domingo, 29 de julho de 2018

O genocídio dos Romanov

Omitir a responsabilidade moral do regime que matou um casal inofensivo e os seus cinco jovens filhos é faltar à verdade e ofender a memória das vítimas.

O ano 2018 é o do centenário do fim da primeira guerra mundial, que foi a principal responsável pelo desaparecimento de quatro grandes impérios e respectivas dinastias: o russo, com a destituição do czar em 1917; o austro-húngaro, na pessoa do imperador Carlos I; o alemão, com a abdicação do kaiser Guilherme II, que depois se exilou na Holanda, onde morreu em 1941; e, por último, o otomano, cujo califa, Maomé VI, foi destituído a 1 de Novembro de 1922, embora a república da Turquia só tivesse sido proclamada a 29 de Outubro de 1923.
Curiosamente, tanto o kaiser Guilherme II como o czar Nicolau II – kaiser e czar são variações do título de César – eram primos direitos do rei Jorge V da Grã-Bretanha. Com efeito, o imperador alemão era neto da rainha Vitória, que também era avó de Jorge V. Este último era, por sua vez, primo co-irmão do czar Nicolau II, com quem aliás era muito parecido, mas por via das respectivas mães, que eram filhas do rei Cristiano IX da Dinamarca. Este soberano bem podia ser cognominado, a par da rainha Vitória, o avô da Europa, porque dele descendem os reis da Dinamarca, da Noruega, da Grécia, da Rússia, da Grã-Bretanha, da Suécia, da Espanha e da Roménia.
Destes quatro monarcas destronados, dois mereceram a coroa da santidade, bem mais valiosa do que a que, na terra, cingiram. Com efeito, Carlos I de Áustria, que faleceu na Madeira, foi posteriormente beatificado pela Igreja católica, estando também a caminho dos altares a sua falecida viúva, a imperatriz Zita de Bourbon Parma, filha da infanta portuguesa Maria Antónia de Bragança e neta materna de D. Miguel, irmão de D. Pedro IV de Portugal e primeiro imperador do Brasil. Por sua vez, o último czar da Rússia, Nicolau II, sua mulher e cinco filhos foram canonizados pela Igreja ortodoxa, que os venera como mártires, por terem sido assassinados pelos bolcheviques, em 1918, por ódio à religião cristã.
São conhecidas as circunstâncias dramáticas em que foi exterminada a família imperial russa, na madrugada de 17 de Julho de 1918, em Ecaterimburgo. Não só os soberanos foram mortos sem terem sido julgados, nem lhes ter sido dada nenhuma hipótese de defesa, à boa maneira comunista, como também os seus cinco filhos foram executados. Foram-no aliás sem dó nem piedade, não só porque eram absolutamente inocentes das eventuais culpas de seus pais, mas também porque, por inépcia dos assassinos, não tiveram uma morte imediata. Com efeito, depois da primeira série de disparos na cave onde a família imperial russa foi morta, levantou-se uma grande nuvem de pó e os executores saíram para fora, para melhor respirarem. Porém, ouvindo os gemidos das vítimas, que também incluíam alguns fiéis servidores da família imperial, entraram de novo na sala, para darem o tiro de misericórdia aos que ainda agonizavam. Só Deus sabe o que foi o sofrimento daqueles jovens, cuja única culpa era a de serem membros da família imperial russa: foram mortos depois de assistirem à execução dos seus pais e de padecer uma mais ou menos longa agonia, por incúria dos seus carrascos. Como é da praxe em todos os regimes ditatoriais, nunca ninguém foi responsabilizado por este hediondo crime, que contou com a aprovação de Lenin, que não era menos brutal do que o seu sucessor, Stalin.
Não foram apenas o czar Nicolau II, a czarina Alix de Hesse, e os seus filhos – as grã-duquesas Olga, Tatiana, Maria e Anastácia e o czarévitch Alexis – que foram mortos pelo regime de Moscovo. Na realidade, as autoridades bolcheviques tentaram exterminar toda a família. Praticamente só sobreviveram os Romanov que emigraram, pois todos os outros foram, pelo simples facto de serem parentes do deposto czar, eliminados pela ditadura do proletariado.
É impressionante a lista dos Romanov que os bolcheviques abateram, depois da revolução de Outubro de 1917. Para além do czar, da czarina e dos seus cinco filhos –com idades entre os 13 e os 22 anos – também foi assassinado o grão-duque Miguel, o irmão do czar que Nicolau II designou seu herdeiro e sucessor, na impossibilidade do czarévich herdar a Coroa, pela sua pouca idade e grave hemofilia.
Já o czar Alexandre II, avô paterno de Nicolau II, tinha sido vítima de um regicídio, em 1881; e um dos seus filhos, o grão-duque Sérgio morreu num atentado, em 1905, mas outro, o grão-duque Paulo, foi morto pelos bolcheviques em 1919. Dois sobrinhos de Alexandre II, ambos filhos do grão-duque Constantino, foram também executados pelos sovietes: Nicolau, em 1918; e Dimitri, em 1919. Deste Nicolau foi filho o príncipe Iskander, igualmente assassinado pelos comunistas em 1919, no mesmo ano em que também foi morto Boris, outro príncipe da família imperial. Também os filhos do grão-duque Miguel, irmão do czar Alexandre II, não escaparam à sanha marxista-leninista: seu filho Sérgio foi morto em 1918, enquanto os seus irmãos Nicolau e Jorge o foram no ano seguinte.
Não obstante a perseguição comunista contra a família imperial, os Romanov não se extinguiram. A sucessão da casa real russa foi assegurada pela descendência de Vladimir, tio paterno do último czar. Seu filho Cirilo sucedeu-lhe na chefia da casa e família imperial, intitulando-se, no exílio, czar de todas as Rússias. Dele foi filho, entre outros, o grão-duque Vladimir, que nasceu em 1917 e casou com uma princesa Bagration, que nas suas armas ostenta a harpa do rei David, de quem essa família diz descender. Deles foi única filha a grande-duquesa Maria, actual chefe da família Romanov e mãe do grão-duque Jorge, nascido em 1981. Será ele, algum dia, czar da Rússia? É certo que não lhe falta legitimidade dinástica, mas é duvidoso que Putin nele venha a restaurar, algum dia, o trono dos czares.
Milhares de russos, no centenário do assassinato de Nicolau II e da sua família, peregrinaram até à catedral da fortaleza Pedro e Paulo, em São Petersburgo, para venerarem os restos mortais dos mártires imperiais. A verdade histórica não permite que se esqueça que foram vítimas de uma ideologia imoral que, para alcançar os seus objectivos políticos, não teve pruridos em matar pessoas inocentes, nomeadamente mulheres e crianças. Não prestar, no primeiro centenário desta terrível tragédia, a devida homenagem ao czar e à sua família seria matá-los outra vez. Como seria ofender a sua memória omitir, por cobarde cumplicidade, a referência à responsabilidade moral do desumano regime que impunemente matou um casal inofensivo e os seus cinco jovens filhos.
Fonte: Observador
DEUS - PÁTRIA - REI

