Portugal faz parte da Europa quer pela geografia quer pela partilha do substrato cultural comum ao continente, como é natural, e muitas outras semelhanças se poderiam enumerar. Portugal foi por diversas ocasiões tido em conta como potência europeia de primeira linha, tal como nos reinados de D. Manuel I ou de D. João V, altura em que os nossos embaixadores se sentavam à mesa com os agentes de outras nações em pé de igualdade. Ainda assim, os Reis que optaram por não entrar nos conflitos europeus e manter-se afastados das intrigas do centro do continente, concentrando antes as forças na Expansão, foram também os que gozaram uma maior prosperidade e esplendor. Tal explica-se com a simples razão de esses mesmos Reis terem conseguido compreender que uma estratégia inteligente de prosperidade para Portugal jamais passaria por uma política voltada para a Europa, mas sim para o Atlântico e para o mar. Nem poderia ser de outra forma; entalado entre a Espanha e o oceano, nas franjas do continente, só restava ao país aventurar-se pelas águas e expandir-se para o resto do globo, onde teria terreno para se implantar e expandir.
Sempre que se tentou o contrário, ou seja, concentrar as atenções na Europa, o resultado foi desastroso: dêem-se os exemplos de D. Fernando I ou de D. Afonso V, cujas guerras contra Castela redundaram em fracasso, ou, como supremo paradigma, os políticos liberais do século XIX, que, negando a essência do país (nesta altura já implantado pelo mundo) que governavam, tentaram suprimir a identidade deste através da “europeização”, implantando uma pura imitação dos modelos importados que passaram a dominar a vida nacional. Claro que o resultado foi o completo apagamento de Portugal no palco internacional e a queda num estado de decadência e mediocridade predominantes tanto no Portugal europeu como no Portugal asiático e africano, expressos através de um péssimo desempenho da economia e da falha geral das funções do Estado. O século XIX foi dirigido por políticos predominantemente anti-portugueses, o que só poderia resultar em desastre: se um país tentar ser o que não é, obliterando a sua essência, como é que lá chega? Não chega, e entrega-se à morte.
Estranha e sombria é, portanto, a política estratégica do regime de 25 de Abril, que, cometendo precisamente o mesmo erro fatal, decidiu apostar de novo na “europeização”, que mais não fez do que destruir a estrutura produtiva do país e apagar a sua relevância e soberania. Hoje, mais não somos do que vassalos de Bruxelas. É este o destino dos descendentes dos Reis de outrora? Como é que a História pode ser honrada assim?
Os restantes países da Portugalidade, por sua vez, também experimentaram o mesmo processo sofrido por Portugal: o Brasil tentou, a todo o custo, imitar os Estados Unidos da América, negando a sua ligação à terra-mãe onde nasceu, e o resultado está à vista de todos: falhou completamente na sua vendeta contra Portugal ao tentar imitar algo estranho à sua essência. Angola, Moçambique, e outros restantes, também se perderam de si próprios e vagueiam numa indefinição e letargia que os impede de atingir o seu potencial. Só há uma solução para estes problemas: a união de todas estas terras que partilham uma identidade, uma civilização e uma língua. Só quando todos compreenderem que devem regressar à essência primordial da Portugalidade, de Fraternidade e Amizade, partilhando a unicidade que está no âmago de todos eles, é que, finalmente, o esplendor poderá ser de novo vivenciado e celebrado. Resume-se, em suma, a cumprir a verticalidade da essência portuguesa, no sentido de estarmos alinhados com a nossa verdadeira identidade, esquecendo falsas ilusões a respeito de nós mesmos. Só a União faz a força.
Portugal faz parte da Europa em termos formais, mas em termos espirituais o seu coração está no mar e nos países do Atlântico e dos outros oceanos. Não é na Europa que a solução poderá ser encontrada. Isto não implica que não haja diálogo e colaboração com as nações europeias, mas o cerne da política externa só pode estar na Portugalidade por esse mundo fora, e não num continente do qual sempre fomos diferentes. Está na altura de assumir essa verdadeira identidade.
Miguel Martins
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