sexta-feira, 31 de maio de 2019

Cerca Moura de Lisboa

Visita Guiada: Cerca Moura de Lisboa - Que cidade encontraram D. Afonso Henriques e osCruzados quando, em Outubro de 1147, tomaram AlUsbuna, a urbe islâmica que viri

Chega de palermice: Dom João VI não foi um cobarde, foi "o único homem que enganou" Napoleão

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Se a ideia de uma fuga parece ter sido impugnada, impõe-se-nos que esclareçamos outro erro de interpretação inserto na obra “Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil”. Trata-se do suposto “abandono” do exército português pelo Príncipe Regente e do vazio deixado pela partida da família real. Dom João deixou o exército e nomeou um Conselho de Regência, embora sabendo qual seria o comportamento dos franceses. Neste particular, Dom João queria aplacar os franceses, evitando que estes cometessem excessos, mas não alimentava quaisquer esperanças a respeito das intenções dos invasores.

Em Julho de 1807, Tilsit fechara o Báltico ao comércio britânico. Napoleão lançou então as vistas para a Península Ibérica. Em Novembro, o exército franco‑espanhol passou a fronteira portuguesa e avançou sobre o Porto e Lisboa, invocando defender a soberania e os interesses portugueses, ameaçados pelos britânicos pela adesão do Príncipe Regente ao Bloqueio Continental. O avanço francês não encontrou oposição. Contudo, o Príncipe Regente, não obstante aconselhar às populações e autoridades que recebessem os intrusos como amigos, preferiu retirar-se para o Brasil – ideia antiga de dois séculos – deixando o poder nas mãos de um Conselho de Regência. O General-em-Chefe, Junot, chegava a Lisboa no preciso momento em que ainda era visível, afastando-se no horizonte, a esquadra luso-britânica que levava em êxodo para o Atlântico Sul a corte e o Estado.

Os primeiros decretos assinados pelo Conselho da Regência, deixavam supor que as instituições continuariam a exercer funções correntes. Porém, em inícios de Fevereiro de 1808, Junot decretava que doravante Portugal passava a ser administrado pelo General-em-Chefe do Exército francês, suprimindo o Conselho de Regência, substituído por um Conselho de Governo. De imediato, vindo de Paris, um decreto imperial – prontamente publicado no Moniteur – proclamava solenemente que, preocupado com a felicidade futura de Portugal, Napoleão colocava a nação sob a sua «omnipotente protecção», retirando ipso facto ao Príncipe Regente «todos os direitos à soberania deste reino», pelo que «a Casa de Bragança [acabava] de reinar em Portugal».

Poucos dias após a ocupação da capital, haviam-se registado os primeiros indícios de agastamento, quando a bandeira portuguesa fora substituída pelo pavilhão francês no ponto cimeiro do castelo de S. Jorge. Agora, perante os decretos, tornava-se claro que Portugal passara a Estado vassalo e, nessa condição, esperava Portugal que o imperador, como era prática, indicasse de entre a sua parentela ou de entre os seus generais alguém para o trono português. Graças à acção do conde da Ega, figura relevante da facção francesa, foi constituída uma deputação a enviar a Baiona, onde o imperador se instalara para tratar dos assuntos peninsulares. Cabia à missão pedir ao imperador que «tomasse a nação portuguesa debaixo da sua poderosa protecção, que a regenerasse, que nos desse a Constituição e o soberano que a sua alta compreensão julgasse mais adequado à nossa felicidade (…)». O anúncio da partida da delegação coincidiu com anúncio de uma reorganização profunda do exército português, o que escondia outros propósitos; a saber, a extinção do exército de linha e sua conversão numa legião de tropas portuguesas ao serviço da grande Armée napoleónica como, aliás, se veio a realizar. 

Miguel Castelo-Branco


DEUS - PÁTRIA - REI

terça-feira, 28 de maio de 2019

28 de Maio de 1357: Sobe ao trono o Rei Dom Pedro I

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Dom Pedro I, Rei de Portugal, * Coimbra, Coimbra, 08.04.1320 - † Évora, Estremoz, 18.01.1367, apelidado de "o Justiceiro", era filho de Dom Afonso IV, Rei de Portugal (*1291 - †1357) e de Dona Beatriz, Infanta de Castela, Rainha Consorte de Portugal, (*1293 - †1359); Neto paterno de Dom Dinis, Rei de Portugal (*1261 - †1325) e da Rainha Santa Isabel (*1271 - †1336) e neto materno de Sancho IV (el Bravo), Rei de Castela (*1258 - †1295) e de María de Molina, Senhora de Molina e Mesa (*1264 - †1321) 


Dom Pedro I foi o Rei de Portugal e Algarve de 1357 até à sua morte em 1367.

O Infante Dom Pedro nasceu na cidade de Coimbra, a 8 de Abril de 1320, filho do então infante Dom Afonso e sua esposa Dona Beatriz de Castela. Pedro foi o quarto filho de um total de sete, três mulheres e quatro varões: Dona Maria, Dom Afonso, Dom Dinis, ele próprio, Dona Isabel, Dom João, e Dona Leonor. Destes, mais de metade cedo morre (Dom Afonso nado-morto à nascença; Dom Dinis, Dona Isabel, e Dom João na sua infância). Por este motivo, Dom Pedro, não sendo primogénito, torna-se herdeiro do pai e vem a suceder-lhe no trono. Dom Pedro I sucedeu a seu pai em 1357.

Dos seus primeiros anos de vida, pouco se sabe. Conhecem-se, todavia, através de fontes escritas, a sua ama, Dom Leonor; o aio e mordomo-mor Lopo Fernandes Pacheco; o guarda, Domingos Anes; o reposteiro-mor, Gonçalo Lobato; e os reposteiros, Afonso Domingues e Afonso Esteves. É também sabido que, por volta dos seus quinze anos, em 1335, já tinha casa. Os cronistas fazem menção a um defeito de gaguez e ainda, no foro psíquico, "paixões exaltadas e violentas, cóleras explosivas, perversões várias"; é igualmente caracterizado como um amante da festa e da música, cantando e dançando por Lisboa ao som de "longas" com os populares.