sábado, 28 de julho de 2018

Dulce Pontes & Banda da Armada - O Amor a Portugal

Dulce Pontes - Canção do Mar

Canção do Mar na Russia

SS. AA. RR., Os Duques de Bragança presentes na apresentação da autobiografia do Rei Simeão da Bulgária



La princesse Alexandra de Koháry, fille de la princesse Marie Louise de Bulgarie, a organisé la publication en portugais de l’autobiographie de son oncle le roi Siméon de Bulgarie. Le roi Siméon et la reine Margarita se sont déplacés à Cascais pour la présentation qui a eu lieu au palais de Cidadela.

Étaient présents en plus de la famille des princes de Kohary, le duc et la duchesse de Bragance et les filles de la princesse Thérèse d’Orleans Bragance, la princesse Masha Magaloff et de nombreux amis de la famille, historiens,…

La princesse Alexandra, dans son discours, a fait référence aux liens entre le Portugal et sa famille, historiques et politiques mais aussi d’affection puisque sa grand-mère la reine Giovanna a vécu presque 40 ans a Estoril et y est décédée en 2000 à l’âge de 92 ans.






DEUS - PÁTRIA - REI

D. João II de Portugal: O Criador Dos Serviços Secretos

Foto de Plataforma de Cidadania Monárquica.


Foi El-Rei Dom João II o pioneiro dos serviços secretos mundiais, pois foi ao Serviço de Sua Majestade Portuguesa que surgiu a primeira rede de espiões profissionais como instrumento à disposição da Coroa: os Lançados.

Estes agentes, os Lançados, eram desembarcados na costa oriental de África e depois seguiam para o interior recolhendo informação que facilitasse a expansão portuguesa no continente que se começava a explorar, e sobretudo sobre o então lendário Reino de Preste João. Eram homens de uma enorme coragem lançados no desconhecido e que por isso lhes deram o nome indígena de Tangomaos, sendo que tangomao significa: ‘aquele que morre ausente ou desterrado da pátria’. Um deles foi Afonso de Paiva que empreendeu uma jornada que hoje se poderá considerar épica, e que se destinou a preparar a viagem do navegador Vasco da Gama à Índia. Porém, o mais famoso destes lançados foi, certamente, Pêro da Covilhã, senhor de um carisma de fazer sombra a um certo espião nada secreto ao serviço de outra Majestade, e que corresponde à visão heróica contemporânea de um agente secreto: mestre na arte de manejar armas – neste caso a espada e o arco e flecha - e senhor de recursos atléticos e intelectuais notáveis – dominava diversas línguas e dialectos – o temerário nascido na Serra da Estrela, confirmou no terreno e por actos a proverbial coragem dos beirões dos Montes Hermínios. Por ordem directa d’El-Rei Dom João II deslocou-se à Abissínia e à Índia sondando pela localização do reino de Preste João. No Cairo foi o primeiro europeu a contrair a Febre do Nilo, que quase lhe tirava a vida, mas que venceu para logo atravessar o deserto do Sinai e passando por Medina e Meca, desembocar na Etiópia. Daí embarcou numa nau que o levou a Calecut, Goa e ao Golfo de Ormuz, sempre recolhendo informações sobre a navegação até à Índia e sobre a possibilidade da circundação de África, por mar, para chegar à Índia, a famosa viagem que viria a ser empreendida com sucesso por Vasco da Gama e que terminaria em 1498, e, que sem dúvida, não seria possível sem a ‘intel’ recolhida por Pêro da Covilhã e que compilaria no relatório que enviou ao Rei de Portugal sob o título de ‘Verdadeira Informação das Terras de Preste João das Índias’. O espião-aventureiro haveria de falecer na Etiópia, reino onde uma vez que se entrasse já não se podia sair, mas mantendo-se sempre ao serviço de Sua Majestade o Rei de Portugal.
 
Mas a afirmação de que Dom João II criou um verdadeiro serviço secreto de informações na percepção que hoje se tem desses serviços, deve-se não só a esses labores dos espiões, ainda não românticos, mas com forte sentido de honra, mas também à criação de uma rede que tinha não só a incumbência de recolher ‘intelligencia’, mas, também, a missão da produção de contra-informação e a prevenção de actos que pela sua natureza pudessem perigar os intentos descobridores da Coroa Portuguesa, atentar contra a vida do Monarca e por em risco a soberania nacional.

Assim, Dom João II ganhou o cognome de Príncipe Perfeito, pois em tudo o que fazia ou deliberava punha um cunho de perfeição, e para o sucesso das suas decisões em termos de política externa e geoestratégia contava sem dúvida as decisões que tomava em função da informação privilegiada que os seus serviços secretos recolhiam e que o tornavam no mais esclarecido dos monarcas europeus da época. Prova disso, e expoente máximo da sua política, é o Tratado de Tordesilhas, assinado, em 1494, pelo Rei de Portugal e pelos Reis Católicos dos Reinos de Castela, Leão, Aragão, etc., a que comummente se dá o nome de Reino de Espanha.

É muitas vezes apontada a tese de que a Descoberta do Brasil, apesar de ter ocorrido oficialmente em 1500, por Pedro Álvares Cabral ao serviço d’El-Rei Dom Manuel I de Portugal, já havia sido achado nas misteriosas viagens do capitão Duarte Pacheco Pereira para oeste de Cabo Verde e que um lançado de nome João Fernandes ‘Lavrador’ terá mesmo feito uma pequeníssima exploração do território. Então, sabendo disso, Dom João II nas negociações do Tratado de Tordesilhas tudo fez para que o acordo fosse gizado daquela forma, incluindo a ainda por descobrir Terra de Vera Cruz.

