quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

MESTRE PIERRE DE MONTAIGU


PIERRE DE MONTAIGU (1219 – 1232)

Após a morte do Mestre Guillaume de Chartres, a 25 de Agosto de 1219, o Capitulo Geral reuniu com o fim de eleger um novo Mestre do Templo; a escolha recaiu no insigne cavaleiro, contumaz e destemido combatente, originário de França, descendente  de uma das mais ilustres famílias do reino.
Foi Mestre do reino de Aragão e Preceptor de Jaime I – de seu nome: Pierre de Montaigu.
Ignorando a decisão tomada no Capitulo Geral, manteve-se no cerco a Damietta como mais um comum cavaleiro do Templo. A cidade capitulou a 5 de Novembro de 1219 com os consequentes conflitos entre os cruzados (ver Ocupação de Damietta no mestrado anterior).
A rivalidade entre as Ordens do Templo e dos Hospitalários não se notou no mestrado de Pierre de Montaigu; a coesão era a palavra de ordem, e além do mais, os Mestres das duas Ordens estavam certamente ligados por laços sanguíneos; Pierre, e Guerin de Montaigu seriam possivelmente irmãos ou primos.
O Mestre Pierre empenhou-se a pacificar as hostes dos Hospitalários, de Jean de Brienne e de Pelágio, o legado papal.

Nos meandros da Sexta Cruzada

Frederich II
Sob a bênção papal após a consolidação como imperador do Sacro Império Romano em 22 de Novembro de 1220 (rei da Alemanha, de Itália e da Borgonha), Frederich II disponibilizou-se a organizar a tão desejada cruzada. Porém a teia não estava completamente urdida; a sua sagacidade política levou-o a voltar-se para o trono de Jerusalém, mas estava ocupado pelo regente Jean de Brienne, o rei sem trono, pai da jovem Isabel II (Yolanda) herdeira do reino.
Nos bastidores, teceu-se o destino da futura rainha de Jerusalém marcado por uma reunião entre Jean de Brienne, o Papa Honório III e Frederich II, na cidade de Ferentino no ano de 1223.
Uma vez mais, recorrendo à bênção papal, foi celebrado este casamento, que viria a durar somente 3 anos, por morte de Isabel II, que morreu de parto ao dar à luz o futuro herdeiro de Jerusalém, (Conrado II, nascido em 25 de Abril de 1228) tinha 16 anos. Fredirich II enquanto o filho não atinge-se a idade de governar, tornara-se regente do reino… sem trono!

A ocupação de Damietta pelos cristãos somente durou dois anos. A cidade foi reconquistada pelos muçulmanos em 1221, e uma trégua de 8 anos foi assinada entre as forças cristãs e al-Kamil. O Mestre Pierre de Montaigu tira partido dessas tréguas para enviar reforços da Palestina para Espanha, com o fim de continuarem a participar na Reconquista.
Naquele tempo (1224) com o auxílio das tropas seculares, os Templários beneficiaram de bastas vitórias e benefícios com a Reconquista.

Jaime I
No reino de Aragão, o futuro rei Jaime I foi feito cativo por Simon de Montfort, que liderou a cruzada albigense.
Depois de um ano de exigências pelo Papa Inocêncio III, o príncipe foi devolvido aos seus súbditos em 1214, onde ficou sob a custódia do Templo, na fortaleza de Monzón, onde foi educado.
Durante a regência do seu tio-avô, conde Sancho Raimundes (von Roussillon) registaram-se várias rebeliões, até que Jaime I subiu ao trono em 1227.

No ano de 1227 ficou marcado pela prova de que a Ordem do Templo dedicava à Santa Sé, quando o imperador Frederich II (que também ostentava o título de rei da Sicília) teve comportamentos lamentáveis para com o Papa e para com os reinos católicos. Este príncipe saqueou e expropriou as possessões que o Templo e os Hospitalários possuíam na Sicília, sabendo de antemão, que as Ordens estavam terminantemente proibidas de levantar armas contra outros cristãos. Nesse mesmo ano, os Mestres do Templo e dos Hospitalários teceram duras criticas a Frederich por embarcar para a Terra Santa, como prometera, sem o Papa lhe ter levantado a excomunhão.