Dom Pedro é conhecido pela sua relação com Inês de Castro, a aia galega da sua mulher Constança Manuel, que influenciou fortemente a política interna de Portugal no reinado de Dom Afonso IV. Inês acabou assassinada por ordens do rei a 7 de Janeiro de 1355, mas isto não trouxe Pedro de volta à influência paterna. Contrariamente, durante alguns meses, Pedro revoltou-se contra o pai; apoiado pela nobreza de Entre Douro e Minho e pelos irmãos de Inês. A paz veio por vontade declarada do povo e perdoaram-se mútuas ofensas. Aclamado rei em 1357, Pedro anunciou em Cantanhede, em Junho de 1360, o casamento com Inês, realizado em segredo antes da sua morte, sendo sua intenção a ver lembrada como Rainha de Portugal. A promessa de perdão aos responsáveis pela morte de Inês foi esquecida

Este facto baseia-se apenas na palavra do rei, uma vez que não existem registos de tal união. Dois assassinos de Inês foram capturados e executados (Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves) com uma brutalidade tal (a um foi arrancado o coração pelo peito, e a outro pelas costas), que lhe valeram os epítetos supramencionados.

Conta também a tradição que Dom Pedro teria feito desenterrar o corpo da amada, coroando-a como Rainha de Portugal, e obrigando os nobres a procederem à cerimónia do beija-mão real ao cadáver, sob pena de morte. Em seguida ordenou a execução de dois túmulos (verdadeiras obras-primas da escultura gótica em Portugal), os quais foram colocados no transepto da igreja do Mosteiro de Alcobaça para que, no dia do Juízo Final, os eternos amantes, então ressuscitados, de imediato se vejam...

Como rei, Dom Pedro revelou-se bom administrador, corajoso na defesa do país contra a influência papal (foi ele que promulgou o famoso Beneplácito Régio, que impedia a livre circulação de documentos eclesiásticos no país sem a sua autorização expressa), e foi justo na defesa das camadas menos favorecidas da população. Aplicava a justiça com brutalidade, de forma «democrática», punindo exemplarmente sem olhar a quem. Para não atrasar a aplicação das sentenças, puniu com pena de morte a prática da advocacia, isto levou a protestos nas cortes de 1361. Pouco fez para refrear o poder da nobreza, mas esta temia o rei. Gostava muito de estar próximo do povo nos festejos, daí ser adorado. Na política externa, Pedro ajudou seu sobrinho, o rei de Castela na guerra contra o meio-irmão.

A sua relação com o clero foi algo conflituosa, em relação à nobreza foi magnânimo. Deu o título de conde de Barcelos a João Afonso Telo com direito hereditário e deu terras aos filhos de Inês. A Ordem de Avis entregou-a a seu filho, Dom João, futuro rei.

A forma como exerceu a justiça, parece-nos hoje cruel, mas era costume naqueles tempos difíceis. Diz-se que mandou servir um banquete enquanto assistia à execução de Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves. Gostava mais de ser algoz de que juiz, como atestam algumas sentenças que proferiu.

Dom Pedro reinou durante dez anos, sendo tão popular ao ponto de dizer a população "que taes dez annos nunca houve em Portugal como estes que reinara el Rei Dom Pedro". O seu reinado foi o único no século XIV sem guerra e marcado com prosperidade financeira, daí ficar na memória como um bom reinado. Para Fernão Lopes foi o avô da dinastia de Avis.

Jaz no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.

Cronologia (Geneall):

28.02.1335 Tratado de casamento entre o Infante D. Pedro e a Infanta Dona Constança, filha de João Manuel, infante de Castela.

08.02.1354 Tratado de casamento entre o Infante de Aragão D. Fernando e D. Maria, filha do Infante D. Pedro de Portugal.

28.05.1357 Sobe ao trono o rei D. Pedro I.

06.03.1360 D. Pedro I passa uma procuração ao Mestre de Avis, D. Frei Martinho do Avelar, para tratar das tréguas ou pazes com o rei de Aragão.

22.10.1383 Morte do rei D. Fernando, nono rei de Portugal. A sua morte dará origem a uma crise política resolvida com a subida ao trono de D. João, Mestre de Aviz, filho natural do rei D. Pedro.

(Fontes: Investigação António Carlos Janes Monteiro, Wikipédia, Geneall e Estórias da História)

O Castelo Do Cavaleiro Andante

segunda-feira, 27 de maio de 2019

O que andamos a fazer na Europa?

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sexta-feira, 24 de maio de 2019

Antiga Quinta Real do Alfeite

Visita Guiada: Antiga Quinta Real do Alfeite - Nas mãos da Marinha Portuguesa desde há mais de cem anos, a antiga Quinta do Alfeite (e o território onde ela se inscr

O nosso século XX teria sido outro se Salazar tivesse restaurado a Monarquia

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Paulo Drumond Braga revelou-nos há cerca de dois anos uma excelente biografia de D. Duarte Nuno, intitulada Nas Teias de Salazar. Deve ser lida, não só como importante fonte de informação, mas como texto de meditação sobre os futuríveis que se apresentavam a Portugal nas décadas de 50 e 60. 

D. Duarte Nuno, pai do actual chefe da Casa Real, poderia ter sido o salvador do Estado português. Salazar foi excessivamente português no tratamento da questão sucessória que era, afinal, a mais importante. Salazar, sabendo-o, não foi suficientemente lúcido para fazer essa escolha entre a restauração e o caos. Adiou, quis satisfazer a todos, nem um sucessor escolheu e, finalmente, morreu e o poder passou para quem já evidenciava os traços desta gente que manda no país desde 1968.

Salazar sabia que o Marcelo era um biltre, que dizia mal do regime e conspirava, mas deram-lhe o poder. Marcelo foi o grande responsável pela inviabilização da solução monárquica. Os Bragança haviam cumprido escrupulosamente tudo o que Salazar pedira por ocasião do regresso da Família Real a Portugal, mas nada lhes foi restituído, vivendo apartados da vida pública e do contacto com os portugueses. Foi-lhes até negado um trem de vida compatível com a sua condição. A família viveu numa pelintrice indigna e até a suprema afronta de lhe destinarem uma casa onde chovia.

Podendo ter arranjado um Rei de graça, um excelente Américo Tomás de sangue azul, um homem gentil e de carácter muito alemão, preferiram o caminho mais cómodo, ou seja, nada fazer.

A restauração devia ter ocorrido em 1955 ou 1956, mas o congresso da União Nacional de 1951 impediu-o. A União Nacional passou a ser republicana. O congresso, ao votar pelo encerramento da questão do regime, deixou de poder apontar um futuro estável após o passamento do seu líder e fundador. Marcelo conseguiu-o. Era a diferença entre Salazar e o Marcelo. Como camponês, Salazar entendia a monarquia como um dado relevante do carácter nacional; Marcelo via-a como uma limitação às suas ambições de micro-burguês cheio de complexos de classe. Durante os 14 anos que sobravam a Salazar, teriam formado uma inteira geração de servidores da Coroa. E o que tivemos logo a seguir ? A campanha do Delgado. Compreende-se que depois de 1958, os monárquicos se tenham despolitizado até aos extremos de hoje.