Dom João II, logo que ascendeu ao trono, tomou uma série de medidas com vista a retirar poder à aristocracia e a concentrá-lo em si próprio e já em 1482, D. João II centralizou na coroa a exploração e comércio na costa da Mina e Golfo da Guiné.

Imediatamente, começaram as conspirações. Os seus agentes secretos, também, foram utilizados nos jogos de poder internos, mantendo a nobreza debaixo de olho, e foi deste modo que foi descoberta a conspiração de D. Fernando II, Duque de Bragança que trocou com os Reis Católicos de Espanha diversa correspondência. Essas cartas de reclamação e pedidos de intervenção foram descobertos pelos agentes ao serviço de Dom João II e tiveram papel fundamental na prova produzida no julgamento do Duque que seria condenado e executado por traição. Um ano mais tarde outra conspiração chegou aos ouvidos do monarca: desta feita o primo e cunhado de D. João II, D. Diogo, Duque de Viseu (irmão da rainha D. Leonor), concebeu um plano para apunhalar o soberano na praia, em Setúbal – o próprio Rei degolou o maquinador. Mais 80 membros da nobreza e mesmo do clero haveriam de conhecer igual destino, até que acabaram as tramas na Corte.

Ainda, neste âmbito, do secretismo, o Rei Dom João II estabeleceu, ainda, o Segredo de Estado: a salvaguarda dos segredos e da tecnologia marítima de que Portugal foi pioneiro, com vista à supremacia da sua política de expansão marítima, proibindo a divulgação dos planos de construção e a venda de caravelas portuguesas. Criou o conceito de material classificado, organizando e limitando o acesso a esses segredos, que eram agora da Coroa e do Estado. Assim, passou a haver níveis de informação com diferentes graus de acesso que estava limitado a pessoas autorizadas para o fazer consoante a sua grandeza na cadeia de comando, peso estratégico e posição no Estado. Desta forma mapas, cartas de marear, livros de astronomia, roteiros de viagem, instrumentos de navegação ficavam apenas ao alcance de quem tivesse autorização régia para os usar, pois eram ‘classified & top secret’. Dom João II, proibiu ainda pilotos, mestres e marinheiros de servir nações e entidades estrangeiras adversárias. Para quem violasse estas regras instituídas pela Coroa, severas penas estavam reservadas, pois constituiriam acto de traição – tal como nos nossos dias.

A plenitude das descobertas portuguesas do reinado de Dom João II permanece desconhecida. Muita informação foi conservada em segredo de Estado por razões políticas e estratégicas e os arquivos do período foram destruídos no Terramoto de 1755. Ainda há teses de que Cristóvão Colombo não foi o primeiro a chegar à América. Para suportar esta hipótese são citados com frequência os cálculos mais precisos que os portugueses tinham do diâmetro da Terra. No fim do século XV, existia em Portugal uma escola de navegação, cartografia e matemática há mais de oitenta anos, onde os cientistas e sábios mais inteligentes e engenhosos se dedicavam à pesquisa e criação. Enquanto Colombo acreditava poder chegar à Índia seguindo para oeste, é provável que o Rei D. João II já soubesse da existência de um continente no meio.

Miguel Villas-Boas | Plataforma de Cidadania Monárquica

Aniversário de Dom Afonso I Henriques

Foto de Plataforma de Cidadania Monárquica.


A 25 de Julho de 1109 nascia o Maior de todos os Reis na Terra: Sua Mercê Dom Afonso I Henriques, Pela Graça de Deus Rei dos Portugueses e Pela Graça de Deus Rei de Portugal. O Rei Fundador, era filho do Conde de Portucale D. Henrique de Borgonha e da Infanta Dona Teresa de Leão, auto-proclamada Rainha de Portugal.


El-Rei Dom Afonso I Henriques tinha por avoengos os Imperadores romanos da Dinastia Comnenus e Paleólogo, os Reis Capetos de França, o Imperador da Hispânia, o 1° Rei de Leão e Castela, e assim, era Príncipe de Borgonha e Infante de Leão, e foi Dux Portucalensis a partir de 1128 e Sua Mercê Dom Afonso I Henriques, Pela Vontade dos Portucalenses Rei dos Portugueses e Pela Graça de Deus Rei de Portugal a partir de 1139.


Devem-se-Lhe os Actos que levaram ao Nascimento de Portugal: no dia 24 de Junho de 1128, à dianteira dos barões e fidalgos portucalenses, Dom Afonso Henriques defrontou no campo de São Mamede, perto de Guimarães as forças galegas comandadas por Dona Teresa e por Fernão Peres de Trava, derrotando-os naquela que ficou conhecida pela Batalha de São Mamede e que marcou a Fundação da Nacionalidade Portuguesa, uma vez que o Infante Dom Afonso Henriques avoca a si o governo do Condado Portucalense, com pretensões de independência. Não é ainda após esta Batalha que se auto-intitula Rei, Rex Portucalensis, pois com duas frentes de Batalha – uma contra Leão e Castela, outra contra os sarracenos –, tal só se viria a acontecer após a Batalha de Ourique, em 1139, quando arrasou os mouros – que o temiam sobremaneira e Lhe chamavam o terrível Ibn Erik (Filho de Henrique) - e consegue uma importante vitória que o engrandece sobremaneira e assim declara a Independência face a Castela-Leão, após um Alevantamento seguido de Aclamação como Rei pelos Barões Portucalenses. Nascia, assim, em 1139, o Reino de Portugal e a sua 1.ª Dinastia, com El-Rei Dom Afonso I Henriques de Borgonha. Em 1143, quando assina a Paz em Zamora com o Primo Rei de Castela e Leão, onde é reconhecido como Rei, Dom Afonso Henriques usava já o título havia três anos, desde o torneio de Arcos de Valdevez, em 1140, após o episódio de Ourique. Mas desaparece, assim, e só aí, a designação histórica de Condado Portucalense e nasce o Reino de Portugal.


Assim, Dom Afonso Henriques, guerreiro completo, governante exemplar e virtuoso cristão, nasceu em 1109 e Reinou entre 1128 e 1185, como Dom Afonso I Henriques, 1.º Rei de Portugal, isto é, 57 anos - o 4.º Reinado mais longo da História, imediatamente ao Rei-Sol Luís XIV de França e a Suas Majestades a Rainha Isabel II e a Rainha Victoria do Reino Unido.


