Não possuo bagagem erudita em questões de história naval que me permita esgrimir argumentos sobre uma oportuna polémica a respeito da tese da prioridade chinesa no movimento dos descobrimentos pré-colombinos e pré-gâmicos. Contudo, um interesse mínimo pela questão levou-me a adquirir alguma bibliografia ultimamente surgida, a qual permite desmontar o atrevimento deGavin Menzies, o tal autor pago regiamente por Pequim para produzir obras sobre o carácter pioneiro dos "descobrimenos chineses". Menzies é ex-oficial da armada britânica, um diletante não reconhecido por qualquer entidade, pelo que todo o trabalho que tem elaborado repercute improviso, ausência de curriculum e desconhecimento de bibliografia básica.
Escavando nos arquivos imperiais de Pequim, Menzies foi confrontado com um mapa mundo supostamente cartografado no primeiro quartel do século XV pelo eunumo sino-muçulmano Zheng He, no decurso das supostas viagens transoceânicas que o teriam levado à costa ocidental da América, à África Oriental e à Austrália. De facto, a peça cartográfica é uma cópia executada em 1763 por Mo Yi Tong a partir da matriz do século XV, mas acrescentada por todas as contribuições portuguesas, castelhanas e britânicas. A tese, copiosamente regada de imprecisões cronológicas e abusos interpretativos, apenas me sugere uma explicação: a China tem ambições mundiais e quer, pagando a improvisados historiadores, secundarizar a prioridade europeia no processo de mundialização. Lembra-me as teorias sem pés nem cabeça do "arianismo" do século XIX - vigorosamente repelida pela arqueologia - , do Homem de Piltdown, do russismo durante a vigência da URSS (atribuía-se a um tal Popov o descobrimento de tudo) ou, mais recentemente, da genética islâmica por detrás de tudo e mais alguma coisa.
MCB
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