Até partidos poderiam ter inventado. Com uma monarquia restaurada, não teria havido golpe, revolução nem descolonização nos termos em que esta se processou. Poderia, quando muito muito, ter havido um regime à europeia, mas muito ao centro, como houve em Espanha - algo como uma UCD - sendo até possível uma democracia com muitos traços da doutrina salazariana. Se se tivesse optado por essa solução, a descolonização ter-se-ia projectado para os anos 80 ou 90, quando a URSS entrou em colapso. Não esqueçamos que entre o 25/A e a chegada de Gorbachev medeiam apenas 9 anos. Teria então sido possível negociar com os movimentos. Em 1985 , com a URSS transformada num monte de entulho, eles já seriam bem mais mansos. Mesmo que Angola e Moçambique se tivessem tornado independentes, teriam ficado Cabo Verde, S. Tomé, Cabinda e Timor. 
Uma monarquia não requer grandes reis. Basta ter um Rei, é o suficiente. Como se vê, a monarquia não era apenas uma questão decorativa. Era central. Portugal teve essa oportunidade e deitou-a fora.

MCB

No dia 6 de Junho, a Nova Portugalidade falará exactamente deste assunto numa conferência intitulada "Salazar e a Restauração da Monarquia". O orador será o Professor Doutor Paulo Drumond Braga. Registe-se já através de:https://www.facebook.com/events/2652077388155620

DEUS - PÁTRIA - REI: Le prince de Beira à un débat sur les élections eu...

DEUS - PÁTRIA - REI: Le prince de Beira à un débat sur les élections eu...: Le  prince de Beira, fils aîné du duc de Bragance , a assisté à Porto à un débat entre les candidats aux élections européennes du 26 ...

quinta-feira, 23 de maio de 2019

FUNDAÇÃO DE PORTUGAL

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Bula Manifestis Probatum, de 23 de Maio de 1179 - "Concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence, bem como todos os lugares que com o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos sarracenos e nos quais não podem reivindicar direitos os vizinhos príncipes cristãos"

"A bula Manifestis probatum est argumentis, de 23 de Maio de 1179, foi, concedida por um dos papas mais cultos da Idade Média, professor de direito e de teologia, cujas teorias do poder papal aplica depois de eleito Papa. Alexandre III exerceu uma influência incontestável na Europa do seu tempo. O rei de França, Luís VII tem-no como director de consciência e segue docilmente os seus conselhos. Henrique II de Inglaterra, depois de se arrepender do assassínio de Thomas Becket, (...) reconhece que recebeu o seu reino do poder papal.


A suzerania papal era um facto em relação aos Estados da Europa e a autoridade da Santa Sé aumenta consideravelmente durante o pontificado de Alexandre III. D. Afonso Henriques tomando-se tributário da Santa Sé e prestando vassalagem ao Papa, obteve o apoio necessário e indispensável na época para garantir uma independência já adquirida de facto, mas ainda não confirmada expressamente pela única autoridade que podia conceder-lha.


De resto, o teor da bula claramente nos indica que o privilégio concedido se devia aos inumeráveis serviços prestados à Santa Igreja pela propagação da fé cristã, que assinalaria D. Afonso Henriques aos vindouros como um nome digno de memória e um exemplo merecedor de imitação, e porque a Providência divina escolhera-o para governo e salvação do povo.


Deste modo, o Papa, atendendo às qualidades de prudência, justiça e idoneidade de governo, toma D. Afonso Henriques «sob a protecção de São Pedro e a nossa», concede e confirma por autoridade apostólica ao seu domínio o Reino de Portugal com todas as honras inerentes à realeza, bem como as terras que arrancara das mãos dos sarracenos e nas quais não podiam reivindicar direitos os vizinhos príncipes cristãos. O privilégio estende-se a todos os seus descendentes, prometendo o Papa defender esta concessão com todo o seu poder supremo."

23 de Maio de 1179: O Papa Alexandre III reconhece a soberania de Dom Afonso Henriques, com a bula "Manifestis Probatum"

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PORTUCALE REX PRIMUS :

Dom Afonso Henriques, *Guimarães, Coimbra ou Viseu 25/07/1109 - †Coimbra, Coimbra 06/12/1185, era filho de Henrique da Borgonha, Conde de Portugal e de Dona Teresa de Leão, Condessa de Portugal. Neto paterno de Roberto I (O Velho), Duque da Borgonha e de Dona Beatriz (?) de Barcelona; neto materno de Don Alfonso VI, Rei de Castela e de Ximena Moniz.

A Bula Manifestis probatum é um dos mais importantes documentos pontifícios da História de Portugal. Foi enviada pelo Papa Alexandre III a Dom Afonso Henriques, a 23 de Maio de 1179, confirmando-lhe o título de rei e atribuindo esse título também aos seus sucessores. Por outro lado, concedia ao monarca português o domínio dos territórios conquistados e a conquistar aos Mouros, o que representava um importante estímulo à expansão territorial.

Alexandre III foi um dos papas mais cultos da Idade Média, professor de direito e de teologia, cujas teorias do poder papal aplicou depois de eleito Papa. Alexandre III exerceu uma influência incontestável na Europa do seu tempo. 

A suserania papal era um facto em relação aos Estados da Europa e a autoridade da Santa Sé aumentou consideravelmente durante o pontificado de Alexandre III. Dom Afonso Henriques tomando-se tributário da Santa Sé e prestando vassalagem ao Papa, obteve o apoio necessário e indispensável na época para garantir uma independência já adquirida de facto, mas ainda não confirmada expressamente pela única autoridade que podia conceder-lha.

De resto, o teor da bula claramente indica que o privilégio concedido se devia aos inumeráveis serviços prestados à Santa Igreja pela propagação da fé cristã, que assinalaria Dom Afonso Henriques aos vindouros como um nome digno de memória e um exemplo merecedor de imitação, e porque a Providência divina escolhera-o para governo e salvação do povo.