Morreu em Coimbra onde jaz sepultado em túmulo manuelino no Mosteiro de Santa Cruz , na capela-mor do lado do Evangelho.


Na inscrição original do túmulo podia-se ler:

“Aqui jaz um outro Alexandre, ou outro Júlio César,
guerreiro invencível, honra brilhante do orbe.
Douto na arte de governar, alcançou tempos seguros,
alternando a sucessão da paz e das armas.
Quanto a religião de Cristo deve a este homem
provam-no os reinos conquistados para o culto da fé.
Alimentado pela doçura da mesma fé, cumulou,
além das honras do reino, riquezas para os pobres infelizes.
Que foi defensor da Cruz e protegido pela Cruz
assinala-o a Cruz, formada de escudos, no seu próprio escudo.
Ó Fama imortal, ainda que reserves para ti tempos longos,
ninguém pode proclamar palavras dignas dos seus méritos.”

Ainda no dia 25 de Julho de 1139 travou-se a célebre Batalha de Ourique, em que D. Afonso Henriques, segundo o Mito, recebe as Armas de Cristo e à frente dos barões e fidalgos portucalenses, arrasa os exércitos mouros de Omar que eram em razão numérica cinco vezes superior. Após a Batalha, na qual derrota avassaladoramente a hoste inimiga, os Barões aclamam Rei o jovem Infante que os guiara à vitória sobre cinco reis mouros comandando os exércitos sarracenos de África e da Hispânia.



Miguel Villas-Boas | Plataforma de Cidadania Monárquica

sexta-feira, 27 de julho de 2018

CIDADE DO PORTO: Livraria Lello e caminhada pelas ruas | Hoje tô Aqui

LIVRARIA LELLO E IRMÃO, Porto.

OURIQUE: A BATALHA QUE ACONTECEU

Foto de Nova Portugalidade.

Nota: a descrição que se segue da batalha é inteiramente baseada na reconstituição feita pelo Professor Miguel Gomes Martins, na sua obra "De Ourique a Aljubarrota: A Guerra na Idade Média", à qual acrescentamos apenas algumas notas e menções.
-------------------------------------------------------------------------------

A batalha

Terá sido então nos arredores de Ourique, no Baixo Alentejo, que os dois exércitos se defrontaram no dia de Santiago, protetor dos exércitos da Reconquista. O enfrentamento deu-se apenas por vontade mutua, - sendo que as batalhas eram nesta altura raras e evitadas a todo o custo pelo risco que acarretavam- Ibn Umar saíra ao encalço de D. Afonso Henriques e dos portucalenses para os desbaratar e pôr fim às suas pilhagens, fora no Baixo Alentejo que interceptara os cristãos que já se iam deslocando de novo para norte. Afonso Henriques, que pela inferioridade numérica e por se encontrar no coração de território inimigo tinha todas as razões para se furtar ao confronto, não quer abdicar dos seus espólios de guerra e regressar de mãos vazias a Coimbra, além do mais a retirada seria perigosa e difícil com o exército inimigo sempre no seu encalce a fustigar-lhe a retaguarda, podendo até cortar-lhe a linha de marcha e obrigá-lo a combater de qualquer das maneiras. O jovem príncipe decide então arriscar tudo e aceitar o desafio.
 
Os exércitos não se hão defrontado de imediato tendo adiado naturalmente o confronto, uma vez que ambos os lados necessitavam de descansar e de se alimentar antes da batalha. Os arraiais terão estado montados a umas centenas de metros de distância, separados pelo terreno onde se daria o confronto. Segundo os “Annales D.Alfonsi” o acampamento estaria montado num ponto alto defendido por um fosso, provavelmente também terão sido erguidas paliçadas e outras defesas para melhor proteger o acampamento do inimigo que se encontrava ali tão perto, e que potencialmente terá aplicado as mesmas medidas.

O dia 24 terá então sido preenchido com o levantamento das defesas e com a preparação para o combate que se avizinhava. Os combatentes terão cuidado do seu armamento, os cavaleiros tratado das suas montadas e todos tentaram descansar e alimentar-se, o que podia ser bastante difícil devido aos nervos que naturalmente antecedem um batalha. Inúmeras preces ter-se-ão elevado aos céus, de um lado e do outro, os soldados procuraram também cuidar da sua alma através da oração e confissão (para os cristãos).

À alvorada do dia 25 de Julho, após uma última refeição e missa campal, os soldados portucalenses acorreram ao campo dispondo-se em formação de batalha. O exército cristão dividia-se então em três unidades táticas: a vanguarda composta talvez pelos 300 melhores e mais bem armados cavaleiros da hoste, que supomos, divididos em duas ou três linhas, juntamente com algumas centenas de peões que no máximo sumariam 500 homens; a retaguarda seria idêntica em composição e dimensão à vanguarda; nos flancos estariam as alas que se prolongariam à esquerda e à direita da vanguarda, cada uma destas alas era formada por, supomos, 200 cavaleiros e algumas centenas de peões que mais uma vez atingiriam um número máximo de 500 homens, todos estes combatentes tinham a missão de impedir que as forças inimigas flanqueassem e envolvessem a hoste cristã. 

Quanto ao comando, a Crónica de Portugal de 1419 afirma que D. Afonso Henriques teria comandado em pessoa a vanguarda, o professor Miguel Martins chama à atenção para o facto de tal poder não passar de um artificio literário para exaltar o fundador, e que este estaria antes na retaguarda (onde os riscos não eram tão elevados) de onde poderia comandar a hoste, por isso cabia ao alferes-mor Garcia Mendes de Sousa liderar a vanguarda. Apesar desta hipótese ser bastante válida e verosímil fará também sentido considerar que de facto o príncipe liderou em pessoa a vanguarda e a carga portuguesa pelos seguintes motivos: Afonso Henriques era então um jovem ambicioso de 30 anos que procurava ganhar uma crescente autonomia política, desde de São Mamede reclamava a liderança da nobreza de Entre Douro e Minho; estava potencialmente perante o seu maior desafio militar até então, era altura de demonstrar a sua bravura e valor guerreiro liderando os seus homens da linha da frente como faziam outros líderes militares. Relembremos, pois, o exemplo do próprio filho de D. Afonso Henriques, D. Sancho, que em condições relativamente parecidas no famoso fossado de Triana “agia como se tudo dependesse do seu desempenho, como se tivesse de provar toda a sua valia naquele momento face aos homens que liderava”[1]; o poder de liderar outros homens advinha das capacidades de liderança e bravura demonstrados em campo de batalha, é por isso que D. Sancho lidera em 1178 a vanguarda portuguesa, talvez em semelhança do seu pai em Ourique quando ainda era apenas um jovem conde. Seguindo esta linha de raciocínio não nos parece descabido sugerir que Afonso Henriques tenha efetivamente liderado a vanguarda, enquanto o alferes-mor (um rico-homem mais velho e talvez mais experiente) comandava da retaguarda.

