A conversão do Rei do Congo
A promessa de Diogo Cão foi apoiada pelo rei, que insistiu para que ele regressasse no prazo previsto; deixaram marca desta viagem numas rochas de Matadí: «Aqui chegaram os navios do ilustre rei João II de Portugal.» Na armada regressaram os quatro reféns, agora convertidos em experientes conhecedores da língua lusitana. Enviou um deles, com presentes, à corte congolesa, com o pedido de devolverem os portugueses que ali tinham ficado; regressados os portugueses ao barco, entregaria os outros três. Cumprido o compromisso por ambas as partes, Diogo Cão continuou com o reconhecimento da costa atlântica e percorreu umas duzentas léguas a sul do rio Congo.
No regresso desta exploração, foi visitar o rei congolês, que já estava a par das intenções do rei português através das informações dadas pelos quatro africanos. Diogo Cão corroborou essas informações e insistiu nos desejos do seu rei em estabelecer relações com ele. Então, este decidiu enviar uma embaixada, em 1488, a pedir o envio de «padres, clérigos, frades e outros ministros dos ofícios divinos, os quais nos instruam na lei e nos mandamentos da santa fé». Também pediu «artesãos, mestres canteiros e carpinteiros, agricultores... de maneira que o rei pudesse mandar construir templos, outras coisas e palácios, e que todos pudessem fazer no seu reino qualquer outra coisa que fosse necessária ao culto da fé e ao serviço da vida» (Rui de Pina). Enviava, como presentes, ao rei de Portugal, dentes de elefante, tecidos de palmeira e outros objectos de marfim. Todos os membros da embaixada foram doutrinados e fizeram-se cristãos, tendo actuado o rei e a rainha como anfitriões do baptismo e todos tendo recebido o nome dos padrinhos.
«Sua Majestade desejou que permanecessem no reino durante todo o ano de 1490, para que aprendessem a língua vulgar do seu reino, praticassem bem os artigos da fé católica, os mandamentos da nossa lei e os outros divinos ministérios e mandamentos; e que compreendessem bem todas aquelas coisas, para que não fossem embora ignorantes.»
No final deste ano, saiu esta embaixada de Lisboa com vários religiosos e chegou ao rio Congo no dia 29 de Março de 1491. No caminho, em direcção à capital, atravessaram primeiro a província ou senhorio de Sonyo, governada pelo tio do rei; «por intermédio de um dos rapazes doutrinados, pediu que lhe administrassem o baptismo, porque era homem de idade e, entre irem e virem de ver o rei, podia correr perigo de morrer, não queria perder aquela mercê de Deus que tinha em casa» (Barros, ibidem, Cap. 9). O seu filho também pediu para ser baptizado, e ambos receberam este sacramento no dia 3 de Abril de 1491: foi o primeiro baptismo que se administrou naquelas terras.
Os cerca de duzentos e cinquenta quilómetros que ainda os separavam da capital do Congo foram percorridos em vinte e três dias. O rei «recebeu-os com sumo agrado e cortesia, apreciando muito a oferta das várias coisas que lhe tinham trazido do rei de Portugal. Começaram logo a tratar do principal, catequizaram o rei e seis dos seus senhores principais e baptizaram-nos solenemente num oratório, que os religiosos tinham posto no seu palácio, no dia da Santa Cruz, em Maio de 1491» (Mateo de Anguiano, Misiones capuchinas en África: La Misión del Congo, n.º 7). Recebeu o nome de João, em honra do rei português. Pacheco Pereira acrescenta que o rei não quis que se baptizasse mais gente, «dizendo que coisa tão santa não devia ser dada a nenhum vilão. Grave, grave havia sido ter de deixar as muitas mulheres que ele sempre tivera...».
Na imagem, os portugueses prostram-se frente ao Rei do Congo, convertido em príncipe cristão e em vassalo do Rei de Portugal.
Sem comentários:
Enviar um comentário