Deste modo, o Papa, atendendo às qualidades de prudência, justiça e idoneidade de governo, toma Dom Afonso Henriques «sob a protecção de São Pedro e a nossa», concede e confirma por autoridade apostólica ao seu domínio, o Reino de Portugal com todas as honras inerentes à realeza, bem como as terras que arrancara das mãos dos sarracenos e nas quais não podiam reivindicar direitos os vizinhos príncipes cristãos. O privilégio estende-se a todos os seus descendentes, prometendo o Papa defender esta concessão com todo o seu poder supremo. (in, Estórias da História -https://estoriasdahistoria12.blogspot.com/2019/05/23-de-maio-de-1179-o-papa-alexandre-iii.html)

" D. Afonso Henriques "O Conquistador" - 1143 – 1185

Provavelmente em 1109, nasce Afonso Henriques, filho de Henrique de Borgonha e da infanta Teresa de Leão.

A sua mãe era filha ilegítima do Rei Afonso VI de Leão e Castela, a quem Afonso VI doara o Condado de Portucale pelo casamento. Há quem defenda também que era filho de Egas Moniz.

Almeida Fernandes, autor da hipótese que indica Viseu como local de nascimento de D. Afonso Henriques refere a probabilidade de ter nascido em Agosto, enquanto outros autores, baseando-se em documentos que remontam ao século XIII referem a data de 25 de Julho do mesmo ano.

Já foram defendidas outras datas e locais para o nascimento do primeiro rei de Portugal, como o ano de 1106 ou de 1111 (hipótese avançada por Alexandre Herculano após a sua leitura da "Crónica dos Godos").

Tradicionalmente, acredita-se que terá nascido e sido criado em Guimarães, onde viveu até 1128.

Mas há ainda quem defenda Coimbra como local provável para o nascimento do primeiro Rei de Portugal.

Tradicionalmente teria sido criado por Egas Moniz de Ribadouro, “o Aio”, mas há dúvidas sobre se teria sido antes Ermígio Moniz, o irmão. Considera-se que teria sido alguém da família de Ribadouro.

Henrique de Borgonha, o pai, era um aventureiro, ousado e ambicioso, de alta descendência, verdadeiro chefe do grupo de cavaleiros, monges e clérigos de origem francesa que desempenhou papel importante na remodelação da política e da igreja do ocidente peninsular (séc. IX) – Trouxeram costumes monásticos cluniacenses, preencheram lugares eclesiásticos e políticos. Henrique morreu quando o filho tinha apenas dois anos.

D. Teresa: Não era um modelo de virtudes cristãs, mas também não era uma mulher de costumes depravados (embora tivesse coabitado sucessivamente com os dois irmãos Trava, o que para a época era um escândalo). Personalidade ambiciosa, fortemente convencida do seu direito a herdar um dos Estados governados pelo seu pai (Galiza). Nunca reconheceu a irmã como rainha e herdeira do pai. Intitulava-se rainha. Conviveu pouco com o filho. Em 1112 fica viúva. Aproximadamente em 1116, D. Teresa aproxima-se dos Travas, que a encorajam a reivindicar o senhorio da Galiza – Por esta altura envolve-se com Bermudo Peres de Trava, filho de Pedro Froilaz. Em 1121 Fernão Peres já estava na sua corte. Não se sabe se chegou mesmo a casar com ele.

A Infância e a Adolescência - Clima de intensas lutas, intrigas e contradições.

Pressão para que tomasse partido entre as posições assumidas pelos senhores e familiares que viviam à sua volta. 

Em 1122 o panorama político alterou-se, tinha o infante 13 anos.

Deixam de figura como confirmantes dos diplomas da “rainha”, os nobres Soeiro Mendes de Sousa, Ermígio, Egas e Mendo Moniz de Ribadouro, Paio Soares da Maia e Sancho Nunes de Barbosa – Oposição à autoridade confiada ao Conde de Trava pela rainha.

Eram os mais respeitados nobres de Entre Douro e Minho.

O mais verosímil é que os senhores portucalenses se tenham revoltado porque Fernão Peres os excluíra de qualquer papel de chefia no combate ao Islão (da glória inerente à participação na guerra santa e das vantagens materiais e simbólicas).

1125 – Nova vaga de deserções na corte – A revolta estendia-se a todo o Entre Douro e Minho (a sul atingia a Terra de Santa Maria).

A revolta dos barões portucalenses não foi, de início comandada por D. Afonso Henriques, pois em 1122 este era demasiado jovem.

Para além disso, viveu com o seu aio até aos 11 ou 12 anos, mas em 1120 deixou de estar na sua dependência – A partir daí passou a subscrever os documentos de D. Teresa (até 1127). Confirma-os em posição superior à do Conde de Trava, mas juntamente com ele.

Até 1127 (tinha 18 anos), não há indícios de conflitos entre ele e a rainha.

Em 1125, Afonso Henriques ter-se-á investido como cavaleiro, na Sé de Zamora, no dia Santo de Pentecostes, teria 16 anos.

Zamora pertencia ao senhorio de D. Teresa, pelo que a cerimónia ter-se-á realizado com o seu consentimento – Para assegurar os direitos de D. Afonso à sucessão.

8 de Março de 1126 – Morre D. Urraca e sucede-lhe Afonso Raimundes (Afonso VII).

Setembro e Outubro de 1127 – Percorria o norte de Portugal para exigir pela força o reconhecimento da sua autoridade por parte dos senhores galegos e portugueses - O Cerco de Guimarães.

É difícil saber quem tomou a iniciativa do acordo entre Afonso e a nobreza.

As circunstâncias em que se deu o cerco e a participação nele de nobres revoltosos terão facilitado o acordo.

Devem ter pensado que se tornaria fácil convencer aquele jovem de 18 anos a defender os seus interesses, se lhe entregassem o poder.

O infante começou, pouco depois do cerco de Guimarães, a exercer actos de soberania – Apropriou-se portanto do condado, contra a vontade da mãe.

Depois do cerco de Guimarães, Afonso tomou do padrasto o Castelo de Santa Maria da Feira.

S. Mamede - As conversações não resolveram o conflito, o confronto armado era inevitável.

24 de Junho de 1128 – Festa litúrgica de S. João Baptista.

Batalha campal perto do Castelo de D. Afonso, em Guimarães, entre as suas tropas e as da sua mãe.

Afonso Henriques apoderou-se da herança de D. Teresa pela força, mas ao contrário do que diz a tradição do povo, D. Teresa e o Conde, pouco tempo depois, estavam livres na Galiza, com as duas filhas Sancha e Teresa Fernandes, ainda pequenas.