Face à hoste cristã encontrava-se o exército mouro muito mais numeroso mas sobre o qual as fontes pouco adiantam, seguindo uma vez mais a reconstrução do prof. Miguel Gomes Martins com base nas práticas da altura, supomos que este estivesse dividido em cinco ou seis unidades táticas, sendo estas a vanguarda, um corpo central, duas alas que que defenderiam os flancos do exército, a retaguarda e talvez uma reserva. 

Alinhados frente a frente os exércitos terão certamente observando-se mutuamente esperando que o adversário desse um passo em falso, será de imaginar que na hoste muçulmana se terá levantado um enorme clamor de grandes tambores e trombetas à medida que as bandas montadas- características dos exércitos mouros- desfilavam frente aos seus companheiros. Seria nestes momentos que se fariam as últimas bençãos, que os comandantes se dirigiam aos seus combatentes com palavras de encorajamento, relembrando a justeza da sua causa e o valor daquela guerra, que era santa. Após as as ovações e preces a batalha deu início, as fontes são unânimes quanto à iniciativa ter partido dos almorávidas, estes terão muito provavelmente lançados os seus ginetes em manobras de torna fuy,- como era a prática habitual no mundo islâmico- ou seja, a cavalaria ligeira moura, armada com arcos e dardos terá cavalgado até próximo das forças cristãs assediando-as com projeteis; esta tática tinha o objetivo de desorganizar as forças cristãs e induzir em cargas desorganizadas que ameaçavam a coesão do exército. Podemos imaginar que não terão tido grande sucesso e a resposta portucalense não se fez esperar, D. Afonso Henriques lança então aquela que era a grande arma dos cristãos que imenso dano fazia aos mouros, tanto na Hispania e na Terra Santa, a cavalaria pesada. 

Ao som de cornos de guerra (muito representados em iluminuras da época), de gritos e apelos a Santiago, os cavaleiros cristãos terão carregado- tendo talvez a coluna assumido uma forma pontiaguda de frente estreita e em profundidade- ganhando velocidade à medida que avançavam, o trote passava a galope, mas os cavaleiros não podiam quebrar a formação, um bom choque inicial era decisivo numa batalha. Terá provavelmente sido o caso, os mouros não aguentaram o ímpeto da carga dos cavaleiros de Ibn Errik que “montavam à brida”, equipados de cota de malha, “presos” ao cavalo pelos estribos e selas, empunhando a lança a direito (lance couchée) como arma de choque. Perante uma boa execução da carga, a “massa de ferro” cristã rompeu as formações inimigas embrenhando-se pelas linhas almorávidas deixando para trás de um rasto de cadáveres.
 
Esta carga ou vaga de cargas terá sido conseguida com grande eficácia e terá tido grande impacto na hoste inimiga, segundo os “Annales D.Alfonsi” a cavalaria terá feito recuar e dividido as forças do Islão, rasgando as linhas da vanguarda até à segunda linha do exército de Ibn Umar. Por esta altura a vanguarda portucalense perdia o ímpeto da carga inicial esbarrando-se contra as formações mais recuadas; cabia agora aproveitar ao máximo o break through e continuar a a empurrar as linhas inimigas, para tal terão avançado em vagas a cavalaria ligeira- na sua maioria das forças concelhias- a peonagem e contingentes das alas e até da retaguarda. Vaga a após vaga os exércitos ter-se-ão embrenhado na carnificina habitual das batalhas, milhares de homens digladiaram-se sob o sol quente do verão alentejano. Segundo a Crónica de 1419 a batalha terminou ao meio-dia ou já à tarde (como sugerem os “Annales”), as armas cristãs saíram vitoriosas. A superioridade do armamento terá facilitado o triunfo sobre os mouros que hão debandado perante as forças de Ibn Errik, deixando muitos mortos para trás e outros ainda por cair, enquanto retiravam de forma desorganizada à frente das forças cristãs. As baixas almorávidas foram pesadas, Miguel Gomes Martins adianta que terão rondado entre os 20 e 50 por cento das forças mouras, ou seja, 2000 a 5000 homens, entre os cristãos também terá havido várias baixas especialmente na vanguarda onde caiu o alferes Diogo Gonçalves de Cete.

Parece-nos que terá sido então no campo de Ourique, após estar consumada a vitória, que os companheiros de Afonso Henriques no furor da vitória decidiram aclamá-lo rei. Sobre os gritos de entusiasmo e ovações o jovem príncipe foi elevado sobre o seu escudo passando então a ser chamado por rei. Mais à frente havemos de analisar a questão da aclamação com muito mais cuidado. 


Consumada a vitória as forças portucalenses ter-se-ão prolongado pelo campo de batalha recolhendo os espólios deixados para trás pelos seus inimigos. Desbaratada a hoste as forças cristãs puderam aproveitar para pilhar mais a região, mas as fontes sobre isso nada dizem, o vasto botim que hão conseguido e a vitória frente a Abu Muhammad Az-Zubayr ibn Umar já deveriam ser suficientes para retornar a Coimbra. A hoste terá demorado vários dias atrasada pelos espólios e pelos prisioneiros apeados que levavam para norte, sem terem, ao que tudo indica, conhecido resistência maior até chegarem a Coimbra, onde entraram vitoriosos certamente recebidos por um clima festivo. O príncipe que partira voltava agora rei, coberto de glória e riquezas.

