Serviu-se o ressentimento de meios de grande violência psicológica, pela palavra e pela palavra escrita, abrindo portas e justificando o revolverismo e o bombismo, a apologia da violência e até o regicídio, quiçá o mais vergonhoso acontecimento da vida política portuguesa. Vulgarizada a violência, tornou-se justificável toda a violência que foi a história da chamada 1ª República; em suma, aquilo a que um arrependido, Homem Cristo Pai chamou de banditismo político.
Para Ramalho Ortigão, o regicídio - ou antes, magnicídio, pois pretendia matar por atacado uma família, mais o primeiro-ministro - tratou-se da associação de um punhado de homens (mandantes, pagantes e executantes) que se reuniram com o declarado propósito de matar um rapaz. Foi essa matilha de celerados e criminosos que a república elevou ao panteão dos cidadãos exemplares, manchando-se para todo o sempre.
O crime de 1908 anunciou o corte de Portugal com setecentos anos de história, o assalto ao poder por uma minoria que jamais se submeteu ao veredicto dos portugueses, a confiscação do Estado por organizações secretas e grupos armados, o fim do Estado de Direito, anos de balbúrdia seguidos de ditadura e de ditadura seguida por balbúrdia. Sem o regicídio não teria havido intervenção na Grande Guerra, nem deriva radical jacobina, nem reacção católica autoritária, nem revolução marxista, nem descolonização de pé descalço, nem genocídio de Timor, nem entrada aos empurrões e sem condições para a CEE. Estaríamos, certamente, bem mais ambientados às práticas, ritmo e crenças da tolerância, da vivência da liberdade e do patriotismo; em suma, estaríamos bem mais civilizados. Portugal perdeu quase cem anos com a burla, as superstições e desmandos. Ainda é tempo de recuperar ?
MCB
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