D. Teresa morreu em 1130 (no 2.º ano do “reinado” do Infante).

Fernão Peres de Trava ofereceu uma herdade à Sé de Coimbra pela alma da esposa.

A reconciliação do Senhor de Trava com D. Afonso Henriques foi anterior à morte de D. Teresa (confirmou doações do infante).

O fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres – O auxílio prestado pelos Barões Portucalenses obrigava-o a ser generoso para com eles.

Situação de dependência nos primeiros tempos do seu governo.

Os primeiros diplomas emitidos pelo príncipe favorecem a igreja (pobres eremitas e mosteiro).

Quis captar a benevolência das duas categorias extremas da hierarquia eclesiástica: A máxima autoridade religiosa do condado e os religiosos mais pobres.

O Arcebispo de Braga, Paio Mendes, representava a outra força essencial que colaborou para que Fernão Peres de Trava fosse vencido.

Era contra as pretensões do Arcebispo de Compostela (Guelmírez). Reivindicava para si o exercício da autoridade canónica sobre as dioceses portuguesas. Queria independência do seu rival de Compostela.

João Peculiar sucedeu a Paio Mendes, em 1139, no cargo de chanceler e defendeu mais a independência política do rei, do que a sua submissão ao partido feudal.

Afonso vai progressivamente libertando-se dos compromissos com a nobreza. 

Tudo começa quando o infante se estabelece em Coimbra e acentua-se com a conquista de Lisboa – Protecção das comunidades vilãs e das ordens militares.

Evolução de uma situação tipicamente feudal para um efectivo exercício do poder político, por intermédio das suas funções guerreiras.

Sobretudo na frente muçulmana, onde conta com a importante colaboração dos cavaleiros – vilãos e das ordens militares.

O rei vai-se libertando da tutela dos ricos – homens nortenhos para se apoiar numa nobreza mais fiel e dependente sem tradições muito antigas, e que lhe deve a sua promoção (ex. família Soverosa, oriunda talvez de um bastardo galego que ascende de alferes a mordomo-mor). 

O rei devia possuir qualidades políticas excepcionais – Coerência de opções durante todo o reinado – Rigorosa continuidade das suas orientações.

Mas terá sido também influenciado pessoalmente por João Peculiar, um dos fundadores de Santa Cruz de Coimbra, depois bispo do Porto e Arcebispo de Braga.

1129 – Afonso confirma doação de D. Teresa à Ordem militar do templo.

As divergências de S. Mamede passavam para segundo plano quando estava em causa um ideal que envolvia toda a cristandade – Concretizado nas cruzadas.

Ampla corrente religiosa, cultural, social e económica orientada para Jerusalém (o centro do mundo, na mente dos europeus).

A mudança de residência de Afonso Henriques de Guimarães para Coimbra constituí um facto da maior importância histórica – A decisão mais transcendente para a sobrevivência de Portugal como nação sobrevivente, em cinco aspectos:

1. A nobreza senhorial

2. Os cavaleiros – vilãos

3. As estruturas urbanas

4. A guerra externa

5. A cultura moçárabe

O Mosteiro de Santa Cruz - 1131 (lançamento da primeira pedra a 28 de Junho) – Fundação de uma comunidade de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, pelo arcediago da sé da mesma cidade, o presbítero Telo, associado a João Peculiar.

Afonso ofereceu-lhes uma importante propriedade urbana junto dos muros da cidade, onde estavam situados os banhos muçulmanos. 

Afonso Henriques apresentava-se como neto do imperador Afonso VI e como tal achava-se no direito de herdar alguns dos Estados de seu avô. 

Conflitos armados nas fronteiras galega e leonesa – Afonso pretendia não só alargar o seu território, mas também mostrar que tinha direito de aceitar vassalos, mesmo em território galego e que não necessitava do acordo do primo. 

Afonso Henriques aproveitou a rebelião de Garcia de Navarra para ocupar pela força os condados de Toroño e de Límia, nomeadamente Tui.

Aí foi assinado um pacto com o primo (1137).

Considera-se que Afonso teve de deixar a sua posição favorável nessas terras para ir defender o castelo de Leiria, cujo ataque mouro era uma ameaça à cidade de Coimbra.

A Batalha de Ourique - Em 1139, Afonso terá organizado um grande fossado, em pleno gharb – A incursão em território inimigo terá sido interceptada em Ourique pelo rei Esmar, que foi vencido e teve de abandonar o campo.

Ourique seria em princípio uma extensão de território despovoado que abrangia quase todo o Baixo Alentejo.

As incursões militares profundas e prolongadas eram frequentes – O fossado português deve ter penetrado até à Andaluzia e trouxera muitos despojos e cativos, até que foi interceptado pelo inimigo mas conseguiu vencê-lo.

A tradição diz que antes do combate, Afonso foi aclamado rei pelas suas tropas, alçado num escudo.

Podia haver uma coincidência aproximada entre a data da batalha e o novo título atribuído pelos notários régios ao infante de Portugal. 

Afonso deve o sucesso do seu reinado, não apenas ao seu talento militar, mas também à

colaboração de auxiliares dedicados e inteligentes:

Recontro de Valdevez (1141) - Afonso VII, depois de vencer o rei Garcia de Navarra, confiou aos condes de Castela a defesa da frente oriental e dirigiu-se com um grande exército à fronteira portuguesa (c/ a Galiza), onde começou a devastar a terra.

Tudo porque Afonso Henriques queria ter como vassalos senhores de territórios que pertenciam à Galiza. 

Afonso Henriques reuniu também as suas tropas e atacou um grupo de leoneses, capturando o conde Ramiro.

Existe ainda outra versão que diz que antes de se dar a batalha houve um «bafordo» (torneio a cavalo), proposto pelos portugueses para evitar a batalha.

D. João Peculiar serviu de mediador entre os dois primos.

De qualquer modo, Afonso VII, teria aceite a proposta de paz para evitar uma mortandade inútil. 

O recontro terminou com um pacto de tréguas – Remetendo para mais tarde as questões que os opunham.

Não voltaram a registar-se confrontações na fronteira galega até à morte de Afonso VII.

Ataques Mouros em 1140 - Destruição do castelo de Leiria.

A partir de 1143, no mundo árabe, os almóadas começavam a destituir os almorávidas. 

Às tendências institucionais e aristocráticas dos seus adversários, os Almóadas opunham uma vivência carismática, popular, contestatária e fundamentalista.