Gonçalo Palmeira

Notas
[1] Maria João Branco, D.Sancho I, p.16
[2]Mário Jorge Barroca, Nova História Militar de Portugal Vol. 1, p.126


DEUS - PÁTRIA - REI

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Luxemburgo recorda Infanta Maria Ana de Bragança


Filha do Senhor Dom Miguel, casou no dia 22 de junho de 1893 com Guilherme IV, Grão-duque do Luxemburgo.
Nos 125 anos da celebração do casamento, o Museu Nacional de História e Arte e a Casa Grã-Ducal, com o apoio da Embaixada de Portugal, organizam uma exposição focada na história de amor e nas consequências políticas que a união teve para o país, nomeadamente o acesso das mulheres ao trono.
Como o casal não teve filhos do sexo masculino, o pacto da família de Nassau foi alterado de forma a permitir o acesso das mulheres ao trono, em 1907.

Com a doença de Guilherma IV, pouco tempo depois de se ter tornado Grão-duque, Maria Ana de Bragança foi nomeada regente, passando a assumir um papel político determinante na vida do país.
Após a morte do marido, em 1912, sucede-lhe a filha mais velha, Maria Adelaide, seguindo-se a segunda filha do casal, a grã-duquesa Carlota, após uma crise política em 1918-1919.
Esta coroa dominada por mulheres, foi uma novidade num mundo político controlado por homens.
Da exposição, inaugurada no passado dia 9 de Julho pelo Grão-duque herdeiro Guilherme e a Grã-duquesa herdeira Stéphanie de Lannoy, faz parte a Banda das Três Ordens, que reúne as Grã-Cruzes das Antigas Ordens Militares de Cristo, de Avis e de Sant’Iago da Espada, criada por D. Maria I em 1789, emprestada pelo Palácio Naional da Ajuda.
Este objecto tão importante para História Portugal, representa bem a importância da ligação entre os dois países, que hoje é reforçada por mais de 80.000 luso-luxemburgueses a viver naquele país. Uma relação de amor e amizade que começou no casamento da Infanta Maria de Bragança e dura até aos dias de hoje.

A Infanta Maria Ana de Bragança nasceu em Bronnbach, no dia 13 de Julho de 1861, onde vivia no exílio o Senhor Dom Miguel, bisavô do actual Duque de Bragança.
A bisavó do atual Grão-duque Henrique morreu em 1942, em Nova Iorque, com 81 anos, estando sepultada na Catedral do Luxemburgo.

Com a devida vénia à Lusa.

Fonte: Causa Real

DEUS - PÁTRIA -REI

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Novo capítulo

DIÁRIO.jpg


16 de Julho de 1918, 22.30, Ekaterinburg
A czarina Alexandra descreve no seu diário um dia tranquilo de verão: licença de meia hora para passear, leituras bíblicas, o oficial bolchevique que veio trazer ovos para Alexis, jogo de cartas com o Czar antes de se deitar.
A página seguinte está em branco. Nessa noite acabou um capítulo mas não a História.

2013, São Petersburgo
O restauro de um grande quadro de Lenine, pintado em 1924, fez aparecer no verso um retrato de Nicolau II que se julgava desaparecido. Desobedecendo às ordens que tinha, correndo risco de vida, o pintor não quis destruir a imagem do seu Czar e cobriu-o com tinta solúvel em água, como se esperando por um novo capítulo em que a Rússia se reencontrasse com ela própria.
Ele sabia que há ligações que não se destroem por decreto.

O valor simbólico da Monarquia está todo aqui: uma relação entre um povo e o seu Rei que vai muito para além dos capítulos da história por mais violentos que sejam, o encarnar de uma cultura e de uma forma de vida, a certeza da continuidade de um povo.

É tudo isto que estes cem anos do assassinato da Familia Imperial Russa também representam.

Teresa Côrte-Real
Vogal da Comissão Executiva da Causa Real

 Causa Real

terça-feira, 17 de julho de 2018

Não, não foi a Inglaterra: o dia em que a bandeira de Portugal flutuou sobre Malta

Foto de Nova Portugalidade.
Na imagem, os navios do Marquês de Nisa em campanha pelo Mediterrâneo.


A ocupação napoleónica de Malta, e a resistência da população local ao invasor, foram momentos marcantes da História da estratégica ilha mediterrânica. Os franceses tinham chegado em 1798, quando Napoleão, que cruzava o Mediterrâneo a caminho do Egipto, desembarcou no antigo bastião dos cavaleiros de São João. Malta, até ali inexpugnável, caiu como maçã madura, abolindo Napoleão a Ordem de São João, extinguindo a nobreza e anexando o pequeno país ao território da república francesa. Rapidamente concluída a campanha de subjugação do povo maltês, embarcou depois Napoleão para esse Egipto que tantas felicidades lhe traria.

A resistência aos franceses iniciou-se imediatamente após a partida de Napoleão. Instigados pelo clero católico contra a república ateia que Napoleão lhes trazia, os malteses obrigaram a guarnição francesa, grande de uns cinco mil homens, a refugiar-se na grande fortaleza de Valeta. A sua situação inicial era, contudo, desesperada. Sem armamento moderno e impossibilitados pela geografia do recebimento de reforços, alimentos e armas, os malteses achavam-se, contudo, perante uma luta desigual. 

Seria a intervenção portuguesa a transformar o equilíbrio de forças. Enquanto a armada de Napoleão era afundada pela do inglês Nelson na baía de Aboukir, em pleno delta do Nilo, colocava-se a portuguesa a caminho da Malta sublevada. Portugal enviara para o Mediterrâneo uma poderosa força naval constituída por sete navios de linha e duas fragatas. Essa esquadra era comandada pelo Marquês de Nisa, Dom Domingos Xavier de Lima, e tinha por objectivo a intercepção de navios, comerciais ou militares, de pavilhão gaulês. A rebelião dos malteses, contudo, foi correctamente interpretado como oportunidade preciosa para que se roubasse à França um importantíssimo ponto de controlo do Mediterrâneo. Coube, pois, à armada portuguesa a distinta honra de ser a primeira a apoiar a insurreição.

Os portugueses chegaram à costa de Malta a 19 de Setembro de 1798. Dirigiram-se ao porto de Valeta, onde os franceses resistiam, então sem grande dificuldade, ao cerco que lhes imposto por uma multidão maltese sem meios adequados a um assédio competente. Os portugueses ofereceram às milícias maltesas coisa de quinhentos mosquetes, assim como o apoio valioso da sua artilharia e um destacamento de quatrocentos homens que desembarcaram na ilha para auxiliar os locais. Em Mdina, hastearam-se as bandeiras dos Cavaleiros de Malta, do Rei de Nápoles seu suserano e de Portugal, libertador do país. Os ingleses, aliados de Portugal, chegaram somente semanas depois. Lastimavelmente, todavia, o contributo português que historiadores como Henry Frendo estimam como decisivo para que a sorte das armas acabasse por sorrir ao povo de Malta foi apagado, e quase totalmente esquecido. Trata-se de atroz injustiça que a Inglaterra muito fez para incentivar e que Portugal em pouco tentou contrariar. 

