sexta-feira, 12 de julho de 2013

A EMBRULHADA

CAVACO DECIDE PROLONGAR A CRISE: TUDO ISTO EXISTE, TUDO ISTO É TRISTE, TUDO ISTO É O NOSSO FADO!!!


Mais uma vez Cavaco Silva mostrou a sua verdadeira face: a de um homenzinho incapaz de tomar posições claras e corajosas, antes tentando passar por entre os pingos da chuva sem se molhar.

Impossível, senhor PR!

Na verdade, depois de naturalmente nos explicar (como se fosse preciso) as consequências nefastas de eleições antecipadas neste momento, acaba por atirar para os partidos (PSD, PS e CDS) o ónus da resolução da crise.

Mas, será que esta solução é sinceramente visionada pelo lamentável PR?

Obviamente que não. Ele sabe que esse "acordo de salvação nacional" não existirá e, se for sequer tentado, irá deixar-nos no fio da navalha.

Depois, não deixa de ser irónico que quem tanto se preocupa com as consequências nefastas para os mercados de uma indefinição e instabilidade governativa, acabe por deixar em cima da mesa, por um tempo não determinado, uma incógnita digna de irresponsáveis.

Lamento, sinceramente, que neste País massacrado, não seja possível constitucionalmente correr com um PR deste quilate e deixá-lo regressar aos seus dotes como professor e economista. Ficaríamos bem melhor!

Ora deixemos ver a solução.

Diz Cavaco, depois de tudo o resto, que o Governo existe com toda a legitimidade e suportado por uma maioria na AR. Verdade de Monsieur de Lapalisse.

Por outro lado, passa completamente ao lado, sem uma única referência, à solução apresentada pelos dois chefes partidários do Governo. Ou seja, somente se pode depreender que recusa a solução que lhe foi apresentada.

Sendo assim, duas dúvidas pairam no meu espírito: se Paulo Portas apresentou a sua demissão por desacordo pela solução encontrada após a saída de Vitor Gaspar; se essa demissão era irrevogável e somente se tornou revogável com a fórmula posteriormente apresentada ao PR, que não só o elevava a Vice-Primeiro Ministro e com a responsabilidade pela coordenação das políticas económicas e do relacionamento com a 'troika', como assegurava uma maior e mais forte participação do seu pequeno mas indispensável partido na constituição do novo Governo, maxime na pasta da Economia (como Pires de Lima), não será expectável que Portas volte atrás e mantenha a sua demissão?

E, que dizer de Passos Coelho? Por mais vontade e teimosia que mantenha, não será expectável que o Primeiro Ministro entenda que a solução agora avançada por Cavaco nada mais é do que uma total falta de confiança nele que se confirma ao colocar em cima da mesa as célebres eleições antecipadas (para Junho de 2014), tornando assim, irremediavelmente, este Governo como um governo a prazo, quase se podendo classificar como um governo de gestão até aquela data? Finalmente, se este Governo se mantém assim, quais as condições para governar com um mínimo de estabilidade e como haverá possibilidade de as agências de rating e os mercados não condenarem Portugal a uma violenta baixa no rating e a taxas de juro enormes e incomportáveis?

A não solução apresentada por Cavaco apenas "chuta a bola" para os partidos. Até aí poderemos entender que é justo, mas também se concluirá que escusaríamos de ter que manter uma Casa e um PR completamente inúteis, altamente dispendiosos (este PR conseguiu ultrapassar os gastos dos seus antecessores), além de nos poupar no vexame constante da possidonice de um casal que desconhece totalmente as exigências de uma postura de Estado e se comporta como um casal ridículo e sem categoria para tal estatura no aparelho do Estado.

Pela minha parte, se estivesse no lugar de Passos Coelho e Paulo Portas (coisa totalmente impossível, como podem calcular, até pela impossibilidade de me comportar como qualquer deles), tomaria uma só atitude de "lavagem de face": apresentaria à AR uma moção de confiança e depois esfregaria na cara do PR a decisão.
Como ele entende que é a AR que deve decidir tudo o que se passe e altere as condições de governabilidade, mesmo quando essas condições atingem, sem qualquer dúvida, "o regular funcionamento das instituições", então Cavaco ficaria no papel de que tanto gosta e para o qual se acomodou (excepto, se os meus leitores ainda se recordam e não têm memória curta, quando o Primeiro Ministro era Sócrates, pois aí ele bem clamava publicamente para que o povo se levantasse contra os cortes dos subsídios e salários, além da sua pobre pensão, e censurava o governo de então pelas políticas de austeridade que considerava já insustentáveis).

Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é o nosso Fado!!!

publicado por Fernando Sá Monteiro, em Risco Contínuo