Os almoádas estavam descontentes com o insucesso dos almorávidas em revigorar os estados muçulmanos na Península Ibérica, bem como em suster a reconquista cristã.

Miles Sancti Petri

No verão de 1143, chegou ao reino de Leão o cardeal legado da Sé Apostólica, Guido de Vico.

O Tratado de Zamora:

A 5 de Outubro de 1143, foi assinado o Tratado de Zamora, diploma resultante da conferência de paz entre Afonso Henriques e Afonso VII, na presença do cardeal Guido de Vico.

Considerada a data do início do reinado de Afonso Henriques.

Afonso VII concordou em que o Condado Portucalense passasse a ser Reino, tendo D. Afonso Henriques como seu "rex" (rei).

Embora reconhecesse a independência, D. Afonso Henriques continuava a ser seu vassalo, pois D. Afonso VII para além de ser rei de Leão e Castela, considerava-se imperador de toda a Hispânia.

Contudo nunca D. Afonso Henriques lhe prestou vassalagem, sendo caso único de entre todos os reis existentes na península Ibérica.

Comprometeu-se então o monarca português, ante o cardeal, a considerar-se vassalo da Santa Sé, obrigando-se, por si e pelos seus descendentes, ao pagamento de um censo anual.

A 13 de Dezembro de 1143, Afonso dirigiu uma carta ao Papa declarando que tinha feito homenagem à Sé Apostólica nas mãos do cardeal Guido como cavaleiro de S. Pedro (miles sancti petri).

E que se obrigava a pagar à Santa Sé o censo anual de quatro onças de ouro (o que respondia aos apelos da mesma), sob a condição de o Papa defender a sua honra e a dignidade da sua «terra».

No mesmo documento afirmava que não reconhecia a autoridade de nenhum outro poder eclesiástico ou secular, a não ser o do Papa – Carta de vassalagem do rei à Santa Sé (Claves Regni Celorum – primeiras palavras do documento). 

Aceitação da homenagem ao Papa em vez da que, até ali o vinculava ao rei de Leão.

Não se conhece nenhuma reacção de Afonso VII até 1148 – Protestou junto do Papa por causa de a cúria romana ter aceitado favores que o prejudicavam. 

D. João Peculiar empreendeu em 1144 nova viagem a Roma, para o Papa definir a sua isenção da autoridade episcopal e incluir o mosteiro de Grijó no património da Sé Apostólica. Quis levar pessoalmente a carta de vassalagem do rei.

A aceitação da homenagem do rei, pelo Papa Lúcio II, na Bula Devotionem Tuam, de 1 de Maio de 1144, foi um fracasso, pois o papa deu a Afonso Henriques apenas o título de dux, o que deve ter sido humilhante para o rei.

Para a cúria romana, não estava provada a sua verdadeira independência.

Ainda só tinham como prova a batalha de Ourique, Lisboa ainda não tinha sido conquistada.

Aos 37 anos, Afonso continuava solteiro.

Conquista de Santarém: Madrugada de 15 de Março de 1147 (conquista numa só madrugada!).

Ataque Surpresa - Poderá no entanto ter havido ajuda de alguém de dentro, uma vez que em Santarém existiam muitos moçárabes.

Afonso deve ter permanecido em Santarém para consolidar a sua posição durante dois ou três meses, e para bater os arredores.

Conquista de Lisboa - 25 de Outubro de 1147 - Depois de um cerco de quase 4 meses e com a ajuda dos cruzados que iam para a Terra Santa - Alemães, Flamengos e Bolonheses, Ingleses e Normandos.

A Reorganização do Reino

O repentino alargamento da fronteira, em 1147, não podia deixar de intensificar o fluxo migratório para sul.

A canalização dos excedentes populacionais do norte para a Estremadura e mesmo para as terras menos acolhedoras a leste do Zêzere equilibrou a relação entre a população e os recursos naturais.

O alargamento do território submetido ao primeiro rei de Portugal, incorporando nele duas importantes cidades, dotadas de grandes potencialidades económicas consolidou o seu poder político.

Garantiu a sua sobrevivência definitiva, enquanto nação, que até aqui estava em risco pelo crescente poder do rei de Leão e Castela e pelo rei de Aragão.

Depois da conquista de Lisboa, Afonso aproveitou o abandono das fortificações que protegiam a cidade para as ocupar rapidamente.

Apoderou-se sem dificuldade de Sintra a norte e de Palmela e Almada a sul.

Afonso VII morre em Agosto de 1157. Em 1155, dois anos antes de morrer, Afonso VII decidiu dividir o reino pelos dois filhos, deixando Castela ao mais velho, Sancho III e Leão ao mais novo Fernando II. 

No fim de Agosto de 1158, morre inesperadamente Sancho III de Castela.

Como se procedesse a uma manobra de antecipação contra uma eventual reunificação de Leão e Castela e consequente reforço do poder leonês, Afonso Henriques entra, no mês de Setembro no condado de Toroño à frente do seu exército.

Parece ter havido muitos combates até meados de Novembro.

Em 1158 (Setembro), assinou com Fernando II um acordo de tréguas.

O rei de Leão precisava de espaço de manobra para resolver o problema da sucessão de Castela. Existia um herdeiro, Afonso VIII, de apenas 3 anos. 

Entregaram a tutoria do menino a Guterre Fernandes de Castro e a regência do reino a D. Manrique de Lara.

Durante o ano de 1159 sucederam-se combates entre Leoneses e Castelhanos.

Afonso Henriques continuou a dominar o território de Tui.

Em 1160 (Janeiro), negociou com o conde de Barcelona, Raimundo Berenguer IV, casado com Petronilha, herdeira do reino de Aragão, o casamento da infanta Mafalda (6 ou 7 anos) com o futuro Afonso II de Aragão (3 ou 4 anos).

Este contrato considera-se como o indício do começo do período dos «cinco reinos»: Portugal, Leão, Castela, Navarra e Aragão.

Durante o qual não se verificou a supremacia de nenhum deles e que todos mantêm uma relativa consistência interna.

Os conflitos são compensados por alianças pontuais ou recorrentes, o que permite prolongar o equilíbrio, apesar de instável.

A negociação do casamento da infanta Mafalda significava a aceitação de Afonso Henriques como um parceiro de pleno direito no mercado matrimonial das cortes ibéricas.

Tanto Portugal, como Aragão, tiveram várias vezes de unir forças para resistir ao expansionismo castelhano ou castelhano – leonês.