RPB


Um povo valente que entregou os seus filhos ao mar profundo

Foto de Nova Portugalidade.

Já a investigar para um novo trabalho que sairá em 2020, haja tempo, saúde e condições, desta vez sobre as sociedades nascidas dos descobrimentos e da expansão, detenho-me no manuscrito do diário de bordo de um navio da frota portuguesa da segunda metade do século XVIII, a nau Nossa Senhora da Viagem. Contrariando os lugares-comuns do suposto improviso, “aventura” e atitude a-científica dos portugueses, ali está condensado e aplicado um saber profundo, meticulosamente anotado e exprimindo o grande conhecimento náutico acumulado ao longo de séculos de navegação: as latitudes e longitudes, os fenómenos meteorológicos e o regime dos ventos, as correntes, o avistamento de animais marinhos e aves, a identificação de outras embarcações, respectivos pavilhões e nomes, as condições sanitárias da tripulação, a gestão da água e alimentos, a descrição dos portos de aguada; tudo anotado de hora a hora pelo redactor do diário. Neste imenso e infatigável trabalho de notação, detenho-me no registo de acidentes ocorridos na longa viagem de quarenta e três dias, de Lisboa à São Salvador, realizada em meados de 1762. 

“Domingo, 29 de Agosto de 1762. Ontem, pelas três horas da tarde morreu o marinheiro Manuel Moreira. É o quarto que tem morrido depois de sairmos de Lisboa (…)”. 

Folheio o diário desde o dia da partida e, depois, o diário de torna-viagem, de Fevereiro de 1763 e verifico que numa mera viagem de rotina e policiamento da rota do Brasil morreram oito tripulantes. Multipliquemos por cem, duzentos, trezentos e por mil estes números e ali está, sem rodriguinhos piegas, o custo humano dessa grandiosa, temerária e teimosa empresa portuguesa ultramarina que se prolongou por séculos e tocou todos os cantos do planeta. Quanto sacrifício verteu este povo nos caminhos do mar que foi palco da nossa grandeza e sepulcro de tantos Manuéis Moreira, quanta coragem silenciosa de homens simples e esquecidos teve esta nação de acumular para que hoje 300 milhões, do Brasil a Timor, se exprimam na nossa língua. É evidente que para muitos, tudo aquilo foi em vão, que prefeririam que aqui neste canto escalvado do sudoeste europeu tivéssemos ficado, europeus de terceira, transidos de medo entre a meseta hispânica e o oceano tenebroso. Esses, sim, não compreendem, não respeitam nem amam Portugal. 

Miguel Castelo-Branco

II Seminário Internacional de História Indo-portuguesa

Foto de Nova Portugalidade.

Hoje desejo partilhar convosco o II Seminário Internacional de História Indo-portuguesa, Lisboa, do Instituto de Investigação Científica Tropical, ano de 1985. Não foi nada fácil de adquirir esta obra, onde se encontra uma comunicação do senhor Goertz, respectivamente dedicada a uma detalhada descrição dos métodos de ataque e defesa dos Portugueses num dos cercos aquando a guerra contra a Liga Islâmica. Não é todos os dias que se enfrenta 150.000 Muçulmanos zangados, apoiados por 360 elefantes, 20.000 cavalos e inúmeras peças da mais grossa artilharia do Mundo, dispondo de apenas 1.200 soldados portugueses.

Goertz faz referência ao corpo português como uma unidade profissional acostumada à guerra, possessa por uma inabalável Fé, disciplina de ferro, auto-controle e espectacular organização, chegando mesmo a dizer que a forma como os lusos se bateram desafia a compreensão de qualquer homem.

Apesar da superioridade muçulmana na artilharia, as armas portuguesas de infantaria tiveram um factor decisivo para a vitória, possuindo mosquetes/espingardas de melhor calibre e alcance, assim como armas brancas (espadas e armaduras) de maior qualidade.

No entanto, a componente que se mostrou de maior importância para assegurar a nossa sobrevivência foi a “trinchea entulhada”, um tipo de trincheira inventada pelo português Agostinho Nunez, dedicada a um melhor e mais facilitado uso das armas de fogo sobre o adversário, oferecendo também uma significativa protecção contra artilharia mais pesada.

Grandes elogios são feitos ao capitão-mor Dom Francisco de Mascarenhas pela sua liderança. Segundo Goertz, foi demonstrada pelo capitão; experiência, engenho, enorme espírito de liderança, uma frieza incrível face ao perigo e uma determinação que inspirou confiança e afecto nos soldados, com quem partilhou todas as dificuldades.

Este cerco, um dos mais espectaculares da história militar mundial durou sete meses, acabando os Muçulmanos, segundo as crónicas de António Castilho, com doze mil mortos, enquanto que os Portugueses sofreram quatrocentas perdas humanas.

Poucas são as batalhas que atingiram o mesmo nível de fúria e violência e, mais importante ainda, poucos foram os soldados que, com tão diminuta guarda, venceram um exército tão superior em números quando uma simples rendição lhes teria poupado tanto sofrimento.

Miguel Ângelo pintou na Capela Sixtina um português a salvar um africano e um muçulmano do Inferno, como vemos na imagem. Segundo o professor Manuel Gandra foi o próprio pintor, Miguel Ângelo, quem identificou o português no Juízo Final da Sixtina numa carta que remeteu a um embaixador português.

Ricardo da Silva



Essa Portugalidade que deslumbrava o Papa de Roma

Foto de Nova Portugalidade.

Do Papa Pio XII ao Patriarca de Lisboa, aos Arcebispos e Bispos de Portugal

A ATIVIDADE MISSIONÁRIA PORTUGUESA

"[...] 
9. Como foi possível que vós, embora sendo poucos, fizestes tanto na santa cristandade? Onde Portugal encontrou forças para acolher sob seu domínio tantos territórios da África e da Ásia, para estendê-lo até às mais distantes terras americanas? Onde, senão naquela ardente fé do povo português, cantada por seu maior poeta, e na sabedoria cristã dos seus governantes, que fizeram de Portugal um dócil e precioso instrumento nas mãos da Providência, para a atuação de obras tão grandiosas e benéficas?

