quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

O que é a Portugalidade ?

Foto de Nova Portugalidade.

Há, já ninguém o nega nem o pode ocultar, nem nos chamados estudos pós-coloniais, nem nas reflexões sobre a globalização, uma peculiaridade portuguesa na relação com os trópicos.

Quando Gilberto Freyre chocou o mundo com a sua teoria do luso-tropicalismo – contrariando o determinismo geográfico e o determinismo racial e respectivo estendal de arianismo, superioridade racial, evolucionismo e luta pela sobrevivência dos mais aptos - objectou-se-lhe que se tratava de arroubo lírico ou eco tardio de antropologia romântica. Pois, Deus criara o homem e os portugueses haviam criado o mestiço, mas a essa “raça artificial” – ou seja, criada para contrariar o carácter inóspito das paragens tropiciais – correspondia a geografia da fome, do subdesenvolvimento, da pobreza e da ignorância.

Respondeu-lhes Freyre que o segredo da fórmula portuguesa não residia tanto na dimensão biológica do fenómeno da expansão do português pelo mundo, mas na sua mobilidade, miscibilidade e aclimatabilidade. Onde o francês, o holandês e o inglês falharam, o português triunfou, ganhou raízes, tropicalizou-se. O sucesso dos portugueses remete, pois, para a compleição cultural, para a atitude na relação com os outros e para a variabilidade de soluções de compromisso com o meio social, cultural e até natural onde chegou. Dessa adaptabilidade resultante do cruzamento entre o cultural e o geográfico, o individual e o geral, o histórico e o natural, resultaram sociedades extremamente resistentes, conscientes de si e capazes de produzir cultura autónoma fora do quadro colonial, e até uma consciência de Estado e de nação, ou de resistência à ingerência externa que hoje ninguém intelectualmente honesto poderá negar. Angola, Moçambique, o Brasil, Cabo-Verde, Timor e Macau não são “portuguesas”, mas são expressões dinâmicas desse encontro luso-americano, luso-africano e luso-asiático que hoje, em plena globalização, reclamam altivamente a exigência de participarem na vida mundial, não como meros mercados, mas como actores carregados de personalidade cultural. É esse, pois, o significado da Portugalidade. Nós somos todos Nós.

MCB

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