No fim do ano de 1160, o rei de Leão tinha recuperado forças e impôs a Afonso Henriques o acordo no qual este se comprometia a devolver-lhe Tui.

Mas durante 1162, Afonso exercia actos de soberania sobre Límia e no ano seguinte conseguia recuperar Toroño.

No verão de 1162, faleceu Ramon Berenguer IV e Fernando II de Leão, convenceu a rainha Petronilha de Aragão a anular o compromisso com Afonso Henriques e a casar antes o seu filho, futuro Afonso II de Aragão, com D. Sancha, filha do segundo casamento de Afonso VII (portanto irmã de Fernando II), que teria 7 anos.

Com a revolta dos cavaleiros de Salamanca, Afonso Henriques veio até à cidade, onde nos primeiros meses de 1163 exerceu actos de soberania.

Em Castela continuavam as lutas entre Laras e Castros.

1165 – A presença de Afonso Henriques na Galiza tornou-se mais agressiva – Instala-se no castelo de Cedofeita e dirige ataques contra Pontevedra, Ribadavia e Orense.

Em Maio desse ano, faz novo acordo com Fernando II em Pontevedra, combinando o casamento deste com a sua filha Urraca, de 17 anos.

Mas havia um impedimento canónico, pois Urraca e Fernando II tinham o mesmo bisavô, Afonso VI (o casamento viria a ser anulado em 1175).

Do casamento nasceu o futuro rei Afonso IX de Leão, em Agosto de 1171, primeiro neto de Afonso Henriques. 

Afonso Henriques deve ter mantido domínio sobre os dois condados galegos de Límia e Toroño até 1169.

A guerra era uma forma de pressão para conseguir acordos vantajosos, como o casamento de Urraca, que confirmava a posição do rei de Portugal ao nível dos restantes soberanos peninsulares.

A conquista de Alcácer do Sal abriu o caminho a novas incursões a sul do Tejo.

Tornaram-se habituais os bandos de arqueiros atraídos pelo saque, que actuavam na fronteira por conta própria, sem coordenação com as tropas recrutadas pelos reis de cada país.

Podiam negociar a sua colaboração com os cristãos ou com os almóadas.

Havia ainda os mercenários, contratados pelos reis para combater integrados em exércitos regulares ou recrutados por senhores de taifas.

É surpreendente verificar que a conquista de Beja (1 de Dezembro de 1162) se deu antes de Évora, pois situava-se numa posição recuada em relação com a fronteira.

Geraldo Geraldes "O Sem Pavor" - Usava a técnica de atacar de noite, durante o inverno, e não na primavera ou verão como era costume.

Conseguia penetrar nas fortalezas por meio de escadas encostadas às muralhas.

Évora foi tomada por ele e pelos «ladrões seus companheiros».

Geraldo Geraldes actuava por conta própria, e embora tivesse durante anos colaborado com Afonso Henriques, com quem negociou a posse de Évora depois de a ter conquistado (1165) e a quem se associou para tentar apoderar-se de Badajoz, viria a pôr-se ao serviço do Emir de Marrocos.

1166 – Serpa e Juromenha – Instalou-se então neste castelo, servindo de base para atacar Badajoz.

Eliminadas as fortificações exteriores de defesa, Badajoz ficava isolada.

Era uma cidade populosa e rica, a mais importante da fronteira ocidental e comandava as operações militares contra os reinos de Leão e Portugal.

Afonso Henriques tinha, até 1165 permanecido em contacto frequente com a Galiza.

Em Maio ou em Junho assistiu ao casamento da filha Urraca, pouco tempo depois deve ter ido a Évora negociar a entrega da cidade.

Évora era um dos centros islâmicos mais importantes do Gharb. Para reforçar a sua defesa, Afonso reedificou o castelo de Coruche.

Situado numa posição estratégica fundamental como elo de ligação e de controlo da via que assegurava a comunicação de Évora a Santarém.

Estava demasiado exposta aos ataques almóadas devido à sua proximidade da fronteira.

Pela mesma altura ou pouco depois Afonso conquistou os castelos de Moura, Serpa (pode ter sido vendido ao rei por Geraldo) e Alconchel (últimas defesas de Badajoz).

Badajoz daria a Portugal a plena posse da antiga província romana da Lusitânia.

No entanto passaram mais de dois anos até que Afonso e Geraldo tentassem conquistar tal cidade. 

Permitiu reparar as muralhas de Évora e reunir as forças necessárias para um cerco demorado (já não podiam contar com as vantagens de um ataque surpresa).

A sacralização do poder político: O combate pela defesa do reino dava direito aos mesmos privilégios espirituais que a luta pela fé.

Durante estes ataques de Geraldo e Afonso, Fernando II estava demasiado ocupado a tentar reunificar os reinos de Leão e Castela depois da morte do irmão, lutando contra os nobres de Castela que tinham a tutela do sobrinho.

Afonso Henriques deve ter considerado que era a ocasião propícia para tomar Badajoz.

3 de Maio de 1169 – Geraldo conseguiu romper as muralhas exteriores da cidade.

A guarnição militar muçulmana refugiou-se na alcáçova (zona em cota mais elevada e mais protegida dentro de um castelo, com funções de defesa, onde residiam as autoridades civis ou eclesiásticas da povoação).

Perante a sua resistência, Afonso, que não devia estar longe, marchou à frente das suas tropas para ajudar os sitiantes.

O califa de Marrocos reuniu um grande exército para socorrer a cidade.

Quando as tropas de socorro chegaram a Sevilha souberam que o Rei Fernando II também tinha marchado em direcção a Badajoz.

Aliou-se aos Almóadas para impedir os Portugueses de se apoderarem da cidade.

O rei de Leão acampou junto da cidade, mandou um mensageiro ao governador almóada (na alcáçova) para o encorajar a resistir.

Os muçulmanos fizeram uma investida inesperada na zona da Medina, conseguiram chegar às portas exteriores e abriram-nas, permitindo a entrada dos seus aliados.

Geraldo e Afonso Henriques tiveram de se retirar precipitadamente.

Quando Afonso tentava fugir a cavalo chocou contra o ferrolho de uma das portas da muralha exterior e partiu a perna direita. Transportado pelos seus companheiros de armas conseguiu chegar até Caia, mas foi capturado pelos Leoneses que o levaram até Fernando II.

O rei de Leão, seu genro, prendeu-o durante dois meses.

Por fim deu-lhe a liberdade mediante a cedência da maioria dos castelos que ele e Geraldo tinham conquistado a leste do Guadiana.