10. Afinal, enquanto homens exímios, conscientes da própria responsabilidade, como Afonso de Albuquerque e João de Castro governam com retidão e prudência as várias colônias portuguesas e prestam ajuda e proteção aos zelosos anunciadores da fé – que grandes monarcas como João III se empenham em mandar naqueles países Portugal se impõe ao mundo pela potência de seu império e pela sua gigantesca obra civilizadora."

PIO PP. XII


segunda-feira, 16 de julho de 2018

UM EQUIVOCO CHAMADO MARCELO R.S.


                                           “O Povo gosta, o povo quer, o povo tem!”
                                                  Carlos Félix

    Nas últimas eleições presidenciais ocorreu um fenómeno nunca visto: a população portuguesa foi votar para escolher entre os 10 candidatos que se apresentaram a sufrágio, aquele que seria, nos prazos constitucionais, o próximo Presidente da República, função também ela definida constitucionalmente.

    Deste modo os eleitores elegeram um doutorado em Direito, que passeou pelo jornalismo e pela política partidária, tendo assentado arraiais como comentador, onde preparou – nas barbas de toda a gente – a própria candidatura ao cargo de mais alto magistrado da Nação (pelo menos antigamente era assim que se dizia), para quando a oportunidade surgisse. E surgiu.[1]

    E a maioria dos eleitores (52%) que se dignaram ir votar, lá depositaram a sua cruzinha no actual inquilino do Palácio de Belém.

    Esqueceram-se que o homem é um hiperactivo, ligado à corrente em permanência e que quer ir a tudo e a todos, numa paráfrase mal engendrada da célebre frase dos Lusíadas “ e se mais mundo houvera, lá chegara”…

    Como se isto já não fosse problema suficiente, o senhor também quer comentar tudo e todos!

    Daqui resulta o equívoco de que, afinal, a população portuguesa julgando que tem um ser de carne e osso a exercer as “altas” funções de Chefe do Estado, na sua forma republicana – o que já de si não é grande coisa – passou a ter um comentador (se é que tal pode ser considerado uma profissão), em vez de.

    A questão que fica é esta: será que para as próximas eleições se irá mudar a Constituição, para que se deixe de eleger um Chefe de Estado e se eleja um “Comentador-Mor”?

    Cruel dilema.

    O que se passa assemelha-se a termos, por ex., eleito um carpinteiro para PR, que em vez de exercer a função (a tal que é “alta”), continuasse a fazer prateleiras, cadeiras e outro mobiliário e assentasse, quiçá, uma marcenaria em Belém…

     O senhor Presidente comenta tudo, o que se passa ou deixa de passar, inclusive os jogos da bola – esse mundo absolutamente desqualificado e pouco recomendável – e pelo meio viaja sofregamente (aproveitando para ler livros e tudo), como se não houvesse amanhã.

    Também para ir assistir a jogos da selecção (uma selecção que perdeu sobretudo por falta de atitude), aproveitando pelo meio, para dizer olá ao Presidente Putin – que deve ter ficado impressionado com esta nova maneira de fazer diplomacia – numa espiral de gastos e desconcertos em que nunca mais houve tino desde que o General Eanes abandonou o cargo.

    Desatinos que ninguém escrutina, nem estão interessados em escrutinar – deste modo o PR também não levanta objecções aos gastos perdulários dos deputados, dos membros do Governo e dos gabinetes dos senhores ministros, etc..

É um fartote!

    Foi ainda tirar uma foto com o Trump, apesar do Yankee gostar mais do “Twiter” do que de “selfies” e a melhor coisa que conseguimos saber (além da propaganda ao vinho da Madeira) foi que “fez criticas gestuais” quando o anfitrião da casa pintada de branco falava!

    O nosso comentador, perdão, Presidente, numa ânsia de consolar tudo e todos; “integrar”; aumentar a coesão (vá-se lá saber de quê); ser inclusivo, etc., anda numa fona participando em todas as manifestações religiosas (porque não as “seitas”?) – mesmo as que são insignificantes, não têm nada a ver com a nossa matriz cultural, ou até são suas inimigas; pendura roupa no Casal Ventoso (se quiser um dia passar lá por casa, não se acanhe, ok?); embarca numa cruzada estúpida, demagógica e perigosa, em querer trazer toda a casta de “migrantes” para dentro do país (não se esqueça de arranjar umas tendas para montar nos jardins do Palácio de Belém); condecora todo o bicho careta que lhe aparece pela frente, incluindo gente de mau porte que conspirou contra o país e permite-se participar numa “homenagem” a um cantor rock, cujo único mérito pessoal conhecido, foi ter conseguido recuperar-se do vício da droga, num espectáculo circense pimba, pífio e de muito mau gosto, para onde conseguiu arrastar (ou foram eles que se juntaram?) o Presidente da AR e o Chefe do Governo.

    Só faltou o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça…

    Será que o ilustre varão não se enxerga correndo o risco de, qualquer dia, ninguém o suportar e querer ouvir ou ver?

    Será que toda esta gente não tem a menor noção que a Dignidade dos cargos (permanentes) que ocupam (transitoriamente), necessita ser preservada e que eles não têm o direito, pela sua má conduta, de a pôr em causa?

    Será que não têm o menor escrúpulo sobre a “Gravitas” da antiga sociedade romana?

    Não há, entretanto, um único problema importante (um único) do País que seja devidamente equacionado, decidido e tratado.

    Tudo é desatino, desarticulação, corrupção, relativismo moral, negociatas.

    O resto é circo para empatar e entreter tolos, que é aquilo por que nos querem fazer passar.

    O pão, esse, continua a ser pago com o aumento da dívida (que é impagável…).

    Mas como o povo gosta, o povo quer, o povo tem…

    Que bela Democracia que temos.

    Para imbecis.


                                                            João José Brandão Ferreira
                                                                  Oficial Piloto Aviador


[1] Sem embargo nesta “democratíssima” sociedade em que vivemos deve referir-se que na contagem dos votos apuraram-se 51,17% de abstenções; 1,24% de votos nulos e 0,92% de votos brancos. Ora manda o mais elementar bom senso que qualquer eleição para valer, deveria contar com pelo menos 51% de votantes, entre a massa dos eleitores recenseados.