"Por Dios, por la Patria y el Rey lucharon nuestros padres,
Por Dios, por la Patria y el Rey lucharemos nosostros también."
RPB
Por Dios, por la Patria y el Rey lucharemos nosostros también."
Os interessados na História recente do Reino de Espanha conhecerão as campanhas empreendidas pelos Carlistas, primos ideológicos dos Miguelistas portugueses, contra os governos liberais da Espanha oitocentista. O seu combate desigual, e muitas vezes heróico, marcou indelevelmente os últimos dois séculos da vida espanhola. Teve, também, grande e duradouro impacto político, pois os carlistas, ao contrário dos miguelistas portugueses, conservaram até recentemente papel central nos equilíbrios políticos de poder. Na guerra civil de 1936-1939, que opôs as esquerdas às direitas em brutal e sanguinolento conflito, os carlistas formaram parte da coligação vencedora. Hoje ainda, o ramo carlista congrega alguns monárquicos espanhóis, particularmente nas regiões de Navarra e do País Basco. Menos sabido é que um dos mais celebrados chefes carlistas era português e nascido no Rio de Janeiro.
O hino carlista, a Marcha de Oriamendi, é conhecido cântico patriótico espanhol. Foi, também, parte do hino nacional espanhol durante o regime do General Francisco Franco. O encontro celebrado na marcha, a Batalha de Oriamendi, foi travado entre os exércitos fiéis a Dom Carlos Maria Isidro, Infante de Espanha e irmão do anterior monarca Fernando VII, de persuasão política tradicionalista e anti-liberal, e o exército liberal de Isabel II de Espanha, sobrinha de Carlos e filha de Fernando. Entre os isabelinos marchavam numerosos ingleses da Legião Auxiliar Britânica, enviados pela Grã-Bretanha para o esmagamento da insurreição carlista. A batalha terminou em rotundo triunfo para os fiéis a Dom Carlos, não obstante a larga superioridade de homens e armas dos isabelinos. O general carlista era Dom Sebastião Gabriel de Bourbon e Bragança, Infante de Portugal.
Simultaneamente neto de Dona Maria I e do filho daquela, Dom João VI (o seu pai, Pedro Carlos de Bourbon e Bragança, era filho da Infanta Mariana Vitória de Portugal, por sua vez filha de Dona Maria e irmã de Dom João VI; a sua mãe, a Infanta Maria Teresa de Portugal, era filha de Dom João VI e neta de Dona Maria), o Infante nasceu no Rio de Janeiro, em 1811, e foi baptizado como Sebastião Gabriel Maria Carlos João José Francisco Xavier de Paula Miguel Bartolomeu de S. Geminiano Rafael Gonzaga de Bourbon e Bragança. Neto, como vimos, de dois monarcas portugueses, Dom Sebastião era, ainda, bisneto do Rei Carlos III de Espanha. Contudo, o único título que carregou desde o berço foi o de Infante de Portugal - o de Infante de Espanha só o receberia em 1824.
Devido à invasão francesa da metrópole portuguesa, o Infante Dom Sebastião nasceu, como se viu, no Rio de Janeiro, e no Rio de Janeiro residiu até 1821. Nesse ano, retornando a corte portuguesa à Europa, Sebastião seguiu-a também. Não, todavia, para Lisboa. Embora o seu pai tivesse falecido em 1812, Sebastião e a mãe instalaram-se em Madrid no regresso à Europa. A sua mãe, como Infanta de Espanha, o que era por direito do marido já morto; Sebastião, como Infante de Portugal com razoável pretensão aos seus direitos espanhóis. Estes foram-lhe reconhecidos por Fernando VII de Espanha, passando Sebastião a Infante de Espanha e de Portugal.
Com a morte de Fernando VII e a guerra civil entre os partidários de Carlos, defensores da monarquia tradicional e católica, e os de liberais de Isabel confrontando-se pelo futuro da Espanha, o Infante Sebastião acabaria por erguer armas por Carlos. Nisso foi muito influenciado pela sua mãe, Maria Teresa de Portugal, cuja simpatia estava com o partido carlista. Em 1838, de resto, a mesma Maria Teresa casar-se-ia em segundas núpcias com Carlos Maria Isidro, convertendo-se desse modo em Rainha de Espanha para os carlistas. Foi incentivado pela mãe, pois, que o Infante Sebastião se alistou na causa de Carlos, e essa causa defendeu esmeradamente. Oriamendi foi, provavelmente, a maior das vitórias carlistas contra as forças liberais espanholas.
Derrotados os carlistas, Sebastião foi forçado ao exílio e privado de todos os seus títulos espanhóis, passando novamente a assinar apenas como Infante de Portugal. Regressou a Espanha décadas mais tarde, perdoado pelos vencedores e obtendo a recuperação das dignidades que lhe devia o país nosso vizinho. Tentou mais que uma vez a reconciliação entre os ramos desavindos da família, mas sem sucesso. Morreu em 1875 com 63 anos.
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