Mais a promessa de cessar os ataques a Badajoz e o abandono de todas as terras da Galiza de que se apoderara.

Uma vez libertado, Afonso foi para Coimbra e dali para as termas de S. Pedro do Sul (Lafões) onde permaneceu convalescente durante alguns meses.

Geraldo também foi preso, mas obteve a liberdade mediante a entrega a Fernão Rodrigues de Castro (governador de Toledo nomeado por Fernando II) das praças em poder dos seus homens: Montánchez, Trujillo, Santa Cruz e Monfrague.

Fernando II ficava com Albuquerque e Cáceres. 

A predominância da ofensiva Portuguesa, tal como a Leonesa e a Castelhana tinha chegado ao fim.

Já não se tratava de ocupar novos territórios, mas de não perder os adquiridos.

Assegurar a defesa: O repovoamento de territórios conquistados. O auxílio de Gualdim Pais, mestre templário (1125?-1195).

D. Afonso Henriques deixou de poder andar a cavalo.

O que lhe deve ter trazido graves limitações às suas responsabilidades governativas.

As viagens do rei não eram apenas necessárias para a guerra – A deslocação constante da corte e a presença física do rei em todo o território eram indispensáveis à governação.

Era por isso humilhante para o rei estar em tal condição.

Acabara de fazer 60 anos – Sendo a esperança média de vida 30 anos, o rei tinha de se considerar já velho. 

Os acontecimentos negativos começam por invadir a corte, devido à imobilização do rei (2 meses), de repente tudo se punha em causa.

Não havia nenhuma autoridade óbvia além do rei. D. Mafalda já tinha morrido há 11, 12 anos e o príncipe Sancho era ainda demasiado jovem (15 anos).

O Alferes – Mor há mais de 20 anos, Pêro Pais da Maia, abandonou a corte para ir servir Fernando II.

Morreram os mais fieis auxiliares de Afonso Henriques.

As dificuldades que Portugal teve de suportar a partir de 1169, atenuaram-se entre 1175 e 1180.

O Príncipe Herdeiro - Sancho, já armado cavaleiro começava a comandar o exército.

Afonso continuou a orientar o reino como co-regente. 

Em 1174 Sancho casou-se com D. Dulce de Aragão, filha de Raimundo Berenguer IV e Petronilha de Aragão e irmã de Afonso II de Aragão, que havia rompido o casamento com D. Mafalda.

A posição de Sancho como futuro rei não podia deixar de consolidar-se com o casamento.

A primeira filha, infanta Teresa Sanches nasceu em 1175 (Afonso teria 66 anos).

Do casamento, extremamente fecundo, nasceram sete filhas e quatro filhos.

Afonso Henriques, forçado à imobilidade, podia minorar as suas prováveis impaciências entretendo-se com os seus netos.

D. Teresa, D. Sancha e D. Constança, nascidas entre 1175 e 1182, ainda em vida do avô.

Em 1170 Geraldo ainda tentou novamente conquistar Badajoz, provavelmente com a ajuda do príncipe D. Sancho.

Mas não teve sucesso. Tentou então lutar ao lado dos Almóadas. Acabou preso e condenado à morte em 1173.

Entretanto foram criadas as Ordens Militares de Santiago da Espada em Cáceres e a Ordem de Évora, para auxílio dos Templários na defesa da fronteira.

Bula Manifestis Probatum Est

Três meses depois de Afonso ter ditado o seu primeiro testamento, no dia 23 de Maio de 1179.

O Papa Alexandre III, por meio da Bula Manifestis Probatum Est, reconheceu a Afonso Henriques o título de rei, declarou que o tomava a ele e aos seus herdeiros sob a protecção da Santa Sé, considerou Portugal como um reino pertencente a S. Pedro e prometeu o auxílio Papal sempre que fosse necessário defender a dignidade régia do soberano português.

Terminava assim o longo período de trinta e seis anos que mediou entre a homenagem prestada por Afonso ao Papa como Miles Sancti Petri e o pleno reconhecimento da sua dignidade e independência.

Provavelmente por em testamento o rei se dispor a duplicar o montante do censo.

Em 1185, os Almóadas cercam Santarém, mas são vencidos pelos Portugueses comandados pelo príncipe Sancho, que inclusive matam o califa.

O rei estava velho, tinha já 75 anos e tinha ultrapassado de longe a idade com que os guerreiros morriam naquele tempo.

O condado que herdara havia-se tornado, graças ao seu valor militar, à sua sagacidade política e à inteligente colaboração de alguns, um verdadeiro reino.

Não muito vasto, nem muito rico, mas com número suficiente de habitantes e diversidade de recursos para subsistir.

A futura rainha Dulce tinha já três filhas e era de esperar que em breve aparecesse um menino, o que veio a acontecer em 1186 (Afonso II).

Por isso a infanta Teresa Afonso, que até ali fora considerada herdeira de recurso em caso de morte de Sancho podia agora aceitar propostas de casamento.

Foi o que aconteceu em 1184, no verão, já com 33 anos, a princesa foi dada em casamento por seu pai a Filipe da Alsácia, conde da Flandres, viúvo há sete anos.

Afonso teria grande predilecção por esta filha, o certo é que enviou com ela um séquito carregado de magníficos presentes que causaram a admiração do conde e da sua corte e chamaram a atenção dos cronistas da época.

Afonso Henriques morreu no fim do Outono de 1185, a 6 de Dezembro, aos 76 anos.

Foi sepultado no mosteiro que ajudou a fundar, junto da esposa e provavelmente dos filhos que já tinham morrido.

Depuseram o seu corpo num túmulo que o seu sucessor D. Manuel considerou demasiado modesto e que por isso mandou reformar em 1515.

O primeiro túmulo ostentava uma inscrição latina que testemunhava bem a veneração que rodeava o velho rei.

«Aqui jaz um outro Alexandre, ou outro Júlio César, guerreiro invencível, honra brilhante do orbe

Douto na arte de governar, alcançou tempos seguros, alternando a sucessão da paz e das armas.

Quanto a religião de Cristo deve a este homem provam-no os reinos conquistados para o culto da fé.

Alimentado pela doçura da mesma fé, cumulou, além das honras do reino, riquezas para os pobres infelizes.

Que foi defensor da cruz e protegido pela Cruz, assinala-o a Cruz, formada de escudos, no seu próprio escudo.

Ó fama imortal, ainda que reserves para ti tempos longos, ninguém pode proclamar palavras dignas de seus méritos.