SEXTA CRUZADA

Quando os cruzados estavam prontos a encetar a viagem para a Terra Santa, foram surpreendidos pela notícia de que o Papa Honório III tinha falecido (18 de Março de 1227). O seu sucessor foi Gregório IX, que manteve a excomunhão do imperador Frederich II.
O eco deste conflito propagara-se pelo Egipto, chegando aos ouvidos do sultão de Damasco, pelo qual se mostrou bastante interessado. O pomo da discórdia, era tratar-se de um príncipe declarado inimigo do cristianismo, e que supostamente era rei de Jerusalém. – Era um contra-censo.
Excomungado pela Santa Sé, Frederich II viu-lhe negado todo o apoio que lhe era necessário pelas duas Ordens (Templo e Hospitalários) mas, apesar da humilhação a que foram sujeitos na Sicília, quando aportou em 8 de Setembro de 1228 em São João d’Acre, foram-lhe dispensadas todas as honras inerentes à sua posição.
Quando o imperador se dispôs a partir para Jerusalém, foi-lhe negada escolta das duas Ordens pelos motivos sobejamente conhecidos, fazendo-se acompanhar só pelos Cavaleiros Teutónicos.
Mas ocultos na sombra, Templários e Hospitalários não tinham abandonado o imperador que, segundo os historiadores, se fazia acompanhar somente de 800 cavaleiros e 8.000 soldados de infantaria. Por fim, juntaram-se ao pequeno exército de Frederich II, chegando todos juntos a Jaffa.

O Tratado

al-Kamil
A troca de mensagens entre Frederich II e o sultão al-Kamil resultaram num acordo temporário de paz, que duraria dez anos.
De acordo com esse tratado, o imperador ficava com Jerusalém, Belém, Nazaré, Sidon e de todas as aldeias da estrada de Jaffa a Jerusalém, e que por sua vez, deixaria frequentar Mesquita de Al-Aqsa, um lugar sagrado para os muçulmanos, para que exercessem livremente a sua religião. Para além disso, os actuais residentes muçulmanos, manteriam as suas casas, propriedades e, também manteriam o seu sistema de justiça independente, para salvaguardar os seus interesses religiosos.

O imperador possuía uma mente aberta, ou seja, era um liberalista. Frederich II aceitou o contracto que se iniciou a 11 ou a 20 de Fevereiro de 1229 em Jaffa. Porém, um tumulto de vozes dissonantes ergueu-se entre os cristãos. - Podia-se tolerar uma mesquita próxima ao Santo Sepulcro?!
O tratado não foi bem acolhido quer pelos muçulmanos, quer pelos cristãos; incluso o Patriarca de Jerusalém, interditou o acesso do imperador à cidade. Porém, o imperador ignorou essa ordem. Quanto ao Papa, excomunga uma vez mais Frederich…

Sem cerimónias: - Na companhia dos cavaleiros Teutónicos, Frederich auto-coroou-se rei de Jerusalém no Santo Sepulcro, em 18 de Março de 1229.

Templários culpados?! – Uma revolta alastrou-se por Jerusalém. O povo estava revoltado com o tratado. Frederich II culpou o Mestre Pierre de instigar a revolta, mas encontrou o mesmo cenário em São João d’Acre, em 1 de Maio do mesmo ano, quando embarcou apressadamente com rumo a Itália, para defender o seu património.
Um exército organizado pelo Papa Gregório IX, e liderado por Jean de Brienne (o rei deposto) ameaçava o seu trono.
Frederich II que escandalizou tudo e todos, com a sua tolerância religiosa, e por fim, submeteu-se à vontade do Papa Gregório IX. Prometeu devolver ao Templo e aos Hospitalários, todos os bens que lhes tinha expropriado.

A 28 de Janeiro de 1232 morre o Mestre Pierre de Montaigu.

Escudo de armas: - Esquartelado; I e IV Cruz do Templo em campo de prata; II e III uma torre de prata sobre campo de goles (vermelho).




CRONOLOGIA DOS ACONTECIMENTOS

1219,  5/Novembro – Conquista de Damietta. Fuga do sultão al-Kamil.
1220, 29/Março – Jean de Brienne entra na Síria.
1221, Junho – Pelágio, legado do Papa, decide conquistar o Cairo.
1221, 30/Agosto – Derrota dos cristãos em Mansurá. Evacuação de Damietta.
1225, Novembro – O imperador Frederich II de Hohenstaufen casa com Isabel de
          Jerusalém e Jean de Brienne deverá ceder-lhe a coroa.
1227, 28/Setembro – Gregório IX excomunga Frederich II, que tarda a partir para a
          Cruzada.
1228,  4/Maio – Morte de Isabel de Jerusalém.
1228, Julho – Frederich II desapossa Jean de Ibelin do reino de Chipre.
1228,  7/Setembro – Frederich II desembarca em São João d’Acre.
1228, Novembro – Início da fortificação de Jaffa.
1229, 11/Fevereiro – Conclusão do tratado de Jaffa entre al-Kamil e Frederich II.
1229, 18/Março – Frederich II é coroado de Jerusalém no Santo Sepulcro.
1229,  1/Maio – Frederich II é expulso de São João d’Acre pelo povo.
1232, 28/Janeiro – Morre o Mestre Pierre de Montaigu.

*++Fr. João Duarte - Grande Oficial/Comendador Delegado da Comendadoria de Santa Maria do Castelo de Castelo Branco.