sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A NECESSIDADE DE SER MONÁRQUICO E O IDEAL DA CAVALARIA

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Entre as recordações mais vivas que tenho da infância, a velha 
sala do meu tio José na casa de Tendais é uma das mais recorrentes. 
O fascínio não era dedicado à mesa em si, mas aos adornos que encimavam 
a mesma – duas pequenas esculturas de ferro figurando cavaleiros 
medievais, em posição de ataque, como se se confrontassem numa 
justa. A alma da casa e do seu velho dono pareciam revolver no 
mesmo espírito desta cena – as imagens, tal como o meu tio, enchiam 
a casa de uma dureza, de um rigor frio e velho, uma espécie de inverno 
branco que, em conjunto com a luz que entrava pelos cortinados da 
janela, enche as recordações daqueles dias com uma cor que cega.

Os corredores gelados da casa de Tendais, especialmente para a mente 
de uma criança, criaram em mim uma impressão muito forte, que 
acompanhou na pele os ensinamentos que os homens da minha família, 
o meu pai, tios e avôs, partilharam comigo.

Lições de dever, de coragem, de generosidade, de caridade.

Levei comigo essas palavras e agucei as minhas conclusões ao 
longo dos anos. Questionei durante muito tempo os valores familiares. 
Um deles, o mais pitoresco, a tradição monárquica, foi talvez o que 
mais abalos sofreu. Enfrentei a dúvida que tantos jovens 
monárquicos enfrentam: porque razão nos devemos bater por uma ideia 
que mais não é do que uma afirmação estética, uma diferenciação 
social que, para os que não sofrem do pedantismo snob da suposta 
velha aristocracia, é mais prejudicial do que proveitoso?

A verdade é que a Monarquia não é palco para as vaidades da 
consanguinidade de sangue azul. A Monarquia não é também, ao 
contrário de tantos cientista políticos, um “atenuador” das lutas 
partidárias das democracias modernas. Isto não são monarquias, são 
velhas situações.

A Monarquia é a conclusão do Pensamento, é a Árvore, e a flor desta 
Árvore é o ideal da Cavalaria.

Numa coisa os democratas da monarquia têm razão: a Monarquia 
controla a paixão pelo poder dos poderosos. Mas fá-lo porque substitui 
essa paixão pelo amor ao serviço da Pátria, pelo amor aos feitos corajosos, 
pelo amor aos mais fracos e desprotegidos.

Numa coisa os snobs hemofílicos da monarquia têm razão: a Monarquia 
enobrece. Mas a Monarquia não enobrece os inúteis e os pedantes, 
os covardes e irresponsáveis, os que assumem as benesses da sua 
casta como direitos adquiridos. A monarquia enobrece os que vivem 
à lei da nobreza. Que nobreza?

O ideal de nobreza merece ser aperfeiçoado. A nobreza não depende 
de um canudo universitário ou de um salário milionário – encontra-se 
em todas as camadas sociais, pertence a todos os grupos profissionais 
e a todas as actividades que garantem o bem comum na sociedade 
portuguesa. Encontra-se no estudante que luta por uma bolsa 
ou por conseguir o dinheiro das propinas, no empregado fabril ameaçado 
pelo fecho da sua fábrica, no desempregado que todos os dias navega 
anúncios atrás de anúncios de emprego na Internet.

Quando tantos e tantos destes homens e mulheres, na sua luta diária, 
encontram tempo e disponibilidade para dar de si aos outros, é que 
nos apercebemos que o ideal de cavalaria, aquela dura rigidez do dever, 
naquela alma de ferro que se demonstra nos mais calorosos actos 
de amor, de facto existe, mais forte do que nunca, somente à espera 
de alguém ou algo que lhe dê significado. Esse alguém é, sem 
dúvida, a monarquia e esse algo é a necessidade de ser monárquico.


Manuel Marques Pinto de Rezende


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