Tal como D. Afonso Henriques no processo da Reconquista, também as frotas dos Descobrimentos levaram consigo o espírito hospitaleiro e uma forma peculiar que sempre caracterizou a presença portuguesa nos diferentes lugares, povos e nações, desde Marrocos até aos confins do mundo até então conhecido.
Voltaire, o bem conhecido filósofo francês do século XVIII, elogiou os Portugueses como exemplo de homens extraordinários que, «mau grado toda a ignorância desses tempos, começaram a merecer então uma glória tão durável quanto a do universo...» E acrescenta: «Em menos de cinquenta anos os Portugueses haviam descoberto cinco mil léguas de costa... tudo o que a natureza produziu de útil, de raro, de agradável, foi trazido por eles à Europa.»
Foi também este mesmo filósofo que distinguiu entre os «Descobridores», os Portugueses, e os «Conquistadores», os Espanhóis. Compreende-se esta distinção: dois milhões e meio de aztecas foram chacinados no México, depois de saqueados todos os tesouros; um milhão e oitocentos mil incas morreram pelo saque do ouro. Igualmente, dos guanches, povo primitivo das Canárias, não restou um único. Se a estes números somarmos os valores apontados por muitos autores relativos às espantosas chacinas efetuadas pelos ingleses nos chamados «índios» americanos, podemos ficar com a imagem de formas de estar no mundo dos homens e dos povos, bem diferentes da forma de estar portuguesa. Por isso, misturar, numa suposta e fictícia «epopeia ibérica» dos descobrimentos, homens como Francisco Pizarro ou Fernando Cortez, com os esforçados e valorosos descobridores portugueses, não pode deixar de ser profundamente injusto e afrontoso.
A abertura de novos mundos ao mundo, de que os Portugueses foram os autores, tão admirada e invejada pelos povos europeus, teve ainda características ímpares que mesmo os piores detratores não podem negar. A relação humana estabelecida com outros povos e nações, o estudo da sua língua e dos seus usos e costumes, assim como da fauna e da flora, permitiram avanços científicos excecionais, abrindo de par em par as portas do mundo moderno. A par deste conhecimento da gente das novas terras descobertas, os Portugueses tiveram igualmente a preocupação de transmitir os seus conhecimentos em áreas tão diversas como a agricultura, as artes e os ofícios.
O conhecimento da língua local foi sempre uma das grandes preocupações dos descobridores lusos, assim como dos missionários que os acompanhavam. Foram numerosos os manuais de aprendizagem compilados, quer das línguas nativas quer do português para os povos com quem entravam em contacto. A aprendizagem das línguas nativas, preocupação que foi uma das características da colonização Portuguesa, verdadeiramente pioneira, permitiu conhecer melhor o modo de pensar dos diferentes povos sobre todos os aspetos da sua vida. Este foi, sem dúvida, mais um dos enormes serviços prestados pelos Portugueses à Humanidade, trabalho de incalculável valor, pouco conhecido e ausente dos manuais de história. Reconheçamos o seu devido valor.
Miguel Martins
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