segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O Preste João das Índias

Foto de Nova Portugalidade.

"Em chegando el-rei lhe falou em grande segredo dizendo que esperava dele um grande serviço porque sempre o achara bom e leal servidor e ditoso em seus feitos e serviços; o qual serviço era que ele e outro companheiro que se chamava Afonso Paiva lhe haverem ambos de ir descobrir e saber do Preste João e onde acham há canela e outras especiarias que daquela parte iam a Veneza por terras de mouros."


A figura mítico-lendária do Preste João não é nada mais que uma lenda persistente que povoou a imaginação dos povos do sul da Europa durante quase quatro séculos. Essa lenda, nascida no século XII, afirmava a existência de um poderosíssimo Rei cristão que habitaria numa região que se localizaria algures entre a Abissínia e os confins da então Berbéria e cujo império seria de uma riqueza inimaginável. Este Preste João seria um rei-sacerdote que liderava a cristandade assumindo um papel de patriarca e de líder religioso do seu povo; talvez daí o nome de Preste João ou Presbítero João - "Presbyter Ioannes, sic enim eum nominare solent...".
A partir desta fantasia houve quem se aproveitasse, quem escrevesse cartas falsas aos reis e ao Papa, quem incentivasse expedições em busca do reino do Preste João. No livro das Maravilhas de Marco Polo, afirma-se que o verdadeiro Preste João é Ong-Cã, rei dos turcos de Oengut, na Mongólia, descendente de cristãos nestorianos. Mas com excepção desta fonte, poucas eram aquelas que mereciam credibilidade, por mais embaixadores e cartas que chegassem a Roma em nome do Presbítero encoberto nas brumas da distância.

Posto isto, no quadro do início da expansão portuguesa, D. João II enviou em expedição dois leais servidores: Pêro da Covilhã e Afonso Paiva. Em 1487 ambos partiram para o Cairo, onde se separariam. Um iria buscar na Índia, impenetrável e desconhecida, o paradeiro desse patriarca, bem como recolher o máximo de informações necessárias para preparar a expedição que os portugueses já preparavam para atingir a Ásia por mar; o outro seguiu para os territórios da actual Etiópia em busca do Preste João. Quando, finalmente, Pêro da Covilhã regressou da Índia, soube da morte de Afonso, exigindo-se-lhe que se dirigisse à Abissínia e ali confirmasse a existência do Preste João. O monarca cristão lutava então contra a pressão muçulmana, pelo que pediu a ajuda dos portugueses na disputa travada com os Mamelucos pelo controle das rotas comerciais do Mar Vermelho.

Tomás Severino Bravo





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