorey da índia", edição de 1671, pág. 160; "Portugal Diccionario Histórico", edição de 1907, voi III. pág, 73/74).
fonte: Rainer Daehnhardt: "Homens, Espadas e Tomates", pág. 117-120
fonte: Rainer Daehnhardt: "Homens, Espadas e Tomates", pág. 117-120
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